A aventura financeira do OKC Thunder

A última das grandes peças de dominó desta offseason caiu na semana passada. Russell Westbrook acalentou o coração partido dos torcedores do OKC Thunder e decidiu renovar seu contrato com a equipe até a temporada 2018-19. Ele receberá um aumento de 8 milhões de dólares nesta próxima temporada, a última de seu contrato, e ganhará 26,5 e 28,5 milhões nos anos seguintes. Em todos os casos é o máximo que o time era autorizado a pagá-lo.

O armador mais explosivo do mundo não era um Free Agent nesta temporada, mas era na próxima, e o medo de perdê-lo colocava o Thunder no centro de todos os rumores de troca do mundo da NBA. O General Manager do time, Sam Presti, tem um histórico de não pagar para ver o que os jogadores decidem fazer quando seus contratos acabam: ele trocou James Harden, Serge Ibaka e Reggie Jackson antes deles se tornarem Free Agents. A exceção foi com Kevin Durant, e vimos o que aconteceu.

Com o time sem seu grande cestinha e Westbrook adentrando a última temporada de seu contrato, a linha de pensamento óbvia nos levava a pensar que se não tivesse uma garantia de permanência do jogador, na palavra ou no papel, ele iria trocá-lo para não sair de mãos abanando. Não sabemos que propostas foram realmente lançadas, mas Boston Celtics, Los Angeles Lakers e muitos outros times já estavam babando na fila de espera por uma reunião com Presti. Essa troca aconteceria antes da temporada? No começo? Ele esperaria até o fatídico última dia de trocas em fevereiro? Era o assunto que ainda restou nessa fase morta da offseason onde só nos resta o basquete olímpico.

A decisão de Russell Westbrook de ficar no time por mais três anos é o terceiro ato, o da redenção, na conturbada relação do OKC Thunder com as regras salariais da NBA nos últimos anos. O Grande Time Que Poderia Ter Sido desta década só poderá ter sua história contada direito com as chatas nuances burocráticas do acordo que os times acertam entre eles e com a Associação dos Jogadores de tempos em tempos.

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Ato 1: Todos querem o Lakers ou Heat

Lembram o tweet de Kevin Durant de 2010 que resgataram no dia em que ele assinou com o Golden State Warriors? O jovem jogador, indo em total desencontro do Durant atual, questionou o fato de todo mundo querer jogar no LA Lakers ou no Miami Heat agora, e que “onde está o espírito competitivo”? Por que “se juntam a eles ao invés de batê-los”?

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Não quero fazer piada com KD, já fizeram o bastante na internet, isso é para mostrar que esse era o pensamento padrão da época. A memória curta dos torcedores, jornalistas e até mesmo de jogadores e donos de times, todos com seus papéis importantes nas tomadas de decisões no futuro da liga, realmente estavam enxergando uma NBA que era tomada pela mesma elite e que as regras de então estavam deixando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Quando Dwight Howard e Steve Nash foram para Los Angeles e Carmelo Anthony quis largar um ótimo time em Denver para se juntar ao Knicks, os times dos chamados “mercados pequenos” se rebelaram e começaram a lutar por novas regras que os favorecesse na hora de brigar por jogadores com os times de mais prestígio em cidades maiores.

A percepção, porém, era ilusão. Analisando a história da NBA, era possível ver que havia uma rotação entre os times dominantes. No Oeste, por exemplo, o Houston Rockets, o Utah Jazz e o San Antonio Spurs dominaram o final dos anos 90. Depois foi a vez de Los Angeles Lakers, Sacramento Kings e Portland Trail Blazers assumirem o posto no começo do século, até o Spurs voltar ao topo e começar a brigar com Dallas Mavericks e Phoenix Suns. No fim da década o Spurs perdeu um pouco do embalo e deu lugar ao Lakers, que agora tinha o Denver Nuggets como um dos rivais mais fortes. Nessa lista enorme temos times de mercados grandes, pequenos, médios. Em comum? Todos, em algum momento, de alguma maneira, conseguiram uma ou mais estrelas que os levaram ao topo. Seguindo o vaivém, a nova década trouxe entre seus times dominantes o retorno do Spurs e do Mavs e a ascensão do OKC Thunder.

O que acontece é que os jogadores gostam de jogar onde as coisas parecem que vão dar certo. Eles querem vencer, querem estar cercados de bons jogadores, bons técnicos e uma organização minimamente competente. Há alguns anos não havia atrativo em Oakland/San Francisco que atraísse um Free Agent MEDIANO ao Warriors, hoje lá é o paraíso. Claro que jogar em Nova York ou Los Angeles tem seu apelo extra com jovens milionários, mas nunca foi o bastante para causar estragos na liga. A boa fase dos “grandes mercados”, porém, estava em alta bem na hora que o CBA estava chegando ao fim.

O CBA é o nome do acordo trabalhista assinado entre os times da NBA e a Associação dos Jogadores. É ela que define para onde vai cada centavo faturado pela liga, o quanto cada jogador pode ganhar, como os times dividem seus lucros, quem paga multa por ultrapassar o teto salarial, de quanto, etc.

Durante longa negociação da nova CBA em 2011 os times dos mercados menores (os que não ficam em Nova York, Los Angeles, Dallas e afins) se juntaram e conseguiram criar regras que, segundo eles, iriam ajudar a manter a liga mais equilibrada. A mais importante era aumentar a punição para quem ultrapassasse o teto salarial estabelecido pela liga. Todos os times podem passar um pouco, mas existe um segundo teto, mais alto, que é o “luxury tax“. Se você o alcança, aí paga multas pesadas que vão para o bolso dos outros times. As novas regras não só deixaram essa multa mais pesada, mas fizeram com que ela fosse ABSURDAMENTE punitiva caso um time a alcançassem em dois anos seguidos, era o chamado “repeater tax“. Se você paga caro demais por seu time em duas temporadas, deve ser punido por isso.

Querem números para isso fazer mais sentido?
Em 2011, um time que estava pagando 12 milhões acima do teto em salários, pagaria outros 12 milhões também em multa.

Em 2014 esse mesmo time, sob as novas regras, com os mesmos 12 milhões a mais, pagaria 21 milhões de multas!

Para se ter uma ideia, o time que mais pagou multa em 2011-12 foi o LA Lakers, com 12 milhões. No ano passado o Cleveland Cavaliers pagou CINQUENTA E QUATRO milhões e multas para montar seu caro time campeão.

O que DIABOS isso tem a ver com o OKC Thunder? Calma, estamos chegando! A regra foi tão eficaz que até os times mais ricos começaram a sentir o peso das multas. O bilionário russo dono do Brooklyn Nets, que tinha todo o dinheiro do mundo pra gastar, começou a cortar gastos e trocar salários pesados. Mas teve um lado da brincadeira que os “pequenos” não viram: se a regra prejudica os ricos a montar super times, os pobres não podem nem pensar em brincar! Então o OKC Thunder se viu numa sinuca de bico quando James Harden disse que queria um contrato enorme para continuar no time. Renovar com ele, Serge Ibaka, Kevin Durant e Russell Westbrook significaria entrar no terreno das multas por anos e anos a fio, e isso era inviável, ideia rejeitada pelo dono da fanquia. O resto vocês conhecem: eles trocaram Harden, Ibaka não virou a estrela que eles queriam e falamos desse negócio até hoje.

É irônico (e cruel) que os times pequenos tenham lido a NBA dessa forma e, no fim das contas, a maior vítima das novas regras salariais tenha sido justamente um time de umas menores cidades a receber um time da liga. Eles JÁ TINHAM o super time, e não conseguiram segurar suas estrelas não porque eles decidiram ir embora, mas porque eles não tinham condições de pagar os caras dentro das definições que eles mesmo criaram. Uma regra mais suave e não duvide que o barba estivesse de uniforme azul até hoje!

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Ato 2: A bonança atrasada

As coisas começaram a mudar rápido logo depois do acordo que encerrou o locaute. Em um dia os donos estavam chorando que só tinham prejuízos, em outro o pobrezinho do Milwaukee Bucks, um dos times menos valiosos da NBA, foi vendido por mais de meio BILHÃO de dólares. Os jogadores estranharam, mas foram pirar de vez mesmo quando o Los Angeles Clippers foi vendido por DOIS BILHÕES de dólares! É sequer possível escrever DOIS BILHÕES sem ser em caixa alta? Por que bilionários estavam gastando seu rico dinheirinho em times se ter uma equipe da NBA era um negócio tão ruim?

Calhou que não era. Logo depois do locaute a NBA entrou em um boom de popularidade, impulsionado por ótimas séries de Playoffs, pelo Super Miami Heat, pela nova geração de super estrelas e depois, enfim, pelo Golden State Warriors quebrador de recordes. Nos mantendo no mundo do Caps Lock, a NBA fechou um acordo de transmissão de TV nos EUA no valor de VINTE E QUATRO BILHÕES DE DÓLARES!!! Esse valor começa a valer nesta próxima temporada e é ele que explica o salto de 25 milhões que o teto salarial da liga deu de uma hora para a outra.

Novamente: o que raios o Thunder tem a ver com isso? Bom, primeiro que eles fizeram papel de idiota. Chutaram o James Harden porque acharam que teriam que pagar multas homéricas para mantê-lo no elenco, aí então o teto salarial da liga aumenta (primeiros aos poucos, depois um salto) e eles descobrem que poderiam ter ficado com ele sem grandes traumas. E quando esse limite foi aumentar de vez? Bem quando Kevin Durant estava disponível! Em um ano normal, poucos times podiam concorrer por esses Free Agents que exigem receber contratos gigantescos, mas dessa vez quase todos, incluindo os grandes rivais do Thunder, como San Antonio Spurs e Golden State Warriors, puderam ir lá seduzi-lo.

O curioso (e novamente cruel) é que isso poderia ter sido evitado. Prevendo a loucura que seria (e foi) uma offseason onde, de repente, todos os times teriam dinheiro de sobra para gastar, a NBA propôs que o aumento do teto salarial fosse gradual: uns 5 milhões neste ano, 8 no próximo e por aí vai, até cobrir todos os bilhões que a NBA vai ganhar. Isso soa injusto com os jogadores, mas não é. O acordo vigente obriga a NBA a dividir os ganhos da liga com os jogadores, então se a metade destinada aos jogadores fosse maior do que o salário de todos os jogadores somados, essa sobra seria dividida entre todos os atletas. O aumento gradual pagaria todo mundo, o aumento de uma vez criou um mercado louco onde o Kent Bazemore, o DeMar DeRozan e o Harrison Barnes ficaram com tudo. A escolha foi dos próprios jogadores e, novamente, quem se deu mal foi o OKC Thunder.

May 12, 2016; Oklahoma City, OK, USA; Oklahoma City Thunder guard Russell Westbrook (0) takes the floor before action against the San Antonio Spurs in game six of the second round of the NBA Playoffs at Chesapeake Energy Arena. Mandatory Credit: Mark D. Smith-USA TODAY Sports

Ato 3: Finalmente um alívio

As novas regras resolveram favorecer o OKC Thunder ao menos uma vez, dá pra acreditar? O salto do teto salarial permitiu que os times fizessem uma coisa que antes era raríssima, para não dizer impensável: renegociar contratos ainda vigentes. Não é permitido diminuir o salário de um jogador no meio do seu contrato, mas é possível dar mais dinheiro para ele. Para isso o time precisa de duas coisas, (1) espaço no teto salarial e (2) alguma maluca motivação extra, afinal, por que gastar mais com algo que você já tem garantido?

O Thunder tinha as duas coisas. O espaço nos salários por causa do salto e também por não ter renovado com Kevin Durant e com Dion Waiters, e a motivação extra era dar um algo a mais para que Westbrook não quisesse se tornar um Free Agent ao fim da próxima temporada. Se o teto vai aumentar mais uma vez no próximo ano, o normal seria ele querer encerrar seu contrato para conseguir lucrar mais nesse futuro negócio, então o Thunder resolveu compensar essa provável vantagem futura com um aumento imediato. Você não irá assinar um contrato 10 milhões mais gordo ano que vem, mas te garantimos 8 milhões nessa, topa? Ele topou. Foi a primeira vez nos últimos cinco anos que uma mudança de regra deu a oportunidade ao Thunder se mostrar como uma melhor opção, e eles usaram a chance para não correr o risco de perder seu melhor jogador.


Durante muitos anos vamos nos divertir (ou sofrer) com essas conversas do OKC Thunder ser o grande time que não foi desta década. E quando o assunto vir à tona, iremos retomar todas as histórias e decisões tomadas, procurando heróis e vilões: Sam Presti é o doido que trocou Harden; Clay Bennett é o dono pão duro que não quis pagar multas; Kevin Durant é o que trocou seu time pelo inimigo e, agora, estão tentando vender Russell Westbrook como um herói leal à sua cidade. O que fica escondido nessa narrativa bonitinha e organizada é o aleatório e o que estava longe do alcance do Thunder ou de qualquer dirigente e jogador. Quem iria imaginar que o teto salarial iria subir bem no ano que Durant fosse Free Agent? Quem diria que o Warriors teria espaço para pegá-lo só porque Steph Curry assinou um contrato baratinho numa época que era menos valioso? O que teria acontecido se os donos de times não tivessem ficado tão desesperado com medo de novos super times? 

No fim das contas o Westbrook até pode querer ser o macho alfa e herói resistente de Oklahoma e Durant pode ser mesmo um desesperado por um título, mas nada, NADA, nessa história toda existe sem o dinheiro e as regras da NBA para lidar com esses dólares. É um tema mais chato, uma história com menos apelo, mas verdadeira.

Se você quer um time para usar como personagem da montanha-russa econômica que tem sido essa década na NBA, o OKC Thunder é a sua escolha. A permanência de Russell Westbrook ao menos dá uma chance da história ainda ter um final feliz.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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