As razões por trás da troca de Avery Bradley

Eu descobri que conheço muito mais torcedores do Boston Celtics –vários entre nossos amados assinantes— do que sabia. Qual foi o segredo para a descoberta? Só ver quem PERDEU A CABEÇA, chorou, entrou em depressão e saiu pulando de um pé de alface após a notícia de que os verdinhos mandaram Avery Bradley para o Detroit Pistons em troca de Marcus Morris, também conhecido como “o pior gêmeo Morris da NBA”.

A tristeza dos torcedores é compreensível. Avery Bradley está no time desde o começo da sua carreira em 2010-11, fez parte do time que tinha Kevin Garnett, Rajon Rondo, Paul Pierce e Ray Allen e foi a grande peça de transição entre aquela época e esta seguinte, comandada pelo técnico Brad Stevens e um bando de pirralhos. Ele era uma das apostas, vingou e viu o time passar de “reconstrução pós-Big 3” a líder do Leste e finalista de conferência. É triste ver essa história ser interrompida justamente agora que o time conseguiu mais um All-Star, Gordon Hayward, sentiu o gostinho de ir longe nos Playoffs e iria tentar lutar por coisas maiores. É a sensação daquele cara que é cortado na semana anterior à Copa do Mundo.

A perda também vai muito além do emocional de ver ir embora um jogador ao qual você é apegado. O cara é também MUITO BOM lá dentro da quadra! Os próprios jogadores da NBA ficaram revoltados quando ele não foi votado para a seleção dos melhores defensores da liga, já que ele é um dos mais eficientes e chatos marcadores de perímetro da liga. Com as dificuldades defensivas de Isaiah Thomas, era responsabilidade de Bradley marcar os armadores rivais, tarefa que deve ser a mais difícil de toda a NBA na atualidade. Se tinha uma coisa que dava certo nos duelos contra o Cleveland Cavaliers, aliás, era a defesa de Bradley sobre Kyrie Irving. Pois é, existe uma pessoa no mundo que consegue fazer o Irving parecer que não é uma apelação de video game.

O ala do Celtics empatou com Jae Crowder na segunda posição entre os melhores arremessadores de 3 pontos do time na última temporada com ótimos 39% de acerto, abaixo apenas de Amir Johnson (!!!), que fez 40% (mas tentando 211 chutes a menos). Em resumo, Bradley era possivelmente o melhor defensor, o melhor arremessador e ainda desenvolveu ao longo dos últimos anos um jogo mais confortável com a bola na mão, driblando mais e às vezes criando seus próprios arremessos. Tudo isso e ele tem só 26 anos! Perder Bradley é perder muita coisa, não dá pra negar.

O que a torcida do Celtics precisa entender (embora eu respeite o LUTO) é que a troca foi necessária e possivelmente a melhor maneira possível para o General Manager Danny Ainge contornar os seus problemas de rico. Porque é assim, todo mundo tem problema, os de gente rica apenas são melhores que os dos outros. Ou, como diz o poeta, sofrer em Paris é sempre melhor. O time PRECISOU negociar Bradley porque está começando a se complicar com a questão salarial: depois de pagar uma nota preta por Al Horford no último ano, o time precisava abrir 30 milhões no teto salarial para conseguir espaço para o contrato máximo exigido por Gordon Hayward. Veja como está a folha salarial do time:

Celtics Cap

Com o teto salarial da liga ficando na casa dos 99 milhões de dólares nesta temporada, menos do que o previsto por todos os times, o Celtics teve que fazer malabarismo para abrir o espaço para receber os quase 30 milhões de Hayward nesta temporada. Eles abriram mão de Jonas Jerebko, James Young e Kelly Olynyk e mesmo assim não foi o bastante. Para dar certo eles teriam que trocar algum dos caras que ganhavam um pouco mais que os salários mínimos, alguém do trio Marcus Smart, Jae Crowder e Avery Bradley. Até se especulou fazer um sign-and-trade com o Utah Jazz, pegando Hayward em formato de troca e mandar Crowder para lá, mas o Celtics acabou desistindo porque queria receber algo realmente valioso em troca desses caras, seria muito estúpido só tirá-los para abrir espaço.

O time então começou a sondar o mercado e ver o que conseguiriam por cada um deles. Propostas não faltam, é claro, todos são bons e estão em contratos ótimos se comparados com o resto da NBA. Em um mundo onde jogadores médios aleatórios ganham mais de 10 milhões, Crowder ganha ~apenas~ 6,7 milhões e terá que ser renovado somente daqui a TRÊS ANOS. Smart, que vai entrar no seu último ano, como Bradley, ganha míseros 4,5 milhões. Bradley ganhará 8,8 milhões. O difícil dos negócios era que, em troca, para conseguirem abrir o espaço para Hayward, deveriam trocar um salário BAIXO e receber um MENOR AINDA em troca. Não são muitos jogadores que ganham abaixo disso, muito menos caras do mesmo nível deles. Teria que ser um time que quisesse um dos três, que tivesse alguém bom com salário menor e que pudesse absorver essa diferença de dinheiro. Não é tão fácil quanto parece.

A solução encontrada foi pegar Marcus Morris, ala do Detroit Pistons que tem mais 2 anos de contrato e receberá 5 milhões de dólares na próxima temporada, basicamente um salário de ESTAGIÁRIO no atual momento da liga. O Celtics então mandou um cara que recebe 8,8 milhões e pegou um de 5,5 milhões, o bastante para cortar o necessário para que Hayward fosse encaixado. Temos que lembrar que Hayward recebeu uma oferta tão lucrativa quanto a do Celtics lá no Miami Heat e teria um quinto ano garantido de contrato se ficasse no Utah Jazz,  então não dá pra cobrar que ele seja o Kevin Durant e ganhe menos.

Não deve existir uma pessoa que prefira ter Marcus Morris no time ao invés de Bradley, mas ele está longe de ser ruim. Na última temporada seu aproveitamento dos 3 pontos caiu para 34%, mas nos anos anteriores havia sido de 36%, 36% e 38%. Ele é um bom arremessador que calhou de passar os últimos anos em um time estagnado e com problemas de criação ofensiva. Na defesa, embora seja bem menos famoso que Bradley, também é muito bom. Mas ao invés de marcar armadores, defende alas mais altos e muitas vezes mais fortes. Os números são de poucos jogos, é verdade, mas há duas temporadas ele até foi o cara que melhor defendeu LeBron James na NBA!

Não, ele não vai ser a resposta para PARAR LeBron James. Ninguém é. Mas Morris é um bom ala, versátil e que até joga na posição 4, carência do Celtics após as saídas de Amir Johnson e Kelly Olynyk. Qualquer time na NBA hoje precisa de caras versáteis e entre ele, Jae Crowder e até Gordon Hayward, o Celtics terá várias formações baixas, com diversos arremessadores e que ainda dão conta de defender jogadores altos e fortes. Não é pouca coisa. A questão de marcar os armadores fica mais complicada sem Bradley, mas Marcus Smart é mais do que capaz de fazer isso. Ele está na NBA por sua defesa e como todo jovem jogador vai receber um papel maior no time após alguns anos, é hora de provar o que vale. Não será a mesma coisa, vão jogar com um arremessador a menos no ataque, mas espero ver Smart também fazendo adversários sofrerem para pontuar.

Mas a grande sacada do manager Danny Ainge está nos planos a longo prazo. Como sabemos, esse Celtics é feito para ficar lá em cima agora mas sem abrir mão de continuar lá em cima daqui 3, 4 ou 5 anos. Como citei ali em cima, Crowder tem ainda 3 anos de um contrato bem barato, feito antes do teto salarial disparar, então não seria um bom negócio trocá-lo justo agora que o time terá que arcar com outros jogadores tão caros. Pensando na questão financeira, a troca deveria ser mesmo entre Smart ou Bradley, que estarão negociando novos contratos daqui exatamente um ano. E vamos ser sinceros, seria impossível para o Celtics continuar com Bradley. Ele é ainda muito jovem e MUITO bom. Se Andre Roberson ganha 10 milhões por ano, se Victor Oladipo beira os 20 milhões, o que vai impedir um time de oferecer uma nota preta para Bradley? Nada, e com razão, ele merece ser bem pago.

Vamos recapitular: no próximo ano eles precisam pagar 31 milhões de dólares a Gordon Hayward, 28,9 milhões para Al Horford e ainda precisarão renovar o contrato de Isaiah Thomas, que já disse que quer e merece ganhar na casa dos 30 milhões anuais também. Talvez, mas só TALVEZ, o mercado esteja saturado no próximo ano e Thomas não consiga negociar tudo isso e ganha APENAS uns 20 milhões. Isso daria cerca de 80 milhões em somente 3 jogadores, com o teto salarial provavelmente ficando na casa dos 102 milhões. O time ainda precisa renovar com Marcus Smart, pagar os 10 milhões entre os contratos de Jayson Tatum e Jaylen Brown e, claro, pagar todos os salários mínimos para fechar o elenco. Para fazer caber os 20 milhões (pelo menos) de Bradley aqui, o time iria estourar o teto salarial e entrar em território de Golden State Warriors: multas e mais multas ZILIONÁRIAS somente para manter o atual time junto. A diferença é que só uma dessas equipes é campeã, uma dos melhores de todos os tempos e com lucros recordes de dinheiro ano após ano. Não é o time de verde.

Até acho que a ideia de Danny Ainge era manter o time junto, com Avery Bradley, e empurrar as decisões difíceis para o ano que vem. Decidir só então se ficar com Bradley, Isaiah ou, dependendo do que mudar até lá, os dois. Mas com a impossibilidade de assinar Hayward sem uma troca, ele foi forçado a adiantar os planos. Se no vácuo, só olhando o papel, o Celtics saiu perdendo por ceder o melhor jogador, dentro do contexto a negociação foi PERFEITA. Planejam a próxima temporada, conseguem o necessário para contratar o ESPETACULAR Hayward e adquirem mais um bom e versátil ala, posição que eles precisavam, que ainda tem dois anos de contrato baratíssimo.

Comentam na imprensa americana que Danny Ainge é um General Manager frio, que trocaria a própria mãe se fosse um bom negócio a longo prazo e envolvesse uma escolha de Draft. Nesse caso foi quase isso, ele fez, como no negócio de Paul Pierce há alguns anos, a escolha emocionalmente mais difícil, a que enfurece a torcida, mas a que tem mais chances de dar resultado a longo prazo. É chato dar adeus a um jogador ao qual você se apega, mas como torcedor do LA Lakers posso dizer com gosto a meus rivais: parem de reclamar de barriga cheia!

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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