A troca necessária

Em quantas palestras você precisa ir até descobrir que uma crise pode ser também uma oportunidade? Acho que nenhuma, mas é sempre bom lembrar que problemas podem ser bons para obrigar os envolvidos a sair do casulo e buscar uma solução.

Há algumas semanas discutíamos se o Toronto Raptors deveria tentar ou não uma troca, de preferência em busca de um jogador para a posição 4, a de Power Forward. Há tempos que existe um buraco no time nesta função e até agora ninguém realmente convenceu. No ano passado tentaram, sem sucesso, Luis Scola. Depois arriscaram small ball com DeMarre Carroll. Para este ano contrataram Jared Sullinger e até começaram o ano dando a vaga de titular para o novato Pascal Siakam. Mas o time só era bom mesmo nos minutos em que Patrick Patterson vinha do banco e jogava com os titulares. O problema é que Patterson não só rendia menos quando era titular, como costumava perder impacto quando era utilizado por longos minutos. Sua presença no time titular ainda tirava um trunfo que o time canadense tinha sobre os adversários, um banco mais forte.

Parecia uma oportunidade clara para uma troca. O time já é bom, mas falta uma peça para completar o quebra-cabeça. Por que não ir atrás de Paul Millsap, Danilo Gallinari, Kenneth Faried, Serge Ibaka ou qualquer um desses mil nomes que estão rondando os boatos de trocas nos últimos meses? Em comum, todos os caras eram bons jogadores em seus últimos anos de contrato e em times que, em algum momento do ano, deram a entender que tinham jogado a toalha.

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Trocas tão óbvias como essas costumam não acontecer, é uma regra não escrita da NBA e nem vou tentar me arriscar a explicar os motivos. Mas dessa vez foi: graças a muitas derrotas o Raptors tem chance de dar um passo além.

Quando discutíamos esse troca-não-troca, o Raptors era o segundo colocado da Conferência Leste, colado no Cleveland Cavaliers e com o MELHOR ATAQUE da NBA! Sim, na frente de Cavs, Rockets, Warriors e tudo mais. Valeria a pena desmontar um time que estava tão bem ajustado só porque a gente não conseguia visualizar eles batendo o Cavs numa série de Playoffs? Pior, os outros times podiam cheirar esse desespero do Raptors e cobrar caro numa troca. É bom lembrar que Masai Ujiri, General Manager do Raptors, é conhecido por ser bem paciente na construção de um time e terrivelmente metódico nas trocas. Ele não faz concessões só para agradar e não “perde” uma troca só para conseguir sucesso a curto prazo. Poderiam oferecer Blake Griffin e Ujiri não iria abrir o cofre por um aluguel de alguns meses do ala do Clippers.

Mas nas últimas semanas tudo deu errado em Toronto. Primeiro DeMar DeRozan e Patrick Patterson se machucaram. O time não só ficou mais distante do Cavs como começou a ser ameaçado pelos concorrentes que vinham atrás. Então eles perderam confrontos diretos para o Boston Celtics, caíram para a terceira posição na Conferência, depois viram o QUENTE Washington Wizards tomar o lugar deles e, na última semana, foram ultrapassados também pelo Atlanta Hawks, que no fim das contas parece que desistiu momentaneamente de negociar Millsap.

Embora Patterson ainda permaneça fora do time, eles já contam com DeRozan de volta e nem o retorno do cestinha do time deu conta do recado. O técnico Dwayne Casey já tentou deixar ele e Kyle Lowry mais tempo em quadra, tentou aumentar os minutos do muito bom e às vezes esquecido Norman Powell e Lucas Bebê e Jakob Poetl já tiveram suas chances como alas titulares mesmo sendo pivôs. Nada parece estar tirando o Raptors da sequência de maus resultados. O ataque ainda é bom, mas não a ponto de liderar a liga, e a defesa tem visto algumas sequências perigosas onde não param ninguém. Atrapalha muito que Casey precise colocar Bebê em quadra nos fins dos jogos para ganhar alguma proteção dentro do seu garrafão e fique, no processo, sem os rebotes (de ataque e defesa) de Jonas Valanciunas.

A mudança da situação, porém, fez a narrativa de não desmontar um time vencedor ir para o ralo. DeMar DeRozan está chegando em seu auge, Lowry aproveitando os últimos momentos do seu e o Leste parece aberto o bastante para que qualquer bom time chegue ao menos na chance de desafiar o Cavs, que de repente está desfalcado de Kevin Love e JR Smith. Se isso não é a hora de arriscar uma troca, então qual é?

Faltava então apenas conseguir um bom negócio, algo que fosse um passo para frente sem precisar necessariamente desmontar a base de um time montado com muita paciência ao longo de varias temporadas. Ujiri achou seu caminho dos sonhos nesta semana quando enviou Terrence Ross e uma escolha no draft de 2017 para o Orlando Magic em troca de Serge Ibaka.

A escolha de draft é uma das duas que o time canadense tinha na próxima seleção de novatos. Entre as que eles já haviam recebido em negociações passadas com Clippers e Grizzlies, a pior colocada será enviada para Orlando. Não creio que irá fazer falta num time com elenco já bem completo e com algumas apostas jovens (ainda que nem tão promissoras, é verdade). Perder Terrence Ross machuca um pouco mais, ele era uma das forças do banco de reservas, um arremessador que não tinha medo de meter a bola pra cesta. Mas está longe de ser inegociável, cedendo a maioria dos seus minutos para Norman Powell que, na minha humilde opinião, é um jogador bem mais completo e estava sendo subutilizado.

Por esse preço ridículo eles conseguiram Serge Ibaka que, apesar de não ter virado a estrela que a gente torcia/imaginava há alguns anos, ainda faz seu estrago. E, o mais importante, oferece um pouco de tudo o que os outros alas e pivôs do Raptors faziam um de cada vez. Ele pode ser ágil na defesa do perímetro e voltar para fechar o garrafão como tenta Lucas Bebê, pode espaçar a quadra no ataque com tiros de média e longa distância como Patterson e pode jogar tanto como pivô solitário quanto ao lado de Jonas Valanciunas. Não acho que Ibaka chegue mudando o patamar defensivo do Raptors, mas ele é bom nesse lado da quadra e uns tocos a mais por jogo, para não depender só de Bebê na função, podem fazer o Raptors tomar menos pontos no garrafão. Isso sem contar o que já sabemos: ele tem experiência em Playoffs e sabe jogar ao lado de dois caras que concentram as funções ofensivas (embora já tenha reclamado no passado de não ser muito acionado).

Obviamente o Orlando Magic só o trocou porque não tem mais esperança de nada na temporada e se tocaram, finalmente, que Ibaka tinha tudo para pular fora do barco ao fim do ano. Um risco que o Raptors assumiu, mas com esperança de superar e manter o jogador.

Nascido na Nigéria, Ujiri cresceu como olheiro da NBA na África e tem ótimo relacionamento com os jogadores locais, além de sempre tentar vender Toronto como um mercado amigável a jogadores não americanos. Não dá pra garantir que Ibaka vá reassinar com eles só por isso, mas o cenário parece perfeito. Ibaka sempre disse que não se sente confortável mudando de time e que quer estar numa equipe com chance de brigar por algo. Em Toronto ele pode não passar pela terceira mudança em um ano, receber um contrato gordo, negociar com um General Manager que ele conhece e, ao contrário do que passava em Orlando, não viver com a sombra de mil jogadores brigando por seu espaço, minutos e função na equipe.

O Orlando Magic parece cada vez mais perdido na sua estratégia. Temos que lembrar que eles mandaram Victor Oladipo e Domantas Sabonis, que havia acabado de ser uma escolha 12 no draft, por Ibaka. Alguns meses fracassados depois e o mesmo cara vira Terrence Ross (alguém acha que ele vale mais que Oladipo?) e uma escolha que certamente será bem mais baixa do que foi Sabonis. Tudo bem que eles precisavam desesperadamente de um arremessador mais consistente de 3 pontos, acho que Ross vai ajudar muito taticamente, mas o preço foi ridículo. Ao menos o novo ala tem contrato razoável para os novos padrões (11 milhões por ano) e já está garantido por mais três temporadas.

Sem Ibaka, o Magic pode começar a definir melhor as suas posições e talvez até melhore um pouco. Aaron Gordon pode ter mais minutos na posição 4, onde joga melhor, Vucevic e Biyombo podem ter mais espaço para jogar no garrafão com a presença de um novo arremessador. Tudo bonitinho, mas nada que mude o patamar da equipe, que ainda é uma das piores do Leste.

O Toronto Raptors, por outro lado, fez o dever de casa da melhor maneira possível. Gastando muito pouco em ativos, conseguiu manter a base e conseguir um dos melhores jogadores disponíveis nessa altura do campeonato. Se não é garantia de sucesso, dá pra pelo menos sonhar com uma reação nesta segunda metade da temporada. Problema mesmo só será a folha salarial quando renovarem com Ibaka e Lowry no ano que vem. É possível, mas MUITO caro para um time tão cauteloso. Os resultados dos próximos meses vão mostrar quem merecerá prioridade na hora de abrir a carteira.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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