Amarelo Manga

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Kidd tenta soltar raios pelas mãos para marcar Carmelo

A partida entre Hawks e Cavs pode ser resumida num simples espaço de 10 segundos: minutos finais de jogo, perdendo por 6 pontos, o Hawks acabara de pegar um rebote ofensivo e tentou uma bola de três pontos. Errou, pegou o rebote ofensivo de novo e imediatamente tentou de novo, com Flip Murray. Errou, mais um rebote ofensivo e mais uma tentativa imediata, dessa vez com Joe Johnson. Foi mais um erro, mas dessa vez sem rebote ofensivo, e o jogo estava acabado. Quando mais importou, frente ao milagre de três rebotes ofensivos contra um dos melhores times em rebote de toda a NBA, ninguém conseguiu fazer uma maldita bola de três pontos. Vale lembrar, também, que graças ao colapso do Cavs em garantir seus rebotes, todo mundo estava dentro do garrafão e cada um desses arremessos foi consideravelmente livre. Ou seja, “funhé!” para o Hawks e férias merecidas, o que no fundo era tudo que o time de Atlanta implorava para não ter que passar mais vergonha.

Foi exatamente o oposto da partida entre Mavs e Nuggets, em que nos momentos mais cruciais estavam em quadra jogadores especialistas em converter arremessos decisivos: Carmelo Anthony, Chauncey Billups e, vejam só, Dirk Nowitzki. Para comentar esse trio que para muitos pode parecer inusitado, vou me valer de uma das colunas “8 ou 80” do Denis, uma sobre “arremessos decisivos” que, infelizmente, está fora do ar por motivos técnicos.

Através de estatísticas do site 82.games, com dados sobre os arremessos dados nas últimas 5 temporadas quando um time está perdendo por 1 ou 2 pontos ou então empatados, sempre com 24 segundos ou menos restando para o fim do jogo, o Denis lida com alguns mitos e analisa se são reais ou não (quase um Mythbusters, mas ele não usa bigode):


“Dirk Nowitzki amarela em finais de partida”

Falso. Assim como Vince Carter, Dirk Nowitzki não carrega boa fama em momentos decisivos, mas sob o olhar dos números tal fama parece infundada. Em 37 oportunidades de vencer jogos, Dirk acertou 12 bolas, um acerto de 32%, aproveitamento superior a de jogadores como Joe Johnson, Kobe Bryant, Dwyane Wade, e empatado com o Gilbert Arenas, que fez tanta fama com suas bolas de último segundo.

“Chauncey Billups é o ‘Mr. Big Shot'”

Falso. Apesar do apelido “Mr. Big Shot” que ele ganhou por acertar arremessos decisivos em momentos importantes dos jogos, Billups não reproduz esses arremessos quando seu time está perdendo na última posse de bola do jogo. Ele é o jogador, ao lado de seu antigo parceiro Rasheed Wallace, com pior aproveitamento de arremessos: 6 acertos em 37 tentativas, 16%. Para compensar, ele já decidiu os jogos muitas vezes em lances livres: dos 19 que tentou na situação estudada, acertou 18.

O Denis, em seguida, utiliza outras estatísticas, que lidam com apenas os últimos 5 minutos de jogos em que nenhum time fica na frente por mais de 5 pontos. A descoberta é sensacional:

“O líder em pontos é LeBron James, que em média faz 57 pontos a cada 48 minutos de jogos decisivos, ou facilitando as coisas, em média 6 pontos a cada final de jogo apertado. Seguido dele está Carmelo Anthony e Kobe Bryant, ambos com 5,6 pontos nos minutos decisivos. A diferença essencial entre os três é que Carmelo tem um aproveitamento muito melhor quando o jogo mais importa. Ele acerta assustadores 59% de seus arremessos em geral e 66% das bolas de 3 que tenta! Para se ter uma idéia, LeBron acerta 51% dos arremessos e Kobe 47%. Nas bolas de 3, LeBron acerta 36% e Kobe 50%.

Na eterna discussão sobre quem melhor finaliza jogos, parece que Carmelo Anthony é o verdadeiro vencedor de que ninguém nunca lembra. (…) Somando todos os dados analisados, a conclusão que podemos chegar é que enquanto o mundo acha que Kobe e LeBron decidem melhor os jogos, os números apostariam em Carmelo Anthony.”

Incrível como esse lance de “jogador decisivo” tem muito mais a ver com fama do que com a realidade mesmo. Por causa da série contra o Warriors, Nowitzki ficou conhecido por não atacar a cesta. Por causa de alguns momentos ruins em jogos importantes (incluindo uma atuação fantástica no jogo anterior contra o Nuggets, mas com um quarto período apagado e silencioso), acabou com fama de amarelão. Dia desses brinquei que o alemão poderia colocar seu troféu de “jogo roubado pela arbitragem” em sua estante amarela, mas o Nowitzki não tem senso de humor e sempre nos lembra de que ele falha às vezes, como qualquer jogador, mas que sempre carrega seu time nas costas. O que ele fez na noite de ontem, no quarto período, não foi nem amarelão e nem teve nada a ver com a fama de “fobia de garrafão” que o Nowitzki ostentou contra o Warriors. O vídeo abaixo não mente:

Não é engraçado que a maioria de seus pontos no vídeo tenha sido dentro do garrafão, com direito a receber pancadas, cestas com falta, e até umas enterradas desengonçadas? Ele não é o ser humano mais coordenado do mundo indo para o aro, mas é bastante eficiente e é isso que importa (o Shawn Marion não tem o arremesso mais bacanudo do mundo, mas quem é que vai reclamar?). Mesmo eficiente no garrafão, foi com um arremesso em sua cara, no entanto, que Kenyon Martin ficou vendo estrelinhas de desenho animado e o Mavs passou à frente no placar de forma definitiva, apenas coroando a vantagem depois com uma série de lances livres nos segundos finais.

Enquanto isso, Billups tem até um apelido fodástico por acertar arremessos importantes, mas quem realmente merece ter a bola quando conta é Carmelo Anthony, que por anos tem sido um dos jogadores mais eficientes da NBA em finais de jogos. Sempre bato o pé que o Carmelo tem o maior e mais técnico arsenal ofensivo da liga, mas todo mundo ri da minha cara, me tranca no armário e rouba meu lanchinho. O que ele pode fazer no ataque é fora de série e ainda incomparável na NBA, nem mesmo Kobe tem um arsenal tão completo, por não poder jogar dentro do garrafão, de costas para a cesta, abusar de ganchos e “tear-drops” (aquela bola “vou tacar pra cima e ver no que dá” que Tony Parker e agora Rajon Rondo levaram à perfeição). Carmelo já decidiu partidas importantes nesses playoffs, incluindo a bola que deu a vitória contra o Mavs naquele lance imbecil em que sofreu falta do Antoine Wright mas a arbitragem só apita contato de quem eles sabem o nome.

De acordo com as estatísticas, tínhamos tudo para ter uma série entre Nuggets e Mavs que lembrasse a inesquecível série entre Celtics e Bulls, com milhares de bolas decisivas acertadas, mudanças de liderança e mais prorrogações do que a Mari Alexandre tem capas de revista masculina. Todo mundo sabe que o Nuggets tem mais time, isso nem se questiona, mas o Lakers também tem mais time do que meu Rockets e nem por isso a série está sem graça. Agora é que voltamos a ser atormentados pelo fantasma da arbitragem: sem aquela lambança na falta em cima de Carmelo, a série poderia estar empatada em 2 a 2, com cada time tendo vencido dentro de casa, e agora teríamos a promessa de jogos espetaculares com Carmelo e Nowitzki trocando lideranças enquanto seriam ignorados pela mídia ou chamados de amarelão. Se a série fosse um passeio, como eu imaginava (defendo-me: simplesmente não entendo esse Mavs!), o erro dos árbitros não mudaria nada no bom andamento da série. Mas agora, com 44 pontos e 13 rebotes de um Nowitzki endiabrado mesmo quando o espírito do time deveria ter descido pelo ralo com a derrota dentro de casa, está claro que a série não é tão desigual assim. Poderia estar emocionante, competitiva, coroando a temporada aos trancos e barrancos do Mavericks com uma disputa digna, honrada. Mas não, um par de carinhas com apitos estragaram tudo, para desespero do nerd-mas-milionário Mark Cuban, que não sabe nem para onde apontar seus dedos (já pagou tantas multas por criticar juízes na NBA que agora pareceu mais fácil xingar o Kenyon Martin na frente da pobre mãe do rapaz, provavelmente porque o K-Mart bateu no Nowitzki, por quem Cuban é completamente apaixonado e deve ter fotos dele no quarto e num altar onde faz rituais satânicos).

A verdade é que o Dallas poderia – e deveria – ter ganhado o jogo antes da lambança da arbitragem se tivesse acertado seus arremessos no quarto período, mas não se trata de um padrão (como é o caso do Magic em perder grandes lideranças), foi mais um deslize. Punidos pela arbitragem, a série não tem qualquer esperança e já está morta e enterrada, embora ainda exista, tipo o Silvio Santos. Mas o Dallas ainda tem algo a provar, Nowitzki ainda tem uma fama para enfiar na orelha, e o Mark Cuban ainda tem algumas multas milionárias para pagar pro David Stern. Todo mundo no Mavs está jogando por alguma coisa e outra noite de 44 pontos do alemão provavelmente nos espera. Que o time possa ao menos ser eliminado de forma justa, mostrando que trata-se de uma grande equipe, e engrosse a série para o Nuggets. Sonhando alto, dá até para imaginar um Jogo 7 e aí, com tantos especialistas em decidir partidas, teríamos um espetáculo realmente memorável. Mesmo que o Mavs não tenha muitas chances de avançar para a Final de Conferência, o Nowitzki pode ganhar mais um troféu de “Valeu a tentativa”, para colocar em sua estante amarela-cor-de-manga. Só porque ele é um cara antenado e sabe das cores da estação, veja bem.

Cada jogo a mais que o Mavericks arranjar deve nos tirar um sorriso. Porque a sensação, infelizmente, é de que vemos os últimos suspiros desse time. Tirem fotos, mostrem para os seus filhos, comprem camisetas: Mark Cuban é nerd mas não é bobo e, depois de ir assistir ao filme do Star Trek, vai começar a reconstruir essa equipe. Das certezas, apenas uma: o alemão fica. Não importa que cor a torcida ache que ele tenha.

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