Aprendendo com o Sixers

No último sábado quase vimos o Sixers chocar o mundo – embora ter perdido para o Warriors apenas no último segundo já seja choque suficiente para uma noite, claro. O absurdo da situação está no fato de que esse Sixers não apenas tem o pior início de temporada de toda a HISTÓRIA – tendo perdido seus primeiros 18 jogos – como também flertou durante a primeira metade da temporada com a possibilidade de não alcançar sequer 9 vitórias, pior marca numa temporada cheia na NBA. Isso, claro, enquanto o Warriors está de namorico com a ideia de ter o maior número de vitórias numa temporada, recorde atualmente do Bulls de 1995-96 com 72 jogos ganhos.

Assim como nas quatro derrotas que o Warriors tem na temporada, um desfalque no elenco acabou tendo papel no drama (no caso, Andre Iguodala foi poupado e Festus Ezeli ainda está fora com uma lesão no joelho), mas o susto que o Sixers deu no atual campeão foi mais fruto de dois fatores: o primeiro é que esse Sixers já não é mais o saco de pancadas do início da temporada, tendo vencido 3 dos últimos 10 jogos e parecido outra equipe desde a chegada de Ish Smith; o segundo é que o Sixers, por mais estranho que possa parecer, tomou uma série de decisões corretas na hora de enfrentar o Warriors que podem apontar para soluções possíveis para vencê-los.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Stauskas abraça uma bola imaginária muito maior do que a bola real”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Stauskas.jpg[/image]

Quando o Sixers trocou duas escolhas de segunda rodada para ter de volta o armador Ish Smith, a equipe só tinha uma vitória e TRINTA derrotas na temporada. Desde então são 6 vitórias e 11 derrotas, o que é ruim mas certamente não é PÉSSIMO. O que Ish Smith trouxe para a equipe é simples: um jogador de perímetro que sabe atacar a cesta, exigindo que a defesa preste atenção nele, e que dá passes descomplicados para os companheiros livres quando a defesa aperta nele, sem forçar bolas malucas e cometendo poucos erros. A molecada do Sixers não sabe fazer nada muito complicado, mas agora com um armador de verdade pelo menos conseguem fazer o feijão-com-arroz: passaram a ter jogadas de pick-and-roll, não cometer turnovers contra qualquer defesa pressionada e dar um ou outro arremesso livre quando as defesas adversárias se atrapalham. Só de não errar passe atrás de passe e ficar estagnado em infinitas jogadas com um atacante isolado contra um defensor, já dá pra vencer uma ou outra partida na NBA. O Sixers perdia muitos jogos no final, quando a vontade e o talento bruto dos jogadores não era suficiente frente à uma execução superior adversária, e o nervosismo da equipe acabava gerando jogadas estúpidas fadadas ao fracasso. Agora, em momentos de tensão, Ish Smith faz o básico: recebe um corta-luz, ataca a cesta, e se possível passa a bola. Já está anos-luz do que existia antes dele.

Justamente por só conseguir fazer o simples, o Sixers tentou enfrentar o Warriors com as ferramentas mais básicas disponíveis, sem almejar sucesso naquilo que seria impossível. No ataque a base foi o pick-and-roll, com os jogadores de garrafão correndo para a cesta depois do corta-luz; na defesa, tentaram uma defesa individual com jogadores de garrafão correndo o tempo todo na cobertura da bola, mas sem contestar muito os arremessos ou se preocupar em tapar os espaços para trás da linha de três: o foco da defesa ficou NO CHÃO. Foi uma “defesa terrestre”, se é que existe qualquer coisa parecida com esse termo.

Isso significa que o Sixers ficou mais preocupado em fazer o possível – atrapalhar o domínio de bola, interceptar passes, atrapalhar a rotação da bola – do que seguir a NBA na preocupação do IMPOSSÍVEL – impedir que os arremessos do Stephen Curry caiam. Se o Warriors é uma equipe famosa por instaurar o caos em quadra e às vezes se perde um pouco nisso, desperdiçando muitos passes e perdendo a posse de bola, me parece que focar nisso e tentar atrapalhar os passes é melhor para a defesa do que retirar os espaços de arremesso, coisa que já sabemos que não funciona. Ter jogadores jovens e de grande potencial físico ajuda, porque dá pra correr atrás da bola e ficar atrapalhando as linhas de passe o tempo inteiro. Nerlens Noel, ao invés de virar um INÚTIL como tende a ser de praxe para pivôs contra o Warriors, ficou correndo de um lado para o outro impedindo a bola de chegar onde o Warriors queria que chegasse. Resultado: o Sixers teve 18 roubos de bola no jogo (sendo 4 de Ish Smith, 4 de seu reserva Isaiah Canaan, 2 de Nerlens Noel) e o Warriors cometeu VINTE E TRÊS turnovers, sendo 8 só do Curry, 7 do Draymond Green e 5 do Klay Thompson.

Depois do jogo, Draymond Green hilariantemente admitiu que foi “egoistamente altruísta”, ou seja, que estava preocupado demais em conseguir mais um triple-double para sua coleção (ele já tem 9 na temporada, contra 7 de Russell Westbrook) e que por conta disso passou a bola mais do que deveria ao invés de atacar a cesta e cavar faltas. Isso ajudou na estatística mais BIZARRA da noite: o Warriors só cobrou DOIS lances livres na partida inteira, e ainda errou um deles. É claro que Draymond Green exagerou na dose de altruísmo, mas isso é algo que não acontece apenas com Green nesse elenco: se vão pecar por algo, o mais provável é que pequem pelo excesso de movimentação de bola. Tornar isso uma cilada, então, ao invés de ficar contestando arremessos e infiltrações, faz com que o Warriors cave seu próprio buraco, e de brinde ainda não TRUCIDE você na linha de lances livres.

No ataque, vale a fórmula contrária: quanto menos se passa a bola contra o Warriors, menos desperdícios você comete, menos pontos de contra-ataque você leva na cabeça, menos você se desespera com o caos institucionalizado da equipe. A constância do pick-and-roll levou Ish Smith a arremessar DEZENOVE vezes na partida, e o aproveitamento patético nem fez diferença. Ainda que tenha acertado só 7 desses arremessos, foi o suficiente para a defesa do Warriors ter que apertar nele em todo corta-luz – afinal, um arremesso ou infiltração estava vindo! – e os pivôs do Sixers correrem em direção à cesta. Melhor modo de acionar esses pivôs? Pontes-aéreas! Ao invés de colocar a bola no chão ou dar passes pelo meio do garrafão, onde Draymond Green e seus amigos possuem braços de Dhalsim para atrapalhar o caminho da bola, o Sixers simplesmente JOGAVA A BOLA PRA CIMA, no “vamos ver o que vai dar”, e torcia para algum pivô pegar essa bola próximo à cesta. Foi a primeira vez que eu vi o Warriors sofrer de verdade com o Draymond Green no garrafão, com bola atrás de bola passando por cima de sua cabeça e os jogadores ultra-atléticos do Sixers enterrando sem dó nem piedade. No último período, quando o Sixers estava encostando no placar após perder por 24 pontos (afinal, quando os arremessos do Warriors caem, só resta dizer adeus), o Nerlens Noel já não fazia nem corta-luz, só corria na direção da cesta para receber ponte-aérea na cara dura, desavergonhadamente. Errou um monte, mas o Warriors não tinha resposta pra isso que não fosse cometer faltas e deixar o perímetro cada vez mais livre. Ao contrário do Warriors, o Sixers cobrou 21 lances livres – se tivesse acertado mais do que 11, não teria chegado no minuto final empatado contra os atuais campeões, quando a jogada final os matou.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Vitória moral: fazer o Warriors comemorar ter te vencido”][/image]

Aliás, a jogada final foi o clássico pânico de novato: tentando cobrir a marcação de Nerlens Noel no Stephen Curry, que supostamente seria ruim para o pivô – mas que não é, porque o desgraçado corre como se não houvesse amanhã – o Sixers acabou dobrando a marcação no susto, deixando Draymond Green livre para acionar Harrison Barnes na zona morta para uma bola de três pontos certeira. Se tivesse feito o que fez no resto do jogo, ou seja, impedido os passes e deixado o arremesso rolar, o Sixers tinha mais chances: forçaria o Warriors a vencer o jogo, ao invés de dá-lo a vitória de bandeja exigindo justamente o que sabem fazer de melhor.

Basicamente, a NBA está desesperada atrás de maneiras radicais de parar o Warriors em seus pontos fortes enquanto o Sixers fez o mais simples, o mais básico, o mais pé-no-chão: explorou os pontos fracos e quase saiu com a vitória. Não por inteligência tática, mas sim porque O TIME É RUIM e não teria como bater de frente com as coisas que o Warriors sabe fazer direito. Mas foi aceitando suas limitações e tentando não combater o que é indefensável que quase vimos o impossível acontecer. Talvez essa seja, até agora, a melhor lição para os grandes que ainda sonham com um título contra o Warriors nessa temporada.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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