Dono da Bola – Washington Wizards

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Já tinha prometido esse perfil quando o Abe Pollin, dono do Washington Wizards, morreu logo no começo da temporada. Achei que era a hora de terminar o serviço depois que citei ele no post de ontem sobre o Arenas, dizendo que foi ele quem decidiu mudar o nome do time de Bullets (balas) para Wizards (magos) porque não gostava da conotação violenta do nome.

Abe Pollin
Temporadas no comando: 46
Playoffs: 25
Títulos de divisão: 7
Títulos de conferência: 3
Títulos da NBA: 1

Riqueza estimada: 180 milhões de dólares
Comprou o time por: 1 milhão de dólares (1964)
Valor atual da equipe: 313 milhões de dólares
Maior contrato oferecido: Gilbert Arenas (US$111 milhões, 2008)
Técnicos contratados: 18 (Buddy Jeannette, Paul Seymour, Mike Farmer, Gene Shue, KC Jones, Dick Motta, Kevin Loughery, Wes Unseld, Jim Lynam, Bernie Bieckerstaff, Jim Brovelli, Darrell Walker, Gar Heard, Leonard Hamilton, Doug Collins, Eddie Jordan, Ed Tapscott e Flip Saunders)

Oficialmente Abe Pollin não é mais o dono do Wizards e isso acontece por um motivo bem simples: ele morreu. Mas como foi dono da franquia por 46 anos, a coluna Dono da Bola é sobre ele. Sua morte aconteceu no dia 24 de novembro do ano passado, logo antes de um jogo contra o Philadelphia 76ers, time da cidade onde Pollin nasceu, mas de onde se mudou aos 8 anos de idade para ir morar na cidade onde viveu até sua morte, Washington.
Sua família era dona de uma grande empresa de construção civil da capital americana e em 1964 eles conseguiram juntar dois bons negócios em um só: construir uma grande arena esportiva e comprar uma franquia de basquete, o então Baltimore Bullets. A primeira aquisição foi o time, que ficou em Baltimore até 1973, quando eles finalmente conseguiram construir o ginásio Capital Centre em Washington.
Essa história de um grupo de empresários de uma cidade comprar um time de outra cidade e depois mudar para sua cidade natal foi justamente o que aconteceu com o Sonics, que vendeu a franquia para um grande empresário de Oklahoma City. Mas no caso de Pollin não consegui descobrir se ele, como fez o dono do Thunder, prometeu que o time não mudaria de cidade. Também não sei qual foi a reação da população de Baltimore em relação a isso, talvez não tenha sido tão impactante para eles porque o time não tinha tanta história e porque Washington é uma cidade bastante próxima.
A construção do Capital Centre e depois do Verizon Center mudou a cara de Washington. O Capital era a casa do Bullets, virou a casa do time de hockey Washington Capitals até ser demolido em 2002. Hoje os dois times dividem o Verizon. Como todo bom empresário americano, Pollin não fez o ginásio sozinho e no entorno nasceram diversos outros empreendimentos de entretenimento, lojas, restaurantes, que transformaram a região em um ponto de encontro da cidade. O lado ruim dessa valorização do bairro é que antes da construção do ginásio o local era basicamente de imigrantes chineses, muitos deles tiveram que fechar seus pequenos negócios devido à valorização dos terrenos.
Embora os imigrantes chineses e alguns moradores de Baltimore pudessem não ser muito fãs de Pollin, o resto da cidade era. O dia 3 de dezembro é o “Pollin Day” em Washington e o antigo dono virou o nome da rua do ginásio. Em Washington valorizam muito o fato de Abe Pollin ter arriscado bastante ao gastar boa parte de sua fortuna investindo em equipes que viraram a paixão da cidade, ele poderia muito bem ter investido em qualquer outra coisa e feito muito mais dinheiro arriscando menos.
Para a NBA ele também foi importante, afinal é o cara que mais passou tempo sendo dono de alguma franquia. Ele participou de todas as mudanças e revoluções vividas pela liga desde os anos 60. Foi Pollin, inclusive, quem deu o primeiro passo no que se tornou a grande revolução da última década na liga, o seu crescimento ao redor do mundo.Em 1979, um ano em que os governos de EUA e China ameaçavam uma aproximação, o time da capital foi para o outro lado do mundo disputar uma partida contra a seleção chinesa de basquete. Logo depois, no começo dos anos 80, a China começou a transmitir ao vivo as partidas da liga americana.
Abaixo tem uma pequena matéria da NBA TV com algumas imagens dessa viagem.

A viagem aconteceu em 79, em 78 o Bullets havia conseguido seu maior feito: em 46 anos de comando de Abe Pollin e pela única vez na história da franquia, o time da capital havia sido campeão da NBA. Comentei antes do caso do Sonics e é engraçado que o título do Wizards aparece com destaque no documentário Sonicsgate, que eu comentei meses atrás e que fala sobre a mudança do Sonics de Seattle. Afinal, o título do Bullets veio em um jogo 7 em Seattle. Comentam no filme como um dos momentos mais tristes da história da cidade.
O Sonics, porém, teve sua revanche no ano seguinte quando pegou o mesmo Bullets na final e dessa vez venceu por 4 a 1. Sem dúvida foi o melhor time de Washington em toda a história. Contava com grandes jogadores como Elvin Hayes, o atual General Manager do Lakers Mitch Kupchak, Bob Dandridge e o Hall da Fama Wes Unseld, que era grande amigo de Abe Pollin (os dois, um empresário e um pivô, disputavam torneios de três pontos) e até se tornou técnico da equipe anos depois.
Os jogadores do seus times diziam que Pollin era do estilo paizão, que ia dar conselhos, puxões de orelha e parabéns após as partidas. Logo após o jogo do dia de sua morte, contra o Sixers, o ala Antawn Jamison disse, com lágrimas nos olhos, “Depois das vitórias, saber que você não vai ouvir aquela voz dizendo ‘bom trabalho’ ou ‘acredito em você’ será difícil“. Etan Thomas, outro jogador que passou anos no Wizards, fez um texto bem legal sobre seu antigo patrão.

Lá ele conta uma história de quando fez um discurso em uma passeata anti-guerra em Washington e logo depois foi chamado pelo Sr. Pollin para uma conversa. Etan Thomas é conhecido por ser o jogador mais, digamos, intelectual da NBA. Ele tem um livro de poesia chamado “Mais que um atleta” e é presença constante em discussões sobre política na capital. Esse discurso havia sido logo após a invasão do Iraque, Etan Thomas confessou que pensou “ah não, esse republicano ficou ofendido com o que eu disse e não quer mais que eu trabalhe no time dele”.

Nas palavras do Etan Thomas, esse foi o encontro dos dois:
Entrei no seu escritório, e ele estava lá sentado com um sorriso enorme no rosto e apertou minha mão. Começou a falar que seu filho estava naquela passeata e estava radiante com o meu discurso. Ele disse que depois leu o que eu disse e que estava bastante impressionado. Começamos então uma longa conversa sobre política. Falamos do Iraque, da administração Bush, Vietnã, educação em cidades pequenas do interior… até falamos sobre a gentrificação que tem acontecido na nossa cidade. Ele me contou de sua dedicação em construir casas para pessoas de diferentes rendas e que ele não se focava apenas nas construções para os mais ricos, o que é bem comum em Washington. (…) Quando fomos ver já tinhámos conversado por mais de uma hora e meia. Ele pediu desculpas por tomar tanto tempo meu e disse para eu continuar sustentando o que eu acreditava mesmo que ouvisse muitas críticas.
Depois Thomas conta outra história sobre quando ele fez uma cirurgia no coração. Muitos duvidavam que ele teria condições físicas de voltar a jogar e Abe Pollin fez seu papel de paizão ao dizer o contrário. Ligou para Thomas no hospital, contou histórias de suas próprias operações e disse para ele esquecer a imprensa porque tudo iria acabar bem e ele iria jogar de novo. E, nas palavras de Etan Thomas: “Ele estava mais preocupado com a minha saúde do que em me ver o mais depressa possível na quadra. Isso definitivamente não é o padrão nesse meio. Aquelas conversas significavam muito pra mim“.
Outra história pouco comentada sobre Pollin é a sua relação com Michael Jordan. Depois de aposentado pela segunda vez, Jordan resolveu comprar uma pequena parcela do Wizards. Não comprou uma parcela de Pollin e sim de seu sócio, Ted Leonosis, e se tornou o cara que mandava no basquete. Como não aguentou, foi jogar e para isso vendeu a sua parte como dono do time, esperando comprá-las de volta quando se aposentasse em definitivo.
Mas Abe Pollin não gostou do que viu. Presenciou um jogador grande demais para a organização, alguém que tomou conta de todo o ambiente, com uma personalidade forte demais que queria tudo do seu jeito. Depois que Jordan se aposentou e quis voltar à direção do time, Pollin cortou qualquer esperança de MJ com uma reunião curta de 20 minutos. “A atmosfera ficava no limite, não era um ambiente saudável para produzir um time feliz e vencedor. Eu sabia que iam falar um monte de mim depois disso mas tomei minha decisão e não a mudei“.
Histórias sobre Pollin não faltam, são 46 anos rodando pela NBA. Anos de sobra pra ele fazer coisas legais, ruins, ter boas idéias, péssimas idéias. Ler sobre ele depois de sua morte é achar um monte de puxação de saco, claro, todo mundo vira santo depois que morre, mas de fato ele teve muitas boas contribuições pra NBA e era muito querido pela maioria, principalmente pelos jogadores que atuaram em suas equipes.

O Wizards atua nessa temporada com o nome de Abe no uniforme.


Outros textos da coleção “Dono da Bola” sobre donos de equipes:
Philadelphia 76ers – Ed Snider
Boston Celtics – Wyc Grousbeck

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