Fim da Síndrome de Estocolmo: Rose fora do Bulls

New York Knicks recebe: Derrick Rose, Justin Holiday, escolha de segunda rodada do Draft de 2017

Chicago Bulls recebe: Robin Lopez, José Calderon, Jerian Grant

“Eu sabia que tinha que ser um de nós dois”. Essa foi a resposta de Jimmy Butler quando foi avisado de que uma troca ocorreria no Chicago Bulls. De fato, por mais que a ideia de juntar Derrick Rose e Jimmy Butler tenha fascinado os dirigentes da equipe por algum tempo, todo mundo sabia que um dois precisaria partir. Pela primeira vez em meia década, o Bulls finalmente parou de sonhar com o absurdo e teve a coragem de tomar uma decisão capaz de dar frutos imediatos. Felizmente essa decisão não foi mandar Jimmy Butler embora, como indicavam tantos rumores de trocas nos últimos meses. Quando o Knicks mordeu a isca, Derrick Rose foi o escolhido para deixar Chicago. Apesar da troca deixar saudosos os torcedores que acompanharam Rose ser MVP pelo Bulls em 2011, é preciso aceitar que foi a decisão correta a se fazer. Finalmente, depois de muitos anos cativo, o Bulls é um time livre capaz de pensar em seu futuro.

Gostaria de deixar bem claro que acho Derrick Rose um excelente jogador. Seu prêmio de MVP, ainda que ligeiramente polêmico à época (Dwight Howard, vejam só, era um dos favoritos), consolidou o armador como um dos grandes nomes do basquete. O problema foi apenas que o prêmio, associado à narrativa construída ao seu redor (Rose ser de Chicago, a primeira grande estrela da equipe desde Michael Jordan, aquele que finalmente levaria a tradicional franquia de volta ao caminho por um título) fez com que o Chicago Bulls ficasse paralisado na dependência de seu messias. Na temporada seguinte ao prêmio de MVP, Rose jogou apenas metade da temporada, lesionado. A temporada após essa, Rose perdeu inteiramente com uma terrível lesão no joelho. Quando retornou, em 2013, jogou apenas 10 partidas antes de lesionar de maneira grave o outro joelho, então saudável. Enquanto Rose não estava lá, a equipe do Bulls era fantástica – especialmente sob o comando do técnico Tom Thibodeau – e insistia em fazer estrago nos Playoffs. O problema é que nos bastidores a ladainha Derrick Rose tomava conta: o armador voltaria a tempo das Finais, estaria saudável, estaria fazendo corpo mole, renderia indenização para o Bulls, tinha uma equipe tentando protegê-lo demais, etc, etc? Aquele Bulls só precisava de um pequeno passo para frente para disputar verdadeiramente o título, mas esse passo nunca foi dado – pelo contrário, a espera por Derrick Rose era eternamente um passo para trás, que ocupava atenção, energia, espaço e salário no elenco, e tirava da equipe qualquer senso de urgência. Não precisamos ir para o tudo ou nada esse ano, afinal ano que vem Derrick Rose deve voltar, não deve? Ou no outro ano. E no outro. E no outro…

O melhor elenco que o Chicago Bulls montou pós-Jordan foi desperdiçado porque a franquia era refém de Derrick Rose, lesionado. E naquilo que costuma-se chamar de “Síndrome de Estocolmo”, quanto mais tempo o Bulls passava “em cativeiro”, mais apreço e dependência emocional acabava criando pelo seu algoz. Não que isso seja culpa de Derrick Rose, que não fez nada a não ser contundir-se por puro azar – além de talvez um ou outro erro de comunicação entre ele, sua equipe e a diretoria do Bulls – mas essa relação tornou-se muito nociva muito rápido. Quando Jimmy Butler conseguiu de maneira inesperada e improvável consolidar-se como um dos grandes nomes da NBA, o Bulls ainda estava lá falando do retorno do Derrick Rose, o que não era apenas desrespeitoso para Butler mas também absurdamente ingênuo, porque um jogador tão dependente da sua força e explosão físicas jamais teria como retornar aos seus tempos de MVP. Rose jogou razoavelmente bem na última temporada, mas além de estar nitidamente limitado fisicamente, já colocou na mesa papos sobre buscar contratos máximos em outros lugares que não Chicago. A franquia esperou tanto, criou um carinho prejudicial pelo jogador que lhes tolheu o avanço que deveriam ter tido, e por fim recebeu um jogador pensando em ir embora e que nas quadras teve um rendimento apenas mediano, com dificuldades para render ao lado de Jimmy Butler e que, em alguns aspectos, prejudicou a evolução e o aproveitamento do companheiro.

Restava à equipe esperar o contrato de 21 milhões de Rose terminar ao fim da próxima temporada para aproveitar a liberação do espaço salarial, mas para isso teria que aguentar mais uma temporada em que Jimmy Butler não terá a bola integralmente em mãos, com atritos nos bastidores e o foco da equipe deslocado do recomeço que precisa urgentemente acontecer. Nesse caso, corria-se o risco de afastar Jimmy Butler, que poderia exigir uma troca a qualquer momento. O Bulls escolheu a solução mais rápida para o problema que cultivou com carinho nos últimos 5 anos e simplesmente trocou Derrick Rose por algumas peças capazes de permitir à equipe começar de novo sob o comando de Jimmy Butler.

O problema é que Derrick Rose é um jogador extremamente talentoso mas que vem de uma temporada mediana, com o físico baleado e um histórico terrível de lesões. Quem aceitaria trocar peças realmente valiosas por ele? A resposta é hilária: New York Knicks, o time que não consegue pensar num plano futuro para voltar à relevância porque está todo o tempo tentando resolver tudo IMEDIATAMENTE.

O Knicks tirou a sorte grande em Kristaps Porzingis, que chocou a NBA na temporada passada mas ainda está a alguns anos de distância de ser um jogador capaz de carregar uma equipe nas costas. O bom senso diria que a equipe precisa se preparar para esse momento, enquanto dá espaço para o jogador letão se desenvolver. Talvez dar a bola na sua mão na próxima temporada sem dó, trocar Carmelo Anthony, feder muito e conseguir uma boa escolha de draft em 2017, que notoriamente terá uma grande safra de jogadores. Mas o Knicks não quer bom senso, quer ganhar agora, imediatamente, há tanto tempo que nunca rola um respiro pra criar um plano duradouro. Querendo aproveitar o fato de que Carmelo Anthony ainda está em boa forma e Porzingis encantou, o Knicks resolveu apostar num armador que traz nome, história e algum potencial para aqueles que AINDA ACREDITAM: Derrick Rose.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Olha a cara do Porzingis de quem quer assumir uma equipe rumo a um título”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/06/Porzingis.jpg[/image]

Para isso, o Knicks teve que abrir mão de dois jogadores dos quais não gostaria de abrir mão. O primeiro é Robin Lopez, que se mostrou não apenas um excelente defensor na NBA mas também um jogador muito inteligente no ataque, que consegue finalizar bolas que sobram pra ele, transformar lixo em cestas fáceis, e ainda acertar lances livres quando sofre faltas. Seu contrato, feito pouco antes do teto salarial VOAR PELOS ARES, hoje parece a maior pechincha do planeta: são cerca de 13 milhões por ano pelos próximos 3 anos. Pivôs titulares como ele vão sair MUITO, MUITO mais caros nessa offseason, basta pensar que Timofey Mozgov assinou um contrato que lhe pagará cerca de 16 milhões por ano pelos próximos 4 anos. O Knicks deve achar que Lopez é relativamente fácil de substituir, convencendo algum outro pivô a ocupar seu lugar, mas é preciso lembrar que esses pivôs vão ser disputador na UNHA e vão sair muito, muito mais caros do que Lopez.

O outro jogador que Knicks manda na troca sem muito gosto é o armador segundo-anista Jerian Grant, que não teve uma grande temporada como novato mas muitos torcedores do Knicks eram fãs do rapaz, que tem um potencial gigantesco especialmente na parte defensiva. O terceiro jogador da troca, José Calderon, o Knicks abre mão sem muito remorso: nos últimos anos suas dificuldades defensivas atrapalharam sua capacidade de ficar em quadra, suas lesões são constantes e seu valor é basicamente como contrato expirante, que liberará cerca de 7 milhões ao fim da temporada seguinte.

Lopez e Jerian são bons jogadores para o Bulls e Calderon pode contribuir agora e liberar espaço salarial depois. Para quem acha pouco por Derrick Rose, a troca serve como demonstração de que o mercado da NBA não está muito interessado nem no histórico de Rose, que é assustador por conta das lesões, nem em seu estilo de jogo. Seu aproveitamento da linha dos três pontos tem sido baixíssimo nas últimas temporadas, justamente quando mais e mais times buscam armadores capazes de alargar a quadra com suas bolas de fora. A troca com o Knicks certamente foi a melhor que apareceu e tem o benefício imediato de romper essa relação problemática do Bulls com Rose. Como efeito colateral, ela permite que o Bulls possa também se desligar de Joaquim Noah: embora o carinho por ele ainda exista, tanto por parte da franquia quanto dos torcedores, sua produção na última temporada foi inaceitável, ele não conseguiu conviver com os outros jogadores do garrafão e perdeu seu valor de troca ao lesionar-se mais uma vez. Agora, fica livre para procurar outra equipe já que o Bulls não irá reassiná-lo por uma fortuna, graças à garantia de um pivô titular que se encaixa em qualquer esquema e ganha muito pouco do que será o padrão do mercado. O Bulls já não é mais refém, nem de Rose, nem de Noah nem de ninguém, e pode finalmente olhar para o presente e tentar aproveitar os jogadores que tem disponíveis e buscar sem culpa outros reforços. Será a chance de Jimmy Butler mostrar que, com apoio integral da franquia, pode levar o Bulls às vitórias.

Já o Knicks não pode se contentar com Rose, que acrescenta mais no campo SIMBÓLICO – olha, um ex-MVP, pontuador, famoso, calejado, que já liderou uma equipe nos Playoffs – do que acrescenta de fato em quadra. O elenco de Carmelo, Porzingis e agora Rose precisa servir para convencer outros jogadores – Dwight, Al Horford? – a toparem essa estranha sede imediatista por vitórias. Pode até ser que funcione, mas o coitado do Porzingis merecia uma situação melhor para se desenvolver. Podemos esperar que a pressão sobre seus ombros só tende a aumentar, independente das próximas aquisições da franquia nessa offseason.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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