Nerlens Noel e os Free Agents Restritos

Existe algum lado ruim em ganhar pouco mais de QUATRO MILHÕES de dólares para jogar basquete ao lado de uma lenda do esporte e ser treinado por uma das grandes mentes da história do jogo? Parece um sonho, mas fica um gosto amargo quando você sabe que poderia ganhar SETENTA MILHÕES.

Essa é a história de Nerlens Noel, pivô que foi trocado do Philadelphia 76ers para o Dallas Mavericks na metade da última temporada e que chegou nesta offseason como um Free Agents Restrito— jogador que pode assinar com qualquer time, mas cujo “dono” tem a opção de poder igualar a oferta para mantê-lo.

Não muito antes da temporada acabar, comentava-se que o Mavericks estava feliz com a negociação pelo jovem jogador, que parecia ser o novo Tyson Chandler que eles buscam desde que o original foi embora após o título de 2011: ágil, veloz, atlético, bom defensor e capaz de ser uma ameaça nas pontes aéreas no ataque. Também não era nada mal ter alguém mais jovem num elenco que precisa se renovar. Diziam que o técnico Rick Carlisle chamava a renovação de Noel uma “prioridade” nesse verão da equipe. Mas o tempo passou, passou e passou e nada aconteceu. Os caras top de linha assinaram seus contratos gordos, os medianos foram para os times que ainda tinham um resto de dinheiro para gastar, os desesperados fecharam contratos mínimos com os times restantes e… cadê o Nerlens Noel?!

Não foi uma surpresa quando, em 20 de agosto, o jogador demitiu o seu empresário, Happy Walters, e contratou Rich Paul, o poderoso amigo de LeBron James. Nos últimos anos, Paul se tornou um especialista em negociar com Free Agents Restritos. Quando o Phoenix Suns ficou vendo quem piscava primeiro com Eric Bledsoe, o jogador saiu com 70 milhões no bolso (antes do teto salarial disparar!). Na temporada passada, Paul esperou até os 45 do segundo tempo, mas garantiu 82 milhões em 5 anos para Tristan Thompson no Cleveland Cavaliers. Ele também foi responsável pela bolada de JR Smith e nos últimos meses foi quem arranjou o contrato de 18 milhões por um ano de Kentavious Caldwell-Pope com o Los Angeles Lakers, logo após de o Detroit Pistons desistir de renovar com o ala.

Mas quando esperávamos mais uma batalha épica de negociações longas até o último minuto, Noel logo acertou o seu contrato de cerca de 4.1 milhões por um mísero ano. O que ele assinou, na prática, é a Qualifying Offer, um acerto pré-determinado nos contratos de todo mundo que entra na NBA via Draft. A maioria dos jogadores que passa por essa situação acaba optando pela extensão do contrato –que era o que Noel queria– para garantir a estabilidade de um contrato longo. Como não rolou, agora ele fica mais um ano em Dallas antes de se tornar um Free Agent IRRESTRITO, que pode ir embora para qualquer lugar, sem chance do seu time igualar a oferta. Como diabos isso aconteceu?

A questão é que não havia mais mercado. Não importa o quanto seu empresário seja teimoso e temido, o cenário financeiro da liga é um grande deserto neste momento: todos os times que tinham dinheiro sobrando no teto salarial já gastaram o que podiam, e os que não gastaram estão economizando para a próxima temporada, para trocas ou só querem um ano de derrotas para acelerar uma reconstrução. Sem ter outro time para alavancar uma proposta, o Mavs simplesmente não era obrigado a abrir os cofres para Noel. O que se descobriu só agora é que o time até ofereceu, logo no dia 1º de Julho, o primeiro para assinar contratos, a bagatela de 70 milhões por 4 anos para Noel (17 milhões por ano, em média).

Parece (e é) muito, mas não está muito perto do máximo que ele poderia receber, que passava dos 20 milhões anuais. O jogador não aceitou, esperando um aumento que nunca veio. O time então ficou na confortável situação de apenas esperar: se outra franquia fosse atrás dele, eles poderiam só igualar a oferta. Se isso não acontecesse, era só esperar o desespero do atleta.

Embora pareça uma grande economia para o time agora, a coisa pode azedar daqui uma temporada. Nem Noel nem seu empresário estão felizes com as negociações desta offseason, e daqui um ano o Mavs não terá mais o luxo de poder igualar qualquer oferta. Se algum time por aí oferecer um contrato máximo para Noel, ele vai embora e deixa o time de Dallas de mãos abanando. Não se deve menosprezar o ego de um jogador profissional, ele sabe quando não foi valorizado por um time e isso pode pesar na hora que ele toma uma decisão futura. A estratégia de Rich Paul para seus clientes sempre foi a de arrancar tudo o possível o mais rápido possível, mas com Noel ele foi obrigado a mudar. Se ele fizer uma temporada espetacular e saudável (essa parte é a mais complicada!), aí entrará no próximo ano com toda a vantagem de negociação com o Dallas Mavericks ou qualquer outro time. Está é a temporada para definir o seu futuro profissional e financeiro.

O cenário é um pouco diferente, mas não muito, do citado Caldwell-Pope. O ala também esperava uma renovação gorda com o Detroit Pistons, que algo que nunca chegou perto de acontecer. O diferente aconteceu quando o Pistons desistiu do jogador ao conseguir uma troca por Avery Bradley. Sem poder renovar com seu time e nem assinar a tal Qualifying Offer, restou para KCP caçar algum time que tinha um pouco de espaço salarial disponível. Ele conseguiu o LA Lakers, mas desde que o contrato fosse por um ano apenas. Assim como Noel, ele terá um ano para mostrar que está em boa forma técnica e física para merecer o desejado contrato gordo e longo, mas pelo menos ele vai receber 18 milhões enquanto faz isso, bem mais que o pivô do Mavs.

Esse dramalhão contratual não se restringiu a esses dois. Muito pelo contrato, a questão dos Free Agents Restritos se tornou a grande história da offseason justamente por não render muita história. Enquanto as primeiras semanas de Julho viram uma enxurrada de contratações e trocas, os Restritos ficaram sentadinhos no canto com um iô-iô esperando sua vez. Nada de ofertas para Nerlens Noel, Caldwell-Pope e também para Nikola Mirotic, Mason Plumlee, Tim Hardaway Jr, JaMychal Green ou Alex Len.

A situação dos Restritos é uma coleira muito desconfortável, e os times parecem ter aprendido a quase sempre sair ganhando. Se antes eles corriam para manter seus jogadores, com medo de que algum rival aparecesse com uma proposta cara demais, agora estão pagando para ver: se alguém aparecer com cifras astronômicas é só levar; se ninguém se arriscar, o time consegue esperar o mercado secar e ganha vantagem na negociação. Tivemos exemplos de todo lado nesta temporada:

O comprador maluco

Quando o mercado parecia estar esfriando, o New York Knicks foi lá e falou: “Ei, Tim Hardaway Jr, que tal uns 71 milhões de dólares por 4 anos de basquete?”. Eu fiquei chocado, você ficou, o Tim Hardaway, a mãe dele e até o Atlanta Hawks. Por melhor que tenha sido a temporada passada do jogador, é MUITO dinheiro por um cara que não passa nenhuma certeza de que faz um time realmente melhor. O Hawks nem cogitou igualar a proposta e viu Hardaway ser milionário em Nova York. Um time que paga pra ver corre esse risco: BASTA UM IDIOTA com uma oferta maluca e você fica sem seu jogador. Por outro lado, como evitar que o adversário iguale a oferta se você simplesmente oferecer um valor justo e honesto?


Nada acontece feijoada

Em alguns casos é meio que sabido e óbvio que o Free Agent Restrito vai receber uma proposta enorme. Depois de um ano excelente, Otto Porter Jr eventualmente seria cortejado por uma equipe com um contrato máximo; mas também era óbvio que o Washington Wizards iria igualar a oferta e manter o jovem jogador. Foi exatamente o que aconteceu, com o Brooklyn Nets sendo o responsável por derrubar a primeira peça do dominó.

Só foi uma situação desconfortável porque ela não aconteceu logo de cara, mas apenas depois duas semanas de Free Agency. Isso ocorre porque ao fazer essa proposta inicial, o time fica com seu teto salarial “congelado” até que o outro decida igualar ou não a oferta. E NENHUM time quer ficar com teto congelado nos primeiros dias de contratações, com o mercado bombando e mil oportunidades surgindo a todo momento. Quem sofre nessa é o jogador, que só quer resolver tudo de uma vez.


O time que não pode arriscar

Às vezes um jogador dá sorte de estar em uma situação onde seu time atual não quer dar chance ao azar. Se o Hawks em modo reconstrução não ligou de perder Tim Hardaway Jr, o OKC Thunder não poderia brincar com a chance de perder Andre Roberson para algum comprador maluco. Com os salários atuais já custando muito dinheiro, o time ou ficaria AINDA MAIS caro ao igualar uma oferta doida, ou ficaria sem opções para repôr sua possível perda. O melhor foi fazer uma oferta boa, digna e tirar o assunto logo da frente. Talvez saísse mais barato se eles esperassem até agora, mas talvez ele estivesse no NY Knicks.

Outro time que não quis arriscar foi o Utah Jazz, que queria mostrar para Gordon Hayward que o time era um bom lugar para se ficar e reassinou com Joe Ingles, ala titular, bom e um dos grandes parceiros de Hayward no elenco. Esperar demais nesse caso poderia passar a mensagem errada para o jogador que eles tentavam manter. Não adiantou muito, mas Ingles é bom o suficiente para valer a pena manter.


Mas se foi isso que aconteceu com os caras que, mesmo que com tanta demora, assinaram com alguém, e os caras que agora, em SETEMBRO, ainda seguem com situação indefinida? Quando irão se resolver as questões de Alex Len (Phoenix Suns), JaMychal Green (Memphis Grizzlies), Nikola Mirotic (Chicago Bulls) e Mason Plumlee (Denver Nuggets)? Bom, tudo indica que a data-chave é 1º de outubro.

É nesse dia que as Qualifying Offers expiram, e aí os jogadores ficam numa situação ainda pior do que já estão. Sem essa proposta na mesa, eles seguem “reféns” como Free Agent Restritos, mas agora sem a opção desse contrato na casa dos 4 milhões que o Nerlens Noel assinou. Se não conseguirem uma oferta de outro time, se não aceitarem a Q.O. ou se não seduzirem a própria equipe onde estão, podem entrar no mês de outubro mendigando um contrato mínimo de uma temporada apenas.

Caras como Brandon Jennings fogem para a China porque percebem que nenhum time quer mais nada com eles, mas todos estes citados são mais do que bons o bastante para estarem na NBA. A maior parte deles, aliás, pode ser titular em uma porrada de times na liga. A questão é apenas a cilada que se tornou a questão dos Free Agents Restritos: a cada ano são mais casos de times que usam sua vantagem para forçar os jogadores a meses de estresse até um contrato ruim, enquanto os atletas têm pouca liberdade para negociar já que o resto da NBA não se dá ao trabalho nem de fazer uma proposta. Todo mundo descobriu que o único jeito de roubar um Free Agent Restrito é fazer o que o NY Knicks fez por Tim Hardaway Jr: pagar muito mais caro que o cara vale. Não ficaria surpreso se a Associação dos Jogadores da NBA brigassem por uma mudança de regras na próxima negociação com os donos das equipes.

Eu imagino que todos os jogadores vão acabar aceitando as Qualifying Offers. Eles não querem arriscar ficar com um contrato ainda menor, não consigo enxergar times com espaço salarial entrando com uma oferta maior e não parece que nenhuma das equipes estão interessadas em contratos de longo prazo. O Phoenix Suns até parece querer ficar com Alex Len, mas com Devin Booker, Josh Jackson, Marqueese Chris e Dragan Bender no elenco, o pivô é o menos interessantes dos projetos jovens do time. Ao invés de dar uma extensão para ele agora, o time parece mais disposto a esperar e ver ele por mais um ano, mesmo que exista o risco de perdê-lo como Free Agent Irrestrito daqui um ano. O mesmo vale para Nikola Mirotic no Chicago Bulls. Com o time em reconstrução, é bom ter um cara ainda relativamente jovem (26 anos), mas ele não passou consistência o bastante para provar que vale a pena assiná-lo por mais uns 4 anos. O time prefere manter a flexibilidade financeira.

O caso mais interessante é o de JaMychal Green. Em teoria ele deveria fazer parte da renovação do Memphis Grizzlies, já que é um pouco mais jovem que Mike Conley e Marc Gasol e ele é, na prática, a única chance do time assinar QUALQUER UM nesta offseason, já que a folha salarial explodiu faz tempo. Mas mesmo assim, mesmo com o risco de entrar na temporada sem um ala decente na posição 4, o Grizzlies não abriu a carteira para o jogador. Difícil saber o plano do nosso Memphão para convencer a dupla Gasol-Conley que eles devem ficar lá, mas já dá pra perceber que ele não passa por JaMychael Green.

Por fim, o Denver Nuggets também não parece convencido de que deve gastar com Mason Plumlee. E isso acontece poucos meses depois deles terem enviado o pivô Jusuf Nurkic e uma escolha de 1ª rodada do último Draft pelo jogador. Muito caro para um aluguel de poucos meses, não? Sem dúvida, mas acho que tudo mudou no instante em que eles conseguiram contratar Paul Millsap. São praticamente 30 milhões anuais para um cara que deve utilizar boa parte dos minutos que estavam separados para Plumlee. E a equipe ainda precisa se preocupar em renovar os contratos dos promissores Gary Harris e Nikola Jokic daqui um ano, e não querem o contrato de Plumlee, agora só um reserva de luxo, atrapalhando as contas.

Atualmente, o único time que pode oferecer uma grana pesada para todos esses jogadores é o Philadelphia 76ers. Mas, como já mostraram com Amir Johnson e JJ Redick, eles só estão dispostos a fazer contratos de um ano de duração. Todos os outros times que ainda podem gastar, como Indiana Pacers ou o próprio Phoenix Suns, não poderiam oferecer mais do que o valor aproximado da própria Qualifying Offer. Parece inevitável que todos irão permanecer em suas equipes e voltarão no próximo ano, agora como Free Agent Irrestritos, para descobrir seu real valor no mercado da NBA. Que rezem para nenhuma lesão aparecer no meio do caminho.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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