>O fim do Jazz

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Como tá aí, Robin?
-Tá ruim

Lembra do último título do Spurs em 2007? Não faz tanto tempo, mas tanta coisa mudou na NBA que até parece que faz. Lembram que naquele saudoso playoff o último time do Oeste a ser batido por Duncan e sua gangue foi o Utah Jazz? Se eu me lembro bem aquele time do Jazz tinha Deron Williams, Carlos Boozer, Andrei Kirilenko, Mehmet Okur, CJ Miles, Ronnie Brewer. Todos esses, eu disse TODOS, ainda estão no time.

Daquele elenco eles perderam caras como Louis Amundson, Gordan Giricek, Jarron Collins e também um jogador de basquete, o Derek Fisher. Em compensação hoje em dia eles tem Kyle Korver, Paul Millsap e o bom (embora limitado) novato Wesley Matthews. O técnico é o mesmo, claro, Jerry Sloan, que treina o Jazz desde a liga da Pangéia.
Então alguém me explica como, em tão pouco tempo, um time quase igual, que mudou apenas adicionando peças melhores, caiu de vice-campeão do Oeste para nono colocado da mesma conferência. Apareceram novos times de lá pra cá, o Lakers melhorou, o Nuggets, o Blazers, mas o Jazz não caiu para quinta força, caiu para fora dos playoffs. Nem em casa eles tem jogado com a mesma força. Em 2007 foram 10 derrotas em casa na temporada regular, no ano seguinte apenas 4, na temporada passada foram 8 e agora, com apenas 1/3 da temporada jogada, já estão com 6 derrotas.
A última foi ontem, contra o New Orleans Hornets. O time do Chris Paul é outro que despencou de qualidade de uns anos pra cá, mas pelo menos eles tem a desculpa de que o Peja Stojakovic joga como uma pessoa de 63 anos. Mas o importante desse duelo é que o Hornets sempre foi freguês do Jazz, o Chris Paul é melhor que o Deron Williams sempre, menos quando enfrenta o Deron cara a cara.
Aí no jogo de ontem o CP3 não apenas venceu o duelo, na casa do Jazz, como o fez com uma jogada decisiva sobre o seu rival. O Hornets vencia por 4 pontos, tinha a posse de bola e 40 segundos no relógio. Aí o Chris Paul perdeu a bola e o Jazz puxou o contra-ataque, o Deron Williams mirou um passe picado para o Andrei Kirilenko que iria deixar o jogo com apenas uma posse de bola de diferença. Mas aí o Deron foi o Raí e o Chris Paul foi o Dida. Pulou quase no chão para interceptar o passe e não só bateu na bola, ele a agarrou, tomou controle dela, foi para o ataque e fez a bandeja que matou a partida. Quando você perde até para quem é seu freguês é porque a coisa tá ficando feia.
O padrão nesses casos de bom elenco que não alcança o esperado é mandar o técnico embora. Mas é mais fácil todo mundo que recebe o Bolsa Família pedir pro Lula sair da presidência do que o Jazz tirar o Sloan do comando da equipe. Não é à toa então que hoje saiu uma notícia dizendo que a equipe está tentando trocar todo mundo, menos o Deron Williams.
É triste ver um time com um elenco tão espetacular como esse do Jazz pensando em desmontar uma equipe depois de ter conseguido apenas uma final de conferência, mas não vejo outra solução também. Se depois de tantos anos dando chances os resultados não apareceram, é melhor usar os contratos expirantes de Boozer e Okur para conseguir alguma coisa boa em troca do que depois perder os dois e ficar sem nada.
Enquanto para o Jazz é o fim de uma era estranha, que não foi ruim mas poderia ter sido muito melhor, para a NBA pode significar grandes mudanças. Assim como a troca do Pau Gasol redefiniu os rumos do Oeste e da NBA há duas temporadas, o Boozer e o Okur mudando de time podem muito bem dar um novo desenho para a liga. Já pensou se o Spurs consegue qualquer um dos dois para fazer dupla de garrafão com o Duncan? Ou se o Heat acha um parceiro mais confiável que o Jermaine O’Neal para o Wade? Ou se o Blazers consegue alguém que não ande de cadeira de rodas? Vai ser bem divertido acompanhar os rumores de troca agora que o Jazz deixou claro que está em reconstrução. Porque uma coisa é o Knicks oferecendo o Jerome James por aí, outra é o Boozer disponível.
Futuro à parte, eu realmente ainda estou intrigado para saber como o Jazz caiu tanto e chegou nessa situação. Fui então atrás de números que pudessem indicar o que mudou nesses últimos anos. Vendo os números de Offensive e Defensive Rating deu pra ver onde o time se lascou. Pra quem não sabe, esses são os números que medem quantos pontos o time faz (offensive) e sofre (defensive) a cada 100 posses de bola. Ao contar por posse de bola e não por jogo esse número iguala as equipes que jogam em ritmos de jogo diferentes.
Na temporada 2006-07, quando alcançou a final do Oeste, o Jazz tinha o terceiro melhor ataque da NBA nessa contagem, 110,1 pontos a cada 100 posses de bola. No ano seguinte, quando teve aquela espetacular campanha de apenas 4 derrotas em casa, ficou com o melhor ataque da NBA inteira. No ano passado o time caiu para oitavo e nesse ano está em 15º.
Na contagem defensiva, em compensação, o time está até melhor. Era o 18º, depois passou pro 12º, 10º e hoje é o 11º melhor time na defesa da NBA.
Ou seja, o time piorou porque não sabe mais como fazer pontos. Apesar de ter hoje o Korver, de ter o Millsap vindo do banco, o time não faz mais pontos como fazia antigamente. São 7 pontos por jogo a menos em comparação com a temporada 2007-08 e a queda de 15 posições entre os melhores ataques da temporada. Dá pra culpar a previsibilidade do time, que sempre jogou bastante igual, mas se jogar igual fosse defeito o Spurs não teria 4 anéis de campeão. O que eu percebo vendo o time, e não só os números, é que o Jazz não se movimenta como se movimentava antes.
Antes era um saco enfrentar o Jazz porque eles eram uma equipe paciente. Ficavam rodando o garrafão fazendo milhares de cortes em direção à cesta, com bloqueios de todos os jogadores até que alguém sobrava embaixo da tabela, recebia um bom passe e fazia a cesta. Além disso tinha o infalível pick-and-roll entre Boozer e Deron Williams. Não vi todos os jogos do Jazz na temporada, afinal eu tenho mais o que fazer, mas assisti um bocado e parece que os dois executam cada vez menos essa jogada. Preferem deixar o Deron levar alguém no drible ou isolar o Boozer de costas para a cesta contra o seu marcador.
O Jazz que era o time da coletividade, do toque de bola inteligente, cada vez mais investe em jogadas individuais. Na partida de ontem contra o Hornets eles perderam por não saber executar jogadas simples no fim do jogo. E perderam porque na hora da decisão o Hornets fez o básico e fizeram as jogadas de dupla entre o Chris Paul e o David West com um terceiro jogador, o Devin Brown, aparecendo quando tinha dobra na marcação. Não era o Jazz que jogava com essa simplicidade?
Se eu tivesse que dar uma explicação para o grande Jazz que nunca foi, diria que eles perderam a simplicidade na hora de jogar. Era o maior trunfo deles em jogos complicados e eles não tem mais isso, é mais um time (tipo Clippers, Nets, Sixers) que tem um monte de jogador bom em que um assiste o outro tentar fazer alguma jogada bonita. E perdem.

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