O Thunder renasce (por um ano) com Paul George

Ninguém deveria ter ficado com uma troca de Paul George a essa altura do campeonato. Se especula isso há praticamente um ano! Todos achavam que ele seria negociado na data-limite das trocas da última temporada, não aconteceu, mas ao fim do campeonato ele disse com todas as letras ao comando do time que ao fim da próxima temporada iria aproveitar o fim do seu contrato para ir jogar no Los Angeles Lakers. Mas a NBA de hoje em dia só sabe fazer uma coisa: nos chocar. Quando a gente menos espera tem troca de Draft indo embora, Chris Paul trocando de time ou jogadores brigando via Emojis no Twitter. Até a coisa mais anunciada de todas, a troca de Paul George, chocou por levá-lo a um dos poucos times que jamais haviam sido especulados na brincadeira, o Oklahoma City Thunder.

O time do MVP Russell Westbrook enviou apenas Victor Oladipo e Domantas Sabonis para o Indiana Pacers para conseguir o melhor jogador do time. Segundo relatos da imprensa americana, metade da liga ficou REVOLTADA com a troca, inconformados com a decisão de Kevin Pritchard, novo general manager do Pacers. Fontes próximas do Blazers dizem que o time ofereceu ao Pacers qualquer dois de seus jogadores  (tirando Lillard, McCollum e Nurkic) e mais ao menos duas escolhas de Draft. Uma troca tripla discutida com Cavaliers e Nuggets mandaria algumas jovens peças para o time. No dia do Draft, o LA Lakers tentou antecipar a ida do Beatle mandando Julius Randle, Jordan Clarkson e as escolhas 27 e 28.

Teve também, como já virou uma tradição de toda troca, especular o que o Boston Celtics ofereceu ou poderia ter oferecido. Segundo a imprensa gringa, o Celtics ofereceu deus e o mundo (alguns dizem que até a escolha do Nets deste último Draft, que virou a 1ª posição) na metade da última temporada, mas o Pacers negou. Na época eles ainda eram comandados por Larry Bird, que simplesmente se recusava a trocar seu melhor jogador, independente da proposta. A sua saída ao fim da temporada indicava que ele tinha perdido a batalha e não ia ficar lá para ver o estrago. Pritchard assumiu e estava decidido a trocar logo o jogador e resolver a parada. O Celtics, porém, não repetiu a mesma proposta. O que dizem é que ofereceram no máximo foram três escolhas de Draft, Jae Crowder e Marcus Smart. Essa troca, porém, teria que esperar: para fazer o mecanismo dos salários funcionar, o Celtics queria primeiro tentar fisgar o Free Agent Gordon Hayward, depois finalizar a troca e absorver o contrato de Paul George. A ordem dos tratores, quando se trata das regras salariais da NBA, altera o viaduto. Pelo jeito o Pacers, já putos, não queriam ficar esperando o tempo do adversário. Dizem, aliás, que o time nem queria trocar com outros rivais do Leste!

Talvez a gente demore um pouco para saber todas as reais propostas e reais motivos para o Pacers fazer esse negócio, mas parece claro que a pressa era desnecessária. Jamais que o OKC Thunder iria desistir desse negócio daqui uma ou duas semanas! Eles poderiam esperar, tentar extorquir um pouco mais de Cavaliers, Nuggets, Blazers ou Celtics e só depois tomar uma decisão. Nós, porém, às vezes ignoramos o lado humano dessas negociações. Como cada um lida com a pressão ou como o manager se comporta ao lado dos seus rivais após tanto tempo negociando, por exemplo. Temos que lembrar também que alguns donos de times, especialmente alguns mais velhos e de mercados pequenos, não são muito fãs de trocar bons jogadores por “jogadores imaginários”, as escolhas de Draft, que só vão virar alguém num futuro distante. Isso pode ter pesado na hora do time aceitar a oferta do Thunder, que era de dois jogadores jovens, reais, bons e com contratos já garantidos por anos a fio.

Mas tentar entender a decisão do Pacers é bem diferente de achar que eles fizeram a coisa certa. Não foi randômico, não foi feito pelo gorila que comanda o Orlando Magic, mas é impossível pensar que não saiu barato demais. Pensem bem, até o LA Clippers, que trocou Chris Paul, um cara que praticamente já era Free Agent, conseguiu mais coisas! E mesmo que você não seja fã de escolhas de Draft, elas são ótimas moedas de trocas, não faz sentido recusá-las. Mais do que estarem putos por perderem a chance de ter Paul George, Cavs, Blazers e Celtics estão putos pela certeza de que fizeram ofertas melhores. Ao menos o Lakers, outro que tentou, ainda sonha em receber George de graça daqui um ano. Aliás, esse é o nível de talento do jogador: ele diz que não vai renovar contrato com ninguém e mesmo assim chovem times querendo se arriscar e pagar caro pelo aluguel de um ano (e pela confiança de talvez convencê-lo a ficar depois, claro).

O fascínio da oferta do OKC Thunder é oferecer mais realidade e menos promessa. Nós já conhecemos Victor Oladipo e sabemos o que esperar e não esperar dele: não é o grande e completo jogador que prometia ser, mas é um ótimo titular, faz seus 16 ou 17 pontos por jogo, é um arremessador na média e pode ser um segundo armador, controlando às vezes o comando do ataque. Ele ainda tem 24 anos e pode evoluir em várias partes do jogo, até na defesa, onde tem todo o potencial para ser espetacular. Desanima que seus primeiros 4 anos de NBA não tenham visto grandes saltos de qualidade, porém.

Oladipo também já tem um contrato assinado de mais 4 anos, todos recebendo 21 milhões por temporada, um valor alto pelo o que produz, mas abaixo do que muito cara que nem é tudo isso está recebendo nesse novo teto salarial. Se o Pacers não quer a estratégia de se afundar e buscar o Draft, Oladipo é uma boa aposta de jogador que não vai deixá-los tão cedo, vai garantir algumas vitórias logo de cara e é jovem o bastante para poder crescer. O fato dele ter feito uma boa carreira universitária no estado de Indiana ajudou o negócio? Difícil dizer, mas a boa vontade da torcida e a sempre comentada “volta pra casa” pode dar um ânimo para Oladipo, que depois de passar um ano assistindo Westbrook jogar vai ter a chance de ser protagonista de novo. É a sua última chance de mostrar que pode ser mais que um role player.

O outro jogador que veio na troca foi Domantas Sabonis, que acabou de jogar seu primeiro ano na NBA. Começou bem e depois a coisa desandou, algo que acontece com muitos novatos que não estão acostumados com uma temporada tão longa. Seu arremesso de 3 teve uns bons momentos, mas faltou repertório ofensivo e velocidade lateral na defesa. No papel pode ser um bom parceiro de garrafão para Myles Turner (a nova cara da franquia!) no futuro, mas há MUITO trabalho a ser feito.

A dupla Sabonis e Oladipo foi a mesma –junto de Ersan Ilyasova— que foi enviada pelo Orlando Magic para o OKC Thunder na troca de Serge Ibaka há exatamente um ano. Incrível que o que o Thunder conseguiu pelo último ano de contrato do congolês seja basicamente a mesma coisa usada para pegar Paul George. Os dois, repito, não são ruins, mas é um preço MUITO BAIXO a ser pago para uma aposta que, se der certo, revoluciona a franquia. E o mais espetacular? Mesmo se a troca NÃO DER certo, o time conseguiu, no mesmo negócio, facilitar uma possível reconstrução daqui uma temporada. É sério! Vamos começar com o pessimismo…

Daqui um ano poderemos estar escrevendo sobre a ida de Paul George, finalmente, ao LA Lakers. Após um ano de altos e baixos em Oklahoma City, ele entendeu a razão que levou Kevin Durant a sair e fez o mesmo. Russell Westbrook, vendo o caminho das coisas, decide aproveitar que seu contrato acabou para ir para a Conferência Leste, que mais parece um deserto após o apocalipse zumbi depois que mais duas estrelas (George e Butler) mudarem de lado. Se isso acontecer, o Thunder não terá nem George nem Westbrook e nem nada. Desespero? Nem tanto. O Thunder tem a sua escolha de 2019, a escolha de 2020 está protegida e a troca de Oladipo limpa o espaço salarial para eles poderem correr atrás de Free Agents. Isso sem contar que não deve ser tão difícil trocar Steven Adams se precisar. Ou seja, se livrar do salário de Oladipo e não precisar abrir mão de escolhas de Draft deixaram o time com flexibilidade o bastante para começar rapidamente e com eficiência uma nova possível era pós-George e, talvez, pós-Westbrook.

O lado otimista, por outro lado, é mais divertido. Um ano após perder Kevin Durant, o OKC Thunder tira DO NADA uma troca por um outro All-Star na mesma posição. Cada um faz seu ranking pessoal, mas é plausível dizer que o time perdeu o 2º melhor small forward da NBA e agora tem o 4º. Tudo bem que existe um abismo entre o Top 3 e o resto, mas foi um feito e tanto. Se tinha algo de interessante nesta offseason do Thunder, era o fato que eles sabiam que tinham que melhorar porque Westbrook precisa DESESPERADAMENTE de ajuda e porque o armador se recusa a assinar um contrato de longo prazo. Ao mesmo tempo, porém, eles estavam emperrados sem espaço na folha salarial e sem grandes chances de trocar seus salários grandes (Oladipo e Kanter) e ainda precisando renovar ao menos um de seus Free Agents (Roberson e Taj Gibson). O que o general manager Sam Presti fez aqui foi tirar leite de pedra, coelho de cartola, qualquer expressão popular para MILAGRE que você achar.

A parceria faz sentido em quadra. Paul George é um bom playmaker que pode tirar de Westbrook a OBRIGAÇÃO de ter a bola na mão e criar tudo, sempre. Mas George é melhor como segunda opção de criação, quando o Pacers colocava a bola na sua mão para criar o tempo todo o time ficava lento demais e perdia os lances onde o ala se mexia sem a bola para arremessar, lance onde é MORTAL. Pensem em um pick-and-roll com Westbrook e Steven Adams, seguido de um bloqueio longe da bola para George ficar livre. Um sonho!

O desafio aqui é fazer tudo isso funcionar para ir além dos talentos individuais. No papel parece lindo, mas não vamos esquecer que um elenco quase idêntico tinha KEVIN F***** DURANT há poucos anos e mesmo assim era daquele jeito que a gente lembra: uma equipe individualista, previsível e que parou nos outros grandes do Oeste. Será que dessa vez o técnico Billy Donovan e especialmente Russell Westbrook vão conseguir se adaptar para jogar de um jeito diferente? Eles vão conseguir tirar o melhor do seu elenco? E apesar da chegada de George, o time ainda não tem grandes arremessadores. Doug McDermott e Alex Abrines chutam bem de 3 pontos, mas não contribuem com ABSOLUTAMENTE NADA mais em quadra, o cobertor é muito curto. Os defeitos de dois anos atrás continuam e Sam Presti ainda precisa se mexer. O milagre está feito, faltam os detalhes.

Esse desafio é difícil, mas também é o sonho de todos os envolvidos. Sam Presti certamente prefere estar nessa situação de buscar role players do que na obrigação de achar uma estrela. O técnico Billy Donovan vai se divertir desenhando novas jogadas para a dupla e espero que Westbrook tenha percebido que jogar sozinho é até legal, mas que não pode durar para sempre. E isso sem contar Paul George, que vai ter o companheiro de time mais talentoso da vida, voltará a ter grandes ambições após três anos e poderá fazer algo de útil na quadra ao invés de só esperar seu contrato acabar.

Fica a lição para qualquer general manager: sempre tente as trocas, faça a proposta. Por mais absurdas que as ideias pareçam, ela pode dar certo e mudar a sua vida. Por um ano, pelo menos.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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