>Pelo caminho errado

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Kobe mantém a calma e concentração para não passar desespero para seus companheiros de time

Eu sei, eu sei, eu estava ausente na primeira semana dos playoffs. Mas viajei, tive dificuldade para ver os jogos, fiquei dias sem internet, passei horas em aeroportos, me estressei com problemas pessoais e foi uma semana cansativa que pareceu durar um mês. Para me recuperar, overdose de playoffs correndo atrás do tempo perdido! Assisti a algumas reprises no fim de semana mas ainda não tudo o que eu queria, o que eu mais consegui ver foi, claro, o meu time, o LA Lakers, pegando o New Orleans Hornets. Por ser a série que mais acompanhei, e por ser uma que está bem aberta, é dela que eu falo.

Antes da série começar eu estava bem animado com esse matchup para o meu Lakers, antes estava com medo da gente perder aquele jogo para o Kings na última rodada (o Lakers venceu no sufoco, na prorrogação) e acabar enfrentando o Blazers. Contra o time do Brandon Roy, o zumbi dos playoffs, o Lakers sempre tem dificuldades e normalmente perde fora de casa, contra o Hornets em compensação foram só passeios na temporada regular desse e dos últimos anos. As exceções foram apenas em momentos quando o Chris Paul e algum coadjuvante ficaram muito inspirados. Lembro do David West e até do Peja Stojakovic tendo dias mágicos contra o Lakers pelo Hornets. Mas, sinceramente, não convencia. Eram dias muito inspirados, claramente aberrações que não teriam como sobreviver a uma série de playoff. Quantas atuações alienígenas o Chris Paul, que explorava a deficiência do Lakers em marcar jogadores velozes, poderia ter? E o David West, que poderia limitar o poder da dupla de Pau Gasol e Andrew Bynum, nem está jogando, machucado. Parecia mamata.
Na temporada regular foi 4 a 0 para LA. O Chris Paul perdeu de vez o título de melhor armador da geração, suas contusões fizeram a balança pesar para o Deron Williams segundo a maioria dos críticos e o Derrick Rose é uma apelação de video game usando código e controle turbo, o papo de Chris Paul MVP de uns anos atrás parece tão atual quanto polaina e Smurfs. Meio esquecido e com números bem mais modestos ele caiu para um segundo plano, até tendo algumas partidas em que parecia mais lento e previsível. Não custa lembrar que o Chris Paul até passou jogos inteiros sem marcar pontos nessa temporada, ao invés de viver o seu auge ele parece um Jason Kidd com quase 40 anos, o que é bom, mas não como ele já foi. 
E também como esperar que o Hornets pudesse segurar o garrafão do Lakers? Se com o David West já era difícil, com o Carl Landry soa impossível. Sim, ele é raçudo e marca os pontos mais improváveis da NBA, só quando você percebe que ele tem a mesma sorte em todos os jogos é que se toca que não é pra chamar de sorte. Mas a sua deficiência defensiva já era destaque no Rockets, foi no Kings e nem com todo o esforço do mundo daria pra imaginar ele incomodando o Pau Gasol. Até dava pra imaginar o Trevor Ariza marcando bem o Kobe Bryant no perímetro, mas lá dentro parecia que seria uma surra.

Mas a série está 2 a 2, o Hornets convenceu nas suas duas vitórias e as previsões claramente foram para o beleléu. Sobra pra gente explicar o que aconteceu de inesperado para chegarmos aqui. A primeira e mais óbvia é que o Chris Paul renasceu das cinzas. O Ryan Schwan, que escreve para o blog Hornets247, comentou durante essa temporada sobre a mutação do CP3. No começo da carreira ele era um jogador muito veloz, driblador, agressivo e que tinha um estilo que lembrava demais o do Isiah Thomas nos tempos de bi-campeão pelo Detroit Pistons no fim dos anos 80. Mas com as contusões limitando a sua velocidade e força nas infiltrações ele, de repente, começou a virar, na opinião do blogueiro, um novo John Stockton. Comparações inúteis à parte, o que ele quis dizer é que diante das limitações físicas o Chris Paul estava mudando o seu estilo de jogo e ainda sendo eficiente em quadra. Dificilmente veríamos mais jogos de 30 pontos dele mas ainda veríamos um jogador inteligente, com precisão nos passes e ótima visão de jogo.

Eu acreditei nessa teoria até o início dos playoffs, mas inspirado pela importância dos jogos o Chris Paul resolveu esquecer as contusões e jogar como era há uns dois anos atrás. Claro que ajuda a incompetência do Lakers em marcar armadores rápidos e não podemos esquecer que nas duas derrotas o CP3 não foi tão bom assim, mas nas duas vitórias, uau, faltam adjetivos para descrever aquelas atuações. Então se queremos uma primeira explicação para entender porque a série está empatada, essa é a primeira, Chris Paul está voando. Obviamente não é a única, se bastassem inspirações esporádicas de um jogador para estar pau a pau com o Lakers nos playoffs o Warriors do Monta Ellis seria um timaço, mas precisa de muito mais.

A MySynergySports, empresa que faz estatísticas avançadas da NBA, enrolou a temporada inteira, mas finalmente fez parceria com a liga e tem alguns de seus muitos números divulgados no site oficial da NBA. O mais interessante deles mostra em que tipos de jogada de ataque cada time faz a maior parte dos seus pontos, e sabe que o Hornets não faz só a maioria dos seus pontos em jogadas de isolação e pick-and-roll, mais do que isso, o Hornets é o time que mais faz pontos nessas jogadas entre todos os 16 que disputam os playoffs! O Lakers teve uma das melhores defesas da NBA durante a temporada, mas sofreu bastante com duas coisas: a marcação homem a homem contra armadores velozes (lembrem dos jogos contra o Thunder, com o Westbrook matando a pau) e com pick-and-roll (lembrem do jogo de Natal contra o Heat). Os dois maiores defeitos da defesa do Lakers são os pontos positivos do ataque do Hornets, ou melhor, são quando o Chris Paul joga como Isiah Thomas. Quando é Stockton, como foi na temporada regular, só deu jogo fácil para o Lakers.

Ainda segundo o SynergySports, o Hornets consegue 0,98 pontos por posse de bola sempre que tenta o pick-and-roll e assustadores 1,1 ponto por posse de bola quando fazem uma jogada de isolação. O Lakers só tem números parecidos em três categorias:  Cortes para a cesta (quando alguém escapa do marcador e recebe um passe na corrida, indo para a cesta), em contra-ataques e quando os seus pivôs jogam de costas para a cesta.  Os dois primeiros acontecem muito pouco e a dos pivôs é a mina de ouro mal utilizada do Lakers nessa série. Eles usam essa jogada em mais de 15% das posses de bola, a terceira mais usada pelo time, mas ainda atrás da isolação e do arremesso parado. A isolação é quando um jogador cria a jogada dele sozinho, no drible, e o arremesso parado é o famosos spot-up shot, que é quando o cara fica paradinho, espera o passe e assim que recebe chuta, sem driblar nem nada. Ou seja, mesmo tendo um garrafão melhor, mais alto, mais forte e mais eficiente, o que o Lakers mais tem feito na série é tentar jogar sozinho e, quando não dá mais, tocar pra alguém e esperar este arremessar de longe. Se isso fosse uma boa estratégia de jogo, o Warriors…

Se a primeira explicação para esse empate é o Chris Paul, a segunda é tão simples que soa patética: O Hornets executa as jogadas que tem melhor aproveitamento e o Lakers não. O sistema dos triângulos, baseado em passes e movimentações sem a bola é ótimo para as movimentações cortando para a cesta, por isso o aproveitamento bom, mas elas acontecerem tão pouco mostra como o time às vezes é estagnado em quadra. O aproveitamento alto dos pivôs mostra como o caminho para as vitórias está lá, mas a marcação ativa e física do Hornets está inibindo o Lakers, que prefere arriscar menos os passes e fica muito concentrado na linha dos três pontos, com o tempo de posse de bola passando só resta arriscar uma jogada individual ou passar para alguém arremessar de longe. Esses arremessos de longe são também os que dão rebotes mais longos e imprevisíveis, que diminuem a importância de Gasol e Bynum no rebote ofensivo.

Outra coisa merece atenção nessa série. Vocês lembram desse post que eu fiz sobre o machismo na NBA, sobre ser “Soft” e tudo mais? Nele eu citava uma palestra do Henry Abott em que ele usava dois times como exemplos opostos de como decidir jogos. O Lakers era o time do macho alfa, de Kobe Bryant, que acredita que é sua obrigação arremessar as bolas decisivas de todos os jogos, já que é a estrela da equipe – ele não tem medo, não hesita, não treme. Do outro lado está Chris Paul, autor de uma frase que muitos consideram símbolo de falta de liderança: “No fim do jogo eu arremesso se estiver livre, senão eu passo a bola”.

Pois com o jogo 4 para ser decidido, o Kobe tentou um arremesso doido de três para empatar o jogo e errou. O Chris Paul, bom, ele passou a bola para o cara mais frio do seu time, Jarrett Jack, zero arremessos feitos até então, e venceu.

Não tem certo e errado, cada um encara o jogo de um jeito diferente. Mas nesse jogo a vitória foi para o altruísta Chris Paul. Se o Kobe quer ter mais chances de tentar arremessos grandiosos assim e calar a boca de quem acredita na outra teoria, deve conseguir chegar ao fim dos jogos em condições de ganhar. Para isso precisa confiar mais nos seus pivôs e achar maneiras de envolvê-los mais nos jogos. Mesmo com Pau Gasol não jogando tudo o que sabe, Andrew Bynum, Lamar Odom e até Ron Artest podem executar a mesma jogada com sucesso. E para defender o Chris Paul? Bom, colocar o Kobe nele ao invés do Derek Fisher é melhor, mas não a resposta definitiva, eu diria que uma espingarda carregada daria conta do recado. 

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