>Reconstrução relâmpago

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Deron Williams tenta se defender no boxe dos avanços eróticos de Sasha Vujacic

Alguém ainda se lembra do Nets da temporada passada? Aquele que bateu o recorde de pior começo de temporada (com 18 derrotas e nenhuma vitória) e perigou ter a pior campanha da história antes de todo mundo acordar e começar a ganhar uns jogos? Vamos entrar no DeLorean, então, e dar uma olhadinha naquele elenco:

Rafer Alston
Tonny Battie
Keyon Dooling
Chris Douglas-Roberts
Josh Boone
Devin Harris
Trenton Hassell
Jarvis Hayes
Kris Hmphries
Brook Lopez
Yi Jianlian
Courtney Lee
Eduardo Najera
Chris Quinn
Bobby Simmons
Sean Williams
Terrence Williams

Desta lista inteira, apenas dois jogadores continuam na equipe hoje: Kris Humphries e Brook Lopez. Todo o resto virou farofa. A maioria terminou seus contratos e foi jogar em outro time, outros não conseguiram mais emprego e se aposentaram, e outros foram jogar em outros países porque não encontraram espaço na NBA: Sean Williams foi pra Porto Rico depois de fumar muita maconha e ser suspenso sem parar, meu amado Rafer Alston foi para a China comer cachorro, Jarvis Hayes está na Turquia. Os que restaram da lista foram trocados: Terrance Williams e Courtney Lee, que eram supostamente o futuro da equipe na armação, foram pro Houston; Yi Jianlian foi para o Wizards; Devin Harris foi para o Jazz; e Chris Douglas-Roberts foi para o Bucks. A maioria das trocas foi praticamente de graça, por contratos expirantes ou escolhas de segunda rodada no draft. Já disse aqui várias vezes na temporada passada, depois de acompanhar com cuidado a campanha patética do Nets, que o time não era tão ruim quanto o número de derrotas apontava. A equipe sofreu com muitas lesões, incompetência técnica e falta de confiança. Quando mudaram de técnico e começaram a respirar um pouco, afastaram as chances de um recorde negativo ao fim da temporada e eu esperava que apostassem novamente na pirralhada para a temporada seguinte.

Eis que estamos na temporada seguinte e o Nets diz querer brigar pela oitava vaga nos playoffs, algo viável após as cinco vitórias seguidas da equipe – última delas contra o Celtics. O que raios a equipe fez para escapar do fim da tabela? Provavelmente a reconstrução de time ruim mais rápida da história da NBA. Foram várias trocas menores, aparentemente desnecessárias, em que o Nets parecia se livrar de jogadores bons ou então aceitar contratos idiotas como o do Sasha Vujacic ou do Troy Murphy. De repente, todos os contratos vão acabar ao mesmo tempo e o Nets conseguiu nessas brincadeiras 5 escolhas de primeira rodada de draft nos próximos dois anos. Duas delas foram embora na troca do Deron Williams, e eis aí a grande sacada.

O Heat também conseguiu se planejar para desmontar o time inteiro de uma temporada para a outra. Todos os contratos terminaram, quem iria continuar foi trocado por bolachas, e não sobrou ninguém na equipe para que assim o Heat pudesse assinar novos jogadores com salários gigantescos. O Heat tinha como atrativos um Dwyane Wade querendo ficar por lá, um clima bacana com sol e mulheres peitudas correndo pelas praias, e uma estrutura que já havia tornado a equipe campeão alguns anos atrás mesmo não sendo favorita. O Heat era bom, se reconstruiu em uma temporada e assinou LeBron, Wade e Bosh. Legal, a água é molhada, já sabemos a história de cor. Mas o Nets nunca poderia fazer algo semelhante. Quem vai querer jogar em New Jersey? Mesmo que a equipe esteja de mudança para o Brooklyn, o Knicks ofusca tudo na região, não há estrutura formada, não há anel de campeão, não há estrela para atrair ninguém. Por isso as trocas aparentemente desimportantes do Nets foram uma sacada de mestre: liberaram espaço salarial ao mesmo tempo em que juntaram as peças necessárias para trocar por uma estrela. A ideia era o Carmelo, a realidade foi o Deron Williams, e poderia ter sido o Vince Carter, então eles saíram no lucro. O time agora tem grana pra burro, mantém 3 escolhas de primeira rodada nos próximos 2 anos, apenas 7 contratos estão garantidos para a temporada que vem, o Deron Williams está lá para atrair gente bacana, e o mais legal: a equipe consegue vencer. E vencer é a maior propaganda possível para uma equipe em reconstrução. Se com esse elenco fedido eles podem sonhar com os playoffs, qualquer jogador decente pode sonhar em ir para o Nets e jogar a pós-temporada.

É por isso que eu acho que o Nets deu muita, muita sorte em não ter conseguido trocar pelo Carmelo. E não venham tacar cocô na minha cabeça ou colocar bombas no carro da minha esposa, eu sou aquele maluco que acha o Carmelo o melhor jogador ofensivo da NBA e o melhor em momentos decisivos. Sua presença em New Jersey causaria barulho, holofotes, mídia, jogos em rede nacional, uma mudança bombástica para o Brooklyn e muita venda de camisas, eventualmente atraindo bons jogadores. Mas o Deron Williams é diferente: ele simplesmente faz os outros jogadores ao seu redor melhores. Para se ter uma noção, mais de 60% dos arremessos convertidos pelo Nets quando Deron Williams está em quadra são fruto de suas assistências. Essa equipe cheia de gente meia-boca, a maioria presente no elenco apenas como tapa-buraco ou como contrato absorvido para ganhar escolhas de draft, consegue render ofensivamente porque Deron Williams abre espaço no garrafão com seus arremessos e coloca a bola nas mãos dos companheiros em condições fantásticas para finalizar. Com isso, não só o Nets vence mais partidas a curto prazo mas o elenco também parece muito mais eficiente do que de fato é. O Nets de Carmelo seria famoso e atrairia gente no futuro, mas o Nets de Deron Williams engana muito melhor no presente, vencerá mais no presente, e vai acabar atraindo gente muito mais rápido – especialmente se, por milagre, a equipe roubar mesmo uma oitava vaga nos playoffs. É preciso lembrar que esse plano funciona muito bem apenas porque estamos falando de um time do Leste. Deron Williams só tem que fazer seu Nets superar na tabela atrocidades como o Pistons e o pior projeto de reconstrução da história da humanidade, o Bucks e sua incapacidade de marcar pontos, o Bobcats que acabou de trocar o Gerald Wallace para desistir da temporada e se reconstruir nos moldes do Thunder, e o Pacers que está se reconstruindo faz um tempão e que o time com mais chances de ficar com a vaga.

Como falamos bastante por aqui, esses tempos de crise levaram muitos times de mercados menores a começar a pensar em uma reconstrução, e atualmente o modelo mais em moda é o do Thunder: aposte nos pirralhos, tenha muitas escolhas de draft, espere que fiquem bons e traga veteranos para ajudar. Mas o Nets está ousadamene tentando o modelo de reconstrução do Heat: desmonte o time, consiga uma estrela, deixe pedaços de carne disforme e imprestável ao redor dela para fazer número, e atraia outras estrelas. Se houver alguém capaz de mostrar que não é imprestável é lucro. Se o time vencer, é lucro em dobro. E o Nets, por não ter conseguido o Carmelo, conseguiu as duas coisas: Kris Humphries e Brook Lopez são muito úteis quando comandados pelo Deron Williams, e o time está vencendo mesmo quando deveria perder feio. E o mais estranho: mesmo sem o Deron Williams! O Nets venceu os dois jogos em que o Deron não jogou porque acabou de ter um filho, e tudo porque o resto do elenco está confiante e disposto a mostrar serviço, querendo fazer parte do futuro da equipe. Jordan Farmar usou bem sua oportunidade um dia, Vujacic usou no outro, Kris Humphries está jogando consistentemente bem, e as vitórias aparecem.

Eu ainda não entendo o Brook Lopez, que é genial no ataque com movimentos embaixo do aro com duas mãos e tem um arremesso fantástico, e que mesmo assim insiste em bater bola e infiltrar no garrafão como se fosse um ala qualquer. Fora que, na defesa, ele erra as rotações e sempre vai marcar o arremessador na zona morta ou então marca os alas que arremessam fora do garrafão, tornando seu tamanho inútil e complicando os rebotes da equipe. Mas mesmo assim ele é novo, absurdamente talentoso, alto pra burro, consegue dominar alguns jogos no ataque, e se entende cada vez melhor com o Humphries – que prefere jogar com os pés no garrafão, não coloca a bola no chão, faz o mais simples e limpa os rebotes. Lembram quando o Humphries foi trocado pelo Baby no que foi talvez a mais desimportante troca da raça humana? Os dois não jogavam nada em seus times, e a troca foi basicamente pra ver se alguém engrenava. O Baby acabou perdendo o emprego, o Humphries ficou na NBA porque sabia das suas limitações e fazia o simples, o trabalho sujo no Raptors de um Bosh que jogava longe do aro. Mas no Nets ele finalmente encontrou um esquema de jogo em que se encaixa bem e Deron Williams tornou o jogador muito eficiente no ataque. Ou seja, nenhum dos dois é genial, o Brook Lopez não faz sentido, mas juntos formam um garrafão muitíssimo melhor do que a média da NBA e um ponto de partida perfeito pro Deron se sentir em casa e fazer com que a equipe vença jogos.

O Deron Williams parece estar adorando as liberdades de jogar sem o Jerry Sloan, está forçando arremessos idiotas que ele não podia antes, exagerando nas bolas de três, seu aproveitamento está caindo e ele está menos eficiente no ataque. Mas o fato de que o Nets é ruim e as defesas estarem se preocupando demais com os arremessos do Deron lhe abre espaço para as assistências que ele sabe dar tão bem. São mais de 14 por jogo desde a chegada em New Jersey, ou seja, o Deron forçar arremessos tolos é mais benéfico para o time do que seria o Carmelo forçando os arremessos como está acostumado a fazer. Repito, o Nets deu muita sorte. Deron está feliz, forçando suas bolas, vai liderar a NBA em assistências, tornando bom um time que é mequetrefe, e tudo não passa de uma propaganda. Estrela? Ok. Jogadores secundários que rendem no esquema tático? Ok. Garrafão forte? Ok. Playoffs porque o Leste fede? Ok. Dono milionário disposto a gastar a grana que for em novos contratos? Ok. Quando esse time for para o Brooklyn, provavelmente estará até em melhores condições que o Knicks. Aí está um verdadeiro projeto de reconstrução fodástico, que envolve não ter medo de perder feio por umas temporadas, não ter medo de quebrar o recorde de pior começo ou o de derrotas, e desmontar tudo de uma vez, o mais rápido possível, juntando peças para uma troca capaz de começar o time do zero. Mas esse projeto só é tão bom agora porque deu sorte: com o Carmelo, esse Nets jamais estaria se gabando de ter 5 vitórias seguidas…

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