[Resumo da Rodada] Corações partidos, de novo

Parece que está virando rotina. A cada grande campeonato internacional nós, pobres torcedores brasileiros, somos esmagados por alguma derrota traumática. E não estou falando do time desfalcado que perde para a Jamaica, estou falando das melhores seleções brasileiras, completas, que ficam pelo caminho. Times ruins não causam traumas em suas torcidas, mas raiva. Os resultados que cortam nosso coração são aqueles quando estamos transbordando de confiança, sonhando alto, enxergando as qualidades e, de repente, a bexiga estoura na nossa cara.

O jogo deste sábado entre Brasil e Argentina tinha toda a aura de decisão possível para um jogo de fase de grupos. Pressionado por derrotas, o Brasil precisava ganhar para poder depender só de si na última rodada e, se possível, fugir do quarto lugar no grupo para não enfrentar os EUA nas quartas de final. Do outro lado a Argentina não estava tão pressionada, mas vinha de derrota e um novo revés, antes de uma última rodada perigosa contra a Espanha, poderia criar problemas graves nesse grupo difícil. Não era mata-mata como nos duelos desses dois times em Londres-2012 e na Copa do Mundo de 2014, mas era quase.

O Brasil começou devagar a partida, com Rafael Hettsheimeir voltando a jogar mal e um matchup ruim para Nenê na defesa tentando marcar o bem mais ágil Andrés Nocioni. No ataque, Leandrinho parecia no mundo da lua, tomando péssimas decisões e dando contra-ataques de graça para os argentinos. A diferença de 10 pontos parecia um replay das últimas derrotas, quando o Brasil também havia tido começos desastrosos. Mas logo no segundo quarto o jogo virou de um jeito insano. Pra quem não viu o jogo soa estranho, mas as entradas de Guilherme Giovanonni e Vitor Benite TRANSFORMARAM a partida! A defesa ficou mais ágil, a Argentina perdeu a vantagem dos mismatches que estava se acostumando a usar e o Brasil, pela primeira vez no campeonato, se tornou uma ameaça de longa distância. Vamos ser sinceros, o Brasil jogou bem desde a preparação, teve bela reação contra a Lituânia e até venceu a Espanha, mas essa foi a primeira vez que ver o Brasil jogando foi prazeroso e empolgante: defesa, velocidade, bolas de longa distância, passes rápidos. Foi mais que eficiente, foi divertidíssimo!

Mas não durou. Rubén Magnano voltou para o segundo tempo com o mesmo time que fracassou no começo do primeiro tempo, com Hettsheimeir, Leandrinho e companhia. Entendo as dificuldades do técnico argentino no começo dos jogos, o elenco do Brasil é bem de lua e a cada dia um cara diferente está inspirado, parece que é sempre preciso alguns minutos e trocas para descobrir quem encaixa contra o adversário. Mas se ele já tinha testado e achado um grupo que deu certo, por que não ficou com ele? Acho que o que explica é o receio de tirar alguns de seus melhores jogadores da partida e, de repente, precisar de Leandrinho e vê-lo frio e sem confiança no banco. Não que eu concorde, é só um palpite para entender. Fica difícil mesmo de entender quando olhamos o boxscore e descobrimos que Benite jogou apenas 15 minutos na partida, QUATRO deles na segunda etapa. Sabemos que ele não é unanimidade, mas se não vai usar bem no dia que está voando, pra que chamar?

Sem o seu ~quinteto da morte~, o Brasil não conseguiu deslanchar no placar e viu a Argentina se recuperar. Sem a mesma velocidade da primeira etapa, o time só conseguiu se manter na frente porque Nenê fez uma das suas melhores partidas na vida, provavelmente a melhor com a camisa da seleção brasileira. Foram 24 pontos, 11 rebotes e um BAILE pra cima de Luís Scola, que não conseguiu marcar o pivô brasileiro em nenhum momento. As dobras forçaram Nenê a passar a bola, o que ele faz bem, mas a falta de bons arremessadores e passadores às vezes não tiravam o melhor da grande atuação dele lá no garrafão. Alguém precisa ir lá dizer para o Marquinhos que o Joe Johnson não é exemplo a ser imitado e que, quando ele recebe a bola, precisa arremessar, passar ou infiltrar, qualquer coisa que não seja PARAR E FICAR BATENDOA BOLA SEM SAIR DO LUGAR!

Entre boas e más atuações dos jogadores, entre algumas substituições questionáveis de Magnano, a real é que o Brasil estava jogando bem e liderando bem até o minuto final. O resumo do jogo estava pronto: jogamos bem mas precisamos melhorar isso, isso e aquilo. Mas aí foi a hora de mais uns traumas: bola de 3 pontos (previsível) do pequeno Facundo Campazzo em um contra-ataque. Depois o mesmo baixinho pegou um rebote de ataque nos últimos segundos e deu a bola para Andrés Nocioni, que empatou o jogo com uma bola de 3 pontos.

A bola contou com marcação frouxa de Giovanonni, que parece que até tirou o corpo com medo de fazer a falta no ato do arremesso. O ideal seria fazer a falta ANTES do arremesso, para dar só dois lances-livres quando a vantagem no placar era de três. Mas mesmo que não fizesse isso, o chute tinha que ser ao menos contestado, e o ala brasileiro não fez nem isso. Custou caro.

Depois disso veio algo que tem me incomodado na seleção há algum tempo: por que nossas jogadas de lateral e linha de fundo são tão sem graça? Com poucos seguidos para tentar um game-winner, o Brasil colocou a bola na mão de Nenê a quilômetros do garrafão, aí ele teve que infiltrar na marra e, desequilibrado, acabou tendo que passar para Huertas, que acho que nem deveria estar em quadra numa situação dessa se não for para criar a jogada.

Sobre a prorrogação tenho escutado duas críticas recorrentes: uma sobre Alex e uma sobre Magnano e Nenê. A sobre o ala diz respeito àquela infiltração desastrada no fim do segundo tempo extra, sem controle e que rendeu um turnover e, logo depois, uma falta. O cara é experiente, passou por mil decisões, sabia que Leandrinho estava PEGANDO FOGO e tomou a péssima decisão de apressar uma posse de bola. Realmente difícil de entender.

A sobre Nenê diz mais respeito à Rubén Magnano, que resolveu descansar o pivô no momento mais crítico do jogo, nos primeiros minutos do segundo tempo extra, que foi quando a Argentina fez a festa e abriu a vantagem que depois se mostrou fatal. Se o Brasil não tomou uma surra na prorrogação foi porque Leandrinho, descansado, botou um time EXAUSTO da Argentina pra correr. Mas aqui, de novo, foi só mais uma esperança dada para quebrarmos a cara com mais força: em um novo vacilo de Alex, Manu Ginóbili pegou o rebote de lance-livre errado que daria ao Brasil ao menos a chance de ter um arremesso para se salvar. O quanto é cruel ver um dos mais emocionantes jogos olímpicos de todos os tempos acabar com um rebote ofensivo contra o time que se está torcendo? É maldade demais.

Dá sempre dó de criticar esses times que estão focados, interessados e que brigam até o fim, mas o fato é que o Brasil teve quatro jogos disputadíssimos e fez bobagem no final de TODOS eles! Até contra a Espanha ocorreram erros de defesa, de faltas bobas e até de uma última jogada improvisada e ruim, que só foi salva pelo esforço de Marquinhos e pelo boxout inexistente de Nikola Mirotic. Por fim, o que está acontecendo com a ótima defesa do Brasil? Bojan Bogdanovic, Campazzo e Nocioni tiveram os jogos de suas vidas contra o Brasil. Alguma coisa está errada e, de repente, parece tarde demais.


Nos outros jogos da rodada do Grupo B, duas surpresas. Primeiro a Espanha, que não só ganhou da Lituânia, mas o fez com exatos CINQUENTA PONTOS de vantagem. Isso é o tipo de placar dos melhores times dos EUA contra equipes ingênuas de Copa do Mundo, o jogo foi uma aberração do começo ao fim. A Lituânia jogou tão mal, mas tão mal que eu nem sei o quanto de crédito dar para os espanhóis. Destaque para Pau Gasol, que fez chover da linha dos 3 pontos!

A outra partida rendeu zebra: a Nigéria bateu a Croácia por 90 a 76! Os croatas tiveram um aproveitamento péssimo da linha dos 3 pontos e foram TRITURADOS nos rebotes ofensivos pelo garrafão nigeriano, e a combinação fez o jogo, por pelo menos um par de períodos, fazer a Croácia parecer o pior time do grupo. E a torcida curtiu…


No Grupo A vimos os EUA tomar sufoco DE NOVO! O Danilo escreveu sobre a pressão que o time recebeu da Austrália e disse que não era motivo de preocupação, mas a sequência daquele jogo foi uma vitória por míseros TRÊS pontos contra a Sérvia, que até teve a bola para levar a partida para a prorrogação.

Eu resumiria a fraca atuação do time americano no torneio até agora em dois aspectos, justamente os que foram a base do título em Londres-2012: defesa e bolas de 3 pontos. Contra a Sérvia não teve nem atuação mágica de Carmelo Anthony para salvar o resto do time na parte dos tiros de longe, foram somente 7 acertos em 20 tentativas. Mas o problema mesmo está na defesa. Apesar dos vários especialistas no setor que o time tem no elenco, coletivamente as coisas não estão funfando.

Lembram que contei uma vez num podcast um causo sobre um amistoso dessa seleção, onde numa posse de bola o Klay Thompson tinha feito uma defesa exemplar e na outra, numa desatenção, perdeu seu marcador e ainda fez uma falta boba de pura frustração enquanto tomava a bandeja? Pois é, esse microcosmo se expandiu até a Olimpíada. O time mescla defesas abafadas que rendem contra-ataques com movimentação lenta e sem comunicação. A Austrália fez a festa com Andrew Bogut recebendo a bola na cabeça do garrafão, fazendo bloqueios e achando jogadores livres para finalizar. A Sérvia fez o mesmo com Nikola Jokic no garrafão…

…e nos pick-and-rolls liderados por Teodosic

Embora seja nessas horas que a gente lembre de todas as brincadeiras e vídeos postados nas redes sociais, não me parece que esse time dos EUA não leve os jogos a sério ou que esteja no Rio só pela zoeira e curtição. Durante os jogos eles parecem focados no olhar e na intensidade, mas não na inteligência de suas decisões. Essa minha impressão, porém, não bate com a declaração de Paul George, que ganhou o prêmio de Sincero do Ano ao dizer que ele esperava, sim, que ganhariam todos os jogos com facilidade:

O elenco é excelente, a comissão técnica já produziu ótimas seleções, mas esse time americano está começando a dar margem para um fracasso. Salto alto é fácil de corrigir, basta um susto. A coisa aí parece mais profunda.


Os outros dois jogos do grupo foram as formalidades de sempre. Já disse que o time da China FEDE muito? Pois é, tomaram surra de uma Austrália dominante, que nem precisou de grandes jogos dos Splash Bros do Sul, Patty Mills e Matty Delly, para vencer. No outro jogo, a França demorou um pouco para deslanchar, mas venceu a Venezuela por 40 pontos de frente. Partidaça de Joffrey Lauvergne, mais um da coleção interminável de pivôs do Denver Nuggets que dominam competições internacionais.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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