[Resumo da Rodada] Despedidas

Os Estados Unidos não estão tendo vida lá muito fácil no basquete dessa Olimpíada: mais uma vez vimos um placar apertado, embora até aqui não tenha havido real eminência de derrota. Depois de abrir 16 pontos num jogo que parecia estar inteiramente no controle, a França acelerou o ritmo de jogo, acertou bolas difíceis e com um jogo bem agressivo de Thomas Huertel e Joffrey Lauvergne chegou a diminuir a vantagem dos Estados Unidos para apenas 4 pontos no último período. A diferença de 3 pontos que encerrou o jogo veio só quando o jogo já estava decidido e não havia mais tempo de uma surpresa real. Ainda assim, os Estados Unidos nunca ficaram numa posição verdadeiramente confortável no placar, impossibilitados de bobear ou tirar por completo o pé do acelerador. É incrível como o time ainda é muito dependente de Carmelo Anthony, que a essa altura já deveria ser a presença veterana no vestiário que explica os ~caminhos internacionais~ para os companheiros. Mas a seleção ainda precisa demais dos seus arremessos de fora, do seu jogo de garrafão e da sua finalização de contra-ataques no perímetro. Quando ele está num dia de aproveitamento ruim – como foi o caso contra a França – os Estados Unidos não encontram uma opção consistente para pontuar numa jogada de segurança, sofrendo um pouco com o espaçamento no ataque de cinco-contra-cinco e tendo jogo quase nulo de costas para a cesta, fruto da dificuldade de adequar-se às facilidades de defender o aro no basquete internacional. Ainda assim, mesmo que aos trancos e barrancos, os americanos encontram outras válvulas de escape no ataque: Kevin Durant não errou nenhum dos seus 6 arremessos, mesmo forçando a maior parte deles em jogadas individuais contra seus marcadores, e Klay Thompson finalmente ACORDOU de seu TORPOR DAS FINAIS e meteu 7 bolas de três pontos em 13 tentativas depois de ter acertado apenas 19% dos seus arremessos de fora nessa Olimpíada.

Ficou bem claro, desde o começo do jogo, que a França – assim como foi o caso da Austrália – não acreditava realmente numa vitória em cima dos americanos e estava disposto a esconder suas armas, inclusive descansando Tony Parker para o confronto. Mas o fato de que os Estados Unidos parecem nunca DESLANCHAR anima qualquer rival, de modo que após algumas bolas certeiras de três pontos e um par de contra-ataques, a França não resistiu e resolver ir com tudo para cima – tirando o coitado do Tony Parker, claro. Se por um lado parece perigoso para os Estados Unidos o fato de que os adversários estão ACHANDO QUE DÁ, por outro é muito significativo que a primeira fase está encerrada e até agora NÃO DEU PRA NINGUÉM, com os americanos encontrando maneiras de fechar os jogos sem muitos sustos, apertando a defesa e encaixando uma defesa mais sólida sem a tentativa desesperada de causar contra-ataques que tem sido prejudicial em alguns momentos das partidas até aqui. Os reais testes para os americanos ainda estão por vir e acho que embora os placares não estejam elásticos, a capacidade de reagir às intempéries já coloca essa seleção acima daquelas que já vimos falharem com o uniforme dos Estados Unidos. Não há motivo para pânico por lá, e o fato de que os jogadores americanos estão se divertindo nas praias cariocas mostra bem que a comissão técnica não está nem um pouco preocupada: rolou até vôlei de praia com os gigantes.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Na praia ou na quadra, DeAndre Jordan não sabe contar”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/08/DeAndre-não-sabe-contar.jpg[/image]

Para a França, o consolo de bater de frente com os Estados Unidos em vários momentos do jogo não apagam ainda a inconstância do ataque e a dificuldade de encaixar Rudy Gobert: quando o pivô do Utah Jazz está na quadra, a França é sua melhor versão defensiva e melhora demais no garrafão, mas o ritmo da equipe cai demais, o espaçamento sofre no ataque e a movimentação ofensiva fica mais estagnada, reduzindo o contra-ataque da equipe que é muitas vezes a única arma disponível  já que as bolas de três em geral não estão caindo porque faltam especialistas.


O outro jogo aparentemente apertado da rodada foi entre Lituânia e Croácia, crucial num grupo tão disputado que todos os times classificados acabaram com o mesmo número de vitórias. Vencendo os lituanos, a Croácia conseguiu a primeira colocação do grupo (usando o critério de desempate, que é confronto direto seguido de saldo de pontos). A Lituânia começou melhor no jogo com sua incrível tática do “eu não sei jogar então não deixo você jogar também”, com uma defesa agressiva, inteligente e que sufocou o adversário, forçando os croatas a arremessos terríveis de baixíssimo aproveitamento e vários desperdícios de bola. Mas no segundo tempo a Croácia simplesmente encontrou saídas para a defesa lituana: as bolas de fora de Bojan Bogdanovic com muitas jogadas de pick-and-pop e muita paciência para acionar Dario Saric dentro do garrafão. Sem um ataque objetivo, é muito fácil cair na armadilha da defesa lituana e acabar passando a bola demais em busca de um espaço que não vem e estourar o cronômetro de arremesso. Mas a Croácia foi decidida a executar um par de jogadas simples, muito parecidas, com o máximo de velocidade e agressividade possível, de modo a forçar a defesa Lituana a não chegar a tempo ou ter que ADIVINHAR a execução adversária – a partir daí, com a Lituânia tendo que prever a movimentação da defesa para não dar espaço para Bogdanovic nas trocas, a Croácia passou a misturar pick-and-pops com pick-and-rolls e os lituanos nunca sabiam qual deveriam estar marcando.

Só quando a Croácia já havia construído uma vantagem intransponível no placar foi que a Lituânia acordou, com uma chuva de bolas de três pontos de Mantas Kalnietis e Paulius Jankunas, que se aproveitaram de mismatches na defesa croata. A dificuldade em manter o ritmo quando os reservas entraram em quadra pela Lituânia e a vantagem que a Croácia já havia construído foram suficientes para abafar a reação e garantir uma vitória croata por nove pontinhos, condenando a Lituânia a enfrentar a Austrália (e provavelmente perder, né) na próxima fase.


Os outros jogos da rodada não foram ~de verdade~ porque valeram pouquíssima coisa ou foram lavadas enormes. O Brasil fez o MÍNIMO e venceu a Nigéria com facilidade. É verdade que a Nigéria quase empatou no terceiro período, dando um sustinho com bolas de três pontos e se aproveitando da nossa tenebrosa troca de marcação defensiva, mas aí os DOIS times esqueceram como se pontuava, o placar ficou paralisado e o Nenê, pra variar, foi lá e resolveu. Insisto que o Nenê é o Bola Presa na Libertadores: fica indignado que ninguém entende a parte tática, fica corrigindo posicionamento da galera e por fim parece o louquinho da praça gritando com as nuvens. É o único que está fazendo a rotação direito e é DISPARADO o melhor passador do Brasil, melhor que qualquer Huertas da vida que mesmo que consiga dar uns passes surreais, toma decisões péssimas em contra-ataques e no pick-and-roll, quando desiste o tempo todo dos passes no meio do caminho e força arremessos aleatórios por cima da defesa. Nenê não força, encontra os companheiros, ajusta os posicionamentos e dá pitis dignos; a única bola estúpida que forçou, um arremesso de três, acabou acertando só pra mostrar que está em outro nível.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Nenê com olhar de dever cumprido; Alex com olhar de Alex”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/08/Nenê.jpg[/image]

A Nigéria viveu e morreu nessa Olimpíada com os arremessos de três pontos, mas foi trucidada no garrafão e foi justamente aí que o Brasil deitou e rolou, especialmente com Nenê: dominou os rebotes defensivos, distribuiu tocos e gerou contra-ataques quando todo o resto das movimentações ofensivas tinham secado. Se a defesa do Brasil tivesse encaixado durante a competição, não teríamos dependido tanto de nosso ataque falido, a gente teria disfarçado bonitinho e não teríamos que se despedir da seleção agora, com o coração na mão numa Olimpíada em casa, pior resultado olímpico dos últimos anos.


Com a vitória em cima da Nigéria, o Brasil precisava de uma vitória dos argentinos em cima da Espanha para se classificar em quarto lugar, pegar os Estados Unidos e ser eliminado numa partida legalzona – ou jogar “de igual pra igual”, né, como o Huertas disse que iria acontecer. Mas embora o resultado fosse plausível, a Espanha o tornou impossível porque PEGOU NO TRANCO desde a derrota para o Brasil: estão sendo mais cuidadosos com a bola, usando e abusando de Pau Gasol nos arredores do garrafão (não necessariamente embaixo da cesta, onde a defesa tende a cercar), arremessando menos e melhor da linha de três pontos e dando mais oportunidades de Rudy Fernández atacar a cesta no jogo em dupla com Gasol. Se jogaram mal contra o Brasil e nós fomos capazes de PUNI-LOS, jogaram muito bem desde então e voltam, apesar dos pesares, a ser uma das seleções favoritas às medalhas olímpicas.

A Argentina até tentou vencer pra não ter que enfrentar os Estados Unidos na próxima fase – tó o atestado de óbito, ó – mas às vezes NÃO PARECIA, não tinham energia e intensidade para se equiparar aos espanhóis e toda vez que parecia que iriam começar uma reação, erravam algum passe na defesa forte da Espanha, tomavam um contra-ataque fulminante, uma bola de três na cabeça ou chegavam atrasados e cometiam faltas bobas. Foi um passeio espanhol em que as raras aproximações da Argentina pareciam todas o último gás de um time moribundo. Não deu: sepultaram o Brasil e as próprias chances deles no processo, mesmo com a torcida dando show de torcida no ginásio e tentando empolgar a equipe até nos momentos mais cocôs, que foram muitos, aliás. Se despedem também, como nós, da competição: não agora, mas já mandam acenos lá do mundo do futuro.


As duas partidas que sobraram foram ainda mais passeadas: a Austrália venceu por 25 pontos a Venezuela numa partida em que o Bogut fez dez pontos meio sem querer, só por existir, e depois sentou pra descansar e nunca mais voltou, já que o jogo foi quase inteiramente decidido na defesa porque a Venezuela não conseguia pontuar; e a China perdeu por TRINTA E QUATRO PONTOS para a Sérvia, só pra se consolidar como a pior seleção nacional que eu já vi jogar numa Olimpíada, mas teve Yi Jianlian cestinha do jogo com 20 pontos – meu deus, que homem! Se despede da Olimpíada, mas entra na história como sobrevivente dessa seleção HORRÍVEL. Parabéns aos envolvidos.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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