[Resumo da Rodada] Maior, melhor e mais forte

Se alguém do futuro voltasse e me falasse antes dos Playoffs começarem que o OKC Thunder iria abrir 3 a 1 em uma série contra o Golden State Warriors, eu responderia “NEM A PAU. Com aquela defesa preguiçosa?!”. Se me falassem a mesma coisa logo antes de começar a série, eu diria “Ok, eles venceram o Spurs e talvez contem com uns arremessos decisivos do Kevin Durant em uma prorrogação maluca”. Agora se me falassem que o OKC Thunder iria DOMINAR POR COMPLETO os jogos e vencer partidas consecutivas por diferenças colossais, aí eu iria internar o doente que me disse esse absurdo.

Mas tudo isso, tirando a pequena parte que alguém do futuro veio e me disse essas coisas, é verdade. O OKC Thunder não está simplesmente vencendo a final do Oeste, eles estão PASSEANDO, com direito a tabela e Khedira, para cima do atual campeão. Lembram da história que eu contei no podcast sobre “a melhor versão” de cada time? O Thunder está jogando o melhor basquete do time em anos, e estão o fazendo no momento mais importante da temporada, contra os dois oponentes mais poderosos que já enfrentaram. Lembro de muitos times que alcançaram seu melhor lado nessas fases finais (Mavs de 2011, Heat de 2012, Pistons em 2004…) mas nenhum deles se transformou desse jeito, nesse nível.

Depois dou uns pitacos táticos sobre a partida, mas deixa eu relembrar o basicão do roteiro: depois de alguns minutos iniciais disputados, o Thunder PEGOU FOGO, marcou 16 pontos seguidos e abriu uma diferença considerável. O Warriors acalmou as coisas e aos poucos cortou a diferença para 6, só para ver ela ir para 20 com uma outra sequência absurda e rápida de pontos antes do intervalo. Na volta, um bis: o Warriors luta, corta a diferença para 6 com uma atuação fora de série de Klay Thompson (19 pontos no 3º quarto), mas tudo vai por água abaixo quando o Thunder vai no embalo de mais um triple-double de Russell Westbrook e faz uma sequência furiosa de pontos que resulta em outra lavada que beira os 30 pontos de vantagem. Fim.

Pensem bem, nos últimos dois anos esse não é um típico roteiro de jogo do Warriors? São eles que abrem diferenças enormes em poucos minutos e depois deixam o adversário chegar só pra brincar de golear de novo. São eles que matam reações, destroem jogos e acabam com o moral do adversário com bolas de 3 dificílimas em momentos-chave do jogo. E não era o Thunder o time que cometia os turnovers mais bestas da NBA? Só o Bill Simmons percebeu que estamos vivendo dentro de um daqueles filmes ruins da ‘Sessão da Tarde’ onde os personagens trocam de corpo. Só isso explica…

Posso e vou apontar vários problemas que o Golden State Warriors está causando para si mesmo. Mas antes disso acho essencial lembrar que tudo o que estamos vendo aqui, desde os placares elásticos até a dominância atlética, foi exatamente o que aconteceu na série anterior contra o San Antonio Spurs. Warriors e Spurs são ABSOLUTAMENTE diferentes em personalidade, estilo de jogo, tipo de elenco, rotação de jogadores, idade dos principais atletas… qualquer coisa. Se o mesmo desastre aconteceu, do mesmo jeito, com abordagens tão diferentes, a razão do estrago só pode ser o que eles têm em comum: o  OKC Thunder do outro lado da quadra.

Tenho escutado muitos podcasts gringos sobre os Playoffs e é engraçado quando um grupo está discutindo o Thunder porque eles não conseguem parar de trazer nomes para justificar as vitórias. Um vai lá e manda “a grande razão para essa vitória foi o Westbrook, nunca vi ele tão…” aí o outro fala “mas o Dion Waiters está sensacional” e um terceiro completa “mas até o Serge Ibaka voltou a sua melhor forma e…”. Não há um porém, o Thunder está naquele nirvana basquetebolístico onde Andre Roberson (17 pontos, 12 rebotes, 5 roubos) teve uma atuação de gala num jogo decisivo de pós-temporada.

Eu acho improvável que o Warriors vire essa série, então já estou preparado e ouvindo todas as desculpas que o pessoal tinha guardada no fundo do bolso nos últimos dois anos: salto alto, arrogância, uma hora os arremessos não caem, temporada regular não vale nada, não são tudo isso, Steph Curry é modinha, etc. Mas não é nada disso, o mais assustador e surpreendente desse duelo e desse resultado é que ele está sendo decidido pelo outro time.

Bom, deixa eu segurar meu queixo aqui pra gente tentar ver o que o OKC Thunder fez para atropelar de novo. A primeira, mais importante, é aquela que comprova o que o Bill Simmons disse sobre os times terem trocado de corpo: o Thunder, que ao longo de todo o ano foi muito mal com suas formações mais baixas (a ponto de desistir delas em certo momento da temporada), novamente ESMAGOU o Warriors quando ambos foram para o small ball:

Difícil acreditar, mas é isso mesmo, esse grupo em que só Ibaka joga como “jogador de garrafão” meteu 91 pontos e sofreu 35 nos últimos dois jogos. E o Warriors, que sempre se gabou de ter o small ball dos sonhos ainda não achou resposta para isso: quando tentam igualar no time baixo, não conseguem dar meia dúzia de passes em cometer um turnover; quando colocam um pivô, geralmente Festus Ezeli, ele sobra livre mas não consegue tirar proveito da situação. Basicamente o que eles faziam com os outros times…

A surreal sequência abaixo, os piores minutos da temporada do Warriors no ano, mostram o caos dessa formação: os dois times tentam correr, mas só o Thunder rouba a bola, só o Thunder tem rebotes de ataque e só eles conseguem chegar no ataque antes da defesa do outro time. E se Draymond Green concentrou boa parte dos erros do Warriors no Jogo 3, ontem sobrou pra todo mundo:

Outra razão para o sucesso do Thunder, em especial dessa formação baixa, é que Andre Roberson superou seu péssimo Jogo 2 e conseguiu achar maneiras de aproveitar todo o espaço que o Golden State Warriors estava dando pra ele de propósito e que expliquei no post daquela partida.

Vejam no lance abaixo como ele aproveita a péssima comunicação do Warriors para receber um passe embaixo da cesta e conseguir uma falta. Steph Curry, que era o homem “solto” da marcação, se perde, olha para os lados e resolve ir marcar Randy Foye na zona morta. Mas ele abre espaço para Westbrook infiltrar e obriga Draymond Green a ir proteger o aro, aí deixando Roberson livre para receber o passe:

Na posse de bola seguinte, novamente Roberson aproveita uma confusão da defesa do Warriors para se posicionar embaixo da cesta e fazer uma bandeja fácil. Steph Curry e Klay Thompson não se decidem se devem trocar ou não a defesa e calha que ninguém acaba seguindo Roberson. Um problema que pouco aconteceu no Jogo 2, quando ele passou muito tempo parado na zona morta:

Roberson também se fez ficar livre no lugar certo nesse passe à lá Madison Bumgarner de Steven Adams:

A combinação já era fatal com o que vimos aqui: turnovers (foram 21 ao longo do jogo!), contra-ataques do OKC Thunder e péssima comunicação defensiva, deixando os jogadores secundários do Thunder em ótima posição para pontuar. Como se já não bastasse não ter resposta para as atuações fora de série de Westbrook e Durant.

Mas, para piorar, a falta de capacidade de parar o adversário começou a criar problemas no ataque também. Não só porque eles não conseguem eles mesmos puxarem seus contra-ataques, mas pela frustração de estar muito atrás no placar e não poder errar mais. Foram MUITOS arremessos tortos mesmo sem marcação, bandejas erradas e muita bufada no ar e cabeças balançando negativamente após cada desperdício. A leitura da postura deles é fácil de fazer: não sabemos mais o que fazer. Como reconheceu o técnico Steve Kerr ontem após o jogo, dessa vez não foi falta de esforço ou raça, faltou “”””só”””” fazer a coisa certa.

O que o Warriors poderia tentar deixar Steph Curry mais tempo com a bola na mão. Eles estão deixando o MVP longe da sua posição tradicional de armador por mais tempo que o normal porque, especialmente contra o time mais baixo do Thunder, as trocas de marcação não o favorecem. Mas talvez seja a hora de fazer mais a jogada mais imparável do time, o pick-and-roll dele com Draymond Green, e simplesmente ver como Curry se sai nas trocas onde ele é marcado por Kevin Durant. Passamos o ano falando dessa jogada e ela tem sido muito pouco tentada.

Também parece que Curry, por causa do joelho, está sem a velocidade necessária para infiltrar contra esses monstros atléticos do Thunder. Bater para dentro foi sua jogada de escolha ao longo de todos os duelos da temporada quando ele foi marcado por Durant, ao contrário dos arremessos que ele costuma tentar sobre caras mais altos. Por outro lado, deixar ele correndo através de bloqueios também não tem dado certo e sido ainda mais desgastante fisicamente. O vídeo abaixo mostra o PERRENGUE que tem sido para ele se livrar de marcação.

O entrosamento do Thunder (e as faltas não marcadas, mas isso é normal em todo jogo) em trocar o defensor a cada corta-luz é de uma sincronia rara:

E por incrível que pareça dizer isso, pode ser interessante para o Warriors tentar deixar o jogo mais lento. Usar mais jogadas de post-up, ter menos Draymond Green puxando contra-ataques e até considerar mais tempo de quadra para Shaun Livingston ficar se enfiando no garrafão adversário. Isso exige, claro, que Festus Ezeli ou Andrew Bogut façam frente a Steven Adams, o que tem sido complicado.

Mas decisivo mesmo nessa série, para eles, tem sido a defesa. Ou a falta dela, na verdade. Foram os períodos onde o Thunder marca mais de 35 ou 40 pontos que mataram os últimos jogos. Talvez seja a hora de dar uma de Toronto Raptors pós-Jogo 2: marcação tradicional, não brigar em todos os pick-and-rolls, fechar o garrafão, não dar tanto espaço para Andre Roberson passear fazendo corta-luzes e cortes. O excesso de ajustes específicos para esse duelo pode estar causando essas estranhas falhas de comunicação e às vezes só repetir o tradicional pode gerar menos erros, mesmo que falhe na hora de parar todos os lances ofensivos de Kevin Durant.

De qualquer forma, essa é a NOVA ORDEM do Oeste. O OKC Thunder é, nesse momento, maior, melhor e mais forte. E cabe ao Golden State Warriors escrever novas páginas no seu livro de jogadas para tentar se adaptar e sobreviver por mais um jogo.


RODADA DO DIA

Toronto Raptors @ Cleveland Cavaliers (21h30, ESPN)


GENÉTICA DO DIA

Um estudo divulgado pelo Wall Street Journal mostra que a NBA é a liga profissional americana que mais tem jogadores com parentes que foram atletas de elite. A pesquisa considerou “elite” como pessoas que viraram profissionais, entraram em seleções nacionais ou ao menos disputaram a divisão principal da NCAA. E cerca de 48% dos jogadores da NBA tem algum parente que jogou ou ainda joga alguma dessas categorias.

Apenas 17% dos jogadores da NFL tem parentes atletas e só 14,5% dos atletas da MLB se encaixam no critério.

O texto tenta entender as relações para isso acontecer e a história que mais me convenceu foi a da família Grant. Harvey Grant, que jogou 10 anos na NBA, disse que quando queria melhorar jogava com alguém tão alto e atlético quanto ele: seu irmão, um tal de Horace Grant. Ele mesmo, o que venceu 4 títulos da liga com o Chicago Bulls e o LA Lakers. Quando Harvey teve filhos, os dois cresceram no ambiente da NBA, treinavam com o pai e o tio, foram inseridos nesse mundo desde cedo e hoje estão aí: Jerami Grant no Philadelphia 76ers e Jerian Grant no NY Knicks.

Essa história soma a questão genética (são todos gigantes), o ambiente (dois caras bons e gigantes juntos se forçando a melhorar) e os privilégios de já fazer parte da família do basquete (tipo Dell Curry levando o menino Steph para seus treinos).

WSJ

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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