[Resumo da Rodada] O cemitério indígena

O Los Angeles Clippers foi fundado em cima de um cemitério indígena: essa é a ÚNICA explicação possível para a maldição que assola a franquia. Com três All-Stars jogando no auge de seu potencial, nunca alcançaram sequer as Finais da Conferência Oeste graças a uma ou outra bizarrice que destrói sempre quaisquer chances de sucesso. Na primeira rodada dos Playoffs passados, Blake Griffin saiu nos primeiros jogos com uma lesão no quadril e Chris Paul, que parecia disposto a assumir toda a carga ofensiva sozinho, acabou quebrando a mão na metade da série. Foram eliminados antes das semi-finais mesmo sendo claramente o melhor time da série.

Contra o Jazz, a receita para o sucesso era perfeita: não apenas o Clippers entrou os Playoffs tendo vencido 18 das últimas 20 partidas contra a equipe de Utah mas também Rudy Gobert, o pivô que ancora todo o esquema defensivo do Jazz, saiu lesionado ainda na primeira partida da série. Mas é claro que ALGUMA COISA tinha que acontecer: primeiro foi a derrota em casa, completamente inesperada, e ontem foi Blake Griffin lesionando seu dedão do pé com apenas 18 minutos de jogo, ainda antes do final do segundo quarto.

Naquele ponto, Griffin já estava sendo explorado defensivamente tentando caçar Gordon Hayward, que só no primeiro quarto marcou 21 pontos com 7 arremessos certos em 8 tentativas, incluindo 3 bolas de três pontos. O primeiro tempo acabou com Hayward imparável, uma vantagem de 9 pontos no placar para o Jazz, Blake Griffin fora com uma lesão e a torcida em Utah ensandecida. O clima no vestiário do Clippers certamente não era dos melhores – e isso porque ainda não havia saído a confirmação de que Griffin está definitivamente fora dos Playoffs, com uma lesão séria na ligação entre o dedão e a planta do pé.

A parte boa do Clippers ser amaldiçoado é que já está todo mundo perfeitamente ACOSTUMADO com essas situações. Blake Griffin já cansou de armar o jogo na ausência de Chris Paul, enquanto Paul sabe controlar o ataque e espaçar a quadra na ausência de seu companheiro. Os torcedores, imagino, sequer PISCAM com notícias assim: o desastre já é sempre aguardado, basta apenas que ele seja anunciado. E foi assim que Chris Paul entrou em quadra no segundo tempo disposto e reconstruir toda a movimentação ofensiva de sua equipe e fazer parte de uma defesa capaz de parar Gordon Hayward.

O Clippers passou a trocar a marcação em todo corta-luz para impedir em definitivo Hayward de arremessar, mas o resultado foi DeAndre Jordan tendo que marcar a estrela do Jazz individualmente durante as trocas e, olha que engraçado, ACHANDO QUE IRIA SE SAIR BEM NO PROCESSO:

Mas de fato diminuir os arremessos e forçar o Jazz a infiltrar limitou um pouco a produção de Hayward, que ainda assim terminou a partida com 40 pontos, 8 rebotes, 4 assistências e 2 tocos, disparada a melhor atuação de sua carreira. Quem vê bastante o moleque jogar percebe que esses números estão sempre ali EM POTENCIAL, parece sempre que Hayward vai tomar total controle de um jogo e sair de quadra com uns 50 pontos, mas ele simplesmente ESFRIA. Parte disso é porque ele participa relativamente pouco do ataque da equipe, especialmente em comparação com estrelas de outras franquias. O Jazz simplesmente não está disposto a depender de uma arma só.

Mas quando Chris Paul começou a colocar o jogo NO BOLSO, numa atuação impressionante, pareceu que tudo que o Jazz precisava era de uma arma única capaz de estancar o sangramento.

No quarto período, Chris Paul foi o responsável por uma sequência de 15 pontos seguidos do Clippers (9 deles marcados pelo próprio Paul) em que o Jazz simplesmente não conseguiu pontuar. Não existia jogada de segurança, bola fácil, alguém pra cavar faltas. Derrick Favors foi engolido próximo à cesta, Hayward não conseguia arremessar e as tentativas de passar a bola sob pressão no garrafão geraram desperdícios bobos. Nos últimos 4 minutos de jogo, com a partida apertada e o Clippers tentando controlar a vantagem que acabara de construir, Chris Paul marcou simplesmente TREZE PONTOS. Terminou a partida com 34 pontos, 7 rebotes, 10 assistências e 2 roubos. Precisando de uma bola de 3 pontos pra se manter vivo na partida nos segundos finais, o Jazz apelou para um arremesso em transição de Gordan Hayward que, indiferente aos 40 pontos na folha de estatísticas, não deu SEQUER ARO. Fora de sua zona de conforto, Hayward ainda tem muito a evoluir.

Essa é a diferença de Chris Paul: no quarto período, o armador se enfiou em todos os espaços vazios da quadra gerados pelo espaçamento de JJ Redick e as chances de ponte-aérea para DeAndre Jordan, aqueles espaços para arremessos de média distância que ninguém na NBA quer e que são o lugar mais confortável do planeta para Chris Paul. Quando entrou num ritmo incrível com esses arremessos, usando espaços que o Jazz sequer estava disposto a marcar e que Paul consegue ocupar com uma velocidade impressionante e um dos melhores controles de bola da Liga, Chris Paul até esticou seu alcance e foi para as bolas de três pontos. O Clippers é amaldiçoado, mas Chris Paul faz qualquer jogo do planeta lhe ser confortável porque ele DITA as próprias situações de arremesso. Agora o jogo está em suas mãos – até a maldição voltar e ele se lesionar, claro.


Quem mandou o Bulls jogar no mesmo dia que o Clippers? A maldição os contaminou. Se não bastasse a série entre Celtics e Bulls ter sido manchada pelo terrível acidente que levou a irmã mais de nova de Isaiah Thomas, agora também temos uma lesão no dedão da mão de Rajon Rondo, que se machucou durante o Jogo 2, fingiu que nada tinha acontecido, e agora alegadamente não consegue sequer “segurar um garfo com os dedos”.

Se alguém lesse no meio da temporada que Rajon Rondo não poderia jogar a série de Playoffs, iria virar para o lado e voltar a dormir, afinal Rondo parecia o jogador MENOS IMPORTANTE para essa equipe. Sendo deixado de castigo pela equipe técnica e participante de uma briga com Wade e Jimmy Butler que rachou o vestiário da equipe, tudo levava a crer que Rondo sequer terminaria a temporada com a franquia.

Falamos bastante disso num post analisando a trajetória de Rajon Rondo na NBA, em que mostramos histórias sobre como ele é abertamente visto como um GÊNIO por ex-técnicos e ex-companheiros, mas também como membro indesejado de elencos por quebrar as rotações ofensivas e desobedecer os técnicos ao não concordar com a falta de conhecimento tático de seus comandantes. Concluímos à época do post que usar o gênio de Rajon Rondo é deixar que ele comande taticamente sua equipe, com técnicos capazes de trabalhar com ele, levá-lo em consideração ao tomar decisões, ao invés de tentar trancá-lo para fora da criação tática. Fred Hoiberg, um técnico extremamente inseguro e com reais dificuldades de vestiário, viu em Rajon Rondo uma situação de afronta, de desmoralização. Criou um esquema tático baseado em Jimmy Butler e Dwyane Wade que colocava outros jogadores em situações de quase inação, e relegava Rondo a um cargo burocrático de passar a bola para o lado e converter bolas de três pontos. Foi por isso que Rondo acabou se tornando um mentor para os novatos, os jogadores que eram “excluídos” do elenco, trabalhando com eles rumo a um ENTENDIMENTO do jogo enquanto Butler e Wade ainda insistiam que o Bulls precisava mesmo era de coisas como “garra” e “vontade”.

Rondo só passou a ser usado pra valer na rotação, se tornando titular absoluto, ao final da temporada quando a água estava batendo na bunda. Foi puro desespero da comissão tática, que precisava de alguma melhora imediata e não restava ao elenco nenhum armador que fosse capaz de fazer a diferença. Rondo aproveitou a situação para jogar DO JEITO DELE, o time melhorou absurdamente, o elenco entrou num ritmo, surgiu algo que de longe no escuro e na neblina parecia algum sinal de ENTROSAMENTO, e aí está o Bulls nos Playoffs.

Nos dois primeiros jogos, deixando um pouco de lado o clima péssimo em Boston por conta da perda pessoal de Isaiah Thomas, o rendimento muitíssimo acima do esperado do Bulls se deveu em grande parte ao time se apoiar em Rondo, em seguir suas instruções defensivas (ainda que nem sempre ele, nesse ponto da carreira, consiga fazer aquilo que ele próprio indica) e a reagir às suas decisões no ataque, deixando para ele o papel de controlar o ritmo do jogo e escolher para onde a bola deve girar. Sua experiência com aquele Celtics campeão passou a ser ouvida nos vestiários e ele virou o “capitão” da equipe, a voz de inclusão dos novatos e a ponte de ligação entre as estrelas e os jogadores comuns. Na coletiva de imprensa depois da vitória no Jogo 2, Wade e Butler falaram abertamente sobre como odiavam Rondo e agora o amam.

Sua ausência pelas próximas duas semanas, no mínimo, devolveu o Bulls àquele estado de inércia que vimos nos piores momentos da temporada regular. Jimmy Butler e Dwyane Wade tiveram que criar jogadas sozinhos, enfrentando no mano-a-mano a defesa do Celtics, forçando arremessos de baixíssimo aproveitamento e sem conseguir criar espaços para os outros companheiros. Depois de surpreender na linha de três pontos nas primeiras partidas, o Bulls acertou apenas 6 das 21 tentativas do perímetro. Jimmy Butler errou 11 dos seus primeiros 12 arremessos no jogo, incapaz de escapar da marcação de Avery Bradley em parte por trazer constantemente a bola da defesa para o ataque.

Enquanto isso, o Celtics resolveu tentar novas coisas no ataque: tirou um pouco a bola das mãos de Isaiah Thomas para que ele pudesse fugir da marcação dupla e receber a bola em situações já prontas para o arremesso ou para infiltrações. Al Horford jogou como armador em diversas posses de bola, ajudando Thomas a se movimentar pela quadra e criar espaços, facilitando assim a rotação da bola e os arremessos de três pontos de quem quer que ficasse livre. Todos os jogadores entraram dispostos a arremessar e a arremessar RÁPIDO, assim que surgissem espaços, obrigando o Bulls a ter que reagir no impulso e cometer erros de rotação defensiva no processo – piorados pela ausência de Rondo para apontar dedos. E Gerald Green entrou como titular, aumentando o número de possíveis arremessadores em quadra, mesmo que ele não seja nada consistente. É surreal como tudo isso facilitou a vida de Isaiah Thomas!

Foi a melhor versão que tivemos do ataque do Celtics em muito tempo: em 41 arremessos convertidos ao longo do jogo, 34 deles vieram de assistências. Cinco jogadores terminaram a partida com mais de 10 pontos, nenhum deles com mais de 18 pontos marcados. O Bulls não achou nenhuma resposta defensiva para um time tão capaz de rodar a bola e arremessar do perímetro, estando focado em marcar as infiltrações e em dobrar a marcação em Isaiah Thomas, algo difícil de fazer quando ele não está segurando a bola durante todo ou a maior parte da movimentação de ataque. Essas alterações foram uma BOMBA na cabeça do Bulls: quando o primeiro quarto terminou 33 a 15, já estava claro que, sem Rondo, a equipe de Chicago não teria poder de reação. O placar até apertou, mas eventualmente o Bulls simplesmente ficou sem repertório ofensivo, dependendo de jogadas individuais de jogadores que foram se exaurindo em quadra.

Rondo até tentou ajudar botando um pé para Jae Crowder tropeçar (embora ele tenha dito que o banco estava muito mais para trás da quadra e que apenas esticou a perna porque ela estava doendo por conta de suas cirurgias no joelho), mas é bem possível que essa “ajuda” vire mesmo é uma suspensão para o armador.

O Celtics conseguiu uma variação ofensiva que não pensávamos possível e está de volta na série. Só esperemos que a maldição do Clippers não continue vazando para outras séries!


No jogo que restou da rodada, o Thunder seguiu o exemplo do Celtics e também tentou um ataque um pouco diferente – o máximo que dá pra fazer, claro, num ataque tão focado em Westbrook quanto esse. Arremessando pouquíssimo na primeira metade do jogo, o armador do Thunder tentou se focar em aumentar o ritmo de jogo e acionar seus companheiros no garrafão no meio de suas infiltrações ou então no perímetro, para tentar punir o Rockets por tentar tapar os caminhos para o aro. Mais uma vez André Roberson, que é mantido VERGONHOSAMENTE LIVRE na linha de três pontos pela defesa do Rockets porque ele é um PÉSSIMO arremessador, acertou duas de suas três tentativas de longa distância.

O Thunder também desenterrou jogadores do fundo de seu banco para tentar arremessar de fora: Norris Cole, Doug McDermott e até Alex Abrines converteram bolas de três. Além deles, Taj Gibson virou o principal homem do garrafão do Thunder – com prioridade sobre Steven Adams! – para que o time pudesse se aproveitar dos espaços livres de meia distância quando o Rockets se fecha no garrafão. Gibson acertou suas bolas de fora do garrafão mas também finalizou jogadas embaixo da cesta quando Westbrook, bem marcado, era obrigado a soltar a bola no meio de sua infiltração. Foram 20 pontos para Taj Gibson com 10 arremessos certos em 13 tentativas, e nenhum sinal de resposta do Rockets para fechar essa porta.

Gibson fora do garrafão acabou limitando os minutos de Nenê, que tem sido um dos melhores jogadores do Rockets fechando infiltrações, e também limitou a eficiência de Clint Capela. No segundo tempo, isso já havia aberto mais espaço para os contra-ataques de Westbrook, de modo que o Rockets começou a se ver obrigado a fazer faltas no armadorimediatamente quando ele entrava em velocidade na quadra de ataque, uma atitude desesperada de forçar Westbrook a jogar em meia quadra, com menos ritmo e, consequentemente, com menos chances de infiltrar.

Westbrook teve bem mais facilidade para conseguir seu triple-double dessa vez: foram 32 pontos, 13 rebotes, 11 assistências, 3 roubos e apenas 24 arremessos. Chegou no final do jogo não parecendo que iria PEDIR PRA APOSENTAR, mas ainda assim estava mais uma vez nitidamente exausto: errou 2 dos 4 lances livres que cobrou no último minuto, quando o Rockets estava lutando contra o cronômetro para tentar empatar a partida. Na entrevista logo assim que o jogo acabou, com Westbrook ainda em quadra, o armador falou sobre como estava FURIOSO com seus erros de lance livre, e sua expressão facial era um misto de HORROR e REPULSA por si mesmo. Sério, alguém precisa lembrar o coitado de que correr por 38 minutos sem parar faz COISAS com o ser humano.

Se o Rockets chegou no final com chances de empatar foi só porque James Harden arrancou pontos da própria orelha: foram 18 lances livres, especialmente contra os defensores amadores que insistem em colocar um braço na cintura do Harden quando ele sai do corta-luz, e mais um par de bolas de três pontos no quarto período contra marcação apertada individual. Ao todo foram 44 pontos, 6 rebotes e 6 assistências para o Barba, que teve um último arremesso de três para empatar a partida nos segundos finais e infelizmente não conseguiu converter por pouquinho.

Se o fundo do banco do Thunder conseguir produzir dessa maneira e o Rockets não for capaz de tapar os arremessos de média distância, tanto de Taj Gibson quanto de Russell Westbrook, o Thunder terá verdadeiras chances de vencer mais partidas. O problema é que o Rockets acertou apenas 10 bolas de três pontos, número muito abaixo da temporada regular – quando acerta 15 bolas antes do adversário, vence TODAS as partidas – e isso nem se deve à defesa do Thunder. Se essas bolas de longe passarem a cair com a frequência comum, a missão do Thunder ficará quase impossível.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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