[Resumo da Rodada] O Clippers foi Clippers; O “jogo do dente”

Ontem vimos o último jogo da primeira rodada, Clippers e Jazz – a única série a chegar ao Jogo 7 até aqui – e também tivemos a estreia da segunda rodada, com Celtics e Wizards se pegando na faquinha. Se você ainda não viu nosso preview dessa semi-final e não sabe por que esses times se ODEIAM, é só clicar aqui. Depois pode voltar pra ver tudo que aconteceu ontem!


Logo no primeiro quarto, um momento emblemático resumiu perfeitamente bem a partida do Clippers: Chris Paul fez aquilo que faz de melhor, ou seja, costurou a defesa do Jazz usando os espaços entre o aro e a linha de três pontos, foi perseguido por dois defensores com um terceiro na cobertura, fugiu pela linha de fundo rumo à zona morta e NINGUÉM se posicionou adequadamente nem no perímetro nem embaixo da cesta. Sufocado por dois defensores com os pés quase em cima da linha lateral, Chris Paul foi obrigado a pedir um tempo técnico pra não perder a posse de bola e foi até o banco de reservas ESCULACHANDO um cabisbaixo JJ Redick. O resumo da atuação dele nessa série está no vídeo abaixo e é de chorar na calçada:

Enquanto Chris Paul sofreu uma blitz defensiva constante, JJ Redick recebeu marcação bem próxima e agressiva no perímetro para forçá-lo a infiltrar, situações em que errou bolas fáceis uma atrás da outra. Sem ele para espaçar a quadra, o ataque do Clippers se resumiu no começo do jogo a arremessos forçados de Austin Rivers e bolas de meia distância de Chris Paul contra defesa fechada. Sem os 9 pontos nos primeiros 9 minutos de Chris Paul, o Clippers teria sido atropelado.

Isso porque o Jazz jogou no ataque com uma tranquilidade e inteligência que não deixavam transparecer que se tratava de um Jogo 7 fora de casa. Titular, Boris Diaw manteve a bola girando, Joe Johnson continuou usando seu tamanho contra Chris Paul até passar a merecer marcação dupla, e o Jazz abriu mão inicialmente das bolas de três pontos em nome de arremessos de média distância, usando os espaços criados pela defesa do Clippers se concentrando em proteger o aro. O Jazz é o time da NBA que joga no ritmo mais lento, o que tenta menos arremessos e o que arremessa mais no fim do cronômetro, mas isso muitas vezes é sinal de falta de objetividade no ataque. Ontem deu pra ver o outro lado da moeda, quando o ritmo lento e os arremessos que levam 24 segundos são sinônimo de um basquete inteligente e bem jogado que espera encontrar os espaços adequados. Mesmo quando Rudy Gobert saiu com faltas (foram 3 faltas em míseros 5 minutos de jogo), o Jazz manteve Diaw e Derrick Favors em quadra para manter o foco no garrafão e as saídas oportunas para converter os arremessos da cabeça do garrafão. Chris Paul fez um EXCELENTE trabalho todas as vezes em que o Jazz tentou colocar Gordon Hayward para atacá-lo, lutando contra cada corta-luz, se antecipando e forçando o ala a arremessos contestados, mas o resto da defesa do Clippers parecia sempre cair na mesma armadilha, fechar um espaço e abrir outros muito mais interessantes para os jogadores do Jazz. Diaw teve uma partida incrível, usando os mismatches com consciência, forçando a defesa do Clippers a contestar seu jogo de costas para a cesta antes de colocar a bola pra girar, e até puxando contra-ataques para liberar George Hill para os arremessos na zona morta.

Chris Paul ainda manteve o primeiro quarto parelho, mas quando sentou o ataque do Clippers secou. Tem uma coisa que eu não entendo taticamente nessa equipe: quando DeAndre Jordan faz um corta-luz para um armador de um lado da quadra, os outros jogadores correm para o perímetro do outro lado. Isso significa que o armador que está com a bola, se for contestado em sua infiltração, só pode recuar a bola para o próprio DeAndre, que é continuamente obrigado a ficar fora do garrafão ao invés de infiltrar para servir como rota de fuga para a bola. Isso é patético porque as infiltrações de DeAndre Jordan sem a bola foram uma das melhores jogadas do Clippers na partida. Apenas Chris Paul, por não precisar de “rotas de fuga”, libera DeAndre para as pontes-aéreas. A dupla fez uma série de pick-and-rolls altos, praticamente na linha de três pontos, e DeAndre é surpreendentemente bom em finalizar essas jogadas em velocidade, graças a uma passada larga e bom controle de bola:

Sem Chris Paul em quadra, DeAndre quase não é acionado e o Clippers vira uma máquina de forçar arremessos. No primeiro quarto, assim que o armador sentou foram 3 turnovers seguidos para sua equipe e um jogo que estava empatado se transformou numa vantagem de 7 pontos para o Jazz.

No segundo tempo, a defesa do Clippers conseguiu se arrumar e passou a dobrar em Joe Johnson com mais frequência, acertando as rotações. Em uma posse de bola impecável, com a defesa sufocando o Jazz, a equipe de Utah ainda assim conseguiu um pequeno espaço girando a bola para Boris Diaw dar um arremesso de três pontos no estouro do cronômetro de 24 segundos, converter e ainda sofrer a falta porque seu defensor chegou atrasado. É de partir o coração ver uma defesa boa sofrer esse tipo de bola e depois ter que compensar no ataque e ver JJ Redick incapaz de acertar um único arremesso, chegou a um ponto em que sequer fazia sentido tê-lo em quadra. Com 7 minutos sobrando no terceiro período, o Jazz havia construído a maior vantagem da SÉRIE INTEIRA: 15 pontos a mais no placar.

Quando o Jazz parecia que ia se embananar no ataque, Joe Johnson tinha uma resposta. O que ele fez nessa série inteira foi simplesmente histórico.

Quando o Clippers parecia que não ia nunca mais conseguir pontuar, Chris Paul enfrentava a multidão no garrafão para buscar um arremesso de média distância, sem sucesso. Começou a afastar e tentar bolas de três pontos, mas acertou apenas uma das OITO que tentou. Numa sequência de 23 pontos contra apenas 7, o Jazz construiu uma vantagem de 21 pontos no placar e nunca mais olhou pra trás.

Curiosamente, quem continuou brigando e lutando foram os reservas do Clippers, Raymond Felton, Marreese Speights e Paul Pierce. Pierce parecia que estava jogando a última partida da carreira, o que aliás ELE ESTAVA FAZENDO MESMO, já que se aposentou após a derrota (falaremos mais disso em outros posts, pode esperar). Os três pelo menos deram trombadas, pularam nas bolas, arrancaram uns rebotes ofensivos aleatórios na base da garra e da insistência. A vantagem até diminuiu o suficiente no quarto período, chegando em 10 pontos, mas o Jazz começou a controlar o cronômetro e TIROU DE LETRA a defesa pressão de quadra inteira do Clippers, tendo tranquilidade para girar a bola e Boris Diaw para encontrar os espaços certos para acionar os companheiros.

Enquanto o Clippers foi novamente o Clippers – o primeiro time da HISTÓRIA a perder uma série que eles estiveram liderando em jogos ganhos por CINCO ANOS CONSECUTIVOS – o Jazz se mostrou um time inteligente, controlado, com a cabeça no lugar e surpreendentemente versátil. Mas contra o Warriors vai ter que fazer tudo isso e ainda aprender a voar, claro.


A segunda rodada começou com Celtics e Wizards, o clássico do ÓDIO. E tivemos a oportunidade de ver duas partidas completamente diferentes ao longo desses 48 minutos de basquete. O jogo começou com o Wizards fazendo 9 a 0 no placar em apenas DOIS MINUTOS de jogo. Foi assustador não apenas o ritmo com que o Wizards começou, mas também o TAMANHO deles em quadra. O Celtics parecia um time de crianças, o Wizards tinha a vantagem de altura em todas as posições e ver John Wall e Isaiah Thomas lado-a-lado é verdadeiramente impressionante. Não é à toa que a equipe de Washington começou dominando os rebotes ofensivos e todos os jogadores achavam que conseguiriam passar POR CIMA de qualquer defensor que estivesse à sua frente. Quando o placar do jogo já era 16 a 0, o Celtics teve que mudar alguma coisa.

Gerald Green foi mais uma vez titular após ter sido importante para mudar o ritmo contra o Bulls, espaçando a quadra e tirando um pouco do fardo dos arremessos de Isaiah Thomas e de Avery Bradley, que só converteu 26% das suas bolas de três pontos na série. Mas frente aos GIGANTES do Wizards, o técnico Brad Stevens foi obrigado a pedir um tempo, tirar Gerald Green e colocar Amir Johnson em quadra. Não adiantou.

Com apenas 5 minutos jogados, essa era a situação: 20 a 3 no placar, todos os cinco titulares do Wizards haviam pontuado com 9 acertos em 13 tentativas, o Celtics havia errado todos os 7 arremessos tentados e o Wizards tinha 10 rebotes (sendo 3 de ataque) contra NENHUM rebote do Celtics. Leia esse parágrafo de novo: é a maior descrição de um ACIDENTE DE TREM de que se tem notícia.

Amir Johnson mudou um pouco o ritmo de jogo, o Wizards passou a ter que lutar pelos rebotes e o Celtics foi encontrando mais espaços para arremessos no perímetro, mas Avery Bradley errava TODOS sem exceção. Parecia que o jogo estava encerrado ali. E para piorar o clima de ACIDENTE FERROVIÁRIO, Isaiah Thomas ainda perdeu um dente numa jogada completamente banal:

Mas de repente as coisas mudaram. Em duas jogadas QUEBRADAS consecutivas, em que a bola acabou sobrando pra Isaiah Thomas quase que por acaso, o armador acertou dois arremessos de três pontos. Na posse de bola seguinte, quando fizeram marcação dupla em cima do nanico, ele acionou o recém-entrado Kelly Olynyk, o “homem dos três ipsilons”, para uma bola certeira de três pontos. Logo depois, Isaiah infiltrou para uma bandeja impossível e no meio da jogada lançou a bola para trás rumo a um Olynyk livre no perímetro para mais uma bola de três pontos. O clima em Boston já era completamente diferente, Isaiah ignorou a rotação ofensiva e simplesmente correu pra cima da defesa do Wizards, parou na linha de três e converteu um arremesso. Alguns jogadorzinhos por aí tiveram “o jogo da gripe”, mas Isaiah Thomas estava claramente tendo O JOGO DO DENTE. Nos últimos três jogos contra o Bulls, Isaiah tinha acertado apenas 3 dos 26 arremessos de três pontos que tentou; no primeiro quarto contra o Wizards, acertou todas as suas 3 tentativas do perímetro.

O Wizards continuou no mesmo plano de jogo e Kelly Oubre Jr, que parece um gigante contra os alas do Celtics, converteu duas bolas de três pontos para manter o time no eixo. Os 14 pontos de vantagem para o Wizards podiam até parecer esmagadores, mas a dinâmica do jogo já tinha mudado. O Celtics acreditava que podia vencer.

Quando Markieff Morris torceu o pé ao cair de um arremesso em cima do pé de Al Horford (uma jogada que pareceu sem intenção, mas que a gente sempre fica DESCONFIADO e aponta dedos porque é muito imprudente e nada ética) e o ala do Wizards não conseguiu voltar mais para o jogo, aí é que o Celtics animou de vez.

Amir Johnson voltou para o banco e o Celtics passou a usar Marcus Smart entre os titulares, com um quinteto de excelentes defensores e mais o coitado do Isaiah Thomas. O problema do Wizards é que sem Markieff, foram obrigados a usar Otto Porter e Kelly Oubre ao mesmo tempo, de modo que tinham duas peças estáticas na zona morta. Isaiah ficou perfeitamente bem escondido em Oubre, sem se mexer muito, sem se cansar e não tendo que tomar qualquer decisão defensiva. Al Horford dominou o garrafão por diversos momentos, o Celtics inteiro estava pronto para trombar e manter as bolas vivas, e numa jogada quebrada no terceiro período que sobrou para Jae Crowder transformar em bola de três pontos, o Celtics assumiu a primeira liderança da partida.

A agressividade da equipe de Boston e o pavor do Wizards em ter perdido a liderança não fizeram muito bem para os OLHOS HUMANOS que assistiam ao jogo: tivemos um show de horrores de desperdícios, Al Horford esquecendo a bola no meio de um contra-ataque que ele puxava, jogadores do Wizards passando a bola nas mãos dos armadores do Celtics e outras bizarrices mais. Mas o Celtics continuou transformando essas loucuras em bolas de três pontos: foram 10 delas só entre o segundo e o terceiro quartos, momento em que o Celtics marcou 72 pontos contra apenas 42 do Wizards. As 19 bolas de três na partida foram o recorde histórico do Celtics em Playoffs.

O Wizards até diminuiu a vantagem para 5 pontos com 6 minutos sobrando no quarto período, mas o Celtics estava em outra marcha. A equipe de Washington errou muitos passes, muitos lances livres e sentiu falta de um jogo de garrafão mais forte quando o Celtics se focou em quintetos defensivos e acertou suas bolas de três pontos. Quem diria que Jae Crowder, essencial na defesa, finalmente iria acordar e converter 6 bolas de três num jogo. No final o Celtics puxou mais alguns contra-ataques para matar o jogo de vez. Isaiah Thomas deixou seu “Jogo do Dente” com 33 pontos, 9 assistências e 5 bolas de três pontos convertidas. É bom que John Wall volte na próxima partida com um dente faltando, ou nenhum começo esmagador será suficiente para parar esse Celtics.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.