[Resumo da Rodada] O outro Spurs

Uma coisa é o Spurs perder Kawhi Leonard no meio de uma partida, durante o melhor momento do Warriors num jogo, e outra coisa é começar uma partida já tendo a ausência de Kawhi considerada no plano de jogo. O elenco do Spurs pode gerar mil ressalvas, mas ao menos temos a garantia de que o técnico Gregg Popovich o colocará para jogar de maneira inteligente e capaz de alcançar o melhor resultado possível.

Com Kawhi ainda fora graças à sua torção de tornozelo – que, tudo indica, também o deixará fora do Jogo 4 dessa série – o que pudemos ver foi o outro Spurs, aquele que depende única e exclusivamente do basquete coletivo, aquele que não pode se safar das jogadas quebradas com um arremesso heroico, frio e calculista, aquele que precisa impor o tempo inteiro seu ritmo, no ataque e na defesa, por não poder contar com uma força defensiva individual. Não há ninguém para cobrir as dificuldades defensivas de Pau Gasol e David Lee, ninguém para limpar os erros de troca de passes e ninguém para garantir a eficiência da transição defensiva. A noite de ontem foi como olhar por uma brecha no espaço-tempo rumo a um Spurs de tempos atrás, um time sem subterfúgios, em que o basquete precisa ser bem jogado sem nenhuma margem para erros. Por um lado, essa responsabilidade dividida por inteiro nos mostrou quão bons são alguns dos jogadores pouco utilizados do elenco e quão eficiente é a mente de Popovich; por outro, expôs o fato de que alguns membros desse time não estão à altura, ofensiva e defensivamente, e que infelizmente – porque o tempo às vezes É UMA MERDA – Ginóbili já tem 39 anos em cima de seus joelhos combalidos.

Com Gasol inicialmente no banco e LaMarcus Aldridge jogando como pivô, vimos o Spurs mais baixo dos últimos tempos com cinco jogadores simultâneos capazes de arremessar bolas de três pontos. Com muita rotação de bola e decisões muito rápidas – nenhum jogador do Spurs recebia a bola e parava para pensar no que fazer, sempre ou passando imediatamente ou, com mais frequência, já batendo instantaneamente para a cesta, passando a bola no meio do caminho ou finalizando – esse quinteto inicial se saiu surpreendentemente bem. Contra a defesa do Warriors, que está sempre rodando e trabalhando na cobertura, jogar sem hesitação acaba pegando alguns defensores no meio de sua movimentação e encontrando espaços para a cesta ou cavando algumas faltas.

Não podemos confundir, no entanto, esse jogo sem hesitações com aceitar a correira que o Warriors propõe como armadilha a seus adversários. O Spurs tentou manter a calma, especialmente na transição, e não finalizar até que um bom arremesso surgisse, após duas ou três infiltrações se necessário. Quem acabou caindo numa armadilha foi mais uma vez o Warriors, que continuou abrindo mão de arremessos bons em busca de arremessos ainda MELHORES, acreditando que continuar movendo a bola eventualmente levaria a arremessos livres – acontece que isso NÃO ACONTECE com o Spurs. Contra a equipe de San Antonio, se você abre mão de uma chance de arremesso para buscar algo melhor, apenas dá tempo para que o Spurs se organize novamente e tape os espaços futuros. Isso é particularmente verdadeiro quando os adversários do Spurs abrem mão de tentativas de bandeja para passar a bola para alguém supostamente mais livre no garrafão, situação em que a defesa sempre bloqueia as rotas de passe, ocupa os espaços próximos ao aro e força erros ou jogadas de ainda mais baixo aproveitamento.

Em situação estranhamente desfavorável, o Warriors se manteve vivo através de marcação dupla em LaMarcus Aldridge, que parece INCAPAZ de passar a bola com velocidade e acaba sempre engolido pela defesa ou forçado a dar arremessos desaconselháveis, e graças ao domínio de JaVale McGee no garrafão. Com 11 pontos em míseros 6 minutos em quadra no primeiro quarto, McGee pegou pontes-aéreas por cima da defesa do Spurs graças a corta-luzes feitos bem alto, quase no meio da quadra, e chegou até a bater bola e infiltrar contra Gasol, incapaz de acompanhar sua velocidade e poder atlético. McGee só não infiltrou também contra David Lee porque o jogador de garrafão do Spurs se lesionou numa trombada, saiu de cadeira de rodas e é mais um jogador do elenco a ficar fora dos Playoffs. Pra fechar o quarto, ainda teve o passe de futebol americano surreal de David West para Ian Clark, diminuindo a vantagem do Spurs para apenas 4 pontos:

O Warriors sempre nos causa surpresa com a eficiência desses jogadores secundários – Iam Clark, David West (que já teve passagem bem menos efetiva pelo Spurs), Patrick McCaw, e em temporadas anteriores até Leandrinho. Já está na hora de admitirmos que o esquema tático do Warriors FAZ esses jogadores, e que de certa maneira tornou até mesmo as estrelas aquilo que são hoje. O único time que conseguiria usar JaVale McGee de titular numa final e dar vários minutos para McCaw hoje seria justamente o Spurs, que venceu um quarto de uma Final de Conferência com Patty Mills e Kyle Anderson em quadra.

O primeiro quarto, entretanto, foi o único que o Spurs conseguiu vencer. No segundo período a defesa do Warriors já havia se acostumado com a movimentação de bola – infiltração, passe pra fora, infiltração, passe pra fora… – e os jogadores começaram a antecipar as linhas de passe. Curry saiu de quadra com 6 roubos de bola, fruto de sua capacidade incrível de ler os passes futuros, e restou para o Spurs cortar nos passes e usar os espaços limitados para tentar infiltrações. Ninguém no elenco faz isso tão bem quanto Manu Ginóbili, que assumiu o jogo de pick-and-roll da equipe, e deixou o jogo com 21 pontos em apenas 17 minutos de jogo, que era tudo que ele conseguiria jogar nesse grau de intensidade. Onde não havia espaço, Ginóbili simplesmente INVENTOU rotas de fuga desobstruídas e mostrou como criatividade às vezes é tudo que se precisa para vencer uma defesa impecável:

Esse jogo de pick-and-roll ainda rendeu algumas cestas fáceis para Pau Gasol, mas tirando isso o resto do ataque do Spurs engasgou. Sem a bola passeando livremente, a capacidade de infiltração de todos os jogadores foram testadas, com graus de sucesso diversos. Apenas LaMarcus Aldridge continuou tendo oportunidades de arremesso de longe razoavelmente livres, já que a defesa do Warriors dobrava apenas se ele tentasse se aproximar do garrafão, mas ele errou a maior parte dos arremessos que tentou e mais uma vez foi completamente ineficiente na partida. Ao fim do primeiro tempo, com o Spurs tendo tomado 18 pontos a mais do que fez nos minutos em que Aldridge esteve em quadra, o Warriors já liderava por 9 pontos baseado quase que exclusivamente em sua melhora defensiva.

No terceiro período, Jonathon Simmons passou a usar o espaço de média distância que o Warriors cedia para tapar o garrafão e o perímetro e LaMarcus Aldridge teve uma pequena sequência de 7 pontos seguidos para deixar a diferença no placar em míseros 6 pontos. Esse outro Spurs, eventualmente engolido pela defesa adversária, ainda assim conseguia ter sequências impressionantes no ataque e se aproveitar dos desperdícios de bola já tradicionais do Warriors para deixar o jogo DISPUTADO. Foi uma coisa bastante impressionante e até mesmo emocionante de se ver. Só não durou muito tempo.

Draymond Green passou a assumir a defesa de Aldridge pessoalmente, não lhe deu mais espaços e praticamente tirou o jogador do Spurs da partida, sufocando-o de tal maneira que ele não tinha outra opção que não fosse se livrar da bola. Green até mesmo roubou uma bola antes dela chegar no Aldridge durante um pick-and-roll, inviabilizando a jogada a partir dali. No ataque, Kevin Durant simplesmente acordou e resolveu acabar com a partida. Acertou um par de arremessos, forçou um par de infiltrações, e de repente quando Curry pediu a bola para armar o jogo, Durant FEZ QUE NÃO COM A CABEÇA, armou o jogo ele mesmo e fez isso aqui:

Com a diferença em 16 pontos – mesmo número de pontos de Durant no terceiro quarto – mesmo com o Spurs jogando em seu limite, o jogo já entrou em um clima de profunda impossibilidade. Foi um dos melhores quartos que o Spurs poderia ter jogado sem Kawhi, com 33 pontos marcados, Aldridge ao menos contribuindo, Simmons usando os espaços, Ginóbili infiltrando sem parar, mas Durant foi lá e garantiu que nada disso seria suficiente.

Com um pouquinho menos de intensidade no quarto período, o Spurs foi engolido. David West errou uma enterrada fácil, o Spurs levou uns três segundos pra se recuperar do susto e isso foi suficiente para Iam Clark receber um passe perfeito para uma bola certeira de três pontos da zona morta. Foi bom ver o outro Spurs dar as caras e o jogo foi digno, brigado e o Warriors teve que ajustar muitos dos seus defeitos no segundo e terceiro quartos. Mas ainda falta material humano para que o confronto seja duro de verdade. Após um ou outro ajuste, mesmo com o placar apertado, o Warriors voltou a parecer o mesmo time imbatível das séries anteriores. Infelizmente, encurtando nossos amados Playoffs, não há nenhum indício de que essa série não vá terminar já no Jogo 4. Por alguns instantes, vimos o que esse elenco do Spurs pode fazer, e foi incrível. Apenas não foi e nem será suficiente.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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