Tudo normal

>

Só é falta se o juiz contar até 10 e você não levantar

Depois de uma primeira rodada de playoffs cheia de surpresas, jogos 7 e momentos memoráveis, a NBA já está de volta à sua normalidade: LeBron James está passeando como sempre (dessa vez foram 47 pontos na cabeça do Atlanta), o Hawks só perde feio (o Cavs se nega a marcar o Josh Smith no perímetro, obrigando ele a tentar – e errar – apenas arremessos de longe), o Mavs não vence jogo nenhum, o Nowitzki erra os arremessos no final dos jogos, o Artest foi expulso e o Yao Ming, vejam que legal, quebrou o pé. Se eu estivesse perdido numa ilha deserta sem contato com o mundo exterior e tivesse que chutar como estão sendo os playoffs da NBA para a minha bola de vôlei Wilson, teria acertado tudo direitinho. Mas eu iria chutar que o Yao quebraria o pé antes e o Houston teria sido eliminado na primeira rodada, então ao menos alguma coisa acabou saindo do padrão.

O azar do Houston já era mais do que esperado, tinha que acontecer em algum momento porque vi o Tracy McGrady perto do banco de reservas dia desses e miséria e agonia sempre acontecem num raio de 50 metros em volta do pobre coitado. Yao Ming jogou boa parte da terceira partida da série contra o Lakers mancando um bocado, aguentando o que parecia ter sido uma torção após cair de mal jeito num arremesso. Assim, incapaz de ser efetivo no segundo tempo inteiro (após ter chutado traseiros no primeiro tempo, com 14 pontos), permitiu que o Houston fosse caindo num buraco sem volta, mesmo jogando dentro de casa. Ele tentou, se arrastou, puxou aquela perna que deve pesar mais do que toda a população do Acre, e só foi sentar nos segundos finais do jogo, quando ficou óbvio que já não dava mais para vencer o jogo. Nesse momento, Ron Artest já havia sido expulso numa faltinha mais-ou-menos no Pau Gasol.

Negócio é o seguinte: parece que minha função no planeta é reclamar, porque nunca dá para estar satisfeito. Eu bato o pé porque a arbitragem da NBA é muito severa, chata e impede as expressões pessoais dos jogadores; aí depois a arbitragem entra em “clima de playoff” e permite que o jogo vire uma disputa de judô, com quinhentas cotoveladas para todos os lados. Torci para uma partida mais tranquila, mas aí uma falta simples de Artest foi imediatamente punida com expulsão, e eu já não sei mais do que reclamo: da arbitragem apitar demais ou da arbitragem apitar de menos?

Em todo caso, fica bem óbvio que qualquer coisa que o Artest faz já dá arrepios em todos os engravatados na NBA e, portanto, todo cuidado é pouco. Sabendo que qualquer mínimo confronto pode virar um espetáculo nas mãos de Ron Artest, que corre para cima dos adversários, bate boca, atiça a torcida e deita nas mesas dos juízes, quando ele espirra é melhor deixá-lo fora do jogo. Numa falta tão comum quanto o Shaq errar lances livres, Artest foi expulso para que não pudesse mais haver espetáculo. Fica até difícil culpar a arbitragem porque eles não são uma tela em branco e, portanto, têm o direito de entrar em quadra munidos de memórias, medos e preconceitos. Sabem que as coisas funcionam diferente com Artest e por isso acabam reagindo diferente, mas sem dúvida não é justo com o jogador do Houston. Felizmente ele tem sido cada vez mais e mais sensato em suas entrevistas coletivas, elogiou a postura dos árbitros que explicaram para ele o que tinha acontecido e colocaram ele pra fora de maneira calma e polida, e então torceu para que a falta fosse “repensada” pela NBA. De fato foi e tornou-se apenas uma falta flagrante, que não levaria a nenhuma expulsão, e ainda assim acho exagero. Mas que seja, o Artest tem sua fama, seja ela merecida ou não, e os árbitros reagem a ela como podem. Acabou não mudando os rumos do jogo e pelo menos não tivemos uma partida de hockey dessa vez.

Mas a arbitragem acabou mudando completamente o rumo de outra partida, entre Nuggets e Mavs. Após dominar completamente o jogo e amarelar no finalzinho, Nowitkzi viu seu time vencendo por 2 pontos nos segundos finais. Tentaram cometer uma falta em Carmelo Anthony, uma daquelas táticas “oi, meu nome é Spurs e eu sou um desgraçado” de enviar o jogador para a linha de lances livres para que ele possa fazer no máximo dois pontos, ao invés dos três necessários. Além disso, o Nuggets tinha uma falta sobrando, então ainda poderia tentar roubar a bola na cobrança de lateral após a falta. Acontece que a arbitragem ignorou as duas faltas em sequência que Antoine Wright tentou fazer em Carmelo Anthony. Mais uma vez não podemos culpar tanto a arbitragem porque, se eles não leram a nossa coluna “Desconhecido do Mês” do Antoine Wright, simplesmente não sabiam que ele existia e não marcariam uma falta num jogador invisível. Parte da culpa vai para o Wright, também, que não anda armado: depois dos dois empurrões dados em Carmelo, ele claramente deveria ter dado dois tiros certeiros na altura do peito, evidenciando a agressão. Por outro lado, se fosse Bruce Bowen, podemos ter certeza de que ao invés de um empurrão teria sido uma voadora e Carmelo Anthony jamais teria conseguido dar o arremesso que deu a vitória ao Denver Nuggets. Ironicamente, se ao invés do Carmelo fosse o Ginóbili, ele teria se jogado no chão após o empurrão mesmo que o melhor a se fazer fosse arremessar. Força do hábito, sabe como é.

Numa hora só são marcadas “faltas de playoff”, ou seja, se não sangrar não foi nada, mas em outras qualquer faltinha é falta flagrante. Onde diabos foi parar o critério? Achei que os árbitros ruins só fossem apitar Spurs e Suns, mas parece que agora eles estão se espalhando para as outras partidas mais rápido do que produtos com a cara da Maísa! Toca a NBA, toda hora, ficar revendo os lances e mudando de opinião: a falta do Artest foi amenizada, e a falta do Antoine Wright não marcada foi reconhecida como um erro dos árbitros presentes. Legal, o Mavericks agora pode levar para casa o troféu “Perdemos mas com um asterisco”, tenho certeza de que o Nowitzki vai adorar colocar em sua estante amarela.

As lambanças de arbitragem, no entanto, só estão levando as coisas aos seus rumos esperados (as próprias lambanças são bem normais e esperadas). Era bem claro que o Houston ganhar a primeira partida fora de casa havia sido um acidente de percurso, e agora sem Yao o Lakers vai passear. Do mesmo modo, é bem claro que Nuggets e Cavs são muito superiores aos seus adversários e deveriam emplacar simples 4 a 0 e ir pra casa tirar um cochilo. Nas Finais de Conferência, talvez, tenhamos séries mais disputadas e divertidas.

Quanto ao Yao, talvez seja o momento de admitir que um ser humano não foi feito para ter 2,29m e ficar correndo de um lado para o outro humilhando Greg Odens e Andrew Bynums no caminho. Sua estrutura óssea não é adequada para a tarefa, seus ossos sempre vão trincar em algum lugar, e o Houston sempre vai ficar na mão nos piores momentos possíveis. Com Yao, T-Mac e Artest, esse time é sempre um acidente esperando para acontecer.

Mas pensem pelo lado bom: dessa vez passamos do primeiro round. Podemos começar, agora, uma maldição milenar de não conseguir passar do segundo round. Talvez meus netos vejam o Houston perdendo nas Finais de Conferência, vamos lá, um passinho de cada vez.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.