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Duncan enfrenta o Lakers com a mesma cara de quando pula amarelinha

A gente até se esforça, a gente até tenta, mas não tem mesmo como gostar do San Antonio Spurs. Quando eles estavam fedendo, passando apuros sem Ginóbili e o Parker precisava fazer 50 pontos por jogo pra manter o time competitivo, dava aquela dó – o mundo não tem a mesma graça quando os grandes rivais somem do mapa. Depois o Parker também ficou fora e o Duncan teve que segurar as pontas com um bando de jogadores amadores de ludo que por acaso apareceram na quadra e ganharam uniformes para participar das partida, e aí não tinha como não sentir um carinho pelo esforço frustrado do jogador com mais cara de banana da NBA. Então todas as peças voltaram, o Bowen começou aos poucos a ser aposentado (ou seja, há esperança com a humanidade), Roger Mason trouxe um pouco de juventude à equipe e o Spurs começou a escalar o Oeste. Talvez até seja possível gostar desse time, pensei. Eles se superaram, estão na segunda colocação da conferência, andam jogando demais. Lakers e Spurs tinha tudo para ser um jogo épico entre duas grandes equipes, em boas fases, e dessa vez eu nem iria arrancar meus cabelos toda vez que o time de San Antonio fizesse algo que ofendesse meus princípios. De fato, eu estava certo: o jogo foi lendário, provavelmente o melhor jogo da temporada, e eu consegui não surtar, furar meus olhos ou arrancar meus cabelos – ao menos até os segundos finais. Parece que sempre acontece alguma merda para estragar os jogos do Spurs, seja o Bowen esfaqueando alguém com uma faca de cozinha, seja o Ginóbili fingindo que tomou um beijo da Preta Gil quando na verdade foi um peteleco na orelha, seja a arbitragem dando algum jeito mequetrefe de favorecer Duncan e seus amigos no finalzinho – e o pior, muitas vezes nem era necessário.

É a mesma reclamação que eu tenho com o Ginóbili: ele chuta traseiros, joga como poucos, e justamente por isso não precisava utilizar seus recursos de ator de novela mexicana. O Spurs é um timaço, tinha acabado de fazer uma cesta inesquecível das mãos do Roger Mason (pra mim, o novo Stephen Jackson!) com direito a uma falta do Fisher que acabou virando o jogo, e por isso mesmo não precisava que a arbitragem facilitasse as coisas no final.

Aqui dá pra ver os dois lances. Primeiro, a cesta-e-falta do Roger Mason, que deu a liderança para o Spurs. Depois, o Kobe passando a bola para o Ariza que, ao bater para dentro (insira sua opção aqui):

A) sofreu uma falta de Manu Ginóbili, que trombou de frente com Ariza e estava se movimentando

B) recebeu contato de Manu Ginóbili, não faltoso, se atrapalhou e errou o arremesso.

Seja qual for sua escolha, ela não pode incluir uma andada do Ariza (que foi a marcação dos árbitros) e, portanto, na pior das hipóteses o Duncan iria cobrar dois lances livres por pegar o rebote e sofrer falta. O jogo estaria provavelmente encerrado, o Spurs merecia a vitória depois daquele arremesso surreal do Roger Mason, mas por que diabos os jogos do San Antonio não podem acabar naturalmente, numa morte natural, digna, honesta, de cidadão de bem?

Engraçado é que só estamos tendo essa conversa porque Kobe Bryant, que havia acertado uma cesta de três pontos débil mental para empatar o jogo segundos antes, passou a bola decisiva para o Trevor Ariza assim que sofreu a marcação dupla. Quando digo que o Roger Mason é o novo Stephen Jackson, isso se aplica em dois aspectos: o primeiro é que ele é um excelente arremessador de fora como o Stephen era em suas funções reduzidas de sua estadia em San Antonio, e o segundo é suas capacidades defensivas. Foi o Roger Mason o responsável por marcar Kobe Bryant nas bolas decisivas, foi ele quem tomou uma bola na cara que garantiu o empate, e foi ele quem defenderia o Kobe na jogada final – se o Ginóbili não tivesse tomado a decisão de ir ajudar. A decisão de passar a bola não é surpreendente, tendo em vista que o Kobe já conta com uma tradição considerável de envolver seus companheiros, mas desistir da bola final que poderia decidir o jogo para outro companheiro melhor posicionado é um tanto mais incomum, e muito mais alvo de críticas.

Assim que empatou o jogo, Kobe fez a dança “eu tenho um saco de jumentinho” imortalizada pelo Sam Cassell, que para alienígenas seria explicada como um ato metafórico de apontar que o tamanho dos bagos indicaria maior masculinidade, que por sua vez seria sinal de coragem para dar o último arremesso, e estranhamente associado com o sucesso no arremesso, como se o fracasso fosse sinal de menor masculinidade e, portanto, bagos menores. Ah, os alienígenas não têm a menor chance de compreender nossa cultura. Mas bem, se num segundo o Kobe apontou que seus bagos tinham elefantíase, segundos depois seu passe para o Ariza foi apontado como sinal de amarelisse. Como sabemos, Jordan teria arremessado. O Kobe é um impostor, um herege, chamem a Santa Inquisição, ele foi feito no Paraguai!

O Lakers corre o risco de que, quando as coisas apertam, o time inteiro fique parado, covarde, estagnado, esperando o Kobe resolver tudo. O Lamar Odom tomou tanto puxão de orelha do Phil Jackson na temporada passada que hoje em dia jamais se atreveria a arriscar algo como um arremesso decisivo. Às vezes parece que o único com vontade de decidir, além do Kobe, é o Vujacic, que ontem estava machucado. Acho importantíssimo, portanto, que alguns arremessos finais caiam nas mãos de outros jogadores, que o Kobe entre no seu auto-entitulado “modo facilitador” e, ao sofrer marcações duplas, deixe a bola rodar. Esse time precisa aprender a arremessar na hora que importa, é necessário que todos estejam preparados. O elenco é bom demais para que apenas Kobe carregue o fardo da decisão, como LeBron anda carregando lá em Cleveland. Quer dizer, carregando em ano bissexto, porque faz muito tempo desde que um jogo do Cavs teve um momento decisivo, já que todas as partidas andam tão fáceis quanto árbitro decidir jogo para o Spurs. Rá, zoei.

E por falar no Vujacic, que passará uns dias fora com um problema nas costas, o elenco do Lakers é tão forte que até esquecemos que eles sofreram bastante com contusões. O Fisher passa longos minutos em quadra (longos demais para sua idade e para aquela coceirinha que ele sente que lhe faz arremessar o tempo todo) porque Jordan Farmar lesionou um joelho que o arrancou da quadra por 8 semanas. O Vujacic assumiu como armador reserva, mas na sua falta o posto cabe ao Odom, que por sua vez teve um problema no joelho e sentou um bocado. Quando o Trevor Ariza está armando o jogo você sabe que está com problemas. E, como se não bastasse, assim que o Phil Jackson decidiu que seu melhor passador, Luke Walton, seria titular para ajudar na movimentação da bola, ele machucou o pé e só volta em duas semanas. Diabos, se o Houston passasse por uma situação dessas, jamais estaria liderando o Oeste! Estaria em, tipo, sétimo lugar, com, tipo, umas 24 vitórias e 16 derrotas. Hum, acho que sei o que aconteceu com o recorde da minha equipe.

Boatos dizem que o Yao Ming está de saco cheio do T-Mac nunca estar em condições de entrar em quadra, e o Mutombo falou abertamente que o chinês precisa aprender a dar tocos ao invés de ficar cavando faltas de ataque (“defesa não se joga com o peito!”). O negócio está feio no elenco mais bichado depois do Clippers, e dá aquela invejinha do Lakers que sequer percebe as contusões. Time de verdade é outra coisa.

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