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O novo CBA ainda não foi oficialmente assinado, donos e jogadores ainda estão votando no que eles chamam de B-List, uma lista de pequenas coisas que não são importantes o bastante para quebrar o acordo, mas que precisam ser feitas para que tudo dê certo. Coisas como doping, por exemplo. Pois é, em um locaute regido pelo dinheiro, doping é questão secundária. De qualquer forma, a votação pode acabar já amanhã.
Mas algumas coisas, relacionadas à grana, claro, já foram decididas. Uma delas é a tal cláusula de anistia, muito comentada nos últimos dias. É essa regra que vem ditando quais times podem ou não entrar em disputa por Free Agents, logo é importantíssima nesse período frenético de contratações. Vamos explicar aqui alguns detalhes dela, começando por citar um post nosso que fala da última vez que essa regra foi válida, em 05-06.
“A regra foi adotada logo antes da temporada 2005-06 e permitia que os times dispensassem alguns jogadores e assim tirassem os seus salários da contagem das multas. O time continuaria pagando o jogador normalmente (mesmo ele sendo dispensado e atuando em outro time) mas esse salário não contaria no teto salarial.
Por exemplo, o Dallas Mavericks dispensou o Michael Finley, que na época ganhava por volta de 17 milhões por temporada. Continou pagando os 17 milhões para o Finley mas não pagava os outros 17 milhões que pagava de multa por esse salário ultrapassar o limite aceito pela liga. Foi uma baita economia mas que lhes fez perder o Finley para o Spurs. Em San Antonio ele ganhava os seus milhões do Mavs e mais um salário mínimo do Spurs.
A regra ganhou o nome de Allan Houston porque diziam que ela havia sido criada para beneficiar o Knicks, que na época pagava um dos maiores salários da NBA, cerca de 20 milhões de dólares por ano, para o armador que estava sempre machucado. Os gastos com multas eram enormes no Knicks, que na época tinha a maior folha salarial da NBA, beirando os 100 milhões de dólares. Porém, quando chegou a data de anúncio dos jogadores dispensados sob essa regra, o Knicks decidiu manter o Allan Houston e dispensar o Jerome Williams. Mesmo assim o nome pegou e podemos dizer que o Allan Houston não usou da regra Allan Houston.”
A aprovação dessa regra pelos donos é uma grande prova de que eles não estão tão preocupados assim com os salários altos dos jogadores. Queriam mesmo era recuperar a porcentagem do BRI e o resto era menor. Afinal, dá para pensar numa regra que incentive mais a gastança? Você continua pagando um jogador caro, mas não usa mais ele e abre espaço para pagar mais por outro. Tá bom que em casos extremos, como era o do Mavs no exemplo do Michael Finley, você acaba gastando a mesma coisa, apenas com jogadores ao invés de multas. Mas não é o mesmo para os times abaixo do tal luxury tax, o limite das multas.
A regra da anistia já foi notícia essa semana porque o Portland Trail Blazers disse que já se decidiu e vai dar mais uma chance ao Brandon Roy. Ao invés de dispensar seu jogador de maior salário e segundo pior joelho, atrás apenas de Greg Oden, decidiram esperar pelo menos um ano para ver se ele consegue render pelo menos um pouco. O uso ou não da anistia era essencial para saber se eles teriam espaço salarial para assinar o Nenê, por exemplo.
Já o New York Knicks está com a mão coçando para usar a anistia no Chauncey Billups e abrir dinheiro para contratar alguém, possivelmente Tyson Chandler. O Washington Wizards, contra todos os prognósticos e reeditando o caso do Allan Houston, disse que não deve usar no Rashard Lewis. Já o antigo time do ala, o Orlando Magic, pode decidir usar ou não em Gilbert Arenas dependendo no que isso beneficia eles na busca por segurar Dwight Howard na franquia. No Cavs, Baron Davis é forte candidato a ser anistiado, assim como Travis Outlaw no Nets.
O uso dessas regras é importante também porque favorece muito os times que estão no topo da NBA, o que contraria o tal desejo dos times de uma liga mais igualitária, outra bobagem propagada nos tempos de locaute. Isso porque a anistia atinge jogadores de salário alto, que geralmente são veteranos, jogadores que passaram da fase de ter nome, ganhar dinheiro e que agora só querem estar em um time competitivo. Então se todos esses jogadores forem anistiados podemos ver eles topando salários ridículos, mínimos de veterano, para ir para o Miami Heat, Dallas Mavericks ou Los Angeles Lakers. Já estão ganhando seu salário gigante do ex-time mesmo, dá pra fazer um sacrifício de faturar só 1 milhão de dólares extra para ganhar um título.
É importante também conhecer algumas especifidades da regra da anistia antes de cobrar coisas do seu time:
1. A anistia não ficará disponível durante toda a temporada. Os times terão um período de sete dias, antes da temporada começar, para decidir se usam ou não. Depois disso acabou. Ainda é possível que ela seja aberta anualmente durante a offseason, mas isso ainda não ficou claro. Em 2005-06 ela foi usada apenas uma vez, sem repetição até essa de agora.
2. A regra da anistia só pode ser usada em contratos que o time já possui. Não adianta um time topar uma troca pelo Gilbert Arenas ou Hedo Turkoglu com o Orlando Magic pensando em usar a anistia em um desses jogadores, só o Magic pode fazê-lo.
3. O salário do jogador cortado não contará mais para o teto salarial, mas conta para o piso. Ou seja, o Washington Wizards, que tem uma folha salarial baixa, pode dispensar o Rashard Lewis sem se preocupar em ficar abaixo do piso salarial exigido pela NBA. E para os que não sabiam: Sim, a NBA tem um piso salarial (49 milhões de dólares) para que não exista um time que junte apenas uns 12 jogadores com salários mínimos.
4. O time que contratar jogadores anistiados terão que oferecer um contrato da mesma duração do que o jogador já tinha antes. Ou seja, se o Wizards dispensar o Lewis, quem o pegar terá que oferecer um contrato (de qualquer valor) de pelo menos 2 anos. Se pegarem o Roy, de 4 anos, porque é o que resta do seu contrato atual.
Acho que agora tudo ficou mais claro sobre essa regra. Talvez já na semana que vem os times possam começar a anunciar oficialmente quem eles vão dispensar e isso vai agitar o mercado de Free Agents. Estaremos aqui para analisar todas as mudanças.