Resumo da Rodada 22/4 – Fim para o Pistons, esperança para o Jazz

O Utah Jazz entrou em quadra, em casa, lutando por sua sobrevivência. Segundo o técnico Quin Snyder, o time precisava apenas de uma vitória – não porque isso manteria a “honra” do time, mas porque ele acredita que depois da primeira vitória todas as outras virão em sequência, já que o time terá “matado a charada” que é descobrir como defender o Houston Rockets. No Jogo 3, o Jazz até pareceu se aproximar da solução desse problema ao forçar James Harden a errar seus primeiros 15 arremessos, mas como perdeu MESMO assim ninguém em sã consciência acreditaria numa virada.

Para mudar isso no derradeiro Jogo 4, o Jazz fez novos ajustes defensivos. Manteve-se a prática do “trenzinho” (um defensor que marca AS COSTAS de James Harden, “empurrando” o armador em direção à cesta onde ele será recebido pelo pivô), mas dessa vez Rudy Gobert deu vários passos para frente, afastando-se da cesta, para encontrar Harden antes que ele pudesse tentar um arremesso por cima do defensor, seu famoso “floater”. Nessas condições Harden simplesmente costuma passar a bola para Clint Capela numa ponte aérea, não é mesmo? A diferença aqui é que o Jazz resolveu trazer o marcador da zona morta para dentro do garrafão, à frente de Capela, para evitar a ponte aérea. Mesmo quando Capela chegou a receber a bola, era impossível finalizar ainda no ar com alguém posicionado entre ele e a cesta, e aí Gobert – e, mais tarde, Derrick Favors – tinha algum tempo para retornar ao garrafão após a perseguição a Harden e contestar o arremesso do pivô adversário.

O plano defensivo deu muito resultado: James Harden só conseguiu tentar 7 arremessos no garrafão, acertou apenas 2 deles e tomou 3 tocos no processo. Clint Capela, por sua vez, teve uma das piores partidas da carreira: acertou uma mísera cesta, tomou 3 tocos e errou 6 arremessos. O principal “feijão-com-arroz” do Houston Rockets foi inviabilizado com esse defensor extra no garrafão e a liberdade dos pivôs do Jazz de contestarem Harden mais longe da cesta.

Mas é claro que esse defensor extra cobra um preço – ele significa que o Rockets, um dos melhores times em bolas de três pontos, possui sempre um arremessador livre na zona morta quando Harden infiltra. É claro que há a dificuldade de que Harden encontre esse arremessador com um passe preciso quando há tanta gente entre eles, e o passe longo dá mais tempo da defesa do Jazz perseguir a bola e se ajustar, mas ainda assim o Rockets teve vários arremessos do perímetro sem marcação durante o jogo que a equipe da casa teve que simplesmente respirar fundo e aceitar.

Além disso, a defesa “trenzinho”, com a marcação nas costas, não impede James Harden de fazer isso aqui:

Justamente por isso o Jazz resolveu variar um pouco mais a marcação de Harden ao longo da partida. O posicionamento de Gobert e um outro defensor para marcar Capela nunca mudaram, mas em vários momentos o “trenzinho” de Ricky Rubio e Donovan Mitchell deram lugar a uma marcação individual, tradicional, de Royce O’Neale, só que DE QUADRA INTEIRA, desde a saída de bola, na mais pura pressão. Essa mistura e nova abordagem no garrafão foram a melhor defesa que James Harden enfrentou em TODA A TEMPORADA – e aí ele entrou no quarto período tendo acertado 6 das 10 bolas de três pontos que tentou e com o Rockets vencendo o jogo por 3 pontos.

Nesse momento resisti bravamente para não desligar o jogo e ir dormir, especialmente porque o Jazz além de todo o esforço defensivo havia contado com uma ajuda inesperada – os 14 pontos de Jae Crowder no primeiro quarto, acertando todos os 5 arremessos que tentou – e mesmo assim não havia sido o bastante. Crowder se beneficiou de uma nova abordagem do Jazz, que foi misturar aos passes rápidos no perímetro infiltrações muito rápidas com a bola nas mãos seguidas de passes novamente para o perímetro. Com isso os defensores do Rockets foram colocados em movimento, o ataque ficou menos estagnado e Crowder teve mais oportunidades para arremesso – e, claro, VONTADE de dar esses arremessos, o que também estava faltando. Essa dinâmica de infiltrações seguidas de passes foi excelente para, com os marcadores tendo que se mover, permitir que o Jazz cavasse faltas e cobrasse mais lances livres, mas não foi capaz de disfarçar o fato de que o time simplesmente não é um primor nos arremessos de fora. No segundo quarto o Jazz errou todas as 7 bolas que tentou no perímetro; ao todo, acertou apenas 31% de suas tentativas, muito abaixo da média da NBA. Ou seja, apesar dos ajustes terem dado resultado e o Jazz ter colocado o Rockets contra a parede, faltou poder de fogo para chegar ao período final à frente do placar. Se o Rockets tivesse acertado algumas das bolas que errou embaixo do aro, ou mais bolas de três pontos livres, o estrago teria sido ainda pior.

Mas aí o quarto período aconteceu e Donovan Mitchell resolveu que, se a temporada fosse privada abaixo, seria com ele liderando o time rumo ao esgoto arremessando todas as bolas disponíveis. Entre o final do terceiro e o meio do quarto período, Mitchell acertou nada menos do que 6 arremessos consecutivos, incluindo duas bolas seguidas de três pontos.

Contra esse ataque súbito do Jazz e o tempo se esgotando, o Rockets tentou suas bolas “fáceis” tradicionais, insistindo com passes para Capela nas infiltrações de Harden que se transformaram em roubos de bola ou, com Capela sendo atrapalhado ao receber os passes, tocos de Gobert e Favors. Quando a vantagem no placar já era de 11 pontos para o Jazz e o Rockets insistia num caminho que não funcionava, Harden tentou uma última infiltração, foi recebido por Favors três passos longe do aro, o armador tentou desviar e acabou ANDANDO de maneira totalmente destrambelhada. Foi aí que o técnico Mike D’Antoni resolveu apostar num “small ball”, um basquete mais baixo sem pivôs, para desafogar o ataque. Colocou PJ Tucker na posição, colocou todos os jogadores no perímetro, abriu mão de qualquer tentativa de ponte aérea e apostou em fazer chover bolas de três pontos. E, senhoras e senhores, foi aí que o Rockets implodiu de vez.

O Rockets errou TODAS AS TREZE TENTATIVAS DO PERÍMETRO no quarto período – em defesa do time, as últimas 4 delas foram só arremessos “nada a ver” com o jogo já decidido no minuto final. A maior parte dessas bolas erradas foram bons arremessos de PJ Tucker na zona morta (um deles que não chegou nem no aro), Eric Gordon (que zerou o quarto período depois de fazer 16 pontos nos três períodos anteriores) e Austin Rivers (que teve um dos arremessos mais livres de toda a carreira), sem falar nos arremessos de Harden que, para ele, são sempre bons. E para coroar o horror, sem qualquer pivô em quadra o Rockets cedeu 6 rebotes ofensivos no último quarto, 4 deles só para Derrick Favors. Como o Jazz continuou errando suas bolas, com um ataque que não engrena nem por milagre, ter novas chances para arremessar depois de seus erros foi uma bênção e nos minutos finais a vantagem do time chegou a 16 pontos no placar, momento em que o Rockets jogou a toalha.

O time de Houston conseguiu apenas 12 pontos no último período, um dos maiores desastres da temporada; do outro lado, Donovan Mitchell marcou 19 pontos no quarto para arrancar na unha a vitória. E para completar, é dele o lance mais memorável da partida, talvez da série, e que deu um ânimo inegável para o ataque combalido do Jazz:

Vejam que o contra-ataque começou num roubo de bola do próprio Mitchell, e isso pouco tempo antes de Royce O’Neale fazer o mesmo com James Harden, arrancando a bola de suas mãos numa transição ofensiva numa marcação individual tradicional – vimos pouco o “trenzinho” no quarto final. A defesa forçou o Rockets a tentar uma versão mais básica do seu ataque e falhar miseravelmente.

Acho que é preciso sonhar muito alto para acreditar no técnico Quin Snyder e afirmar que agora o Jazz virará a série porque “decifrou” o adversário. Ainda assim, é fato que o Jazz encontrou uma receita reproduzível para arrancar do Rockets alguns de seus elementos fundamentais e, portanto, tem chances de levar essa série adiante. O único problema é que para virar a série, o Jazz teria que contar com o Rockets errando mais arremessos livres em momentos centrais por 4 jogos consecutivos, o que parece improvável.

De qualquer modo, esse quarto período de ontem atormentará o Rockets pelo resto dos Playoffs: se não afetar o fechamento da série contra o Jazz, já que o Jogo 5 será em Houston, estará aí como fantasma ao longo da futura série com o Warriors.


Enquanto o Rockets não conseguiu fechar sua série, o Bucks fez questão de não deixar o Pistons sonhar – quer dizer, deixou sonhar pelos primeiros três quartos, mas só isso. Ninguém cogitou que o Pistons tivesse chances nessa série, especialmente depois da lesão de Blake Griffin, mas como o time perdeu as últimas TREZE PARTIDAS de Playoffs que disputou, uma vitória não é mais questão de capricho, é SAÚDE MENTAL. Por isso Blake Griffin jogou o que poderia ser a última partida da equipe em casa no mais puro sacrifício, sentindo dores óbvias, mancando durante trechos do jogo e berrando de dor com ele mesmo depois de um tombo no primeiro tempo.

Sei que não faz nenhum sentido um jogador arriscar piorar uma lesão numa série que já tinha dado adeus e com um time que nunca teve chances desde o princípio, mas tem algumas coisas que não são simples pragmatismo e não seguem uma análise meramente racional: Griffin tem um senso de dever com a torcida e com seus companheiros de time, tem um legado de fracassos na pós-temporada e um histórico terrível de lesões que queria contestar, e apesar das indicações médicas de que seria melhor ele não jogar, não existiam riscos verdadeiramente sérios de piorar sua perna. No fim, mais por uma “sensação” do que por razão, resolveu jogar. E quando saiu do jogo a 7 minutos do fim, já com a derrota decretada, saiu ovacionado pela torcida, que admirou seu esforço e seu comprometimento:

Foi, de fato, uma bonita partida de despedida. Griffin jogou bem, comandou seu time a uma resistência louvável, o Pistons venceu dois quartos, acabou o primeiro tempo à frente do placar e só foi implodir de vez, incapaz de parar Giannis Antetokounmpo, no quarto e derradeiro período. Blake Griffin se despede da temporada com a imagem que queria deixar: de jogador que evoluiu, que aprendeu, que se tornou um arremessador genuíno do perímetro (foram 4 acertos em 6 tentativas) e que se consolida como um dos mais completos da NBA. As lesões, no entanto, se negam a se desvencilhar do seu talento: sua falta de mobilidade lateral e baixo tempo de reação graças à perna machucada se mostraram um problema na hora de proteger o aro e parar Antetokounmpo. O grego teve uma partida impecável, segurando sozinho os maus momentos do Bucks na partida. A coleção de grandes jogadas é de tirar o fôlego. Primeiro teve a cesta em dois momentos, quando parecia que ele ia enterrar em cima de Andre Drummond, parou no ar como beia-flor, Dadá Marávilha, helicóptero ou Michael Jordan, e aí finalizou a cesta-e-falta:

Depois teve a enterrada sem dois momentos em cima de Thon Maker. Quer dizer, até tem dois momentos, um primeiro em que Thon Maker está vivo, e um segundo em que ele está morto:

E pra fechar ainda teve essa jogada defensiva de Antetokounmpo pra tirar o ar dos jovens torcedores do Pistons, que no fundo pagaram ingresso pra ver o grego gigante jogar mesmo:

Tudo isso foi pra impedir que o Pistons disparasse na frente num momento em que as bolas de três pontos não estavam caindo – e que o Bucks, na verdade, não estava sequer encontrando muitas oportunidades de arremessar frente à defesa de perímetro do Pistons. O time da casa sobreviveu na partida principalmente às custas da falta desses arremessos de três pontos: no quarto período, quando a equipe de Milwaukee acertou 5 das 10 bolas de três que converteu em toda a partida, o que era uma desvantagem no placar se tornou uma vantagem de TRINTA E UM PONTOS e aí foi só abraço. Por mais que o Pistons tenha feito um trabalho defensivo razoável, e tenha mantido o time na frente com um bom jogo de Griffin e uma das melhores partidas de Reggie Jackson na temporada, super agressivo e acertando seus arremessos de fora, o Bucks só precisava acertar as próprias bolas para criar uma distância intransponível no placar. A diferença do Bucks para outros times que dependem tradicionalmente das bolas de fora é que, quando esses arremessos não caem, Antetokounmpo ainda existe, respira e não deu nem sinal de que poderia ser parado pelo adversário. No Jogo 4, quando o oponente supostamente já está familiarizado com seu jogo e deveria ser capaz de traçar esquemas defensivos melhores – vide a defesa do Jazz, por exemplo – eis que Antetokounmpo faz QUARENTA E UM PONTOS, sinal de que ele não estava nem aí pra qualquer desenho defensivo específico.

Essa combinação de jogador imparável, capaz de infiltrar em qualquer situação, cavar faltas – Antetokounmpo só cobrou menos lances livres do que James Harden na temporada regular – e time que a qualquer momento pode fazer chover bolas de três pontos é aterradora e a primeira a se classificar para as Semi-Finais de Conferência. Aos outros, só resta temer.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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