Tocos de David Stern

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-Vou dormir na sua casa hoje se Mamma Stern deixar

Quem estava fora da Twittosfera ontem perdeu uma das noites mais malucas que eu já acompanhei na NBA. De tarde surgiu mais um dos mil boatos diários que levam super estrelas ao Los Angeles Lakers. No meio de notícias de que o Los Angeles Clippers e o Golden State Warriors haviam feito boas propostas pelo armador do New Orleans Hornets, apareceu essa história de uma troca envolvendo também o Houston Rockets e que tiraria Lamar Odom e Pau Gasol do Lakers. Ignorei, provavelmente outra bobagem querendo levar estrelas para o Lakers como as que nos últimos anos prometeram Shaq, LeBron, Bosh, Yao, Dwight e tantos outros.

Então, tranquilo, preparei um texto explicando a regra da anistia e assim que entrei no Twitter para divulgar o texto, dei com a confirmação. Era verdade e Lakers, Hornets e Rockets haviam acertado uma troca que levaria Chris Paul para o Lakers, Luis Scola, Goran Dragic, Lamar Odom e Kevin Martin para o Hornets e Pau Gasol para o Rockets. Meu post ficou secundário e o Twitter virou um alvoroço de análises, discussões, xingamentos e troca de impressões.

Eu, como torcedor do Lakers, tinha odiado a troca. Claro que Chris Paul e Kobe Bryant iriam dar um jeito de se entender, os dois são gênios. Mas isso não quer dizer que seus estilos combinem, assim como não batem o jogo de LeBron James e Dwyane Wade e mesmo assim eles dão um jeito de ir para a final da NBA. Mas será que valia perder um dos melhores pivôs da NBA e mais o melhor reserva da última temporada por um armador em último ano de contrato que já disse publicamente que quer ir para o Knicks jogar com seu amigo Carmelo Anthony? Confiar só no Andrew Bynum no garrafão era arriscado e confiar que o Bynum seria moeda de troca para o Dwight Howard, mais ainda. O Lakers teve seis bolas no saco para ter a coragem de fazer algo desse tipo, mas coragem não quer dizer que foi algo inteligente.

Para o Hornets não parecia um negócio horrível, mas certamente tinha seus defeitos. O Kevin Martin era o menino da troca, com quase 29 anos de idade. Scola e Odom já passaram dos 30. Jogadores nessa idade não costumam ter saco e motivação para entrar em um time em reconstrução, o Odom em especial tem sérios problemas para colocar sua cabeça no lugar e ontem até ameaçou não aparecer nos treinos do Lakers porque havia sido envolvido em discussões de troca. Vocês imaginam a Khloe Kardashian trocando Hollywood por New Orleans? Até o casamento do cara ia pro saco.

E, pensando bem, mesmo que eles se motivassem, esse não é elenco para ir muito longe. Vão para os playoffs esse ano, talvez no ano que vem e aí Scola e Odom já estão arranhando os 35 anos de idade. Talvez tivessem outras trocas engatilhadas envolvendo esses veteranos, não sei, mas ela parecia incompleta.

Por fim o Rockets era um time que perderia muito, que assumiria riscos, mas que poderia se sair muito bem. Abriria mão de seus dois melhores jogadores, mas manteria o espetacular Kyle Lowry para ajudar um dos melhores pivôs de toda a liga, que ainda poderia receber a ajuda do brazuca Nenê. O time do manager Daryl Morey não só já tem bastante espaço na folha salarial como ainda abriria mais 3,5 milhões de doletas com essa troca. Daria para oferecer um contrato tão gordo para o Nenê (cerca de 12 milhões por ano) que seria difícil dele recusar. Role players não faltam no time (Courtney Lee, Chase Budinger, possível renovação de Chuck Hayes) e eles estariam prontos para impressionar.

O que você tira dessa troca depois dessa análise? Eu tiro que os times se arriscaram, que todos abriram mão de muitos talentos para receber outros em troca. Ao contrário da troca do Kwame Brown por Pau Gasol, o Lakers dessa vez abriu mão de muita coisa para receber um All-Star, assim como fizeram Hornets e Rockets. Ou seja, uma troca grande, de destaque, mas normal.

Mas o resto da NBA não pensou assim. Em um acesso de fúria muitos donos de times chegaram até a NBA e pediram para que a troca fosse vetada. E ela foi. A liga geralmente não tem poder para vetar trocas e contratações, senão certamente outros times teriam interferido no Big 3 de Miami, mas dessa vez havia uma diferença: O Hornets é propriedade da NBA, na prática os donos dos outros 29 times é que são donos da franquia de New Orleans. Explicamos nesse post do ano passado a confusão que foi esse lance do Hornets, e na época fomos ingênuos de dizer que a NBA por lá não causaria tantos danos. Geralmente donos não interferem tanto nos negócios dos General Managers, apenas dão sinal verde ou não para ultrapassar o teto salarial ou não, permissão para ultrapassar o luxury tax ou não, essas coisas. Então sabíamos que a NBA apenas não deixaria a gastança rolar solta, mas haviam prometido não interferir nas decisões tomadas pelo Manager Dell Demps.

Porém não foi a primeira vez que deu briga. No ano passado o Hornets mandou Marcus Thornton para o Kings em troca de Carl Landry, no negócio o Hornets teve que mandar dinheiro para o Kings para compensar a diferença de salários, o que provocou a fúria do Mark Cuban, dono do Mavs. “Poucos times na NBA podem se dar ao luxo de fazer negócios assim e deixamos que a franquia de quem a NBA é dona faça isso?”;  Também no ano passado uma troca que envolvia Indiana Pacers, Memphis Grizzlies e New Orleans Hornets, envolvendo o OJ Mayo como peça principal, foi estranhamente cancelada no último dia possível de trocas. A coisa ficou mal explicada na época, mas depois de ontem parece que entendemos a razão, o resto da liga não curtiu.

Vazou ontem para o Yahoo!Sports uma carta que o Dan Gilbert, dono do Cleveland Cavaliers, enviou ao David Stern. Ninguém negou que a carta fosse verdadeira e confio no repórter que a publicou. Na carta, Gilbert (em Arial, não em Comic Sans) pede que a troca entre em votação pelos outros 29 times, donos do Hornets. Ele também diz que o Lakers, com esse negócio, economizaria cerca de 20 milhões de dólares em multas e que era inaceitável que um time saísse da troca com o melhor jogador e ainda economizando dinheiro ao mesmo tempo. Gilbert assume assim que Paul é muito melhor que Gasol (e somado ao Odom). E se preocupa com o seu bolso já que o dinheiro das multas pagas pelos times acima do limite são divididos entre aqueles abaixo do teto salarial. Para terminar com um toque dramático e brega típico dele, diz “quando vamos simplesmente mudar o nome das outras 25 franquias da NBA para Washington Generals, em referência ao time que sempre joga e sempre perde para os Harlem Globetrotters.

O Dan Gilbert certamente não foi o único a enviar uma mensagem desse tipo e como a troca foi mesmo cancelada, dá pra imaginar o tipo de pressão que o David Stern recebeu. Na cabeça dos donos essa troca iria contra tudo o que foi discutido durante o locaute, em que os times de mercado pequeno estavam sempre perdendo para os de mercado grande, o que, para eles, é inaceitável. Aliás, isso é uma falácia que vai ganhar mais um post, tem muita gente acreditando nessa bobagem de que só os times ricos ganham.

Uma troca desse tipo logo no primeiro dia de Free Agency seria uma ofensa, segundo eles. O que os donos, aparentemente ignorantes em basquete, deixam passar é que o Lakers abriu mão de dois dos seus três melhores jogadores para conseguir um outro grande jogador. Não foi simplesmente um roubo das mãos do pobre Hornets. E como eles tinham tanta certeza assim que o Lakers seria um time melhor? Deveriam eles é estar preocupados em contratar um bom ala de força para chutar a bunda do garrafão ridículo do novo time do Kobe.

Mas o que pegou mesmo para mim na noite de ontem foi a questão ética. O Hornets está sendo claramente prejudicado se ele tem os outros 29 times decidindo o que eles fazem com o Chris Paul. O New York Knicks e outros times com espaço salarial vão sempre votar para que o Hornets mantenha o jogador e o perca por nada ao fim da temporada, claro. Os times que são candidatos ao título vão votar contra outros candidatos se eles derem um jeito de receber o armador, assim o Hornets, desesperado por uma reconstrução, não pode simplesmente aceitar a proposta que julga melhor, mas deve se adaptar ao que seus adversários, os times que querem derrotá-lo, decidem. E se é injusto com o Hornets, não deixa de ser contra o Lakers também. Eles tem as peças para a troca e não podem fazê-la por complô dos adversários. Pior que, apesar de antiético, é possível e válido e dentro das regras já que a NBA é dona do Hornets.

Recebi a seguinte pergunta no nosso formspring em relação à decisão da NBA em vetar a troca. Vejam:

“Calma, a gente está falando de uma associação privada, com 29 sócios, todos com o mesmo peso de voto. Portanto, não pode ser considerado justo ou não a troca, pois, no final,o time pertence a esses 29 donos e eles que decidem o que é melhor pra esse time.. O Hornets é como se fosse uma extensão do time deles. Eles possuem, cada um, 3,45% das ações dessa equipe, então se mais de 50% acharem que a troca não deve ser feita pois isso iria prejudicar os negócios deles, ela não será feita,fim de papo. O dinheiro é deles.


Mesmo sendo um lugar onde existe paixão e, como vocês já discutiram durante o locaute, ninguém pode falar o que eles devem fazer com o dinheiro deles, afinal, eles não falam o que vocês devem fazer com o seu. Eles são, acima de tudo, investidores, não apaixonados pelo basquete. Eles querem o melhor para o bolso deles e se 51% acha que o CP3 em LA iria atrapalhar nos negócios deles, então não se pode fazer nada. E outra, não é antiético eles comprarem o Hornets. É como se o Pão de Açúcar estivesse sendo vendido e outros 29 grandes supermercados comprassem ele, todos com a mesma fatia acionária. O problema de todos os fãs da NBA é que vemos ela mais com o coração do que com a cabeça. Lá é o mundo dos negócios, como tudo no mundo”

Eu entendo os argumentos do nosso leitor, mas os questiono. O Pão de Açúcar e os outros supermercados não estão disputando uma competição com um campeão. Todos querem ter lucro e competem entre si, claro, mas não é um esporte em que eles se enfrentam diretamente na briga por um campeonato. Simplesmente não faz sentido ter um time controlando o seu adversário em uma competição esportiva, é como se a NBA tivesse um time a menos na disputa, com os outros brigando para manipular o 30º de um jeito que os agrade mais. Se no mundo empresarial isso funciona, tudo bem, mas apesar de ser um negócio, a NBA é um campeonato de basquete, um esporte.

Ainda acho que os outros times terem controle de um adversário não é ético, e só concordava com a NBA ser dona do Hornets por ser algo temporário e pela promessa, claramente não cumprida, de deixar o GM Dell Demps trabalhar sem interferência externa. Os próprios donos pediram uma maior igualdade de condições para as equipes e onde está a igualdade ao impedir um time de realizar o negócio que ela julga melhor para si? Estão obrigando o Hornets a fazer um outro negócio qualquer, ou até a perder seu melhor jogador por nada, só pelo medo do Lakers ficar forte. Um adversário ser dono do outro é claramente conflito de interesses e a promessa de não interferência só durou até a água bater na bunda.

A posse temporária do Hornets pela NBA foi curta e já desastrosa. Durante o locaute David Stern disse que havia pelo menos 5 pessoas ou grupos interessados em comprar o Hornets, era hora da franquia ser vendida logo de uma vez para que tomasse suas próprias decisões e deixasse de ser fantoche dos seus adversários.

A melhor definição sobre o que aconteceu ontem foi dada no Twitter e eu perdi o autor no meio de tantas mensagens. Algum sábio disse que “a NBA tentou escapar de um iceberg e bateu em outro maior”. Eles quiseram fugir da polêmica da estrela indo para um time grande de novo e no fim o veto provocou revolta maior ainda, dessa vez de jornalistas, público, agentes e principalmente de outros jogadores. O Adrian Wojnarowski, jornalista do Yahoo! que deu todas as notícias de ontem em primeira mão, chegou até a dizer que esse veto de ontem poderia mudar muita coisa dentro da NBA. Ah, e enquanto eu escrevo esse post, dizem que o Brandon Roy vai se aposentar por razões médicas. Sim, o mesmo Roy que o técnico Nate McMillan afirmou que seria titular há dois dias. Essa liga pirou, pessoal.

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