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Leu? Se informou? Riu e morreu de vergonha alheia com a guria do SporTV? Então bola pra frente para falar de muitas regras e muitas exceções. Vamos analisar o que talvez seja a parte mais interessante para os torcedores, que é como as regras de teto salarial se aplicam na hora da contratação de jogadores. É comum vermos jogadores muito interessantes como Free Agents e a mídia dizer que apenas um certo número de times tem espaço na folha salarial para arcar com aquele jogador. Como nesse ano somente Nets, Knicks, Heat, Clippers e Bulls tem para conseguir um salário máximo de LeBron James, por exemplo.
A princípio essa informação é para estranhar, já que vimos no texto passado que os times podem ultrapassar o limite salarial, apenas precisando pagar multas por isso. Então, em teoria, qualquer um poderia contratar qualquer um e simplesmente arcar com o prejuízo. Mas não é bem assim. Um time não pode oferecer para um jogador sem contrato um contrato que ultrapasse a quantia que o time tem sobrando abaixo do teto salarial.
É normal ver contratos que começam com um salário mais baixo e vão aumentando com o passar dos anos. Mas alguns times já fizeram o oposto. Começaram um contrato com um salário mais alto e que em um certo ano tinha uma queda drástica. O Bulls fez isso com os contratos de Kirk Hinrich e Andres Nocioni há alguns anos e foi uma questão de estratégia. O ano em que os salários caíam era um ano em que o Bulls via boas opções de contratações no mercado de Free Agents. A queda do salário dos dois abriria espaço para contratações e os jogadores seriam recompensandos com salários maiores em outras temporadas.
Quem é esperto já deve ter feito uma associação que talvez tenha se deixado confuso. No texto passado eu disse que o Lakers era o time com maior folha salarial e que por isso iria pagar 21 milhões de dólares apenas em multas. Depois eu disse que um time pode apenas oferecer o que tem de espaço salarial livre para um Free Agent. Então como diabos o Lakers ofereceu um contrato de uns 7 milhões de dólares por ano para o Lamar Odom antes da última temporada quando o Sr. Kardashian era um Free Agent? De onde veio esse espaço milagroso?
É aí que entram as exceptions, as exceções. Como a sabedoria popular nos ensina, se alguma coisa tem muitas regras, teremos muitas exceções também. São artifícios criados para que um time possa ter alguma flexibilidade de elenco mesmo se tiver ultrapassado o limite salarial. Permite que os times possam adicionar jogadores novos a cada temporada e não fiquem estagnados mesmo se presos a contratos grandes.
As exceções mais importantes:
Larry Bird Exception: Essa é a exceção usada pelo Lakers para assinar o Odom. É uma vantagem que a NBA dá aos times para reassinar seus jogadores que acabaram de virar Free Agents. Assim, o time pode oferecer até um contrato máximo para esse seu jogador sem precisar ter necessariamente espaço salarial para isso. Em uma disputa por um Free Agent, portanto, estão na disputa os times com espaço salarial e o seu antigo time, se tiver vontade de arcar com os gastos para manter o jogador no elenco. Por isso é que na lista de times que tem espaço para conseguir o LeBron eu não coloquei o Cavs. Eles não tem espaço, mas tem a chance graças a essa exceção.
Porém, não são todos os jogadores que podem usar dessa regra. Para isso eles devem estar sob contrato há pelo menos 3 anos. Esse adendo dos anos foi criado em meados dos anos 90 depois que Chris Dudley (Blazers) e Danny Manning (Suns) abusaram da boa vontade da liga. Eles assinaram contratos pequenos de um ano e logo depois usaram a Larry Bird Exception para serem reassinados por um contrato muito maior. Foi o jeito deles entrarem como Free Agents em times de teto salarial comprometido e, obviamente, forçou a NBA a criar essa exigência mínima de 3 anos de contrato, já que a regra havia sido criada para ajudar os times a manter seus elencos. Incrível como sempre tem malandro para passar a perna na regra.
Um detalhe importante é que mesmo se o jogador for trocado nesse período de 3 anos de contrato, o seu novo time ainda tem o direito de usar a exceção Larry Bird. Ele só perde a exceção se trocar de time quando virar Free Agent ou se for dispensado. Quando falarem de “Bird rights” numa discussão de troca, é disso que estão falando.
Early Bird Exception: É uma pequena variação da Larry Bird Exception. Ao invés de precisar esperar 3 anos para ser usada, pode ser usada após 2 anos de contrato. Também tem a diferença de não poder ser usada para assinar um contrato máximo como no caso anterior, só pode ser usado para contratos de no máximo 5 anos e só pode aumentar o salário anterior em, no máximo, 175%. O que pode parecer muito mas que não é tanto quando usado em jogadores com salários muito baixos, abaixo do 1 milhão de dólares, por exemplo.
Non-Bird Exception: Os jogadores que não se qualificam para a Larry Bird ou para a Early Bird exception podem ser reassinados pela Non-Bird. Nesse caso não tem número mínimo de anos de contrato mas o jogador só pode ganhar 120% de salário a mais do que em seu contrato anterior.
Mid-Level Salary Exception: Todo ano a NBA pega todos os salários da liga no ano anterior e faz uma conta bizarra. Divide esse montante por 13,2 vezes o número de times da liga e então adiciona 8 por cento. Sacou? Eu não cheguei perto de enteder. Mas é assim que eles definem um salário médio da NBA e esse salário médio é o valor dessa exceção. Em 2009-10 o salário médio foi de 5,8 milhões de dólares.
Todo ano cada time que está acima do teto salarial recebe uma mid-level exception e pode usar para contratar jogadores, é o jeito dos times que passaram do limite não ficarem engessados.
Bi-Annual Exception: Como o próprio nome sugere, é uma exceção que um time não pode usar dois anos em sequência, é bienal. Se usa agora só poderá usar de novo depois de passar um ano sem aproveitá-la. O valor máximo dessa exceção é pequeno em relação ao salário médio, na temporada passada foi de 2,08 milhões de dólares.
Rookie Exception: É a exceção dada a todos os times para que eles possam contratar os novatos pegos via draft. É uma exceção necessária para que todos os times, mesmo os com folha salarial mais alta, possam participar normalmente da escolha anual de novatos. Mesmo assim, porém, o salário dos novatos conta na folha salarial e pode render multas. Para evitar isso, por exemplo, times aparecem por aí vendendo suas escolhas de draft em troca de nada. É só para fugir do salário do novato e, logo, de mais multas.
Minimum Player Salary Exception: A exceção do salário mínimo não paga só 500 reais pra um atleta, fiquem tranquilos. Mas paga, sim, um salário mínimo, o definido pela NBA.
Todos os times tem a opção de ofecer um salário mínimo para um ou mais jogadores (a quantia pode ser dividida, como a mid-level) a cada temporada. Vários jogadores mais velhos que buscam um título já usaram dessa exceção para fazer parte de equipes vencedoras. O Karl Malone abdicou de um salário milionário no Jazz para ganha um mínimo no Lakers em 2004, por exemplo. O Marbury fez a mesma coisa ao ir para o Celtics antes dos playoffs de 2009.
O salário mínimo varia de jogador para jogador, depende de quanto tempo de NBA ele tem. Um jogador novato e que não foi draftado na primeira rodada do draft tem um salário mínimo de 473 mil dólares por temporada. Já um veterano com 8 anos de NBA tem um mínimo de 1,1 milhão de dólares por temporada. Todo ano o salário mínimo recebe reajustes mas sempre valoriza mais quem tem mais anos de experiência na liga.
Disabled Player Exception: Essa é uma exceção usada para compensar um time que acabou de perder um jogador para a temporada seguinte. Essa opção foi usada na última temporada pelo Houston Rockets quando eles perderam o Yao Ming, que não jogou toda a temporada 2009-10. O time ganha a opção de assinar um novo jogador por até metade do salário do jogador substituído ou pelo salário médio da NBA, o que for menor.
Essas são as principais exceções que um time pode usar para conseguir contratar jogadores mesmo com o limite salarial estourado. São recursos um pouco confusos mas que fazem a NBA ter uma mobilidade mesmo usando o recurso do teto salarial. A NBA sem essas exceções teria times empacados com salários grandes e sem poder fazer trocas ou contratar novos jogadores, deixando donos de times, jogadores e torcedores insatisfeitos.
Existe ainda uma outra regra curiosa e que foi criada para dar mais flexibilidade a algumas equipes e que vale a pena ser comentada. É a chamada Regra de Anistia, que ficou mais conhecida como a Regra de Allan Houston.
A regra foi adotada logo antes da temporada 2005-06 e permite que os times dispensassem alguns jogadores e assim tirassem os seus salários da contagem das multas. O time continuaria pagando o jogador normalmente (mesmo ele sendo dispensado e atuando em outro time) mas esse salário não renderia multas.
Por exemplo, o Dallas Mavericks dispensou o Michael Finley, que na época ganhava por volta de 17 milhões por temporada. Continou pagando os 17 milhões para o Finley mas não pagava os outros 17 milhões que pagava de multa por esse salário ultrapassar o limite aceito pela liga. Foi uma baita economia mas que lhes fez perder o Finley para o Spurs. Em San Antonio ele ganhava os seus milhões do Mavs e mais um salário mínimo do Spurs.
A regra ganhou o nome de Allan Houston porque diziam que ela havia sido criada para beneficiar o Knicks, que na época pagava um dos maiores salários da NBA, cerca de 20 milhões de dólares por ano, para o armador que estava sempre machucado. Os gastos com multas eram enormes no Knicks, que na época tinha a maior folha salarial da NBA, beirando os 100 milhões de dólares. Porém, quando chegou a data de anúncio dos jogadores dispensados sob essa regra, o Knicks decidiu manter o Allan Houston e dispensar apenas o Jerome Williams. Mesmo assim o nome pegou e podemos dizer que o Allan Houston não usou da regra Allan Houston. Só porque as regras não estavam confusas o bastante.