A evolução adiada do Milwaukee Bucks

Temos a tendências de encarar algumas coisas no basquete como algo natural. Quando Anthony Davis disparou para ser um dos melhores jogadores de toda a NBA no ano passado, fiquei impressionado e contente, mas nunca surpreso. O cara mostra potencial enorme desde antes de entrar na NBA e ainda é jovem, eventualmente iria deslanchar, não é? Admito que muitas vezes penso assim, mas devesse valorizar mais essa evolução que parece quase natural, sem esforço ou risco de fracasso.

Mas não adianta, cometemos o erro todo ano. Nessa temporada parece que nos adiantamos em relação ao Milwaukee Bucks. O time do técnico Jason Kidd foi uma das gratas surpresas da última temporada, quando um bando de pirralhos de braços longos se transformou no 6º melhor time do Leste, com a 4ª melhor defesa de toda a NBA. São duas coisas chamando a atenção de uma vez só: times jovens raramente dão certo tão cedo e, quando dão, dificilmente é porque defendem bem.

Para essa temporada, tentaram corrigir o grande problema do time no último ano, que era a total incapacidade de marcar pontos com regularidade. Especialmente após a troca de Brandon Knight por Michael Carter-Williams, o time sofria horrores para marcar pontos e dependia de caras ainda não tão confiáveis para Khris Middleton para marcar, especialmente de longa distância. A aquisição de Greg Monroe, Greivis Vásquez e Chris Copeland, junto com o retorno de Jabari Parker, deveriam arrumar o problema. E tem dado relativamente certo, o time não é uma máquina de marcar pontos, mas subiu na lista de melhores ataques da liga: de 26º para 15º em pontos por posse de bola. O aproveitamento dos 3 pontos melhorou um pouco, eles batem um tiquinho mais de lances-livres, diminuíram sensivelmente os turnovers e já não parecem feitos de cimento no ataque. A melhor individual (natural?) de Giannis Antetokounpo também está ajudando demais o ataque a fluir.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”‘Então tudo bem se eu só aprender a arremessar aos 40 anos?'”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Bucks2.jpg[/image]

O problema é que aquela defesa sufocante que quase levou o Chicago Bulls ao desespero nos últimos Playoffs, morreu. Após quase um mês de temporada, o Bucks tem A PIOR defesa da NBA, sofrendo 111.4 pontos a cada 100 posses de bola, contra os 102.2 que sofriam na última temporada. O que diabos aconteceu com a identidade desse time?

O primeiro problema está na saída de dois veteranos do time, Zaza Pachulia e Jared Dudley. Na correria das contratações da offseason, nomes discretos como esses podem passar despercebidos, mas os dois eram os líderes do vestiário da equipe, os caras que davam as broncas, e as vozes que ditavam a defesa. Até eram as colas oficiais dos quizzes que Jason Kidd dava ao elenco para prepará-los para a vida de jogador profissional. Toda defesa da NBA, ou do basquete em geral mesmo, precisa de comunicação. Alguém precisa ler o que o adversário está fazendo e gritar para os companheiros, especialmente aqueles que estão pressionando a bola, pra cima da linha dos três pontos, e que não tem noção do que está se passando em suas costas. E como o Bucks é um time que adora ir lá fora pressionar e incomodar os jogadores que estão longe do aro, a comunicação importa muito. Sem Dudley e Pachulia berrando, mais perdidos os jogadores ficam e alguém precisa tomar a iniciativa de fazer esse trabalho sujo.

Essa é uma troca é um clássico cobertor curto. Caso Pachulia e Dudley estivessem ainda no elenco, certamente não teriam o mesmo número de minutos da temporada passada porque o time precisa demais da versatilidade e do ataque que Greg Monroe e Jabari Parker oferecem. O pivô em especial tem sido a principal válvula de escape para um time que ainda não consegue embalar nos arremessos de média e longa distância. O problema é que ele não sabe ler as defesas tão bem, não é tão eficiente como Pachulia na hora de dobrar ou trocar de marcação no pick-and-roll e é incapaz de assustar qualquer ala ou armador que decida atacar a cesta. Tocos não são com ele.

Outra questão é a mesma que envolvia o Utah Jazz antes dessa temporada começar. Ok, ano passado vocês pegaram todo mundo de surpresa, mas agora todo mundo já sabe o que vocês gostam e não gostam de fazer. Durante o calendário apressado da temporada regular é um desafio para as comissões técnicas se preparar com cuidado para o próximo oponente, mas depois de mais de um ano que um time joga do mesmo jeito os times ficam mais previsíveis e precisam criar coisas novas para manter a eficiência. Hoje os adversários vão enfrentar o Bucks sabendo que vão enfrentar um time que gosta de pressionar a bola longe do garrafão, tirar opções de passe e usar a versatilidade de seus jogadores para trocar de marcação em bloqueios e não abrir espaço para infiltrações. O Bucks do ano passado era um time que não deixava o adversário entrar no garrafão, mas que estava lá fora contestando os arremessos de longa distância.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Defesa PRESSAUM”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Bucks1.jpg[/image]

Nesse ano as coisas mudaram um pouco. O Bucks tem roubado duas bolas a menos por jogo e, embora os adversários ainda tenham alguma dificuldade em entrar no garrafão, acertam mais quando chegam lá. Agora também acertam as bolas de 3 pontos. De tudo que citei, acho que isso é o mais decisivo, o Bucks não consegue mais evitar os arremessos de longa distância com a mesma eficiência de antes. Se antes conseguiam contestar, agora assistem adversários de longe.

Em parte isso é culpa do próprio time, que precisa de melhor comunicação e até mesmo esforço e dedicação para estar no lugar certo na hora certa, mas dá também para culpar a nova moda da NBA. Com o sucesso dos times arremessadores e dos times mais baixos, todo mundo quer seu Draymond Green. Todos os times que o Bucks enfrentou até agora jogam com quatro jogadores abertos o tempo todo ou em ao menos boa parte da partida. Pode ser o Knicks com Kristaps Porzingis, o Wizards com Kris Humphries arremessando de longe, o Cavs e Kevin Love arremessando mais de longe do que nunca, o Pacers com Paul George na posição 4, o Pistons que nem disfarça que não tem parceiro de garrafão para Andre Drummond. Quando o adversário joga com tantos arremessadores, o trabalho de cobrir todos eles e ao mesmo tempo ser agressivo nas trocas de marcação e linhas de passe fica muito mais difícil. O Bucks tem falhado nesse trabalho, e quando tentam compensar no ataque usando seus melhores jogadores de ataque, caras como OJ Mayo e Jerryd Bayless, pioram ainda mais lá atrás sem melhorar tanto assim seu poder de fogo.

Os adversários também aprenderam que não podem embolar jogadores e abusar de tantos bloqueios e pick-and-rolls, já que o Bucks troca tão bem de marcação. Mais vale movimentação sem a bola e passes rápidos para mudar a bola de lado com velocidade. Está aí o ajuste que Jason Kidd precisa fazer, como colocar todo mundo no mar de braços gigantes do Bucks? A vitória dessa semana contra o Pistons foi animadora, mas foi só um jogo ainda.

Outros times não estão tendo a evolução natural que a gente poderia esperar. Cada um com seus motivos e histórias, Los Angeles Clippers, Houston Rockets e New Orleans Pelicans também estão penando nesse primeiro mês de temporada, mas acho que nenhum deles vinha com essa naturalidade do Bucks: “eles são bons e jovens, vão melhorar só por ter mais um ano de basquete nas costas”. Não é bem assim. E cada um dos times citados tem no elenco um exemplo individual disso, seja OJ Mayo, Lance Stephenson, Ty Lawson ou Tyreke Evans, não importa, melhorar não é automático.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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