Análise do Draft 2014 – Parte 1

Pressa pra que, gente? Quase um mês depois do Draft, vamos começar a nossa análise. Achei que seria melhor, dessa vez, assistir todos os novatos jogarem nas Summer Leagues de Las Vegas e Orlando antes de colocar meus palpites. Nos anos anteriores eu estudava bastante o que os scouts e especialistas gringos falavam dos jogadores, nesse ano resolvi juntar essas análises com o que eu vi nos jogos de verão. Bom lembrar que é impossível prever o quanto um garoto vai ser bom no futuro. Alguns tem a carreira perfeita, parecem bons de cabeça e motivados, mas na hora simplesmente tudo dá errado ou um joelho estoura. A análise do desempenho do time também não é garantia de sucesso ou fracasso, um time pode fazer um mau negócio e acabar dando sorte. Falamos de tudo aqui com a perspectiva que os times tinham no momento que escolheram os jogadores.

Andrew-Wiggins-NBA-Draft-2014 A tradição dos posts do Draft é assim: Analisamos time por time, na ordem das escolhas, e damos a cada equipe um selo de qualidade que resume o que achamos das escolhas no geral. O tema dos selos muda todo ano, já foi baseado em mulheres, números, Michael Jackson, memes da internets e até seleções brasileiras em Copas do Mundo. No ano retrasada usamos usando Redes Sociais como parâmetro e em 2013 apelamos para as manifestações de rua. Nesse ano, mantendo a tradição, fizemos selos de qualidade baseado em um assunto do momento: futebol. Viva as Copas!

Klose 7 a 1: Você vai lá, se prepara, monta um timaço e atropela o maior vencedor de todos os tempos, na casa dele, por um placar humilhante. Simplesmente não dá pra ser melhor do que isso. Selo para os times que tomaram a decisão perfeita no dia do Draft 2014.

RVP 5 a 1: Revanche de goleada? Sobre o atual campeão mundial que te derrotou na última final? Só um 7 a 1 supera. Faltou repetir a grande atuação mais pra frente, mas já é um placar se orgulhar. Selo para os times que acertaram, mas não entraram para a história.

Messi 1 a 0: Não conquista o público, não vira trauma nacional de ninguém, mas é o bastante pra vencer. Pode ser feio ou bonito, golaço ou de canela, impedido. É o necessário para sair com os 3 pontos ou a classificação. Selo para os times que fizeram o que dava na hora.

James 1 a 2: Placar honesto, justo, jogo disputado. Mas uma derrota é sempre uma derrota e não dá pra ficar satisfeito depois de ser chutado pra fora do campeonato. Selo para os times que até tentaram fazer tudo certo, mas podem acabar quebrando a cara daqui um tempo.

Marcelo 1 a 7: Afinal, o que poderia ser mais traumático do que perder uma final? Ah é, isso! Selos para times que tomam bola nas costas do Marcelo sem parar.


Klose Cleveland Cavaliers Andrew Wiggins, SF (1) Joe Harris, SG (33) Dwight Powell, PG (45) Brendan Haywood, C (via troca)

Se eu fosse dar uma dica para o Cavs antes desse Draft, seria só essa: não inventa moda. Sei lá que diabos de olheiros e estatísticas estranhas eles usam para avaliar jogadores, mas nos últimos anos eles foram especialistas em surpreender todos no Draft, quase nunca de maneira positiva. Escolher Kyrie Irving, que não foi surpresa e nem deu errado, foi considerado arriscado na época porque o armador quase não jogou por Duke, depois de passar o ano machucado. Depois disso eles pegaram Dion Waiters e Tristan Thompson muito antes do que acreditavam que eles mereciam e, no ano passado, bom, todos lembram do choque que foi quando eles selecionaram Anthony Bennett. Nem acho que qualquer um dos 3 seja ruim, mas no lugar deles daria para ter Damian Lillard, Jonas Valanciunas e Victor Oladipo. E nem estou dando uma de sabichão, essas eram escolhas plausíveis no momento em que o Cavs tomou suas decisões. Não é como, por exemplo, sugerir Giannis Antetokounmpo, que ninguém sabia quem era. Então nesse ano o negócio era ir com segurança. Arriscar Joel Embiid e seus problemas de saúde poderia valer a pena a longo prazo, mas era um enorme risco. Jabari Parker é um excelente jogador, mas, dizem as más línguas, fez corpo mole no treino que fez em Cleveland porque não queria jogar no Cavs. Boato ou não, melhor não arriscar. Depois de tanto inventar, era só pegar a escolha mais óbvia e correr para o abraço. Andrew Wiggins tem um físico impressionante, ótima mobilidade e já parece ser um bom defensor de mano a mano. Se tudo der errado para ele no ataque (não melhorar arremesso e drible, especialmente), pelo menos o cara se garante como um excelente defensor de perímetro, algo que o Cavs precisa desde sempre. A Summer League de Las Vegas mostrou, porém, que Wiggins pode ser bem mais do que isso. Apesar de alguns momentos de pânico quando ele tentava driblar demais, mostrou talento para atacar a cesta, cavar faltas (fez a festa no lance-livre) e pareceu um dos melhores jogadores do campeonato quando seus arremessos estavam indo no alvo. É possível imaginar Wiggins jogando ao lado de LeBron James e fazendo uma das melhores duplas defensivas de perímetro de toda a NBA, também é possível imaginar o Cavs usando o seu talentoso ala como isca para trocar por Kevin Love. Trocá-lo ou não é uma outra discussão, para outro momento, mas de qualquer forma, não tem muito como o Cavs errar. Na segunda rodada, o Cavs escolheu Joe Harris, que pode jogar nas posições 2 e 3 e fez fama como arremessador de longa distância. Em Las Vegas, teve média de 8 pontos por jogo e ótimos 40% de acerto de longa distância. Difícil imaginar ele conseguindo tempo em quadra, especialmente depois da chegada de Mike Miller, que o Cavs nem imaginava na época do Draft. Provavelmente Harris vai ralar um pouco mais na D-League para ampliar seu jogo. Por fim, o Cavs mandou, no dia do Draft, o ala Alonzo Gee para o New Orleans Pelicans em troca do veterano Brandan Haywood e de Dwight Powell, a 45ª escolha. Powell é limitado, mas é um ala alto e especialista em arremessos de longa distância. LeBron James jogou sempre com jogadores abertos em Miami e pode precisar de jogadores como ele, mas como ele mal atuou na Summer League, difícil apostar que consiga um contrato. No fim das contas, a troca foi mais para limpar um pouco de espaço salarial. Gee ganharia quase 4 milhões de dólares na temporada, 2 a mais que o sempre machucado Haywood.

Klose Milwuakee Bucks Jabari Parker, SF (2) Damien Inglis, SF (31) Johnny O’Bryant, PF (37)

Esse é daqueles que nem precisa ver as escolhas de segunda rodada para saber que acertaram em cheio. Ou melhor, que deram sorte demais! Pensa bem, Jabari Parker não é só uma das maiores jovens promessas dos últimos anos no basquete, ele é também um raríssimo jogador que disse, com todas as letras, que quer jogar no Milwaukee Bucks! Isso sim é raro e único. Jabari Parker parecia ser um jogador completo e mostrou isso de novo na Summer League de Las Vegas: muitos pontos em arremessos de meia distância, infiltrações, enterradas e uma ótima média de 8.2 rebotes por partida. Pecou demais nos arremessos de longa distância, algo que o Bucks precisa demais. Também precisa melhorar seu controle de bola, já que ele e seu novo parceiro, Giannis Antetokounmpo, são alas por natureza mas terão que dividir o trabalho de conduzir a bola e criar jogadas. Nada preocupante, já que o plano do Bucks é a longo prazo. Considerando a melhora de Brandon Knight no ano passado, especialmente quando não precisou se concentrar demais em armar o jogo, dá até para imaginar o Bucks jogando com um time bastante aberto, sem pivôs. Assim como o novo técnico Jason Kidd fez em Brooklyn, dá pra imaginar um quinteto com Kendall Marshall, Brandon Knight, Giannis, Jabari Parker e Larry Sanders. É empolgante no papel, dá pra imaginar eles correndo como loucos. Parker, versátil, dá essa tentadora opção a seu novo treinador, mas o time terá que conviver com sua adaptação a esse novo estilo de jogo, bem diferente do que ele fazia em Duke. Na segunda rodada, o Bucks apostou no ala francês Damien Inglis. Ele não jogou Summer League e o mais provável é que passe pelo menos um ou dois anos no exterior antes de ir para a NBA, os scouts internacionais gostam dele, pode ser uma boa aposta. Com o elenco já cheio de jogadores, não fará falta agora. Aliás, o elenco cheio é o que atrapalha Johnny O’Bryant. Pivôzão bate-cabeça, poderia ser útil, mas difícil imaginar ele entrar numa rotação de garrafão que já tem Larry Sanders, Ersan Ilyasova, John Henson e Zaza Pachulia.

RVP Philadelphia 76ers Joel Embiid, C (3) Dario Saric, SF/PF (12) KJ McDaniels, SF (32) Jerami Grant, SF (39) Vasilije Micic, PG (52) Jordan McRae, SG (58)

Se existe um time com menos pressa que o Bola Presa na hora de fazer as coisas, é o Philadelphia 76ers. Na temporada passada, foram o único time a ter coragem de selecionar Nerlens Noel, que havia caído de certeza da primeira escolha para um gigante sinal de alerta após lesionar o joelho. O Sixers apostou no pivô, o tratou por um ano e agora viu ele jogar muito bem na Summer League de Orlando, protegendo o aro como imaginado. O fato dele ter descansado em boa parte dos jogos de Las Vegas criou novas dúvidas acerca do jogador, mas esperaremos a temporada regular pra avaliar a saúde do garoto. Neste ano, mais do mesmo.

Logo depois de Joel Embiid superar Jabari Parker e Andrew Wiggins na mente e corações dos analistas da mídia americana, surgiu uma preocupante lesão nas costas e, depois, no pé, onde ele precisou de cirurgia e até por isso nem esteve presente no dia do Draft. Mas o Sixers, com seu plano maligno de só dominar a NBA em 2024, não viu problema em tratar o rapaz em casa. Enquanto ele perde, dizem, uns 5 ou 6 meses se recuperando, eles estreiam Noel. É como quem espera as séries aparecerem no Netflix e está sempre atrás de quem baixa as coisas na internet. Se não sofrer com lesões na carreira, Embiid tem tudo para se dar bem na NBA. Com muito tamanho e ótimo jogo de costas para a cesta, tem como fazer diferença mesmo se não for realmente melhor que Wiggins e Parker como alguns estavam falando. Com muita paciência, o Sixers levou os dois caras que teriam sido escolha 1 nos seus Drafts, parece bom negócio ter paciência em uma liga imediatista. Mas se você acha que a paciência para por aí, está errado. Dario Saric, versátil ala croata, tem contrato com o Anadolu Efes da Turquia por mais 2 anos e só deve chegar na NBA em 2016! O Sixers ignorou essa parte, só viu um moleque de 19 anos que já foi eleito o melhor jovem jogador da Europa, MVP do último Europeu Sub-16, MVP da Liga Croata em 2013 (com 18 anos!) e MVP da Liga Adriática no mesmo ano. Enquanto a maioria dos General Managers tem medo de já ter perdido o emprego até 2016, o Sixers tem um ótimo plano a longo prazo e daqui uns anos pode ter em mãos um dos mais promissores jovens europeus da atualidade. Na segunda rodada, algumas apostas do Sixers. O sérvio Vasilije Micic é outro que deve passar uns anos no exterior antes de ter alguma chance, enquanto os outros três americanos entraram na Summer League clamando por uma chance no time principal. KJ McDaniels impressionou por conseguir atacar a cesta, cavar lances-livres e até arremessou melhor do que suas médias na faculdade, também impressionou na defesa; Jordan McRae foi o melhor jogador do time em Las Vegas, onde Noel não jogou. Impressionou pela versatilidade no ataque e sua envergadura fez a diferença na defesa: entrou no segundo time da competição, sendo menos votado apenas que os segundo-anistas Tony Snell e Glen Rice Jr; Jerami Grant foi o que menos chamou a atenção, mas pode ter uma chance em um time que não tem nada a perder e muitos contratos não-garantidos no elenco.

JamesOrlando Magic Aaron Gordon, PF (4) Elfryd Payton, PG (10) Roy Devin Marble, SG (56) Evan Fournier (via troca)

O Orlando Magic não saiu com jogadores ruins, mas foi o time que mais saiu recebendo olhares de “que raios eles estão fazendo?” durante toda a noite do Draft. Depois que o Philadelphia 76ers decidiu apostar no futuro de Joel Embiid, o Orlando Magic se viu com o armador mais adorado do ano em suas mãos: era só selecionar Dante Exum, liberar Victor Oladipo da armação de jogadas e ver uma das mais empolgantes jovens duplas de armação em ação. Mas… não. O Magic decidiu ignorar o empolgante (embora ainda misterioso e pouco avaliado) Exum e apostou em Aaron Gordon, ala de força que passou só um ano na universidade de Arizona. Gordon ainda parece muito despreparado para assumir uma vaga de titular na NBA, como logo mostrou na Summer League com erros atrás de erros no ataque; e é difícil imaginar ele roubando minutos de Tobias Harris, outra jovem aposta do Magic que, embora mais versátil, pode atuar exatamente na mesma posição.

E eles dispensaram Jameer Nelson, por que não pegaram um armador? A única explicação é a defesa. Gordon é impressionante atleticamente e parece bom defensor, pode ser que o Magic o enxergou como o protetor de aro que o time ainda não tem estabelecido. Depois o Magic conseguiu a 10ª escolha ao trocar a sua, a 12ª, mais uma escolha de 2ª rodada com o Sixers, que logo usou a pick para selecionar Dario Saric. Lá, finalmente, eles pegaram um armador, o bom Elfryd Payton. Sem nenhum arremesso de longa distância, mas ótima visão de jogo e velocidade, pode ser o cara ideal para colocar o time para correr a aproveitar a capacidade atlética de Oladipo, Vucevic e, agora, Gordon. Na Summer League, Payton distribuiu muitas assistências, mas pecou ao cometer muitos turnovers justamente ao forçar o jogo rápido. Nada que ele não possa pegar o jeito, mas pode prejudicar o time neste seu primeiro ano de profissional. Na visão da maioria de quem cobre NBA, o Magic poderia ter saído do Draft com um armador melhor que Payton (Exum) e um ala que oferecesse algo que Gordon não dá, arremesso de longa distância, outra necessidade do time. Como, por exemplo, Doug McDermott.

Um time com Exum, Oladipo, McDermott, Harris e Vucevic empolga no papel, não? O Magic não foi mal, mas eles vão sofrer com as comparações do que podem ter sido, e será um teste de paciência até Aaron Gordon se encontrar na NBA. Na segunda rodada, uma escolha que também surgiu de uma troca inesperada. Eles mandaram Arron Afflalo, um dos melhores jogadores do time no ano passado, um dos melhores na posição no Leste, para o Denver Nuggets em troca de Evan Fournier e a tal escolha 56. Tá bom que Afflalo, já veterano, não precisava ficar num time em reconstrução, mas só isso em troca? Sempre prefiro dar o benefício da dúvida para o General Manager, mas será que não tinha mesmo uma outra proposta melhor por Afflalo? Difícil imaginar. Gosto de Fournier, porém, pode ser um bom 6º homem na equipe. Já Devyn Marble fez boa, mas discreta Summer League. Com bons números no rebote e atuações regulares, garantiu um contrato para a próxima temporada.

MessiUtah Jazz Dante Exum, PG (5) Rodney Hood, SG (23)

Por mais que a realidade não confirme o que eram as expectativas sobre Derrick Favors e Enes Kanter, os dois tem feito um trabalho razoável no garrafão do Jazz. O time até tinha suas justificativas para selecionar, digamos, Julius Randle para dar mais poder ofensivo ao garrafão, ou Noah Vonleh para melhorar nos rebotes. Mas considerando o quanto eles melhoraram no ano passado ao usar apenas Favors, isolado, como pivô, talvez fosse melhor investir em outras posições ou, melhor ainda, só pegar quem eles achassem melhor! E acho que foi isso que eles fizeram. Dante Exum era um mistério por pouco ter jogado no último ano, quase nada contra jogadores que merecessem a comparação. Mas em todos os treinos ele mostrava sua velocidade assustadora, controle de bola, capacidade para infiltração e tudo mais. Se os scouts acertaram, era o melhor armador do ano e ainda com capacidade para jogar sem a bola. Depois do sucesso do experimento Dragic-Bledsoe em Phoenix, por que não tentar? Na Summer League, Exum jogou ao lado de Trey Burke e não pareceu ter problema de entrosamento. Claro que sofreu nos arremessos de média e longa distância (16% de 3 pontos, irgh!), mas quando jogou bem pareceu tão melhor que os outros que deu pra entender de onde tiraram seu potencial. O risco dele ser mais um estrangeiro com expectativas exageradas ainda existe, mas eu ainda estou na fase empolgação.

Com sua outra escolha, o Jazz selecionou Rodney Hood, bom ala de Duke que muita gente achou até que sairia mais cedo. Como muitos atletas vindos do time de Coach K, Hood tem a fama de um faz-tudo. Bom arremesso, boa movimentação sem a bola e boa leitura de jogo. Talvez não consiga excelência em nada disso, mas tem tudo para ser reserva imediato de Gordon Haywood e lutar com Alec Burks por minutos na reserva da posição 2. Em Las Vegas não conseguiu embalar bons jogos em sequência, sempre foi um jogo muito bom seguido de outro muito ruim. Na média, foi médio.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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