🔒Los Angeles Lakers ladeira abaixo

Em 1960, a vencedora franquia do Minneapolis Lakers deixou a cidade dos lagos para se mudar para a capital mundial do entretenimento, Los Angeles. Com 5 títulos na bagagem, o novo time não demorou para se adaptar à metrópole, que abraçou seu novo time e o transformou ao longo das décadas em um dos símbolos mais fortes do segundo maior centro urbano dos EUA. Sem um time de futebol americano para chamar de seu, o povo angelino abraçou a história vencedora do Lakers para representá-los na cena nacional.

Essa sincronia funcionou por um alinhamento de sentimentos e resultados. O Los Angeles Lakers assumiu a personalidade local: somos os maiores, os mais importantes e, acima de tudo, os mais famosos. A megalomania das grandes cidades está presente lá, mas sem a auto-ironia de Nova York. O Lakers, como sua nova cidade, jamais iria admitir seus defeitos ou rir de seus problemas. Do estrelismo de Wilt Chamberlain ao showtime de Magic Johnson, o Lakers queria ser e era o centro do mundo. As celebridades batendo palmas na plateia eram tão ou mais importantes que a qualidade do basquete na quadra.

Como o Los Angeles Clippers nos prova, não basta estar presente em LA para incorporar essa personalidade, é preciso entender a cidade e, acima de tudo, vencer. Só comediantes como Billy Crystal poderiam aceitar a humilhação de se assumir como torcedor do primo pobre da cidade, o time que entra todo ano sabendo que vai perder. Um jogo do Lakers, por outro lado, era um local para ver e ser visto, para usar um belo par de óculos escuros dentro do ginásio e bater palmas para mais uma vitória do purple and gold. Não é por acaso que as Laker Girls são famosas e o time não tem um mascote, qual é o glamour de um grande animal de pelúcia? Mais do que pelas vitórias, o Lakers é marcado pelo seu orgulho. Não tente convencer qualquer pessoa por lá que um jogador não sonha em atuar sob as luzes de Hollywood.

Desde a mudança de cidade, o Lakers só ficou de fora dos Playoffs em 1975, 76, 94 e 2005. No mesmo período foram 11 títulos. Bom, isso até a gente chegar no presente, né? Como vocês bem sabem, podem colocar mais dois anos sem pós-temporada: 2014 e 2015. E a julgar pelo atual elenco e as 4 derrotas nos 4 primeiros jogos da temporada, tudo indica que pela primeira vez em sua história o time verá uma seca de três anos consecutivos sem disputar o mata-mata do basquete. E por uma coincidência cruel do destino, tudo isso acontece quando o vizinho Los Angeles Clippers vive uma reestruturação que culminou no melhor elenco já montado pelo primo pobre em toda sua história. As celebridades, fiéis apenas ao sucesso, já migraram. A possibilidade de um título ir para Los Angeles e não ser do Lakers é real. E assustadora, ao menos para Jeanie Buss.

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Única mulher dona de um time da NBA, Jeanie Buss é namorada de Phil Jackson, vencedor de 5 títulos com o Lakers, e filha do Dr. Jerry Buss, dono do time entre 1979 (justo quando conseguiram Magic Johnson) e 2013, quando morreu aos 80 anos de idade. A filha herdou a equipe onde trabalhava ajudando o pai, e colocou seu irmão Jim Buss como vice-presidente de basquete. O General Manager Mitch Kupchak, na função desde 2000, fecha o trio de ferro que divide os poderes da franquia nos últimos anos.

Embora Jeanie vivesse a rotina da franquia há muito tempo, a transição para a posição de comando não foi fácil. Não só ela precisava lidar com a perda do pai, como, no meio de uma temporada, precisava assumir as funções dele e manter um nível de resultados quase sem precedentes no esporte americano. Em entrevista ao USA Today em junho deste ano, Jeannie disse que “não acho que estou sendo teimosa ao esperar o melhor do Lakers. Esse foi o padrão que meu pai estabeleceu aqui, sempre tivemos o sentimento por aqui de que o time não fica fora dos Playoffs. Estar fora por dois anos nos colocou em um território novo, não foi confortável”.

Essa mesma matéria do USA Today, otimista em diversos pontos, coloca Jeanie Buss com uma certeza cega de que o terceiro ano sem Playoffs não iria acontecer. Para isso ela apostava que o time ainda é um imã de Free Agents. Entre Kevin Love, LaMarcus Aldridge, Jimmy Butler e outros, alguém iria brilhar em LA, certo? Certo? Estamos no futuro e sabemos como isso acabou. O grande reforço do time foi Roy Hibbert, conseguido via troca com o Indiana Pacers, que mandou o pivô porque não queria mais nada com ele. Depois dos erros em 2014, o novo trio de ferro do Lakers achava que tinha retomado as rédeas da franquia, mas tudo se repete: ninguém quer jogar lá.

Para muitos não é coincidência que a habilidade do Los Angeles Lakers de conseguir grandes negócios tenha acabado junto com o comando de Dr. Buss. Ele foi o responsável por convencer Shaquille O’Neal a deixar um ótimo time em Orlando, foi o cara que falou com Kobe Bryant para ele não deixar o time quando estava brigado com Shaq, e quem trouxe Phil Jackson de volta depois de duas de suas muitas aposentadorias. Além disso, era o cara que comandava o show, que todo mundo queria conhecer, apertar a mão, que atraia o combustível da cidade, a fama, para dentro do ginásio. Tinha ótimo trânsito e respeito com a direção da NBA e com todos os outros donos da liga. Com ou sem razão, o mundo da NBA enxerga o Lakers hoje como um time ultrapassado e sem comando: quem dá a última palavra? Alguém confia em Jim Buss? Sua fama é péssima ao redor da liga, mas a irmã insiste que ele ainda tem tempo para se redimir.

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Mas como, afinal, o time bi-campeão em 2009 e 2010, que montou um quarteto dos sonhos há poucos anos, chegou ao seu fundo do poço em tão pouco tempo? Tá bom que alguns anos sem Playoff é até normal na NBA em times que estão em fase de reconstrução, mas como vimos, esse não é o padrão do Lakers. Uma análise de todas as principais movimentações da franquia nos últimos anos mostra como eles perderam suas chances.


 

2011-12
Pouco antes do começo da temporada começar, o New Orleans Hornets anunciou que seu principal jogador, Chris Paul, seria trocado. O principal armador da NBA no momento iria para o Los Angeles Lakers em um negócio que ainda envolvia o Houston Rockets e mais uma porrada de jogadores: Pau Gasol iria para Houston, Kevin Martin, Lamar Odom, Goran Dragic e Luis Scola para New Orleans.

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Mas então aconteceu o “Basketball Reasons“: na época o Hornets estava sem dono porque o antigo proprietário queria se livrar do time o mais rápido possível, e acabou que a NBA assumiu o comando da franquia até que uma nova venda acontecesse. Sem dono, quem poderia dar o OK definitivo em uma troca tão decisiva? Oficialmente, o dono do time eram os donos das outras 29 franquias da liga. Ao ficarem sabendo da troca, um grupo grande de líderes se revoltou ao ver o Lakers se dando bem de novo. Tudo isso logo após o término de um locaute que tanto havia discutido justamente o fato de times de cidades grandes conseguirem roubar as estrelas dos “pequenos”. Para evitar desgaste com seus chefes, David Stern, comissário da NBA, usou seu papel de então dono do time para vetar a troca devido a “razões esportivas”, alegando simplesmente que o negócio não era bom para o Hornets.

O estrago, porém, estava feito em Los Angeles. O time ficou sem seu novo armador e com um pepino na mão: como olhar na cara de Lamar Odom e Pau Gasol depois que o mundo ficou sabendo que o time estava mandando eles para outros times? Odom explodiu, se sentiu traído, pediu para sair e acabou indo para o Dallas Mavericks pouco tempo depois. Até hoje muitos dizem que vários problemas pessoais do ala foram agravados por essa troca, já que ele, com um histórico interminável de problemas pessoais, se sentiu abandonado por um grupo que ele finalmente reconhecia como uma família. Gasol foi mais discreto e ficou no time, mas a relação entre time e o pivô espanhol continuou estremecida, com um novo rumor de troca a cada semana. Para piorar, como sabemos, Chris Paul acabou sendo trocado para o outro time de LA.

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2012-13
Abrindo mão de duas escolhas futuras de Draft, algo ao qual o Lakers nunca deu muita bola, Mitch Kupchak conseguiu Steve Nash do Phoenix Suns. Apesar de não ser mais aquele jogador que foi duas vezes MVP da NBA, ainda estava jogando em alto nível e sempre comandando os melhores ataques da NBA. Era o jeito de esquecer CP3!

Um mês depois, o Lakers mandou Andrew Bynum, pivô campeão no time, mas com vários problemas físicos, para o Orlando Magic em uma super troca que culminou com a chegada de Dwight Howard. Menos de dez anos depois do Fab Four de Kobe, Shaq, Payton e Malone, o Lakers tinha feito de novo! A NBA se revoltou mais uma vez, como esse time era capaz de tirar estrelas do nada? Desde Magic Johnson e James Worthy em sorteios de Draft até a troca de Kwame Brown por Pau Gasol, como esses caras sempre iam parar em Los Angeles?

Mas o momento era outro. Steve Nash não conseguiu ficar saudável em Los Angeles, Pau Gasol sofreu taticamente, tecnicamente, fisicamente e até no relacionamento com técnicos e direção. Dwight Howard, já com problemas nas costas, cansou de se desentender com Kobe Bryant. A temporada dos sonhos foi um desastre: acabou com Kobe, que carregava o time nas costas para uma das últimas e sofridas vagas nos Playoffs, machucando o seu tendão de aquiles nas últimas semanas do ano. Um time desfalcado e fraco foi varrido pelo San Antonio Spurs nos Playoffs. E não esqueçam: foi no meio dessa temporada que Dr. Buss morreu.

Lembrar a morte de Dr. Buss é essencial aqui porque uma decisão tomada durante essa temporada, ainda com ele vivo, mas já doente e afastado do time, foi essencial para o futuro da equipe e a percepção da franquia ao redor da liga: com apenas 5 (péssimos) jogos de temporada, o Lakers decidiu mandar embora o técnico Mike Brown. Para seu lugar, Jim Buss pensou em trazer Phil Jackson de volta. Ele conversou com sua irmã, que disse que devido a seu envolvimento pessoal com o treinador, não poderia participar muito ativamente da contratação. Foi apenas Jim, sozinho, quem se encontrou com o Zen Master. Depois de uma longa e produtiva reunião, Phil Jackson, segundo declaração da própria namorada, estava achando que o emprego era dele. Até porque, afinal, ele nem havia se candidatado, os caras que correram atrás dele. Mas não. Jim Buss apenas pegou o telefone para avisar Phil e Jeanie que o escolhido havia sido Mike D’Antoni.

O resultado a gente lembra: D’Antoni não se entrosou com Kobe Bryant, Dwight Howard e especialmente Pau Gasol. Seu maior parceiro na carreira, Steve Nash, passou o ano no departamento médico sem poder comandar o ataque do jeito sonhado por D’Antoni. Phil Jackson algum tempo depois assumiu a presidência do New York Knicks, apenas para fazer torcedores do Lakers sonharem em como seria ter ele na gerência do time para assumir o rosto da franquia após a morte de Buss.

2013-14
Aqui as coisas já saíram de controle. O time do orgulho, que bocejava e já consegua as maiores estrelas do basquete, fez isso:

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E perdeu. Assim como perdeu Carmelo Anthony. Os caras de médio escalão nem tentaram, achando que o Lakers deveria mirar só o máximo do máximo. Quando a maioria dos times já tinham contratado os grandes nomes daquela offseason, o Lakers tinha apenas adquirido Nick Young, Chris Kaman e Wesley Johnson. Novas lesões de Kobe Bryant e Steve Nash fizeram Mike D’Antoni comandar, até com algum relativo sucesso para a situação, um time formado por caras que mal poderiam estar na NBA.

2014-15
Mais uma mudança de técnico. O quarto em 5 anos para um time que tinha tido apenas 2 entre 1999 e 2011. Antigo ídolo, Byron Scott chegou para comandar a reviravolta do Lakers. Mas na prática, mais desastres: mesmo com todo o espaço do mundo no teto salarial, uma raridade para o Los Angeles Lakers, ninguém quis ir pra lá de novo. Pau Gasol foi o segundo jogador de alto nível em sequência a deliberadamente decidir ir embora de Los Angeles.

Mais uma vez a temporada foi marcada por lesões de Kobe Bryant e Steve Nash, que se aposentou, e por um elenco de garotos. O mais promissor deles, como desgraça é pouca, quebrou a perna. Julius Randle não jogou nem um jogo inteiro em seu ano de novato. O único ponto de sucesso foi ver Jordan Clarkson, escolha de segunda rodada, entrar no quinteto ideal dos novatos do ano.


Pode até ter uma importância menor, mas é legal lembrar aqui que o Los Angeles Lakers é um dos times que mais despreza o avanço da análise estatística da NBA. Tudo o que a equipe utiliza hoje de tecnologia na análise de desempenho veio com atraso. Isso atravessa toda a estrutura da franquia, desde os donos e General Manager até os técnicos contratados. Embora isso esteja mudando nessa temporada, no ano passado foi piada geral quando Byron Scott disse que queria ver o time arremessando menos de 3 pontos. E não é como se o Lakers fosse o Grizzlies e pudesse ao menor argumentar que tinha o melhor garrafão da NBA para se focar em outra coisa. De super campeão com super estrelas, o Lakers virou o time tiozão da liga.

Como toda crise, o pacote é complexo e está todo aí. Existe a falta de sorte das lesões, há o buraco de poder que se criou após a morte de Jerry Buss. Também pesam os erros pontuais de contratação do General Manager, as apostas erradas. Se antes o Lakers dava a entender que bastava estar em Los Angeles para atrair os melhores jogadores do planeta, agora o mesmo Lakers prova que não é bem assim. Os erros de hoje só servem para mostrar como os últimos 35 anos de sucesso foram muito mais do que só uma longa maré de dados rolando de maneira conveniente.

Está na hora de voltar a mostrar que existe trabalho sério por baixo do glamour: alguém tem que ralar para Hollywood ser Hollywood.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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