O Natal da final

O Golden State Warriors é o melhor time da NBA em muitas coisas: é a equipe que mais dá assistências, o que tem melhor aproveitamento de arremessos, o que mais rouba bolas, o que mais dá tocos e o que força os adversários ao pior nível de acerto de seus chutes. É uma máquina de jogar basquete! Mas aquele time campeão lá de Cleveland tem um talento mais especial que todos esses junto: o Cavs sabe enfrentar o Warriors.

E eles não têm medo dos caras também, olha só a foto que botaram no vestiário dos visitantes. E reparem no anel de campeão PHOTOSHOPADO na mão de LeBron… cruel, cruel.

A questão aqui vai além da parte tática ou técnica. O Warriors, desde que Steve Kerr assumiu o time, é uma equipe que sabe arrasar com a confiança dos seus adversários. Quando a bola de 3 pontos começam a cair, eles se animam e não tem medo de correr mais, arremessar mais e apertar ainda mais a defesa. Não à toa é o time com melhor saldo de pontos na liga, eles não cozinham jogos, algo que o Cavs gosta de fazer antes de vencer no fim, o Warriors vai para a jugular e encerra tudo antes do último período. Por algum motivo, porém, o Cavs não cai nessa armadilha. Eles sabem esfriar o jogo, não entram em desespero e, mais importante (e difícil), tem um talento especial para acertar aqueles arremessos certos na hora certa.

No jogo deste Natal, facilmente o MELHOR de toda essa temporada regular, esse momento-chave aconteceu no quarto período. Com o Warriors na liderança, onde passou mais de 40 minutos do jogo, o último período começou com LeBron James descansando no banco de reservas e o Warriors ameaçou disparar no placar: Kevin Durant começou a pegar fogo, a diferença chegou a 14 e as posses de bola seguintes se tornaram decisivas. Se o Warriors faz mais uns 5 pontos seguidos, a diferença chega a praticamente 20 e o jogo já era, mas se o Cavs faz 5 pontos seguidos, a diferença está em menos de 10 com ainda uns 8 minutos de jogo.

O Cavs respondeu do melhor jeito possível, primeiro uma enterrada sensacional de Richard Jefferson na cara de Kevin Durant (a falta técnica pela piscadinha a gente ignora, porque não fez NENHUM sentido), uma bola de 3 pontos de Kyrie Irving e uma enterrada de Kevin Love após uma confusão de bolas perdidas. Foram 7 pontos em 4 posses de bola, sem tomar nenhum, para colocar o jogo num placar decente antes da volta de LeBron. Nesse meio tempo, o Warriors caiu numa armadilha que eles não costumam entrar, mas que é bem comum na NBA: vendo Durant dominar o jogo, e com Steph Curry e Klay Thompson também ganhando um respiro no banco, resolveram jogar alguns minutos de Thunderball. Bola na mão de Durant, todo mundo parado e o ala tenta salvar o mundo sozinho. O momento de matar o jogo virou pesadelo.

O curioso é que o Warriors não foi melhor que o Cavs ao longo do jogo com a mesma estratégia que utilizou em vários dos últimos duelos entre esses dois times. Lembra que antes eles abusavam dos pick-and-rolls entre Steph Curry e Draymond Green, para forçar a toca de marcação e um duelo individual entre Curry e Kevin Love? Pois ele não aconteceu NENHUMA vez ao longo do jogo. Pra falar a verdade, Curry só esteve envolvido em TRÊS finalizações nascidas de pick-and-roll. Na primeira, com David West, sofreu dobra de marcação e preferiu arremessar ao invés de passar para o companheiro. Na segunda, já com Draymond Green como parceiro, não conseguiu a troca de marcação e foi forçado a um chute de dois pontos sobre DeAndre Liggins. Também não rolou. Na última, o armador fez o bloqueio e o ala-pivô que driblou e fez o passe. Os novos tempos são assim, amigos, e finalmente deu cesta:

Isso aconteceu, em parte, porque agora Kevin Durant está no time, mas também parece que Steve Kerr quis evitar as agressivas dobras de marcação sobre Curry para usá-lo mais sem a bola, fazendo aqueles bloqueios com Klay Thompson que o Cavs nem sempre sabe marcar (como o vídeo abaixo mostra bem). Mesmo que Curry não costume atuar sempre como armador “clássico” foi estranho ver ele tão pouco com a bola na mão ao longo do jogo.

Em geral o Cavs é um ótimo time para defender o Warriors. Com vários jogadores atléticos e sem posições definidas, eles podem trocar de maração em diversos momentos sem grandes perdas. A exceção é Kevin Love, mas ele pouco comprometeu nessa partida e até passou produtivos 32 minutos em quadra. Mas o Cavs é bom mesmo em pressionar, entrar em linhas de passe e forçar turnovers. A agressividade, quando feita do jeito errado, pode render eventuais enterradas sem marcação, mas quando dá certo acontece o que rolou nesse jogo: dos 20 turnovers do Warriors, 14 foram de roubos de bola dos jogadores do Cavs.

A compilação abaixo mostra todo o cardápio: alguns roubos são pura leitura de jogo e excelência defensiva de LeBron e Kyrie, outros são passes ridiculamente arriscados de Draymond Green. Também tem as mãos de alface de Zaza Pachulia e um pouco de displicência ou, como Kerr chamou após o jogo, “más decisões”, especialmente de Steph Curry. O seu passe de costas para o nada, em um contra-ataque, foi o ponto baixo do jogo.

Essa habilidade de ler os passes que o Cavs mostrou ontem não é fácil, exige uma concentração que nem todos os times ou jogadores conseguem manter ao longo de um jogo inteiro. Dentre os talentos do Cavs, é mais fácil manter a consistência nos rebotes ofensivos, uma questão mais de vontade e intensidade do que de leitura de jogo. E isso eles fizeram bem também, com DEZOITO rebotes de ataque contra míseros 5 do Warriors. Se o Cavs acertou só 39% de seus arremessos e venceu um adversário que acertou 48%, os roubos e rebotes de ataque foram os maiores responsáveis.

Mas a minha coisa favorita vinda do Cavs no jogo de ontem foi outra. O mais legal foi ver, mais uma vez, LeBron James jogando como um ala tradicional, sem total controle do jogo, mesmo que apenas por algumas posses de bola. Não é muito legal ver Irving infernizando defesas enquanto LeBron se mexe sem a bola? Foi assim que vimos, finalmente, a enterrada que não aconteceu no fim do Jogo 7:

Outro dia o Draymond Green tomou uma falta técnica por ficar muito tempo pendurado no aro. Ele xingou todo mundo e aí dessa vez TOMOU uma enterrada na cabeça, LeBron ficou pendurado e ninguém marcou nada. Prefiro assim, é pra deixar a galera comemorar uma enterrada desse tipo mesmo, mas só imagino o nível de irritação do cara, que já tava pilhado após marcarem duas faltas suas logo no começo da partida.

Tanto LeBron quanto Irving tem repertório para comandar o time nas bolas finais, mas quando LeBron é o armador de facto o time costuma ficar mais estático, apenas com os arremessadores espalhados pelos cantos. Quando Irving é o líder, abre essa chance de uma nova jogada, com o próprio LeBron cortando para a cesta como Dwyane Wade fazia no Miami Heat. É um bom jeito do time ser menos previsível e de LeBron entrar no Top 10 da rodada.

Foi também numa movimentação sem a bola, mas dessa vez vindo de um post-up de Kevin Love, que Richard Jefferson conseguiu a jogada mais espetacular da noite. O time é outro quando a bola se mexe!

Para o Warriors fica a mesma sensação da final da temporada passada, aquele gosto amargo de sentir a vitória próxima, de lembrar das DÚZIAS de chances de fechar o caixão sem sucesso. Aquele turnover por estourar o relógio de 24 segundos de posse de bola no minuto final foi péssimo, com Iguodala, que fez um último quarto para esquecer, batendo a bola e olhando para o vazio sem produzir nada. A falta não marcada no último lance não alivia a sensação de culpa para o lado deles. O próprio Klay Thompson disse que a sensação foi a de fazer um jogo melhor e depois dar a vitória de presente.

Não dá pra ver a imagem abaixo e não pensar que a vitória estava na mão deles. Olha essa situação! Como isso não acabou numa enterrada de Durant para matar a partida?

Calhou que Kyrie Irving se recuperou no lance, um de seus SETE roubos de bola no jogo, e ainda teve o sangue frio para ir lá matar a partida depois. DE NOVO. Dessa vez, ao contrário da final, não pediu bloqueio, não exigiu troca na marcação e encarou Klay Thompson no mano-a-mano. Não conseguiu a infiltração, não deu pra cavar falta e teve que ir para um arremesso difícil, sem ritmo, pulando para trás, com a mão na cara. Mas desde quando isso é problema pra ele, né? Ninguém no mundo quer deixar um jogo contra o Cavs ser decidido na última bola.

Para o Cavs, é um boost de confiança do tamanho das enterradas dos LeBron: não importam as bolas de 3 pontos, a velocidade, os passes sensacionais, eles não se assustam com o Warriors ou com suas lideranças gigantes. E por aqui ficamos com um pequeno dilema entre reclamar da previsibilidade da temporada e IMPLORAR para que nada nos tire de mais sete jogos entre esses dois times em junho. Torcer contra esse duelo parece torcer contra o basquete.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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