Os novatos de verão

Como conversamos no último podcast, as Summer Leagues de uns anos pra cá ganharam a atenção do mundinho da NBA. Não que ela valha muito mais que no passado, mas a liga arranjou um jeito de fazer com que julho não fosse um mês apenas de contratações e nada mais. Ao invés das trocentas ligas semi amadoras em todo os EUA, várias misturando jogadores longe do nível da NBA com jogadores profissionais. Agora a própria liga organiza um grande evento e atrai praticamente todas as franquias. Eventos paralelos só os de Orlando e Utah, que cada vez recebem menos atenção.

O campeonato principal acontece em Las Vegas, a casa da NBA no verão. Lá rolam os treinos da seleção americana, os testes com os pirralhos que ambicionam chegar na seleção principal um dia e, claro, a Las Vegas Summer League. De repente, em uma só cidade, temos as jovens promessas, todos os técnicos e todos os cartolas da liga. É o paraíso do networking e algumas estrelas que nada tem a ver com o negócio vão lá só para fazer parte, jogar conversa fora e fazer umas festas. Afinal, estão na cidade do pecado.

Mas se LeBron James dá festas, Chris Paul organiza campeonatos de ping-pong, jornalistas fazem mil entrevistas, managers fazem contatos com seus semelhantes e olheiros atualizam seus livros de anotações, o que vale pra gente é o que a pirralhada está fazendo: historicamente as ligas de verão servem para dar ritmo de jogo para os novatos, testar nomes que podem vir a fazer parte da NBA um dia e dar um último teste para jogadores que estão indo para seu segundo ano de profissional. Todos têm características e expectativas diferentes, então daremos tratamento diferentes para eles também. Bora lá ver quem se saiu bem ou mal no verão? Hoje é dia de focar os rookies

Os mais badalados

Todo mundo estava lá para ver Ben Simmons fazer sua estreia como jogador da NBA pelo Philadelphia 76ers e esperando ainda mais ansiosos ainda pelo duelo contra o cara que foi escolhido logo após ele no Draft, o ala Brandon Ingram, do LA Lakers. No fim das contas os dois mostraram o talento esperado, mas ninguém estourou os miolos da torcida.

Começamos com Ben Simmons, que fez um excelente trabalho em mostrar como todos os olheiros sabiam do que estavam falando antes do Draft: ele nem disfarçou que era ala, jogou armando o jogo o tempo todo e impressionou não só com a excelente visão de jogo, mas com a precisão dos passes e a capacidade de fazer a defesa se mexer para criar os espaços que ele queria. A impressão que passou é que realmente não é um ala que pode armar o jogo, mas um armador nato que calhou de ser muito grande.

Era fácil ver o nível de otimismo ou pessimismo de quem acompanhava Simmons na Summer League. Os mais animados viam uma versão menos atlética de LeBron James, para os menos empolgados ele era um Rajon Rondo de Itu. A grande questão é o que ele poderá oferecer além dos passes para que as defesas não o tratem apenas como um passador, como já fazem há tanto tempo com o atual armador do Chicago Bulls. Uma solução é desenvolver um confiável arremesso de média ou longa distância, mas ele pouco tentou isso. Chutou um mísero arremesso de longe e errou em 6 jogos, e seus 32% de acerto nos arremessos em geral não são animadores. Mas como o próprio LeBron, além de Dwyane Wade e tantos outros já nos mostraram, existe um jeito de contornar um arremesso abaixo da média. Se você consegue ganhar da defesa no drible, forçar infiltrações, cavar faltas e viver dentro do garrafão, estará bem. Conseguir uma dessas coisas, a capacidade de abrir espaços na defesa ou arremessar, fará Ben Simmons dar o salto de ótimo armador para jogador espetacular.

Ele ainda se envolveu numa mini polêmica quando ganhou um jogo de folga e foi duramente criticado pelo ex-jogador Isiah Thomas, que comentava os jogos na TV. Para ele, Simmons deveria ainda jogar muita bola e ralar muito para ganhar direito de ficar de fora, que isso não era exemplo para quem deveria ser o líder desse novo Sixers. O técnico do time, Brett Brown, logo saiu em defesa do jogador, dizendo que foi pedido dele e que era uma mera precaução. Simmons já havia sofrido com cãibras em suas primeiras partidas.

Brandon Ingram, por outro lado, passa mais segurança na hora de pontuar. Apesar da média de pontos dos dois ter sido praticamente igual (12.3 contra 12.2), Ingram fez isso com aproveitamento de arremessos bem maior (41%) e jogando de forma bem menos central em seu time. O LA Lakers viu uma concentração de jogo enorme no armador D’Angelo Russell, que estava focado em mostrar serviço e tomar conta de jogos, e Ingram muitas vezes acabou deixado de lado, especialmente porque a comissão técnica da equipe, com razão, sempre tentava colocar os dois juntos em quadra.

Mas o mais legal do verão de Ingram foi ver que as comparações com Kevin Durant foram endossadas pelo próprio! Sim, o grande covarde foi lá dizer que pela primeira vez na vida olhou um jovem jogador e disse que era como se olhar no espelho. O estilo de jogo é próximo mesmo, assim como a semelhança física é absurda, mas o palpite depois de um ano de basquete universitário e um punhado de jogos de verão é que KD exagerou na moral que deu para o colega: Durant é a MELHOR VERSÃO que Ingram pode se tornar se TUDO der certo, mas vamos com calma. Vai ser uma jornada divertida de assistir, mas longe de garantida. E o começo já é diferente: enquanto Durant estava sozinho em seu ano de novato no Seattle Supersonics, podendo arremessar o quanto quisesse, Ingram terá de negociar minutos e protagonismo com D’Angelo Russell, Jordan Clarkson e Julius Randle.

Mais destaques no Top 10

Outros jogadores escolhidos nas primeiras posições do Draft 2016 também provaram que foram boas seleções, ao menos nesse primeiro teste.

O melhor exemplo foi o armador Kris Dunn, do Minnesota Timberwolves, disputado e desejado por uma porrada de times no dia do Draft. O moleque jogou só dois jogos em Las Vegas, depois teve que ficar de fora por uma concussão, mas saiu com média de 24 pontos e 7 rebotes nesses duelos. Ele dominou como apenas jogadores mais velhos costumam fazer em Summer Leagues, o que nos faz lembrar que, apesar de novato, Dunn é mesmo um cara mais velho! Ele jogou os 4 anos de basquete universitário e está entrando na NBA com 22 anos, e fez valer a maior rodagem para mostrar serviço. Também vale lembrar o quanto o estilo de jogo desses torneios favorecem os armadores, que tem mais poder para tomar conta de um jogo sem depender da boa vontade dos outros.

Não é preciso ser veterano para jogar com agressividade, é o que mostrou Jaylen Brown com seus 19 anos. Suas decisões não foram boas como a de Dunn, nem foi tão consistente, mas compensou tudo com ataque, ataque e mais ataque. Não era fácil fazer isso nesse time do Boston Celtics, que era provavelmente o que mais tinha jogadores “de verdade” em Las Vegas. O time teve tantas escolhas de Draft nos últimos dois anos que dava pra montar dois times com candidatos a times de verão! Mas lá estava Brown, atuando como machão do time, superando alguns primeiros jogos fracos para dominar os três últimos, onde marcou 20, 25 e 21 pontos. Em metade das 6 partidas que fez ele bateu mais de 10 lances-livres, em duas delas bateu DEZESSETE lances-livres. Será ele o Corey Maggette dessa geração?

Outros novinhos se destacaram nessas semanas de basquete apenas razoável:

Buddy Hield: sofreu quando tentou ser mais que um arremessador, mas conseguiu dar um punhado de assistências e às vezes conseguiu pegar fogo com os chutes de longa distância. Teve altíssimo aproveitamento em arremessos marcados, péssimo quando estava livre. É um dos perigos de julgar números de um campeonato de uma semana de duração.

Jamal Murray: pontuador nato, o ala/armador do Denver Nuggets chamou a atenção por criar jogadas no pick-and-roll de maneira mais eficaz que o esperado. Marcou 19 pontos por jogo em seis partidas mesmo não acertando os chutes de longe como sabemos que pode. Olho na ótima geração belga canadense!

Thon Maker: não sei se ele tem 20 ou 40 anos, mas o moleque jogou bola na versão Verão do Milwaukee Bucks! Fez double-double em dois jogos, cometeu 10 faltas (na Summer League pode) em outro, mas mostrou uma animadora mobilidade e intensidade em quadra. O primeiro dos receios acho que passou, ele FAZ PARTE da NBA. Se poderá fazer algum tipo de diferença em quadra é o próximo passo, mas o começo foi animador. Será bom se não passar cinco jogos com ZERO assistências da próxima vez, porém.

Taurean Prince: O novo DeMarre Carroll do Atlanta Hawks foi, na humilde opinião deste blog, o melhor defensor da Summer League de Las Vegas. Ele é esperto, sabe cortar linhas de passe, se posiciona bem e incomoda qualquer cara de perímetro. Ele não tem arremesso de longe e as infiltrações nem sempre pareciam bonitas e fluidas, mas conseguiu bons 13.7 pontos por jogo, vários em contra-ataques.

Denzel Valentine: O namoradinho da Summer League não foi espetacular, mas foi sempre agressivo, defendeu bem, mostrou um jogo físico e fez as duas cestas do título menos importante da história do Chicago Bulls. Com o time de repente carregado de jogadores no backcourt, poderá servir como um bom ala reserva nesse seu primeiro ano. Só não espere que sobrem mais arremessos de último segundo em sua mão…

Ivica Zubac: Escolha caseira? Sim, mas não vou pedir desculpa. O pivô croata que meu LA Lakers encontrou na segunda rodada do Draft conseguiu médias de 10 pontos, 7 rebotes e 2.6 tocos em somente 23 minutos de jogo. Mais do que isso, mostrou bom posicionamento na defesa e o famoso “toque” de habilidade que só esses pivôs do leste europeu são capazes de oferecer. Ainda vai apanhar um bocado para lidar com o ritmo ultra veloz da NBA, e não irá conseguir pontuar facilmente de costas para a cesta contra pivôs mais ágeis, mas foi um ótimo começo. Depois de Larry Nance no ano passado, é um bom sinal ver o Lakers aproveitando escolhas mais baixas para angariar bons nomes.

Patrick McCaw: É justo o Golden State Warriors achar bons jogadores na segunda rodada? Claro que não, mas acontece. McCaw mostrou tudo o que você precisa para jogar no time de Steve Kerr: boa defesa, velocidade e acertou 39% de suas bolas de 3 pontos. Posso ser o hipster que está ansioso para ver o garbage time da temporada regular com McCaw e Ian Clark destruindo com os adversários nos últimos quartos?

Outros novatos também tiveram bons momentos, quem você acha que também merecia um alô?

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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