[Resumo da Rodada] A Virada

Depois de duas das lavadas mais humilhantes dos últimos tempos fora de casa, o Cleveland Cavaliers voltou para sua cidade natal para tentar matar de vez o Boston Celtics. Se vencesse, o time de LeBron James se tornaria apenas o 4º da história a começar uma pós-temporada com 11 vitórias seguidas, igualando feitos do LA Lakers (1989 e 2001) e do Golden State Warriors (neste exato momento). Pois bem… NÃO ROLOU. Contra qualquer previsão, o Celtics, que perdia por 21 pontos no terceiro quarto, VIROU O JOGO e com uma bola de 3 pontos de Avery Bradley no último segundo conseguiu a reviravolta mais improvável em uma única partida desde AQUELE jogo do Corey Brewer e do Josh Smith contra o Clippers em 2015.

Apostar numa vitória do Celtics já era difícil por termos visto o que rolou nos últimos jogos, mas ela foi ainda mais maluca. Veja o que mais aconteceu neste jogo:

  • O Cavs vencia por 21 pontos no meio do terceiro quarto
  • O Cavs acertou NOVE bolas de 3 só no primeiro quarto
  • O Cavs bateu 24 (!!!) lances-livres a mais que o Celtics
  • O Celtics estava desfalcado de seu melhor jogador, Isaiah Thomas

Se eu fosse apostar numa vitória verde, o que eu só fui capaz de fazer ANTES de ver os dois primeiros jogos, certamente colocaria esses fatores como coisas que não poderiam acontecer para que tal resultado acontecesse. Mas rolou e estamos aqui para desvendar como diabos isso foi possível.

Tudo começa com LeBron James. Os melhores Playoffs de sua carreira, ao menos estatisticamente, sofreram um temporário baque neste domingo com uma atuação esquecível de 11 pontos, 6 rebotes, 6 assistências e 6 desperdícios de bola. Foi apenas a 11ª vez que ele fez menos de 15 pontos num jogo de pós-temporada –a 10ª derrota. Seria tudo mais um indício da quase infalível MALDIÇÃO BOLA PRESA após o Danilo ter feito um post especial sobre o lado arremessador de LeBron James? Ele, que vinha tendo Stephcurryanos 40% de acerto nos 3 pontos nos Playoffs, não acertou nenhum chute de longe ontem.

Mas ver LeBron falhar nos chutes de longa distância não foi de todo estranho. Em boa ou má fase, todos os jogadores passam por isso em um jogo. O que foi estranho mesmo foi ver ele tão passivo, sem atacar a cesta, sem tirar proveito dos matchups favoráveis como destacamos no Jogo 1 da série. Deu pra ver que o Celtics ralou para trocar menos a marcação para evitar as aberrações do tipo LeBron sendo marcado por Kelly Olynyk, mas não só o King James não tirou proveito quando elas aconteceram, como pouco procurou FORÇAR as trocas. Aqueles seguidos corta-luzes não foram parte do repertório comum, mas até quando aconteceram (vejam a última jogada do vídeo), não renderam aquelas bandejas que vinha caindo sempre:

Entendo que não é ruim que LeBron possa dar um passo para trás quando Kyrie Irving (29 pontos, 10/15 arremessos) e Kevin Love (28 pontos, 8/16 arremessos) estão em dia inspirado, mas a sua agressividade nas infiltrações serviria justamente para criar mais arremessos para esses caras. Talvez ele mesmo tenha se intimidado com os incomuns erros que aconteceram até quando ele se obrigou a ser agressivo. Como LeBron mesmo disse após o jogo, simplesmente NÃO ROLOU.

Outro fator decisivo para esta virada foi o CONGELAMENTO do Cavs nas bolas de 3 pontos. Depois de pegar fogo no primeiro período, o time simplesmente parou de acertar. Desde arremessos forçados de Kyrie Irving (no que ele é bom!) até bolas sem marcação de JR Smith e Kevin Love, passando por umas tentativas questionáveis de Kyle Korver, todo mundo tentou e mesmo assim o time acertou míseros 2 de 17 tentativas de longa distância em todo o segundo tempo. Uma deles, claro, foi no último minuto para empatar o jogo, só pra ver como dá trabalho ganhar desse time!

shotchart (2)

A criação de alguns desses arremessos de longe não foi das mais eficientes, mas nada de tão diferente do que o time costuma fazer. E com Tristan Thompson dominando os rebotes de ataque (6 no jogo, 5 no 2º tempo), não existia tanto motivo para parar de chutar, só não deu certo durante estes 24 minutos.

Por outro lado, os arremessos de longa distância foram justamente o que colocaram o Celtics de volta no jogo. Com vários tiros de longe em sequência, a diferença de 21 pontos sumiu e o jogo pareceu ao alcance dos verdinhos, que então se animaram e passaram a jogar bem de verdade. Antes de Marcus Smart FICAR MALUCO de longa distância (claro, quem precisa de lógica?!), o time estava inseguro e cometendo erros como nos dois primeiros jogos. Ver a bola cair passou calma e certeza para melhores passes, mais movimentação e mais arremessos dos outros jogadores. Jae Crowder, Al Horford, Jonas Jerebko e Avery Bradley, juntos de Smart, fizeram as 18 bolas de 3 do time no jogo. Nada menos do que ONZE delas vieram no segundo tempo, incluindo 5 das 7 (!!!!!) que Smart acertou. Caso vocês não lembrem, é o mesmo Smart que teve 28% de acerto ao longo do ano. Alguém ficou muito feliz de ser titular no lugar do machucado Isaiah Thomas...

Mas além de acertar quase tudo o que tentou, desde bolas difíceis até as sem marcação, uma coisa que fez a diferença para o Celtics foi, finalmente, transformar a série em algo mais com a cara dos Playoffs. Eles fizeram faltas duras quando jogadores do Cavs pareciam ter cestas fáceis, pararam aquelas jogadas que o Cavs gosta de fazer para desmoralizar o adversário, colocar a torcida no jogo e embalar no placar. Isso custou muitos lances-livres contra eles, foram 34 (23 só no segundo tempo), mas tirou o ritmo do Cavs. Até aquelas bobagens, como o trash talk de Jonas Jerebko com Kevin Love ou de Avery Bradley com Kyrie Irving foram boas para tirar aquela impressão de time entregue e tímido que passaram nos últimos jogos.

Mas mesmo com as bolas de longe, essa defesa forte, agressiva e com um melhor manejo das trocas de marcação sobre um apático LeBron James, o Celtics ainda precisou de três arremessos decisivos no último minuto de jogo para vencer a partida. Méritos aí para o técnico Brad Stevens, um MESTRE nessas chamadas de jogada de lateral após pedido de tempo. Não à toa ele guardou três tempos para o último minuto.

O primeiro lance foi o mais simples, com Al Horford indo no mano-a-mano contra Tristan Thompson. Nada fora de série, mas ele conseguiu receber a bola com um pé no garrafão e evitou a dobra com bom espaçamento da quadra. O técnico contou com o talento do seu pivô, que entregou:

O segundo lance foi duplamente inteligente. Primeiro por criar um arremesso quase se contestação de Jonas Jerebko, depois por ter sido muito rápido, mantendo o Celtics com condição de ter ainda a última posse de bola caso o Cavs empatasse, o que foi exatamente o que aconteceu após bandeja de Kyrie Irving.

Neste lance o legal é que quem faz o bloqueio para Avery Bradley é Marcus Smart, que havia acabado de bater o lateral. Seu marcador, JR Smith, não percebe a jogada e tenta seguir Smart, mas Irving ficou no corta-luz e Bradley ganhou uma linha direta e reta para a cesta. Nada menos do que QUATRO marcadores fecham sobre o armador, que aí usa seu talento individual para achar um difícil passe para o sueco, que pouco havia jogado nestes Playoffs e acertou o grande arremesso de sua carreira:

O último lance é o mais legal! Por um segundo parecia a pior ideia do mundo, já que NADA acontecia e só víamos o Marcus Smart pronto para ir no mano-a-mano contra LeBron James. Mas então Avery Bradley, que fez sua melhor interpretação de “a jogada nem é pra mim, vou ficar aqui de boa” correu para fazer um corta-luz para Jae Crowder. Tanto JR Smith quanto Iman Shumpert morderam a isca e seguiram Crowder, mas o corta-luz era mais falso que corrente de WhatsApp, e Bradley correu para a linha dos três pontos, onde um bloqueio de Al Horford impediu a cobertura de Tristan Thompson. A bola ainda bateu em todos os cantos do aro só para comer os últimos décimos de segundo que o Cavs poderia ter para rezar um empate. Vitória!

O pessoal do Half Court Hoops achou outras vezes que o Celtics usou esse lance. Ninguém havia mordido tão bem a isca antes…

Em entrevista após o jogo, LeBron deu todos os méritos para o técnico do Celtics:

Eu falei ainda antes da série começar sobre as jogadas após pedido de tempo do Brad Stevens. Se você procurar o que disse, verá que comentei sobre como ele é bom nesses lances. Ele tem muitas movimentações, indicam uma direção e os jogadores vão para outra. Você acha que a bola vai para um lado da quadra, depois acaba em outro. Sua cabeça fica rodando.

O Celtics se despede da temporada com esses elogios, essa virada histórica e um pedaço da sua honra ou o time tem mais para mostrar nas próximas partidas?

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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