Não tente falar para alguém cheio da grana que o dinheiro é a solução para tudo. Eles vão correr para falar que as verdinhas não compram felicidade, que não trazem o amor, que não resolvem os problemas familiares ou os traumas de infância. E nessas os endinherados têm razão, o dinheiro não cura tudo. Os problemas de primeiro mundo soam ridículos para muita gente, mas ainda são problemas para quem vive esse mundinho.
No universo dos times da NBA a riqueza não se mede em dinheiro, o teto salarial minimiza a diferença financeira entre as franquias, mas em talento. Os bilionários são os times que conseguem garimpar os grandes jogadores do planeta: se você tem LeBron James, Steph Curry ou Anthony Davis, parabéns, ganhou na loteria. Por isso, difícil achar um time com a vida financeira mais bem resolvida do que o OKC Thunder, que tem no seu elenco dois dos jogadores que muitas franquias procuram há décadas: Russell Westbrook e Kevin Durant. Com esses dois em quadra, são favoritos contra 90% da NBA, sempre.
É importante sempre lembrar isso porque essa é uma temporada onde devemos falar muito mal do OKC Thunder. Eles têm um técnico novo, Billy Donovan, e estão tentando criar uma nova maneira de jogar, uma nova identidade, se livrando do ataque individualista de Scott Brooks. A transição é pesada, porque o treinador ainda está se decidindo sobre o time titular, as rotações, quem deve terminar jogos e como fazer tudo isso sem perder aquela defesa sufocante e física (também conhecida como veneno anti-Spurs).
Esta questão de quem entra em quadra ao mesmo tempo é um dos problemas de rico do Thunder. Não é que faltam jogadores para cada posição, a questão é que existem vários, mas cada um com um talento diferente. É como se o elenco do time fosse um jogo de RPG onde só é possível ter personagens bem distintos e com características bem definidas, rasas e fáceis de entender. Lembro aqui do game do South Park onde você deve escolher entre ser um ladrão, um guerreiro, um mago ou um judeu =)
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Marcar LeBron é sinônimo de MVP das Finais: Projeto Roberson 2016″]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/OKC2.jpg[/image]
Mas voltando ao RPG da vida real, veja as opções estereotipadas que Billy Donovan tem na posição 2, por exemplo:
Andre Roberson: atual titular, é versátil na defesa, se encaixa no princípio de um time longo que pode sempre trocar a marcação entre os adversários, mantendo a pressão sobre a bola. Não tem ideia de como se arremessa uma bola de basquete, porém
Anthony Morrow: o oposto. Um dos melhores arremessadores de 3 pontos de toda a NBA, mas não cria seus arremessos, não puxa contra-ataques, é devagar na defesa
Dion Waiters: tem muito talento, mas também sérios problemas naquela misteriosa cabecinha. Quando está sem Durant e Westbrook na quadra, se vê no direito de arremessar em todas as posses de bola; com as estrelas ele se controla, mas não para de bater palma pedindo a laranja ao invés de se movimentar e fazer jogadas
Kyle Singler: ala por natureza, pode jogar na posição 2 em situações onde o time pode ser mais alto e não precisa de mais alguém para controlar a bola além de Westbrook e Durant
DJ Augustin: a opção favorita de quem não confia na mente impulsiva de Westbrook, Augustin pode jogar como armador e empurrar o seu companheiro para jogar longe da bola (e das decisões do que fazer com ela)
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Cortei a foto porque é muito feio ver o Kanter de legging”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/OKC3.jpg[/image]
Dá pra fazer uma lista parecida com as opções de garrafão, seja na busca do parceiro ideal para Serge Ibaka ou na dupla que deve atuar quando o congolês se cansa de dar tocos:
Steven Adams: bom defensor, luta com tudo e com todos, garante os rebotes brigados e as cotoveladas necessárias. Sabe fazer seus pontinhos de vez em quando e tem um belo e respeitado bigode
Enes Kanter: o cara ideal para explorar um pivô baixo adversário, faz pontos bocejando; por outro lado, adversários veem ele como um grande alvo a ser atacado na defesa. Nunca deu um toco durante sua existência no planeta Terra
Kevin Durant: nos poucos minutos em que ele jogou na posição 4 nessa temporada, apenas 20, o Thunder DESTRUIU tudo e todos no ataque, mas não conseguia garantir rebotes na defesa
Mitch McGary: começou bem a carreira no ano passado, mas não tem tido nenhuma chance com Donovan até agora
Nick Collison: ainda consegue cavar uma dúzia de faltas de ataque e dificilmente faz cagadas na defesa
É muita gente com talento aproveitável, mas praticamente todos são um cobertor curto. No papel, basta Billy Donovan ler o adversário e escolher alguém, mas na prática não é tão simples: não só a leitura é difícil, como é pedir demais que o entrosamento funcione sempre em qualquer uma das combinações pedidas.
Vimos na última semana uma partida épica e espetacular onde o Thunder derrotou o Orlando Magic na segunda prorrogação. Mas não podemos esquecer que isso só aconteceu porque eles passaram mais da metade do jogo 10 pontos atrás de um time de pirralhos da conferência Leste. Começaram bem, depois jogaram muito mal, aí então muito bem. Cada quinteto era um jogo novo.
Contra o Houston Rockets, a mesma coisa, mas perderam no final. No primeiro tempo, Andre Roberson comandou uma excelente defesa, mas não conseguiu ficar na quadra quando Westbrook saiu no começo do 3º quarto por problema de faltas, pois o time ficou sem opções de ataque. E enquanto precisavam de Kanter para sair da estagnação ofensiva, ele era abusado pelo Rockets, que atacava o garrafão sem dó do outro lado. Bastou necessitar de ajustes e o time se perdeu, e provavelmente vai ser assim por alguns meses.
Tudo isso, porém, foi para dizer que ninguém deve se preocupar com o OKC Thunder. Minha aposta é que a temporada deles vai ser boa, mas não exatamente convincente. Provavelmente muitas vitórias virão nas costas de atuações individuais surreais, não tanto em um time bem montado e encantador como o Golden State Warriors ou o San Antonio Spurs, mas vão ganhar. E muito. Preocupação de verdade nesse time, só se Kevin Durant voltar a sentir as lesões no seu pé que renderam aquelas três operações no ano passado.
Se existe um lado bom para uma temporada tão longa, além de nos dar basquete e nos curar do tédio e sofrimento da vida cotidiana, é que todos os times têm tempo e chance de experimentar tudo o que podem para melhorar. Não fosse o tamanho desgaste físico e as lesões, daria para dizer até que é um jeito de termos garantias de times bem formados e treinados nos Playoffs. Depois de 3 anos de sofrimento, quem sabe essas lesões não resolvem perdoar o Thunder, não é? Não custa lembrar que desde a final de 2012 o time não perde uma série de Playoff quando tem Westbrook, Durant e Ibaka saudáveis e jogando todos os jogos do confronto. Não que tenham sido muitas também…
No fim das contas a conclusão é simples: você prefere ter problemas para finalizar um time ao redor de Kevin Durant e Russell Westbrook ou ter o técnico perfeito, o esquema tático perfeito, o entrosamento dos sonhos e nenhum grande talento para levar o time longe? É mais difícil treinar um time ou buscar esses caras excepcionais no mercado? Em outras palavras, você queria que seu time fosse o Thunder ou o Celtics? Ter dinheiro (ou no caso da NBA, talento) pode não ser sinônimo de felicidade, mas não ter também não é.