Justo no dia que a atual temporada completou míseras duas semanas de vida, chegamos na primeira negociação do novo ano da NBA. O negócio envolve o Miami Heat e o Memphis Grizzlies: o time da Flórida enviou Mario Chalmers e James Ennis para o time do Oeste; o Grizzlies devolveu com Beno Udrih e Jarnell Stokes. Nada bombástico, e os rumores sobre Chalmers estão rodando faz tempo, mas não deixa de ser uma surpresa que um negócio aconteça tão no começo do ano.
Pensamos aqui em algumas razões e também analisamos as consequências para cada equipe.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Este é Mario Chalmers: grite com ele”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Rio1.jpg[/image]
O lado do Miami Heat
Antes de mais nada, essa troca tem um fundo financeiro. Apesar do contrato de Chalmers não ser nada de mais para a NBA de hoje, cerca de 4.3 milhões de dólares por ano, e Ennis ganhar menos ainda, 900 mil doletas, a conta fica mais pesada quando analisamos a situação toda do time. Com a extensão do contrato de Goran Dragic e Dwyane Wade, o Heat gastou um bocado nessa offseason, e a folha salarial que já era grande aumentou ainda mais. O Heat não está só acima do teto salarial, mas também do ‘luxury tax’, o limite acima do teto que, se ultrapassado, rende multas pesadas às equipes. Ao trocar 5.2 milhões em salários por 3 milhões em retorno, o Heat economiza quase 8 milhões em multas nessa temporada. Sou ruim em matemática, mas nem tanto: não estou falando só da diferença de 2.2 milhões entre os vencimentos dos atletas, mas sim das multas pagas por estar acima do teto. Quanto menor a folha, menos multas, mais economia.
Para quem tiver paciência, os números:
- O teto salarial da NBA para esse ano é de 70 milhões de dólares
- O limite do luxury tax é de 84.7 milhões de dólares
- A folha salarial do Heat passou de 92.4 milhões para 90.2 milhões
- O Heat deve pagar 2,75 dólares para cada dólar acima do luxury tax (porque esse é seu segundo ano seguido pagando multas)
- Antes o Heat iria pagar 21.1 milhões em multas, agora irá pagar 15.1 milhões
O Miami Heat não é um time mão fechada e ainda dizem com todas as letras que visam o título da NBA. Eles jamais iriam fazer uma troca idiota só para economizar, mas a verdade é que eles já não viam mais Chalmers como realmente necessário para a equipe. Tudo começou na temporada passada, quando o Super Mario não começou o ano no time titular, função dada para Norris Cole. Ele até se recuperou depois, mas viu o time buscar incansavelmente um substituto, que finalmente foi encontrado em Goran Dragic.
Até achei que o Heat ia se acalmar quando Cole saiu do time no ano passado e, nessa offseason, Shabazz Napier foi enviado ao Orlando Magic. O time mandou todos seus armadores embora e ficou só com Dragic e Chalmers, sossegaram, certo? Errado. Tyler Johnson, que tinha tido bons (e isolados) bons momentos no ano passado, explodiu na pré-temporada. Com cara de pirralho branquelo, o baixinho passou a eletrizar o banco de reservas do Heat com contra-ataques, roubos de bola e algumas das enterradas mais legais produzidas em Miami desde a saída daquele carinha lá que foi pra Cleveland. A temporada começou, Tyler Johnson manteve a boa fase e Chalmers acertou só 1 das 11 bolas de 3 pontos que tentou no ano. Simplesmente não estava fazendo falta.
A saída de James Ennis deve ter sido mais pedido do Grizzlies do que vontade do Heat se livrar do ala. Embora não estivesse jogando muito, ele poderia ser útil agora que Gerald Green foi hospitalizado e ainda não tem data pra voltar (ainda é um mistério o que aconteceu). De qualquer forma, depois de achar Hassan Whiteside e Tyler Johnson DO NADA, não duvido que o Heat ache mais um ala barato. Aliás, talvez Jarnell Stokes seja esse cara, ele mal jogava no Grizzlies e pouco sabemos ao certo sobre como ele joga. É alto, joga mais na posição 4, mas vai saber o que está escondido lá embaixo. Poder ser um novo Tony Wroten, que só foi deslanchar quando saiu das amarras da rotação limitada de Memphis.
Apesar de ter ficado famoso por ser alvo de 98% das broncas gritadas por LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh, Chalmers era querido dentro do grupo e na franquia. Jogou 7 temporadas completas por lá, tem o terceiro maior número de jogos de Playoff na história da franquia. Nos últimos dias ele chegou a perder um voo do time apenas para acompanhar Gerald Green em sua internação, para depois correr e pagar por conta própria um voo para se encontrar com o resto do grupo. Tirando Dwyane Wade e Udonis Haslem, era o cara que as pessoas mais associavam ao Heat no elenco. Calhou dele ser a combinação perfeita de salário levemente alto, algum mercado para troca e que não faria tanta falta no atual grupo.
Beno Udrih fez bonito nas vezes que teve que substituir Mike Conley, inclusive nos Playoffs do ano passado. Ele é destruidor nos arremessos de meia distância e, experiente, é daquele tipo que raramente comete erros bobos. Como nem sempre é possível confiar em pirralhos como Tyler Johnson, Udrih é uma ótima terceira opção de armador. E uma coisa que nem pesquisei mas já cravo: é o primeiro time não-esloveno a ter dois armadores eslovenos canhotos no elenco.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”O Heat contratou o único que acerta bandejas”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Beno.jpg[/image]
O lado do Grizzlies
O começo fraco de temporada do Grizzlies não me preocupa tanto, não seria a primeira vez que eles começam mal a temporada. Na era Lionel Hollins quase sempre embalavam só lá por Janeiro mesmo. O real problema do Grizzlies é que mesmo sua melhor versão, com todos os jogadores atuando bem, é cheia de defeitos. Pouca velocidade, pouca variedade de jogo, nenhum tipo de arremesso de longa distância, etc, etc. Mesmo que o Grizzlies estivesse voando nesse começo de ano, eles tinham que pensar em trocas e contratações. O começo cheio de altos e baixos (incluindo uma derrota por CINQUENTA PONTOS para o Warriors) foi apenas um empurrão extra.
Mario Chalmers pode trazer algumas coisas que faltam ao Grizzlies: mais gente para criar jogadas, um bom armador reserva e bolas de 3 pontos. Imagino ele como reserva de Conley, mas também atuando ao lado do armador principal, já que passou vários anos funcionando muito bem atuando apenas como arremessador. Lembra de LeBron James comandando o ataque com Chalmers lá só no apoio, esperando a bola para um arremesso de 3 pontos? Acontecia com alguma frequência, mesmo que Chalmers também ajudasse na armação.
As mesmas bolas de longa distância, porém, me deixam um pouco com o pé atrás. Sim, ele pode fazer chutes de longe, mas os seus anos de melhor aproveitamento são justamente os 4 que LeBron passou em Miami. Ele chegou a ter ótimos 40% de longa distância, isso enquanto era um dos melhores da NBA em roubos de bola e jogava excelente defesa. Essa é a versão que o Memphis sonha adquirir. Mas foi só LeBron sair no ano passado que Chalmers perdeu espaço, seus arremessos pioraram: de 38% de 3 pontos em 2013-14, foi para 29% no ano passado. E acho que todo mundo sabe que o Grizzlies não tem ninguém parecido com LeBron em seu elenco, né?
A aposta, porém, foi barata. Pouco usavam Udrih e Stokes e não estão acima do teto salarial. Se Chalmers chegar com as bolas de longa distância e a boa movimentação de bola, ótimo, se não der certo, é Free Agent no fim da temporada. Se Ennis for uma boa alternativa para dar vigor físico à equipe, muito bom também, se não der conta do nível defensivo do time, fica de sparring do Matt Barnes nos treinos. Foi um bom negócio para o Grizzlies, o que está longe de ser a mesma coisa que uma solução para todos os seus problemas.
Que não parem de buscar mais talento e, mais do que tudo, um cestinha. Alguém nesse time tem que ter facilidade em colocar a bola na cesta, costuma fazer a diferença no basquete.