[Resumo da Rodada] Isso está mesmo acontecendo?

No Preview da série entre Cleveland Cavaliers e Toronto Raptors eu disse, com muitíssima boa vontade, que o time canadense poderia ATÉ ganhar dois jogos. Escrevi isso pensando no Cavs meio de salto alto e fora de ritmo no Jogo 1 e, talvez, com muita sorte, nos reservas do Raptors fazendo um jogo histórico no Canadá. Por fim, disse tudo isso porque meu lado racional, que ainda lembra do ótimo time da temporada regular, me obrigou. Mas claro que apostava na varrida.

E pode falar a verdade, quem aqui achou que após 4 jogos estaríamos falando de uma série empatada?!?! Pois é nesse mundo que vivemos, amigos. O Raptors, por mais zebra que ainda seja, está a duas vitórias de uma final da NBA! E pior, se a final fosse contra o OKC Thunder, que nesse momento lidera a final do Oeste, o mando de quadra seria canadense. Tá bom que eles precisam não perder por 30 pontos ao menos uma vez em Cleveland para fazer esse sonho parecer mais real, mas empatar a série já foi um feito e tanto se a gente se basear na expectativa geral. O Evan Fournier, por exemplo, deve estar chocado:

Mas o que está acontecendo nessa série, ou melhor, nesses dois jogos em Toronto para o Raptors se recuperar assim? O que eu vi, com surpresa, foi um pouco de temporada regular! O Raptors foi ao longo do ano um time que defendia muito bem, crescia quando teve seus reservas em quadra e MATAVA O JOGO com sequências de arremessos difíceis feitos pela dupla Lowry e DeRozan. Esses aí provavelmente lideram a NBA em arremessos que você pensa “nem a pau que ele deveria ter tentado isso” e que dão certo.

Do outro lado, o Cavs voltou a parecer mais o bom time da temporada regular ao invés da MONSTRUOSIDADE PERFEITA e imparável das 10 vitórias seguidas nos Playoffs. Eles jogaram bem ao longo do ano, mas pecavam na hora de proteger a cesta de infiltrações e nem sempre acertavam seus arremessos de 3 pontos. Ontem, erraram dúzias deles completamente sem marcação e que eles teriam feito de costas contra o Atlanta Hawks. Foi um desempenho mais de acordo com o veredito de “muito bom, mas não historicamente bom” que fizemos deles nos últimos meses. No lance abaixo vemos o Cavs criar dois ótimos arremessos de longe, simplesmente eles não caem…

Legal da jogada acima é ver LeBron James jogando cada vez mais de costas para a cesta, perto do garrafão. Especialmente no primeiro e no último quarto ele não saiu dessa posição e em quase todas as vezes encontrou um passe preciso para alguém na linha dos 3 pontos. Onde LeBron NÃO consegue atuar?

Como aconteceu em todos os jogos da série até aqui, um time deslanchou a partir do segundo quarto. Dessa vez foi o Raptors, que viu Lowry morfar para sua versão Steph Curry e meter bolas de 3 em sequência, de distâncias variadas, sem um segundo de hesitação. A diferença chegou a bater os 18 pontos! Ela só não durou muito tempo, porém. No começo da segunda etapa foi a vez de Kyrie Irving e JR Smith mandarem bombas de longa distância (em arremessos bem mais difíceis que os da primeira etapa) em sequência para diminuir a vantagem, que acabou totalmente cortada, e até invertida, no último quarto.

Esse período final, aliás, foi o teste definitivo para tirarmos de vez a etiqueta de AMARELÃO desse time do Raptors. O Cavs fez seus ONZE primeiros arremessos no último quarto! Foi errar seu primeiro chute quando restavam apenas 4 minutos para o fim do jogo, mas mesmo assim o time canadense não perdeu a compostura, acertou todos os arremessos difíceis que precisava para não deixar o Cavs abrir e não se desesperou nem quando o Channing Frye entrou em modo NBA Jam. A frieza desse Raptors para lidar com uma virada que parecia vergonhosa, no último quarto, e continuar fazendo arremesso decisivo atrás de arremesso decisivo foi de tirar o chapéu. Além de Lowry e DeRozan, que fizeram a maior parte do trabalho, Patrick Patterson e Bismack Biyombo (de novo!) foram decisivos nos rebotes e Cory Joseph teve sua parte de bolas decisivas também.

De tudo o que aconteceu no jogo, destaco duas coisas que teremos que ver nos próximos jogos para ver se esses bons jogos do Toronto Raptors foram só um espasmo de grandeza ou se esse final de série vai ser mesmo mais complicado.

A primeira é a rotação de garrafão do Cleveland Cavaliers. Ontem eles começaram com Tristan Thompson e Kevin Love em quadra, mas não deu muito certo. O grande talento de Thompson é o rebote, especialmente o ofensivo Mas ele não tem conseguido fazer toda essa diferença contra Biyombo no garrafão para valer muitos minutos em quadra. Outra grande qualidade sua, a de poder trocar a marcação no pick-and-roll, quando ele fica defendendo o armador e permite ao Cavs uma defesa mais agressiva. Mas isso não usado nessa série porque o Raptors prefere infiltrar usando as jogadas de mano-a-mano ao invés das com bloqueio. Além de raramente usar o homem marcado por Thompson, no caso dessa série, Biyombo, nesses bloqueios.

Na jogada abaixo vemos como Thompson fica de lado, escondido numa inútil defesa a Biyombo, numa jogada simples e tradicional de DeRozan. No lance seguinte, o único em que Thompson foi envolvido na defesa ao longo do primeiro quarto, ele toma uma ponte aérea nas costas:

Sendo assim tão subutilizado, o técnico Tyronn Lue tem preferido usar Channing Frye ao lado de Love. Aliás, foi o que ele fez imediatamente quando pediu um tempo após a ponte aérea acima. Essa formação nova dá um poder fogo na linha dos três pontos que é difícil de defender. Mas nesse Jogo 4 o Cavs, finalmente, sentiu o peso defensivo de não ter um especialista em tocos lá atrás protegendo o aro. Lowry, DeRozan e, em alguns momentos, até jogadores secundários como DeMarre Carroll, Cory Joseph e James Johnson (!!!) conseguiram bandejas por ver que ninguém os intimidava no garrafão. Não que Thompson seja o DeAndre Jordan lá embaixo, mas ocupa mais espaço e tem mais poder físico para ir na cobertura.

O lance abaixo mostra um momento ainda mais extremo: Kevin Love, DE NOVO, nem pisou em quadra no último período e o time jogou apenas com Channing Frye no garrafão. O ataque VOOU, mas veja como não há nenhum receio de Lowry em atacar o garrafão:

No fim das contas a decisão será por qualidade: será que Tristan Thompson consegue fazer mais a diferença com tocos e rebotes de ataque para justificar seu tempo em quadra? Ou Kevin Love volta a acertar seus arremessos de longa distância para voltar a compensar os buracos que abre ao ser o único homem de garrafão na defesa?

Já o Raptors parece bem mais confortável na defesa. Abriram mão daquela defesa ultra agressiva do Jogo 1, que quis tanto fechar bolas de 3 pontos que tomou todos os pontos do mundo embaixo da cesta, e está mais eficiente com pressão mais alta na bola, fechando infiltrações e confiando na comunicação e poder físico para contestar os arremessos de longe. Quanto mais o Cavs erra, o que finalmente começou a acontecer, mais confortáveis eles ficam. Mas é no ataque que está a questão. Por quanto tempo a dupla Lowry/DeRozan se mantém fazendo 50 pontos por jogo?

Ou, vejam só, quebrando recordes de APROVEITAMENTO DE ARREMESSO como dupla nos Playoffs?

Esses são os mesmos dois caras que estavam quebrando recordes negativos há duas ou três semanas! Não que eu duvide da capacidade deles de se manter jogando bem, mas é que acho que precisam jogar MUITO bem para ter chance de vencer o Cavs mais vezes, especialmente fora de casa. Ontem o Raptors acertou 62% dos seus arremessos contestados no jogo! Vocês têm noção disso? É MUITA coisa e certamente não parece sustentável por muito tempo.

No fim da partida o Cavs começou a dobrar mais vezes a marcação sobre a dupla, que precisou fugir do mano-a-mano e procurar outras opções. Deu certo dessa vez, mas teremos que ver como os outros caras arremessam também para a dupla se sentir mais à vontade para passar a bola.

Embora ainda pareça mentira, é muito verdade: o Raptors está dando muito trabalho numa final de conferência!


RODADA DO DIA

Golden State Warriors @ OKC Thunder (22h, SporTV)


POLEMIQUINHO DO DIA

A NBA acabou por decidir que Draymond Green levará “apenas” uma multa de 25 mil dólares e não será suspenso para a partida desta terça em Oklahoma City. O argumento da liga é que sua movimentação foi imprudente, mas não com a intenção de agredir.

Os meus pitacos sobre como a NBA conduziu o caso:

  • A liga não quer um Amar’e Stoudemire-2007 de novo. Não querem decidir a série com uma suspensão
  • Mas com isso ganharam a internet dizendo que a liga só quer proteger o Warriors
  • E perderam o respeito de muitos jogadores, especialmente os que já foram suspensos

E meus pitacos sobre o que DEVERIA ter acontecido:

  • Eu não sei julgar intenção, mas realmente foi um ato imprudente
  • O ponto é: como se pune imprudência? E mais, como punir sem estragar o que gostamos, o basquete?
  • Pra mim, punição de jogo se dá no momento da infração. Existe replay pra isso
  • No mundo ideal Draymond Green teria sido expulso naquele dia e jogaria sem polêmica esta noite

Embora a notícia pareça boa para o Golden State Warriors, o Brian Windhorst da ESPN levanta um ponto interessante no podcast do TrueHoop: o Warriors é um time que joga bem quando está solto, tranquilo e confiante, mas o OKC Thunder é um time que se alimenta da RAIVA. Desde Russell Westbrook até Steven Adams, eles podem levar essa “injustiça” da punição para o lado deles e jogar com uma energia difícil de superar.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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