Como substituir Draymond Green

Caso o Golden State Warriors vença a partida desta segunda-feira contra o Cleveland Cavaliers, irá conquistar seu segundo título consecutivo, coroando uma temporada de 73 vitórias na temporada regular, um recorde da história da NBA. O ano perfeito que viu ainda mais prêmios de técnico do ano e MVP, porém, acabará de um jeito esquisito para um dos grandes nomes do elenco: Draymond Green, All-Star, alma e voz desse time, não vai jogar e nem poderá estar presente dentro do ginásio nesse Jogo 5. Ou ele assistirá o grande momento do ano (da sua carreira!) de uma televisão, como eu e você, ou verá de longe uma derrota pela qual sua ausência será certamente uma das causas.

O que aconteceu foi o seguinte: a NBA diz que se um jogador cometer quatro faltas flagrantes durante os Playoffs, será punido com uma partida de suspensão. Green já havia cometido três dessas infrações ao longo dessa pós-temporada, e a liga achou que ele cometeu uma nova ao analisar o vídeo de seu desentendimento com LeBron James no quarto período do Jogo 4.

A liga diz que o “ato de retaliação” de Green na altura da virilha de LeBron se caracteriza numa falta flagrante, então assim ela foi reclassificada, se tornando a quarta do jogador nos Playoffs. Não há o que fazer, como recorrer e nem STJD, Draymond Green só poderá pisar dentro da Oracle Arena depois que o relógio zerar no último período do Jogo 5.

Os jogadores do Golden State Warriors estão obviamente putos com a decisão. Não só porque não querem ver seu líder fora do jogo, mas porque sentiram uma politicagem da NBA e uma atitude covarde do melhor jogador adversário. Após o jogo passado, LeBron James disse na imprensa que duvidava que a liga teria coragem de suspender o ala do Warriors por um jogo, claramente usando todo o seu poder para colocar uma enorme pressão sobre a comissão liderada pelo ex-jogador Kiki Vandeweghe. Sem essa pressão, será que iriam sequer rever o lance? Os atletas do Warriors ficarem bravos também porque, como disse o próprio documento da liga, foi um “ato de retaliação”, Green foi provocado antes de qualquer coisa. Para Charles Barkley, vale dizer, o que LeBron James fez, de passar por cima de um jogador caído depois de jogá-lo ao chão, é uma das atitudes mais humilhantes que um atleta pode fazer contra outro dentro de quadra. O técnico de LeBron sabe muito bem sobre o que ele está falando.

Pode ter existido pressão e até injustiça, mas não houve falta de aviso. A questão das faltas técnicas ou flagrantes é assunto recorrente desde o início dessas finais, e o próprio Draymond Green e o seu técnico, Steve Kerr, já responderam dúzias de questões sobre o assunto. O jogador sabia que tinha que se controlar e simplesmente passar mais alguns jogos sem exagerar nos chutes no saco ou reclamações. Não que isso seja surpresa para qualquer um, mas faltou um pouco de sangue frio para o jogador mais explosivo do Warriors. Sua maior qualidade é essa energia, mas ele não soube perceber um adversário canalizando ela para o lado negativo. Errou, sem dúvida, mas isso não deixa a punição mais legal ou justa.

Pessoalmente, vejo muitos problemas em toda essa questão de suspensões. Acho que punições esportivas, por atos de jogo, devem acontecer dentro do jogo em que ocorreram e não se estender pelo futuro; também tenho restrições com punições por acumulação de infrações. Por exemplo, um grande jogador perder uma final de Copa do Mundo por causa de dois cartões amarelos distintos em partidas separadas? Como isso ajuda o futebol ou o torneio de alguma forma?! No basquete falta flagrante já é punida de maneira distinta durante o jogo, com lance-livre e mais posse de bola ao adversário, por que criar uma punição da punição? E pior, foi uma falta flagrante tardia, dada num escritório, via replay, dias depois e com toda uma carga nova de informações: entrevistas, resultado do Jogo 3, pressão dos dois lados. Se na hora do jogo, USANDO O REPLAY, os árbitros não deram a falta flagrante, pra que ficar batendo nessa tecla depois? É algo assim tão criminoso para fazer uma FINAL da NBA ficar sem um jogador importante por um jogo inteiro?

Como torcedor nunca quero ver um jogador suspenso de nenhum lado, odeio esses asteriscos, quero todos os times envolvidos, especialmente numa fase tão aguda do torneio, jogando com sua força máxima. Claro que podem haver exceções, caso alguém suba na arquibancada para socar um torcedor, mas por faltas de jogo? Não aprendemos nada com a suspensão de Amar’e Stoudemire e Boris Diaw?!

Bom, mas discordar disso não muda o fato de que teremos um jogo decisivo sem Draymond Green em quadra. Apenas a segunda vez que o Warriors estará desfalcado do ala em todo o jogo, sendo a primeira uma rara DERROTA para o Denver Nuggets, fora de casa, na temporada regular. Então que opções o Golden State Warriors tem para compensar a falta do jogador?

1- Mais Andrew Bogut

O pivô australiano já teve alguns bons momentos nessa série mas, em geral, tem sido usado apenas na primeira metade do primeiro quarto e na primeira metade do terceiro quarto. Quando ele sai, Andre Iguodala entra e o time joga no seu tradicional small ball, uma formação mais baixa com Draymond Green de pivô. Sem essa opção, e se Bogut passasse mais tempo em quadra?

Uma das principais funções de Green no time é o de ser a última linha de defesa no garrafão, contestando as infiltrações de Kyrie Irving e LeBron James. Ele teve muito sucesso nesse tipo de lance no último jogo, e é algo que Bogut é capaz de reproduzir (como fez no Jogo 2). O que o australiano não consegue fazer é ter a versatilidade ou velocidade de Green para fazer outras coisas AO MESMO TEMPO que realiza essa proteção. Green costuma correr pela quadra, contestar arremessos e às vezes até marcar caras com a bola longe do garrafão. Bogut é lento demais para isso e poderá ser facilmente explorado se cair marcando um cara mais baixo que ele longe da cesta.

Abaixo vemos um dos problemas de ter Bogut em quadra, que é sua falta de habilidade para contestar arremessos após um corta-luz:

Por outro lado, Bogut causa muuuitos problemas quando Kyrie tenta infiltrar ao invés de arremessar:

Uma opção de Steve Kerr é tentar conviver com isso tudo e ver no que dá. Parece amador, mas é verdade! E se Bogut der um jeito de não apanhar desses caras? E se ele der dois passos para trás e desafiar os caras a arremessarem de longe? Talvez sofram com a pressão e errem os arremessos. De todas as opções essa é uma quase certeira, Bogut deve começar o jogo em quadra e Kerr, mais que em qualquer outra partida, vai ver como o ataque do Cavs vai lidar com suas características. Se não ocorrer um estrago fatal, podemos ver mais do pivô em quadra além desses minutos iniciais.

2- Novos pick-and-rolls

Isso nem vai ser tanto novidade porque o Golden State Warriors tem sido obrigado a achar novas soluções ao longo dos Playoffs, mas novamente vão ter que fugir do tradicional pick-and-roll entre Steph Curry e Draymond Green. Contra o Thunder eles fugiram da jogada porque o duelo Curry/Durant não estava dando certo, contra o Cavs eles saíram um pouco dessa jogada no Jogo 4 porque Green parou de acertar os arremessos que o Cavs estava dando de graça pra ele tentar. Como bem mostrou o Danilo no resumo da partida, o corta-luzes entre Curry e Klay Thompson foram muito mais devastadores e devem ser utilizados de novo até que o Cavs aprenda a não se perder entre eles.

O Cavs também adotou a mesma estratégia de deixar alguém livre quando era Andre Iguodala fazendo essa jogada com Curry, então dá pra esperar mais do mesmo. Se Iguodala ficar livre muitas vezes para infiltrações ou arremessos, sinal que o Cavs não mudou os planos de simplesmente fazer tudo para parar apenas os Splash Bros. O problema (para o Cavs) é que Iguodala tem o mesmo talento criativo de Green para saber o que fazer quando receber a bola.

3- ULTRA Small Ball ou pivô de fim de banco?

A grande característica que permitiu ao Warriors se tornar um dos primeiros (ou o primeiro) times a conseguir ganhar com a velocidade de um quinteto baixo sem perder sua capacidade defensiva é a habilidade de Draymond Green segurar a barra lá dentro do garrafão, seja na defesa de infiltrações, de pivôs adversários ou no rebote. Sem ele é difícil imaginar o time passando muito tempo com quinteto baixo.

No jogo passado, a alternativa para manter a mobilidade sem perder presença de garrafão foi James Michael McAdoo, que sequer pisava em quadra há anos! O menino entrou bem até e pode ganhar novos minutos. Se quiser deixar um pouco a defesa de lado e se focar em empilhar pontos, Kerr pode apostar em Mareese Speights. Ou Anderson Varejão pode tentar repetir a sequência de rebotes de ataque e faltas cavadas que conseguiu em Cleveland. Tudo isso já foi testado antes, às vezes até no mesmo jogo, e não é de se surpreender se Kerr usar um pouco de todos e simplesmente dar mais tempo para quem estiver melhor em quadra.

Mas e se não for nenhum deles? Será que Kerr é maluco para arriscar minutos importantes com um “”””garrafão”””” de Andre Iguodala e Harrison Barnes cercados de Steph Curry, Klay Thompson e Shaun Livingston? Seria a correria de todas as correriar, com muita capacidade de pressionar a defesa adversária, mas com pouca condição de contestar bandejas ou mesmo para lutar pelos rebotes com Tristan Thompson. Se o Cavs, porém, não conseguir pontuar contra esse grupo, tem tudo para ser ATROPELADO do outro lado da quadra. Um Jogo 5, pra fechar um CAMPEONATO, é hora de inventar? Eu não duvidaria de ver essa divertida aberração em quadra por algum tempinho…


Não tenho dúvidas de que o Warriors é o time mais versátil da NBA na atualidade, mas se tem um jogador que todos concordam que é difícil de substituir é Draymond Green. Ele é o coringa que é enfiado em qualquer quinteto do Warriors para fazê-lo funcionar: dá a defesa ao time baixo, a velocidade ao time alto, a movimentação de bola para o grupo sem arremessadores, etc. etc. Será que por um jogo o cara insubstituível pode ser trocado por um (ou vários) outros? E onde será que Green vai assistir a partida? A NBA está pensando em liberar ele para ver de algum lugar da arquibancada ou camarote, o que parece uma decisão inteligente. Se não rolar, porém, que Green use um bigode falso e pegue um lugar lá na parte mais longe da quadra. Ninguém vai dedurar.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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