Quando você, amigo que está começando a acompanhar a NBA, estiver lendo sobre o seu time, irá se deparar com algumas questões confusas. Afinal, por que não vendemos aquele cara ruim? Por que não usamos toda essa grana que temos para comprar o passe de LeBron James? Por que só meia dúzia de times parecem ter chance de contratar esse tal jogador? Isso tudo acontece porque a NBA tem regras bem complexas (pra não dizer chatas), sobre salários, contratações e negociações de jogadores.
O tema pode soar avançado demais para quem está começando, mas garanto que vai ajudar e eventualmente até ser divertido. Uma das coisas mais legais que nós, fãs, fazemos com o tempo livre é inventar negociações e trocas hipotéticas entre equipes. Se ainda está inseguro, dê uma olhada nos outros textos dessa nossa ‘Semana dos Novatos’
Parte 1: Como começar a acompanhar a NBA?
Parte 2: Entenda os termos do basquete da NBA
Parte 3: Como ler um boxscore?
Podcast Zero: Comece pelo começo no mundo do Bola Presa e da NBA
O teto salarial
O mais básico a se entender é que a NBA tem um teto salarial, um limite de gastos que cada time pode gastar com salários de seus jogadores a cada ano. Neste ano esse teto salarial é de 94 milhões de dólares, um salto ENORME sobre os 70 milhões da temporada passada. Um aumento recorde que foi explicado neste post.
O teto salarial foi criado na temporada 1984-85, estabelecendo o limite de míseros 3,6 milhões de dólares em gastos para cada equipe. Antes disso ainda havia acontecido uma outra tentativa de implantação de teto salarial nos anos 40, mas foi abandonada depois de apenas uma temporada. O teto salarial é definido pela CBA antes do início de cada temporada, em julho, usando previsões de ganhos da liga na temporada seguinte, o BRI (Basketball Related Income) como parâmetro. Guenta as siglas que a gente explica!
— Veja a folha salarial de todos os times da NBA —
A CBA não é a “Continental Basketball Association“, liga de basquete famosa nos EUA, e sim o “Collective Bargaining Agreement“, um contrato assinado entre a NBA e a Associação de Jogadores que define o teto salarial e outras questões relacionadas a contratos, obrigações e direitos dos jogadores e times. Foi um impasse nesse acordo, aliás, que causou a greve (um locaute, na verdade) de 2012, quando a temporada foi começar só em dezembro daquele ano!
Já o BRI, usado para definir o valor da teto, implica basicamente em tudo o que a NBA vai faturar. Isso quer dizer dinheiro de ingressos para jogos de temporada regular e playoffs, direitos de transmissão para TV, estacionamento das arenas, patrocínios, dinheiro ganho por aparições de mascotes e equipes de cheerleadres em eventos, porcentagem por uso de área de propaganda nas arenas, venda do pacote de League Pass ao redor do mundo, aplicativos da NBA para iPhone e etc. É o PIB da NBA! O valor do teto é o BRI, menos alguns benefícios dividido por 30, o número de times na liga.
Contratos e trocas
Os jogadores sob contrato se tornam propriedade do time. Eles jogam por essa equipe até o fim do acordo, e só mudam de time se seus “donos” decidirem o trocar. A negociação na NBA nunca é uma venda, mas uma troca. Negocia-se um jogador em troca de outro. Pode ser troca 3 jogadores por 1, 2 por 2, 4 por 2, tanto faz. Também é possível acrescentar escolhas de Draft para apimentar as coisas.
Os salários, porém, podem restringir trocas. Times que estão acima do teto salarial não podem receber mais salários do que estão mandando em uma negociação, por exemplo.
Free Agents
Quando o contrato de um jogador acaba, ele se torna um Free Agent. É nesse momento que o atleta é, finalmente, livre! Sem as amarras de uma equipe, ele pode conversar com qualquer franquia da NBA e acertar um novo contrato. Não há luvas ou compra, simplesmente acerta-se o contrato de X milhões por Y anos. Times acima do teto salarial, porém, podem apenas oferecer contratos pequenos de valor fixo e não muito atraente, são as exceções.
Nesta temporada, por exemplo, Kevin Durant se tornou um Free Agent. Embora na teoria qualquer time pudesse tentar contratá-lo, sabíamos que ele queria um contrato avaliado em quase 20 milhões de dólares por ano. Nessa situação, ele só marcou reuniões com times que tinham esse espaço na folha salarial.
Cada jogador, dependendo de quantos anos de experiência na NBA tem e quanto era seu salário anterior, pode receber um salário máximo diferente. O “contrato máximo” de Durant, portanto, é diferente do máximo que Hassan Whiteside recebeu do Miami Heat, por exemplo. Jogadores experientes e que já ganhavam bem são favorecidos.
Mais detalhes
Uma característica importante do teto salarial da NBA é que ele é um “soft cap”, ao contrário das ligas de hóquei e de futebol americano que são “hard cap”. Isso quer dizer que o teto dessas outras ligas são duros como pedra, não há como escapar dele, o da NBA tem um teto solar pra dar uma escapadinha.
As ligas com “soft cap” tem algumas exceções que fazem com que o limite possa ser ultrapassado em alguns casos. E a verdade é que quase sempre os times da NBA estão acima desse limite. Apenas 8 times estão abaixo do teto salarial no começo desta temporada 2016-17.
Se dá pra escapar, por que ter um limite salarial, afinal? A sacada do “soft cap” é que você pode escapar do limite mas paga por isso. A ideia é inibir gastos, ou criar a sensação que você está pagando sem receber nada em troca, isso impede que aconteça o que rola na MLB, a liga profissional de beisebol. Lá, o time que mais gasta com salários paga DUZENTOS milhões de dólares a mais que o time mais pobrezinho. Como competir?
A primeira mamata na hora de ultrapassar o teto salarial da NBA está no chamado “tax level“, que é uma quantidade determinada pela NBA da qual os times podem ultrapassar o teto salarial sem uma punição. Times nessa situação não sofrem, mas não recebem benefícios também. Neste ano, esse tax level está marcado em 113 milhões de dólares e vai atingir 4 equipes.
Então, em resumo, para esta temporada, temos QUATRO times acima do tax, OITO abaixo do teto salarial, e DEZOITO naquele miolo de acima-mas-nem-tanto do teto. Veja o que acontece com cada uma delas:
Acima do teto: A equipe acima do teto paga de 1,50 dólares a 3,50 dólares para cada dólar acima do teto em multas. Quanto mais acima, mais pesada a taxa. O Cleveland Cavaliers, por exemplo, vai pagar 1,75 dólares para cada um dos 7 milhões de dólares que está acima do tal ‘tax level’. Então além dos 120 milhões que eles pagam de salários, gastarão 12 milhões em multas.
Abaixo do teto: Equipes abaixo do teto são as que recebem o dinheiro proveniente dessas multas! Então esses 12 milhões do Cavs vão direto para os cofres de times como o Brooklyn Nets ou o Philadelphia 76ers.
No meio do caminho: Não pagam multas, mas não recebem dinheiro extra também.
Mas não é só dinheiro. Os times acima do teto salarial também sofrem restrições na hora de contratar jogadores, algo que expliquei com detalhes demais neste post. Um time que gasta muito, portanto, é um time engessado e com dificuldade de movimentar seu elenco com trocas ou novas contratações. É esse o mecanismo que a NBA criou para que os times mais pobres e os mais ricos lutem com alguma igualdade.