Chicago Bulls? Nunca critiquei

As previsões do Bola Presa para o Chicago Bulls nesta temporada não foram das mais otimistas. Seja no nosso preview, seja nos podcasts, não cansamos de dizer que esse time tinha tudo para dar errado. É de conhecimento geral que a equipe foi montada meio que no improviso, com Rajon Rondo e Dwyane Wade meio que caindo no colo da franquia, indo até contra os pedidos do técnico Fred Hoiberg de como remontar o elenco, e achamos que a coisa não ia pra frente.

Mas aqui estamos com uma semana de temporada e o Bulls venceu os seus três primeiros jogos, contra Indiana Pacers, Boston Celtics e Brooklyn Nets, teve o melhor ataque da NBA neste curto período e todo o nosso papo sobre como a total falta de arremessadores de longa distância parece não fazer a menor diferença. No primeiro jogo o trio de Rondo, Wade e Jimmy Butler fez chover da linha dos 3 pontos e depois, quando os arremessos deles pararam de cair, o ataque continuou voando mesmo assim. Eles só foram perder o primeiro jogo nesta quarta, em Boston, numa revanche do Celtics.

Mas afinal, por que esse time está dando certo no comecinho de ano? Separamos aqui algumas jogadas para ver como o técnico Fred Hoiberg está usando seu elenco diferentão para conseguir fazer um ataque eficiente na era das bolas de 3 pontos.

Começamos com essa bela infiltração de Jimmy Butler contra o Indiana Pacers:

Separei esse lance porque achei que é um dos que mostrava da melhor maneira como está sendo difícil marcar o Bulls. Reparem como, ao contrário do que acontecia com esse mesmo time na temporada passada, TODOS os jogadores estão sempre fazendo alguma coisa ao longo de todo o lance. Soa básico, mas a movimentação intensa e constante não estava lá antes.

Na primeira parte vemos bloqueios seguidos para que Doug McDermott receba a bola na altura da cabeça do garrafão, onde ele surpreende a defesa ao ir para a enterrada ao invés do arremesso. Com o erro, Rondo salva a bola e o ataque recomeça. É então que Butler faz a outra parte desse ataque que está dando certo, a infiltração. É difícil achar posses de bola em que ao menos um jogador do Bulls não force a defesa a se mexer um drible em direção à cesta. Destaque aqui também para como Butler não fica batendo bola meia hora antes de decidir atacar, erro que ele mesmo e Derrick Rose faziam sem parar há um ano.

Outra diferença em relação ao ano passado é que Wade e Rondo são melhores passadores que Rose, fazendo o pick-and-roll render alguns pontos fáceis quando a defesa morde a isca:


Os outros times sabem que os jogadores do Bulls querem entrar no garrafão, e sabem que para poder segurar o poder ofensivo deles, especialmente de Butler e Wade, eles devem congestionar a área próxima à cesta. No lance abaixo Jeremy Lin não tem nenhum pudor em ESQUECER de Rondo, que não é uma ameaça como arremessador, para fechar espaço de Butler. O porém? Butler vê Lin chegando, gira para o outro lado e faz a cesta do mesmo jeito. Talento é talento.

Neste outro lance a ação anti-infiltração é de Justin Hamilton, que resolve fechar espaço de Wade durante um pick-and-roll dele com o pivô brasileiro Cristiano Felício. Ele não é agressivo na defesa de Wade porque sabe da capacidade do adversário de passar por ele no drible, então ao invés disso o ala do Nets dá espaço para o arremesso e fecha a linha de infiltração.

Novamente parecia a estratégia perfeita, mas Wade encontrou um passe maravilhoso para Felício, que então deu mais um belo passe para McDermott que, como citamos acima, fez o que todos os jogadores do Bulls têm feito nesse começo de temporada: cortou em direção à cesta.


Sem os arremessos de longa distância como arma, o Bulls tem também utilizado os tiros de meia distância para aliviar os momentos em que as defesas entopem o garrafão de defensores. Sabemos que estatisticamente esse tipo de chute é o pior do basquete: aproveitamento digno de arremesso de três pontos (baixo), mas valendo um ponto a menos.

O nível de acerto do time nesse tipo de bola não tem sido muito bom mesmo, provando que a galera dos números está certa. Veja como o Bulls ainda acerto abaixo da média da NBA (LA, na sigla) em boa parte dos setores.

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Em compensação, Taj Gibson, o jogador que passa mais tempo com os não-arremessadores do time (Rondo, Butler e Wade), apresenta performance melhor:

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Um exemplo de como ele consegue esses arremessos está no lance abaixo: Avery Bradley pode até não ficar colado em Wade, mas não tem como abandonar o jogador para ir lá defender Gibson após o pick-and-pop.


Mas acho que o segredo do Chicago Bulls para conseguir tantos arremessos bons nesse começo de temporada está na velocidade com que conseguem chegar no ataque. Sempre que possível, especialmente com seus titulares em quadra, eles tentam transformar qualquer rebote defensivo ou uma roubada de bola em ataque rápido.

O propósito é simples: se o objetivo do time é entrar no garrafão e infiltrar na defesa adversária, melhor fazer isso quando o outro time ainda não teve tempo de posicionar seus jogadores. Nesse primeiro lance vemos a soma dessa velocidade com o talento absurdo do trio Rondo, Wade e Butler:

Neste outro lance Wade nem tem o caminho livre para a cesta, mas mesmo assim não hesita em se aproximar o máximo possível do garrafão e arremessar um clássico fade away que ele enjoou de fazer ao longo da carreira:

No próximo vídeo vemos um lance onde dá pra ver que eles realmente forçam a barra para acelerar o ritmo do jogo. Quando não conseguem fazer o contra-ataque clássico, com vantagem numérica, fazem o que chamamos de semi-transição, que é um ataque rápido, sem passes para trás e sem parar a bola, mas ao mesmo tempo sem aquela correria que rende uma bandeja sem marcação:

Vejam como Wade tentou correr, viu o garrafão fechado e então, ao invés de parar o lance e recomeçar tudo, viu Taj Gibson correndo e arriscou essa estranha ponte-aérea que deu certo. A mesma pressa para chegar ao campo de ataque aparece nesta outra jogada:

O último lance é outro contra-ataque, mas dessa vez ainda mais impressionante porque não veio de um arremesso errado do outro time ou de um roubo de bola, mas de um arremesso que o Brooklyn Nets ACERTOU.

A acelerada de bola rendeu a Butler um garrafão vazio, sem proteção, já que Brook Lopez ainda caçava seu irmão e Trevor Booker nem tinha retornado do ataque. Uma bandeja fácil para o talento de Butler.


Com um time recheado de jogadores que passam bem a bola e que sabem infiltrar como poucos na liga, Fred Hoiberg fez um bom trabalho em conseguir montar um esquema tático que tenta usar esse talento bruto o máximo de vezes possível. Mas será que é sustentável? Até certo ponto, sim. Uma das coisas mais difíceis e trabalhosas de se defender na NBA são times que se mexem sem parar e que tentam atacar o aro. Exige esforço e organização que muitos times médios por aí não apresentam, especialmente na primeira semana. Por outro lado, as outras equipes vão se adaptar a esse estilo e cada vez mais vão pagar pra ver eles arremessando.

No vídeo abaixo, por exemplo, vemos como a defesa do Boston Celtics começa bem a defesa, mas depois dá uma segurada que custam os pontos. Quando Wade tenta entrar no garrafão, não há razão para Isaiah Thomas ou Jae Crowder hesitarem tanto em deixar seus jogadores para irem lá ajudar. Claro que Wade ataca em milissegundos, mas é algo que deveria ter sido feito até mesmo antes da passada do jogador do Bulls.

Nos Playoffs, com mais descanso e defesas personalizadas e fortes é possível imaginar que a falta de arremessadores vá machucar o Bulls mais do que nesta primeira semana, mas é legal ver como eles criaram tão rápido um jeito de driblar isso. Não é fácil montar em tão pouco tempo um sistema ofensivo com tanta gente se mexendo ao mesmo tempo sem que as peças batam cabeça.

É possível se animar, torcedor do Bulls, mas o problema dos arremessos continuam. É preciso com Doug McDermott, Nikola Mirotic e Isaiah Canaan consigam atuar bem na defesa, o que foi um problema para todos no passado, e que acertem suas bolas de longe. Quanto mais delas, mais espaço para que Wade, Butler e Rondo continuem fazendo o que fazem de melhor.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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