[Resumo da Rodada] A vitória do basquete antiquado

Existe alguma vantagem em jogar uma partida decisiva sem dois titulares? E quando um deles é, com sobras, o seu melhor jogador? Difícil pensar que há QUALQUER coisa boa nisso, mas o San Antonio Spurs conseguiu arrancar a improvável limonada da situação. O time de Gregg Popovich foi para Houston enfrentar o Rockets em situação de vantagem – 3 a 2 – e com a certeza de que poderia voltar para seu ginásio em um eventual Jogo 7. Lá, provavelmente Kawhi Leonard estaria inteiro e de volta para comandá-los como fez ao longo da temporada.

O resultado foi um time solto, com um bando de coadjuvantes sem nada a perder brincando de fazer história, enfrentando um time que SENTIU O GOLPE. Não sei se foi a derrota traumática em um Jogo 5 que pareceu escapar pelos dedos, se foi a pressão da obrigação de vencer ou simplesmente o time perdendo a confiança ao ver sua maior estrela, James Harden, DERRETER na frente de todo mundo. De qualquer forma, o bando de role players do Spurs, que outro dia mesmo estava jogando mal e sem confiança, atropelou o Rockets e venceu por TRINTA E NOVE pontos de vantagem num dos jogos mais esquisitos destes Playoffs.

A Lei Universal das Lavadas diz que vitórias por tamanha diferença nunca são só mérito ou só culpa de um dos lados, tem que haver uma combinação de fatores. Vamos então ver primeiro o que o San Antonio Spurs fez de certo para depois pisar na lama.

A tal da leveza que citei acima ao falar do Spurs é fácil de ser vista na velocidade e precisão com que o time executou o que queria no ataque. Na hora de passar a bola os passes saiam rápido, na hora de infiltrar não havia hesitação, e quando LaMarcus Aldridge recebia em situação de pontuar, ele ia para cima. Como o próprio disse após o jogo, ele entrou em quadra disposto a arremessar, seja com marcação ou sem, chute difícil ou não. É a determinação que faltou ao próprio Aldridge muitas vezes desde que chegou a San Antonio. Tá difícil aí, LaMarcão?

Sem Leonard, restou ao Spurs usar muito do livro de jogadas de alguns anos atrás, quando o time era o melhor de toda a NBA em movimentar a bola. A diferença agora era não ter as infiltrações de Tony Parker, a genialidade dos passes de Boris Diaw e nem o poder de fogo da linha dos 3 pontos que o elenco campeão de 2014 possuía. A versão atual híbrida somou 32 assistências, mas boa parte delas veio com jogadas que começavam no garrafão com Aldridge, que DOMINOU Clint Capela, e com Pau Gasol, que finalmente conseguiu tirar proveito do fato de ser marcado por James Harden por boa parte do duelo.

Em um conflito de gerações, o passado venceu e o Spurs não só destruiu o time revolucionário que chuta 40 bolas de 3 por jogo com o fizeram com dois jogadores clássicos de garrafão, jogadas de costas para a cesta, ritmo lento e, vejam só, míseros 5 acertos em 22 bolas de 3 pontos tentadas. Será que o General Manager do Rockets, Daryl Morey, morre um pouco por dentro ao ver seu time ser eliminado por um adversário que tentou tantos arremessos de meia distância?

shotchart

Não que ele não saiba do risco disso acontecer. Seus modelos estatísticos dizem respeito ao longo prazo, não a um jogo específico, mas é cruel demais que tenha ocorrido no dia mais importante da temporada para seu Houston Rockets.

Mérito total para Gregg Popovich que, apesar de colocar boa parte da responsabilidade ofensiva nas costas de Kawhi Leonard ao longo de todo ano, bem mais do que é o comum para um time normalmente tão coletivo, ainda montou um time onde todos sabem como jogar, o que fazer e para onde ir. Não houve um lance onde o time pareceu confuso e estagnado, como aconteceu com o Rockets no fim do Jogo 5, com todo mundo esperando James Harden fazer alguma coisa e NADA acontecer.

Há poucos dias, o armador Dejounte Murray, que nem PISAVA em quadra, foi titular para suprir a ausência de Tony Parker, machucado. Seus primeiros minutos do Jogo 3 foram MEDONHOS. Relembrem com a ajuda do pessoal do HoopsHype:

Adiante uma semana e Murray fez 10 pontos, 11 rebotes, 5 assistências e ainda marcou muito bem James Harden quando Simmons não pode fazê-lo. No ataque, infiltrou bem e foi decisivo no terceiro período que cimentou qualquer chance de reação. Como tudo mudou tão rápido?! Que magia esse time usa?!

E teve ainda Jonathan Simmons, que entrou pra jogar só quando Kawhi torceu o tornozelo no Jogo 5, começou a marcar James Harden, marcou 18 pontos ontem e forçou o Barba a 1/6 arremessos e SEIS turnovers quando o marcou nessas duas partidas:

Em resumo, TUDO o que poderia dar certo para o Spurs, deu. Desde os coadjuvantes com atuações precisas até LaMarcus Aldridge finalmente dominando o garrafão. Certamente Nenê fez MUITA, mas MUITA falta nesses jogos, desde sua experiência até a habilidade de marcar os caras mais altos e evitar os 14 rebotes ofensivos do Spurs, mas dá até vergonha colocar uma lesão na conta dessa derrota quando o Spurs jogou sem Kawhi e Parker.


Mas e o que DIABOS aconteceu com James Harden?! O possível/provável MVP da temporada regular deixou a quadra com 10 pontos (2/11 arremessos!), 7 assistências e 6 turnovers. Alguns de seus erros só são explicados por puro nervosismo e falta total de confiança, já que sabemos que ele não é ruim e porque não dá pra estar exausto no primeiro quarto (como ele claramente estava na prorrogação do Jogo 5). Ver ele abrindo mão de arremessos simples para tentar acionar um Eric Gordon fora de posição ou um Trevor Ariza bloqueado por defensores mostra como ele não estava disposto a confiar no seu arremesso, talvez porque o plano de jogo fosse buscar outros arremessos de maior aproveitamento depois de sua dificuldade de converter contra a defesa do Spurs nos jogos anteriores:

Um parágrafo do Matt Moore, da CBS, resume bem a atuação dele:

Este jogo já é e será considerado como um marco para a candidatura de Harden ao prêmio de MVP, seu status como super estrela, o valor de Mike D’Antoni como técnico, o estilo de jogo de Harden e se ele pode um dia ser bem sucedido nos Playoffs. É a condenação de toda uma temporada e até da carreira de Harden. Sim, foi ruim assim.

Um jogo não apaga uma campanha inteira, uma má atuação também não, mas essa vai ser difícil de esquecer. Primeiro pela situação, depois porque lembra demais outra atuação péssima do barba: no Jogo 5 da final do Oeste de 2015, quando o Rockets perdeu para o Golden State Warriors, Harden também deu adeus a uma temporada com um jogo PÉSSIMO: 14 pontos (os mesmos 2/11 arremessos de ontem), 6 rebotes, 5 assistências e TREZE turnovers, recorde negativo da história dos Playoffs. É o clássico momento do “amiga, assim fica difícil te defender”: duas das suas piores atuações na carreira foram quando seu time jogava para evitar a eliminação.

Jogos ruins em momentos decisivos acontecem. Geralmente começa com algo tático ou técnico, um ajuste do adversário e a coisa vira uma bola de neve emocional. Já aconteceu com os melhores, quem não lembra de LeBron James sem saber o que fazer contra o Dallas Mavericks em 2011? Mas esses jogos de Harden são daqueles que nos fazem começar no tornozelo torcido há um mês, no quadril que apanhou há algumas semanas… sei lá, é uma daquelas atuações difíceis de engolir. Chegou ao ponto de Harden e D’Antoni serem perguntados, na coletiva de imprensa, se Harden havia jogada lesionado, o que ambos negaram.

O resto do time não se salvou: vimos Patrick Beverley hesitar antes de arremessos que tentou ao longo de todo ano, Lou Williams e Eric Gordon (de novo!) somaram só 5 acertos em 16 arremessos tentados e Ryan Anderson saiu de jogo ZERADO. Tirando Trevor Ariza (20 pontos, 5 bolas de 3), ninguém se salvou. Muitos poderiam e deveriam ter feito mais, mas vários dependem de Harden criando jogadas, atacando a cesta e costurando a defesa como fez ao longo do ano. Quando ele tem um jogo tão ruim é difícil para o resto do time pegar no tranco. Já aconteceu, como na série contra o OKC Thunder, mas dessa vez não houve resgate.

O pior de tudo é que Harden não teve apenas dificuldades contra a defesa, ele também parecia decidido a não dar os arremessos que o Spurs lhe entregava (floaters e bandejas longas) e abriu mão de arremessos razoavelmente livres para tentar acionar outros companheiros que estariam, supostamente, em condições melhores de arremessar, com maiores porcentagens de aproveitamento. Mas com isso Harden teve que ter um jogo pouco agressivo, beirando a APATIA, não deu NENHUM ARREMESSO NO PRIMEIRO QUARTO e a defesa do Spurs conseguiu fazer o que queria: tapar os espaços do elenco de apoio e impedir que os passes do Harden alcançassem seus alvos, especialmente na zona-morta e para Clint Capela dentro do garrafão. O pivô do Rockets só foi acionado longe da cesta, onde é incapaz de bater bola e gerou roubos de bola fáceis para o Spurs.

É apenas um jogo, mas serve como um dos argumentos para legitimar o modelo do Spurs de um basquete versátil, em que todos os jogadores podem contribuir de maneiras diferentes em quadra, e que não foge de um estilo antiquado quando vê nele o necessário para esmagar o oponente. Enquanto isso, o estilo moderno do Rockets foi incrivelmente bem sucedido na temporada, especialmente quando levamos em consideração as limitações do elenco, mas não soube mudar, improvisar, se adaptar no momento mais importante. Pelo contrário: quando teve que pensar mais, se controlar mais e garantir que faria tudo com zelo e cuidado, se saiu MUITO PIOR, distante do ritmo, da criatividade e da confiança que marcaram sua temporada. Vimos as limitações do estilo mais sedutor da NBA depois de Popovich expor todas as suas falhas e, no momento mais importante, impor seu estilo de jogo com ampla vantagem.

Para os fãs do Rockets, como o Danilo, agora só resta aceitar a derrota e pensar em como esse estilo de jogo pode evoluir e se adequar (além de ter que aguentar todas as piadas e as críticas, claro). No nosso grupo de assinantes do Bola Presa no Facebook, o Danilo apostou com o Murilo, um torcedor fanático pelo Spurs, que o torcedor cujo time saísse derrotado teria que pagar uma pizza para um outro assinante sorteado durante um jogo das Finais. Mas pior do que pagar a pizza é aguentar a provocação: até MINI-PODCAST ESPECIAL rolou com o Murilo, por conta própria, lendo mensagens de outros assinantes para o Danilo e até o nosso editor Brunão entrou na brincadeira:

Agora o Spurs já precisa pensar no Warriors e garantiu que Kawhi Leonard estará de volta. Aguardem, em breve, o Preview do Bola Presa para essa série!

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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