Depois de meses e mais meses de especulações, polêmicas, pedidos de demissão, acusações, dispensas e muita abobrinha falada pelas partes envolvidas, a troca finalmente aconteceu: Anthony Davis é do Los Angeles Lakers. O negócio foi confirmado na noite deste sábado, menos de 48 horas depois da temporada 2018-19 ter acabado. O Toronto Raptors ainda nem voltou para casa para fazer sua festa (estão celebrando em Las Vegas antes) e a NBA já deu passos importantes para definir como será a temporada 2019-20.
Para conseguir a Monocelha sonhada por LeBron James, o Lakers precisou abrir mão de muita coisa. Vão para o New Orleans Pelicans o trio Brandon Ingram, Lonzo Ball e Josh Hart e mais três escolhas de Draft. Uma delas é já a desse ano, a 4ª Escolha. As outras ainda não foram divulgadas, mas devem ser as de 2022 e 2024, com possivelmente o Pelicans ainda tendo a opção de inverter posição com o Lakers no Draft de 2021 caso haja interesse.
ATUALIZAÇÃO – A lista das escolhas enviadas foi divulgada:
Escolha 4 no Draft de 2019
Escolha de 2021 desde que não esteja no Top-8 (se estiver, o Pelicans fica com a de 2022)
Possibilidade de inverter posições no Draft de 2023
Escolha de primeira rodada de 2024
Possibilidade de inverter posições no Draft de 2025
A proposta da troca não é tão diferente daquela feita e recusada no começo deste ano, mas algumas coisas importantes mudaram de lá pra cá. A primeira é uma troca no comando das duas equipes: Dell Demps era o General Manager do Pelicans na época, mas acabou demitido ao fim da temporada. Ele foi o primeiro a acusar uma armação por parte do Lakers para tentar arrancar Anthony Davis da sua equipe. O jogador é agenciado pelo Rich Paul, amigo pessoal e empresário de LeBron James, e foi ele quem colocou em público a EXIGÊNCIA de Davis de sair do time. Demps considerou a atitude antiética e deu a entender que faria de tudo para segurar Davis ou trocá-lo para qualquer outro time.
O engraçado é que Dell Demps até conversou com o Lakers, mas curiosamente logo depois vazou para a imprensa que o time de Los Angeles estava oferecendo basicamente TODOS os seus jogadores no negócio, informação que acabou sendo decisiva para implodir o clima no vestiário do Lakers e criar aquele caos insuportável que foi o fim de temporada da equipe. Magic Johnson, então presidente do LA Lakers, acusou o Pelicans de “negociar de má-fé” na ocasião. Magic, dizendo que estava infeliz no cargo e acusando o General Manager Rob Pelinka de falar mal dele pelas costas, pediu demissão antes do último jogo do ano.
Sem Dell Demps e Magic Johnson na mesa de negociações, o clima ficou mais leve. Pelinka ganhou poderes no Lakers enquanto David Griffin, ex-GM do Cleveland Cavaliers, assumiu o comando do New Orleans Pelicans. Depois de contratar sua equipe, colocar um pouco de ordem na casa, planejar o futuro e dar a SORTE GRANDE de vencer o sorteio do próximo Draft, garantindo o futuro com o fenômeno Zion Williamson, David Griffin disse ao resto da NBA que estava pronto para receber ofertas pelo Monocelha.
O Lakers voltou com tudo para as ofertas. Colocou sua juventude e seu futuro na mesa, mas ainda tentou segurar ao menos um nome da molecada. O time conseguiu manter Kyle Kuzma, mas ainda não sabemos se isso aconteceu por ele ser o favorito do time ou se o Pelicans que cravou que Brandon Ingram e Lonzo Ball eram fundamentais das conversas. Aposto na segunda opção. Foi também ESSENCIAL o Lakers ter tido a sorte de ficar com a 4ª Escolha neste Draft. Eram apenas 2,4% de chance de isso acontecer, mas de repente o time ganhou um ativo valiosíssimo para apimentar sua proposta.
A TROCA VALE A PENA PARA O LAKERS?
Para o Lakers o negócio é magnífico. LeBron James vai fazer 35 anos no meio da próxima temporada e a qualquer momento pode deixar de ser a força da natureza que conhecemos. Na temporada passada mesmo, apesar das médias absurdas de 28 pontos, 8 rebotes e 8 assistências, pareceu já ter mais dificuldades em atacar a cesta e praticamente tirou férias na defesa. Ele vai ter ao seu lado Anthony Davis com só 26 anos, chegando no auge da carreira e capaz de segurar o time nas costas quando for preciso. A história da NBA mostra que é quase impossível ganhar um título sem ter um jogador que está no topo do topo da cadeia alimentar do basquete e que o ideal é ter mais de um desses nomes juntos.
É claro que existem riscos: o time abriu mão de praticamente todas suas escolhas de Draft enquanto o contrato de LeBron James valer e foram embora três jovens muito promissores. O Golden State Warriors dos últimos anos já foi em diferentes ocasiões prova de como um bom banco de reservas pode salvar um grande time e como um banco fraco pode arruinar uma série importante. Mas a questão é que grandes jogadores custam caro: não dá para o décimo colocado do Oeste trocar por Anthony Davis e ainda assim manter muita gente boa no elenco, não faz sentido. E se é pra ter um cobertor curto, melhor garantir um dos melhores jogadores do planeta e depois se preocupar em fechar o elenco. O Lakers conseguiu a parte mais difícil.
Para fechar o elenco o time ainda pode ter mais 32 milhões de dólares em teto salarial para contratar outro nome de peso. No mundo dos rumores o mais especulado é o armador Kemba Walker, que sofreu ao longo da carreira em times ridículos do Charlotte Hornets. O Lakers precisa de um armador e Kemba, aos 29 anos, está no auge da forma e provavelmente ansioso por fazer parte de um time relevante. Mas o time também pode correr atrás de Jimmy Butler, que combina com o espírito defensivo do novo técnico Frank Vogel, ou Kyrie Irving, que fez as pazes com LeBron na última temporada. Tudo é possível.
Conseguir esses 32 milhões de teto salarial, porém, envolve um malabarismo. Anthony Davis precisa abrir mão de ao menos uma parte dos 4 milhões de dólares de bônus ao qual teria direito por ter sido trocado e a troca deveria acontecer OFICIALMENTE apenas daqui TRINTA DIAS. Complicado demais explicar os detalhes, mas o Lakers consegue abrir mais espaço se fizer a escolha do Draft em nome do Pelicans, assinar com o jogador, esperar quase um mês e aí envolver esse novato já assinado na troca do Anthony Davis. O que dizem é que o Lakers pagou caro na troca, em parte, para fazer o Pelicans topar essa espera de um mês no negócio. Se isso não acontece, o Lakers libera “apenas” 27,5 milhões e poderia oferecer menos que outros times por Kemba, Butler ou Irving.
Hoje o Lakers tem garantidos para a próxima temporada apenas LeBron James, Anthony Davis, Kyle Kuzma, Isaac Bonga e Moe Wagner. Como então fechar as outras DEZ VAGAS no time? Se o time gastar todo seu espaço com um terceiro All-Star, ficará sem condições para grandes contratações e deverá fechar o elenco com contratos mínimos (cujos valores variam de acordo com a experiência do contratado) e o mid-level execption, que será de cerca de 5 milhões no caso do Lakers. Não é muito diferente do que o Miami Heat enfrentou em 2010 ao fechar com Chris Bosh e LeBron. É possível, mas é preciso achar os caras certos e dispostos a um salário mais baixo para fazer parte do time. Será um teste de fogo para Rob Pelinka e a nova comissão técnica do Lakers, um teste no qual o time falhou miseravelmente na temporada passada com aquela sequência de contratações bizarras de Lance Stephenson, Michael Beasley e afins.
Aliás, incrível como o Los Angeles Lakers fez tanta BOBAGEM nos últimos cinco anos, viu a franquia virar um circo e vai sair disso com LeBron James e Anthony Davis. Só não podem desperdiçar essa chance de ouro.
A TROCA VALE A PENA PARA O PELICANS?
O New Orleans Pelicans podia até não estar desesperado por uma troca, mas era preciso alguma velocidade. Segurar Anthony Davis até o miolo de Julho poderia significar ver muitos times concorrentes saindo do bolo por contratarem outros nomes. Esperar a próxima temporada começar faria outros times diminuírem suas ofertas por saber que Anthony Davis iria virar um Free Agent em poucos meses. A ideia era fechar uma troca antes do Draft e para isso ninguém tinha oferta melhor que a do LA Lakers.
O time vai ter tempo de testar, pesquisar e decidir quem é o melhor jogador para selecionar na quarta colocação do Draft deste ano. Ainda vão ter outras escolhas futuras do Lakers para incrementar o time ou até mesmo usar em futuras negociações.
Dos jogadores recebidos, o melhor deles é sem dúvida Brandon Ingram. O ala é versátil, talentoso e vivia sua melhor fase na carreira até se machucar no fim desta última temporada. Sim, ele precisa melhorar o arremesso de longa distância e o aproveitamento nos lances-livres, mas todo o resto do seu jogo só melhorou ano após ano. Ele tem só 21 anos (faz 22 antes da próxima temporada) e deve crescer muito na NBA ainda.
Já Lonzo Ball é um pouco mais complicado. Como já comentamos no nosso podcast, ele é um armador de extremos: é EXCELENTE em algumas coisas, PÉSSIMO em outras. Não há meio termo. Defesa fora de série, visão de jogo raríssima, passes maravilhosos e sabe controlar um ataque como poucos na sua idade. Ao mesmo tempo ele tem um arremesso horrível, não acerta infiltrações por nada nesse mundo e tem aproveitamento baixo nos lances-livres. Se ele deixar de ser péssimo nessas coisas e ficar apenas NA MÉDIA já tá ótimo. Tem tudo para formar uma dupla de armação infernal na defesa ao lado de Jrue Holiday. E eles ainda vão ter Josh Hart no banco, um favorito da torcida do Lakers por sua entrega, raça, rebotes e boa defesa. Os pontos em infiltrações e nos arremessos caíram depois de uma lesão no meio da temporada passada, mas deve voltar à boa forma em 2019-20.
Mas o mais importante não é nem como esses nomes encaixam entre si ou com Jrue Holiday e o iminente Zion Williamson. Se não der certo é só trocar! Querem mais arremessadores? Trocas! Todos eles são jovens, promissores e com valor de mercado grande o bastante para se transformarem em outras coisas valiosas se assim parecer interessante para David Griffin nos próximos anos ou até meses. O objetivo de todo time é CONTRATAR caras como Anthony Davis, nunca mandá-los para outro time, mas na medida do possível isso foi uma vitória para o Pelicans. Eles dão adeus à ERA MONOCELHA já com a ERA ZION engatilhada e com o elenco recheado de jovens promissores. É uma reconstrução que já está iniciada no momento da demolição.
Também é uma vitória se considerarmos as outras ofertas que receberam. Dizem que ninguém no New Orleans Pelicans queria fazer o LA Lakers feliz depois das polêmicas da última temporada, mas tiveram a frieza de simplesmente aceitar a melhor oferta.
AS OUTRAS PROPOSTAS
Segundo o que a imprensa americana descobriu, estavam na briga LA Lakers, LA Clippers, Brooklyn Nets, Boston Celtics e NY Knicks.
O NY Knicks foi o primeiro a perder a disputa porque o time não tinha muito o que oferecer. O plano inicial passava por conseguir uma escolha alta no Draft, de preferência a primeira já que o time era um dos três com mais chance de obtê-la, e mandá-la como principal peça para o Pelicans, que pelas probabilidades tinha mais chance de ficar com a sétima posição. Mas as bolinhas de pingue-pongue deram um nó no Knicks: o Pelicans pulou para primeiro, o Knicks caiu para terceiro e o plano por Anthony Davis foi por água abaixo.
O Los Angeles Clippers também perdeu espaço nas mesas de negociação porque, dizem, não queria colocar Shai Gilgeous-Alexander no negócio. A ideia era mandar escolhas de Draft, Montrezl Harrell, Danilo Gallinari e Landry Shamet. Harrell tem quase a idade de Anthony Davis e só deslanchou agora, enquanto Gallinari é mais velho e recheado de lesões. Difícil.
O Brooklyn Nets tinha um pacote interessante para enviar: D’Angelo Russell, Caris LeVert e Jarrett Allen é para brilhar os olhos de David Griffin e do New Orleans Pelicans. Mas há dois problemas: Griffin queria um negócio fechado antes do Draft e que de preferência envolvesse escolhas deste ano. O Nets só poderia enviar Russell se o armador, que vai ser um Free Agent Restrito, topasse um sign-and-trade, algo que só é possível a partir de 1º de Julho, depois do Draft. O Pelicans também queria escolhas de Draft, mas o Nets acabou de enviar sua Escolha de 2020 para o Atlanta Hawks em um negócio que envolveu também Allen Crabbe e pelas regras da NBA um time não pode trocar escolhas em anos consecutivos. Ou seja, o time poderia só mandar sua escolha no Draft de 2022, muito longe para os planos do Pelicans de colocar talento em volta de Zion Williamson o mais rápido possível.
O Boston Celtics sempre foi considerado o time com mais ativos para mandar por Anthony Davis: Jaylen Brown, Jayson Tatum e uma DÚZIA de escolhas de Draft acumuladas de times mais fracos nos últimos anos. Mas Rich Paul, empresário de Davis, tratou de ir lá avisar o Celtics que seu cliente não queria ir para lá. Depois de um ano em Boston seu contrato iria acabar e ele daria o fora, querem mesmo assim? Uma coisa é ser o Toronto Raptors, que já queria se reconstruir, e arriscar por um ano de Kawhi Leonard. Outra é o Boston Celtics abrir mão do seu futuro para arriscar tudo por um ano do cara. No fim das contas dizem que o Celtics colocou na mesa as escolhas de Draft, mas não Jayson Tatum. Não rolou.
A NBA tinha tudo para dar uma guinada na próxima temporada e a primeira peça do dominó acabou de cair. Em um Oeste muito disputado e onde o Golden State Warriors deve voltar muito enfraquecido, o Los Angeles Lakers dá seu primeiro passo na briga pelo topo da conferência. Aguardamos para ver como isso influencia a decisão de outros times e Free Agents! A offseason começou, amigos!