A temporada de especulações de trocas da NBA está oficialmente aberta. Desde o último dia 15 de dezembro os times já podem trocar os jogadores que adquiriram na última offseason e ao mesmo tempo a data-limite de trocas no meio da temporada não está tão distante assim, no dia 6 de fevereiro. Então se preparem para ler muitos boatos, notícias com fontes anônimas e managers negando tudo sem parar nos principais sites de notícias nesses próximos 45 dias.
O jornalismo esportivo americano alimenta tudo isso, claro, já que perceberam há muito tempo que nada dá mais cliques e audiência que uma boa especulação ou declaração que indique que um grande jogador pode mudar de lugar. Só pesquisar sobre boatos de Giannis Antetokounmpo no Toronto Raptors, LA Lakers ou NY Knicks no longínquo 2021 (!!!) pra ver como nunca é cedo demais para sonhar e escrever sobre o vaivém. Não culpo totalmente os que investem nesse tipo de conteúdo. Embora pequem por achar pelo em ovo, a mudança de jogadores é peça fundamental no quebra-cabeça da NBA. A história da liga na última década só pode ser escrita pelas decisões de LeBron James de ir para o Miami Heat, voltar para o Cleveland Cavaliers e por Kevin Durant ir para o Golden State Warriors. O título do Toronto Raptors na temporada começou na troca por Kawhi Leonard. E as mudanças e trocas são não só decisivas para decidir campeonatos como também são um jogo em si, com regras, restrições, estratégia e reviravoltas que fazem com que tudo seja bem irresistível para todos.
Falar sobre trocas em potencial, portanto, é importante, mas muitas vezes gastamos tempo demais analisando com antecipação coisas que nunca vão acontecer. Será que vale a pena? Nem sempre, mas é um exercício interessante para entender como cada time está nesta temporada e como ele próprio se vê para o futuro próximo. E essa percepção é um dos grandes desafios da temporada: como descobrir quem são os COMPRADORES e os VENDEDORES do mercado da NBA em 2019-20?
Na temporada passada, por exemplo, praticamente todos os times favoritos ao título do Leste foram ao mercado melhorar seus times. O Philadelphia 76ers trocou por Tobias Harris, o Toronto Raptors levou Marc Gasol e o Milwaukee Bucks ficou com Nikola Mirotic. Com LeBron James fora da conferência após OITO títulos seguidos do Leste e sem um claro favorito, todos sentiram o cheiro de chance de sucesso e correram para o mercado. No caminho encontraram times dispostos a ajudar: o LA Clippers entregou Harris porque não iria querer renovar com o ala na temporada seguinte, afinal o plano era trazer Kawhi Leonard; o Memphis Grizzlies cedeu Gasol para limpar sua folha salarial e ficar mais jovem depois que já tinha ficado claro que a era do Grit and Grind tinha chegado ao fim; e o New Orleans Pelicans, com a temporada no lixo depois do pedido de troca de Anthony Davis, não tinha razão em manter Nikola Mirotic em seus últimos meses de contrato.
Ou seja, em geral os compradores são times que sentem que precisam de mais uma peça para chegar ao seu objetivo, seja ele qual for. Os vendedores costumam ser times que aceitam perder peças importantes agora em troca de um FUTURO melhor, seja com liberação de salários, jovens jogadores ou escolhas de Draft.
Só não sabemos se nesta temporada os negócios vão ser tão claros assim. Na Conferência Oeste quais times estão ao mesmo tempo sem chance/vontade de brigar por vaga Playoffs e com jogadores que interessam a outras equipes? O Golden State Warriors não mira mais nada, mas também não tem nada para oferecer já que que tudo indica que pretende manter o grupo para voltar com tudo na próxima temporada. A sombra de uma troca de D’Angelo Russell não deixou de existir, mas as opções são tão poucas que um negócio parece improvável hoje: poucos times podem absorver seu salário e ao mesmo tempo entregar de volta um jogador que o Warriors considere que realmente pode ajudar num retorno triunfal. Outro time sem ambição é o Memphis Grizzlies, que tem Andre Iguodala justamente com o único propósito de trocá-lo. Sua saída é tão óbvia e são tantos times que sentem que estão a um cara como ele do título que parece que alguma coisa de errado vai acontecer para contrariar a lógica. De qualquer forma, a bola está cantada e o Grizzlies deve esperar até o último minuto: quanto mais nomes citados neste texto não forem trocados, mais provável que Iguodala saia mais caro.
Depois disso só temos dúvidas. Por exemplo, o New Orleans Pelicans ainda alimenta a esperança de ir para os Playoffs mesmo com o começo péssimo, a sequência de 13 derrotas seguidas e os vários adiamentos da estreia de Zion Williamson? É possível imaginar um cenário onde eles mudam de planos e trocam todos os veteranos que queriam que ajudassem o novato em seu primeiro ano. Aí veríamos times como o Boston Celtics atrás dos rebotes de Derrick Favors, o Minnesota Timberwolves em sua busca por um armador ligando para perguntar de Jrue Holiday e meio mundo querendo saber o preço de JJ Redick. Nada garante, porém, que o manager David Griffin está disposto a abrir mão de seu plano de um time que mescla jovens promessas com peças mais velhas.
A confusão vale também para o San Antonio Spurs. Por um lado o time é uma decepção e o cheirinho de troca de LaMarcus Aldridge e DeMar DeRozan rondam o ar, mas por outro está só a DUAS VITÓRIAS da zona dos Playoffs. Serão compradores, vendedores ou nenhum dos dois, já que o time raramente negocia com a temporada em andamento? Parceiro do Spurs no campo da dúvida é o OKC Thunder, que hoje estaria classificado para os Playoffs mas que tem RECONSTRUÇÃO escrito na testa. Por mais que se manter como um time bom mesmo após perder Russell Westbrook seja uma mensagem de estabilidade e competência, este é o último ano do contrato de Danilo Gallinari e talvez seja mais inteligente fazer uma troca agora ao invés de vê-lo ir embora por nada ao fim da temporada. É possível também seja a hora de mandar Chris Paul para um time com mais pressa e que não se incomodaria com o contrato colossal. Qualquer negócio desse tipo provavelmente significaria jogar esse ano fora, então tudo está nas mãos de como o General Manager Sam Presti enxerga seu time no curto e no longo prazo.
No grupo dos compradores dá pra colocar todo o resto da Conferência Oeste. O Portland Trail Blazers já se mexeu com Carmelo Anthony e não deve parar por aí, assim como o Utah Jazz, que precisa urgentemente reforçar o banco de reservas, e o Houston Rockets, que nunca fica parado e precisa de ajuda no entorno de James Harden e Russell Westbrook para realmente brigar pelo título. Ainda tem o Phoenix Suns, que há anos diz que o objetivo do time é voltar para os Playoffs e que agora está tão perto que pode fazer alguma coisa para chegar mais perto. É muita gente precisando de ajuda e só um Andre Iguodala no mercado.
Também há certa curiosidade com o posicionamento dos dois favoritos do Oeste, LA Clippers e LA Lakers. Ambos estão em situações parecidas: ótimo elenco, ótima campanha, mas alguns buracos no elenco e pouca flexibilidade. Para qualquer um dos lados tudo dependeria de contratar um possível jogador dispensado ou envolver um de seus jovens jogadores. Fica a dúvida sobre que proposta faria Landry Shamet ou Kyle Kuzma mudarem de lugar. O Lakers precisa na ajuda na criação de jogadas, um segundo criador de jogadas, mas perder os poder de fogo de Kuzma pode custar caro.
Poderia a ajuda vir da Conferência Leste? Talvez, mas nem todas as respostas estão fáceis lá também. O Atlanta Hawks provavelmente já entregou os pontos neste ano, mas o time é jovem demais para realmente ter alguém que ajude uma outra equipe. E o que tirar do Chicago Bulls, um dos times mais frustrantes do ano? Jogadores bons em todas as posições, mas eles sempre dão um jeito de perder jogos. Atuam bem, enfrentam grandes de igual pra igual e aí entregam a paçoca em algum ponto do jogo, geralmente o último quarto. É o bastante pra colocar alguém no mercado ou vale insistir no grupo? Talvez Thaddeus Young, que briga por minutos com Lauri Markkanen, mas não sei se muito além disso. Um dos casos mais interessantes é o do Washington Wizards, que começou o ano como forte candidato a ser decisivo no mercado de trocas com Bradley Beal, mas que renovou com o jogador e o tirou da prateleira rapidinho. Provavelmente todos os times do mundo vão ligar para eles perguntando sobre o fenômeno Davis Bertans, que tá acertando todos os arremessos de longa (longuíssima) distância que tenta e está em seu último ano de contrato, mas notícias de Washington dizem que o time já cogita renovar com o jogador no ano que vem para atuar ao lado de John Wall em seu retorno. Se ele sair, não vai ser barato e o time que o adquirir vai correr o risco de perder o jogador em breve.
Um caso difícil de prever é o do Miami Heat. Desde o começo da temporada já se fala sobre o time buscar um reforço de peso para colocar ao lado de Jimmy Butler, possivelmente Chris Paul. O papo agora mudou para Jrue Holiday, mas o princípio é o mesmo. A questão aqui é quem mandar na troca: o time tem excelentes jovens em Kendrick Nunn, Tyler Herro e Duncan Robinson, mas os três se tornaram protagonistas e peças essenciais em um time que está brigando pelo Top 3 do Leste. O Heat vai ter coragem de mexer no que está dando certo? Enquanto isso Bam Adebayo está jogando tão bem que se tornou inegociável e resta saber como o resto da NBA se sente em relação a Justise Winslow, que receberá 13 milhões de dólares nos próximos anos. Talvez Goran Dragic interesse a alguém? Quem é louco de morder a isca de Dion Waiters?
Os dois mais óbvios vendedores na conferência são o New York Knicks e o Cleveland Cavaliers. Com campanhas pífias, crises internas e alguns bons veteranos perdidos no meio do caminho, é difícil imaginar todos entre Marcus Morris, Dennis Smith Jr, Bobby Portis, Kevin Love, Jordan Clarkson e Tristan Thompson acabam a temporada onde estão hoje. Já há boatos de que Love gostaria de voltar para onde cresceu e jogar no Blazers e que Smith Jr é um dos alvos do Wolves para a armação. Marcus Morris é meio mala, mas com quase 50% de aproveitamento nas bolas de 3 pontos deve fazer algum time tentar o xaveco. Dizem que o Knicks busca uma escolha de Draft de 1ª Rodada em troca, vamos ver quem acha que vale o preço.
No campo da dúvida, o OKC Thunder do Leste é o Detroit Pistons. O time está a uma vitória da zona dos Playoffs no momento e com Blake Griffin, que perdeu o começo do ano lesionado, ainda longe do nível da temporada passada. Ao mesmo tempo, qual o objetivo do time a longo prazo? Mesmo com Griffin jogando muito, até onde vai esse grupo com Andre Drummond, Derrick Rose e Luke Kennard? O time investiu em arremessadores de longa distância, um problema crônico da franquia, e agora tem o segundo melhor aproveitamento da NBA, mas até agora nada disso se traduzir em vitórias. Será que não chegou a hora de admitir que o Plano Griffin não deu certo e tentar renovar? Ou vale ficar mordiscando nas beiradas e torcer para algo cair no colo deles? As duas abordagens tem sua lógica e seus riscos, e a leitura do próprio time sobre sua realidade vai definir se Griffin, Drummond e companhia estão ou não no mercado. Apesar dos contratos gigantescos da dupla, é possível imaginar times desesperados por alas buscando Griffin. Talvez até times que mirem Kevin Love e não consigam, por exemplo. Já Drummond, com sua evolução nos passes e na mobilidade pode encaixar com muito time que busca por um pivô ainda relativamente jovem.
Os cenários mostram muitas possibilidades e poucas certezas. Muitos compradores, mas poucos vendendo. Muitos dos nomes mais especulados tem poucas chances de realmente chegar naqueles times que hoje vemos como favoritos ao título. Podemos esperar 45 dias de muitos boatos e especulações, mas a perspectiva de hoje não é a de uma temporada de trocas bombásticas. Para quem gosta de um auê, porém, há uma boa notícia: basta um idiota. Essa é a regra geral da NBA para a negociação de jogadores. Basta um idiota que venda barato demais ou um que pague caro demais e aquela troca inimaginável vira realidade. Times que entrem ou saiam da briga pelas vagas para os Playoffs, seja por melhora ou piora técnica ou até lesões, também podem mudar o panorama em breve. Ficaremos de olho, pode ser decisivo para a temporada como foi Marc Gasol em 2018-19.