Às vezes parece que não há realidade que supere nossa ansiedade. Na NBA os melhores times são aqueles que podem acontecer na próxima temporada, os melhores momentos são aqueles que a gente está roendo a unha de ansiedade para ver e não há momento mais glorioso para comentar do que uma boa troca: jogadores mudam de lugar, times mexem no elenco e o mundo das possibilidades e da especulação cria cenários incríveis.
Mas de tempos em tempos aparece a realidade para chutar nossa bunda, dar um tapa na nossa cara e mostrar que nossa imaginação tem, sim, limites. Algumas coisas simplesmente não são inventáveis. Alguém já imaginou que um dia uma negociação na BILIONÁRIA NBA iria ser cancelada de última hora porque um dos envolvidos errou o jogador que iria receber? Acho que isso só compete com o dia em que Mike Conley quase não conseguiu renovar seu contrato porque tinha fila na xerox e ele ficou perto de não conseguir mandar o FAX a tempo para o escritório da liga.
Três times ansiosos por mudanças toparam em trocar peças relevantes, mas não estelares, de seus elencos. O Memphis Grizzlies, sempre apanhando com lesões, ganharia o ala Kelly Oubre do Washington Wizards para aprofundar o elenco. O time da capital americana, por sua vez, iria abrir mão também de Austin Rivers, que iria para o Phoenix Suns, e em troca receberia Trevor Ariza, que já jogou em Washington no passado e teve sucesso por lá. Por fim, o Suns receberia, além de Rivers, os ala-armadores Wayne Selden e MarShon Brooks do Memphis.
A troca não era bombástica o bastante para resolver o problema de ninguém, mas fazia sentido. Com Dillon Brooks e Chandler Parsons machucados, o Grizzlies sofre muitas vezes em preencher os minutos da sua ala com bons jogadores. Oubre é atléticos, dá indícios de ser ótimo defensor e sabe arremessar aquela bolinha de 3 pontos da zona morta. Falta consistência em tudo isso? Sem dúvida, mas há talento lá (e ele é muito bonito, meu deus!).
Para o Wizards a troca também era sensata. Com os contratos que eles têm já garantidos, a renovação com Oubre no ano que vem era improvável e até redundante se eles pretendem manter Otto Porter. Já Austin Rivers não atrapalhou o time com sua chegada, mas não ajudou também. No lugar deles chega Trevor Ariza, veterano, líder e com experiência na própria franquia ao lado de John Wall e Bradley Beal. Um homem só pode resolver anos de PICUINHA? Não sei, mas a tentativa é válida para um contrato de uma temporada. Em quadra ele também ajuda bastante, mesmo que os melhores anos estejam para trás.
Por fim, o Suns é aquele time engraçado que precisa de armador e aí dispensa seu armador titular (RIP Isaiah Canaan) e usa sua principal moeda de troca, Ariza, e não traz nenhum armador no negócio. Será que eles imaginavam Austin Rivers, por quem já tinham demonstrado interesse no passado, comandando um ataque? Ou estão felizes de ver Devin Booker na posição? Confesso que Booker está sendo melhor do que já foi no passado em comandar um ataque, mas acho que ele pode ser ainda melhor se dividir funções com alguém. Se este fosse um time com bom histórico de planejamento, até chutaria que eles só estão mesmo empolgados com o bom momento do novato De’Anthony Melton, mas vai saber o que se passa por lá.
Essa troca citada acima estava praticamente fechada, decidida e até os jogadores envolvidos foram comunicados que estariam de mudança. A informação chegou na imprensa, o Twitter bombou com análise e comentários e aí…
Sources with @ZachLowe_NBA: Deal in jeopardy over which Brooks — MarShon or Dillon — the Suns believed it was getting in the trade. Memphis will not put Dillon Brooks in the trade, sources said.
— Adrian Wojnarowski (@wojespn) December 15, 2018
O Phoenix Suns achou que iria receber o Dillon Brooks, o Memphis Grizzlies achou que ia mandar o MarShon Brooks. TRETA DE SOBRENOME. Confusão feita e não desfeita: o Suns não quis fechar a troca pelo outro Brooks e o Grizzlies não quis abrir mão do melhor Brooks. O negócio MORREU porque times profissionais da NBA só foram perceber aos 45 do segundo tempo que estavam falando de pessoas diferentes. Eu juro que nunca vi isso acontecer nem em liga de fantasy.
A partir daí começou a fofoca. Primeiro falaram que o Suns se enganou porque mais cedo naquela semana o DONO do time, Robert Sarver, conversou com Robert Pera, dono do Grizzlies sobre Dillon Brooks. Não é normal donos discutirem trocas –o trabalho é do General Manager– mas pode acontecer. A informação dessa conversa, porém, foi negada pelo Grizzlies. A lenda em torno da incompetência do Suns ronda a história, mas não podemos confirmar que tudo está nas costas deles. Por outro lado, teria como ser simplesmente SACANAGEM do Grizzlies? Eles esperavam que o Suns ia simplesmente receber o cara errado no aeroporto e mandar junto um bilhete de “proibida a devolução”? Alguns também culpam o Wizards, que teria agido como intermediário entre Suns e Grizzlies para fechar o negócio e não foi claro nas mensagens. Ninguém vai admitir o amadorismo tão cedo, mas alguém errou feio.
MarShon Brooks said his piece about last night's non-trade:
"When guys like a Jimmy Butler or Kevin Durant go to different teams, and want to play where they want to play, you see why." pic.twitter.com/ape2It3DHZ
— Clayton Collier (@Local24Clayton) December 16, 2018
Um dia depois a troca finalmente aconteceu, mas sem a presença do nosso Memphão. O Wizards realmente abriu mão de Austin Rivers e Kelly Oubre, mas dessa vez os dois foram direto para Phoenix, que em troca mandou Trevor Ariza. Horas depois, o Suns anunciou que iria dispensar Rivers, que se torna Free Agent.
A troca sem intermediários é mais fácil e envolve menos gente, mas quem sai ganhando com a nova versão? O Grizzlies parece ser um perdedor. No negócio original eles iriam perder jogadores pouco utilizados e ganhar uma jovem promessa em Kelly Oubre, alguém que eles poderiam usar desde já, tentar corrigir os defeitos e, quem sabe, até renovar na próxima temporada. Ele será Free Agent Restrito, o que significa que seu time pode igualar qualquer oferta que chegue a ele.
Por outro lado, estou dizendo isso levando em consideração o MARSHON Brooks. O Dillon Brooks é tão jovem quanto Oubre, vai ganhar uma mixaria de salário na próxima temporada e é mais completo ofensivamente que o então ala do Wizards. Dá para argumentar que o POTENCIAL de Oubre é maior, mas aí ficamos na casa das especulações. Não vejo um nome óbvio entre os dois e o Grizzlies escolheu ficar com o que é mais barato e que pode ajudar mais no lado ofensivo da quadra, onde o time tem claramente mais dificuldade.
Pensando com a cabeça do Suns, acho que qualquer ajuda jovem pode servir, o problema lá é outro. Por que a franquia não consegue tirar o melhor de seus jovens jogadores? Desde Alex Len e Marquese Chriss a Josh Jackson e Dragan Bender, todos parecem até PIORAR com o tempo. Devin Booker é a exceção que confirma a regra e DeAndre Ayton ainda estamos descobrindo. E a coisa é tão ruim que nem trazer veteranos ajudou, tanto Tyson Chandler quanto Trevor Ariza pareciam desinteressados em quadra e já sonhavam em ir embora. Pior, essa fase já dura muitos técnicos, muitos elencos diferentes e tantos outros General Managers.
A regra hoje em Phoenix é simples: se Devin Booker joga, o time ainda não é grande coisa, mas consegue fazer jogo duro contra muitos adversários. Se Booker não joga, eles são capazes de perder para o time de velhinhos amadores do clube da esquina. Hoje o Suns tem a QUINTA PIOR defesa da NBA e os números indicam que o time é igualmente ruim com ou sem Booker em quadra. O ataque, por outro lado, muda completamente: em geral o Suns tem o SEGUNDO PIOR ataque da liga, mas pode botar na conta aí os jogos que Booker perdeu machucado. O número de pontos por 100 posses de bola do time sobre 14 (!) pontos quando o cestinha do time está em quadra! É uma das maiores diferenças de um único jogador em toda a NBA.
Trazer Dillon Brooks poderia ajudar um pouco a desafogar Booker no ataque, mas ele não é fora de série para podermos cravar que resolveria algo tão drástico. A chegada de Oubre por outro lado, pode dar um boost defensivo que essa equipe tanto precisa enquanto ainda acerta eventuais bolas de 3, coisa que Josh Jackson, por exemplo, sofre para conseguir. Se o técnico Igor Kokoskov sonha em jogar com quatro jogadores abertos, Oubre tem experiência nisso.
De qualquer forma, tanto faz Oubre, Brooks ou qualquer outro jovem. O time é o ÚNICO da conferência a não estar na briga para os Playoffs, o único do Oeste a não ir para o mata-mata do ano passado que não mostrou NENHUMA melhora. O que eles precisam é desenvolver os jovens deles, qualquer um, e entrosá-los de alguma forma. Sem Ariza e com Oubre eles ao menos ganham alguém interessado em estar lá, em jogar bem, em ao menos assegurar um bom contrato.