Este blog, como a maioria dos que já se arriscaram no futurismo esportivo, tem seu histórico de apostas furadas. Só lembrar nossas previsões de Draft ou quando eu disse que o Dallas Mavericks não tinha mais chance de título em 2011 quando o Caron Butler se machucou (como eu iria adivinhar que JJ BAREA e BRIAN CARDINAL seriam importantes nos Playoffs?). Tentamos não fazer previsões sempre, mas vou OUSAR uma agora: o Toronto Raptors estará na final do Leste.
Como já conversamos algumas vezes em nossos podcasts, a Conferência Leste é uma das mais disputadas dos últimos anos. Sequências pequenas de derrotas ou vitórias podem te jogar em qualquer lugar entre o terceiro e o décimo segundo lugar. O Charlotte Hornets, que já figurou entre os primeiros, despencou para fora dos classificados quando sofreu poucas semanas com algumas lesões; o Chicago Bulls, inconsistente o ano todo, já pulou por tudo quanto é lugar e até o Boston Celtics que há poucas semanas sofria com sua maior sequência de derrotas na temporada, se recuperou e hoje já está em quarto lugar.
No meio dessa confusão, apenas dois times conseguiram se safar. O Cleveland Cavaliers, apesar de seus dramalhões mexicanos internos, ainda domina a conferência e está lá em primeiro há um bom tempo. E no último mês o Toronto Raptors conseguiu também se colocar um degrau acima do CAOS desse lado da NBA. O time do técnico Dwayne Casey venceu 14 dos seus últimos 15 jogos e assim chegou a marca de 34 vitórias e 16 derrotas, apenas 2 jogos atrás do Cavs e 5 sobre o Atlanta Hawks, atual terceiro colocado. Mais importante foi quem o Raptors venceu nessa sequência: além de não dar chance para times mais fracos, passaram por cima de Miami Heat, Boston Celtics e Detroit Pistons, adversários diretos. Também derrotaram o Los Angeles Clippers, um dos grandes times do Oeste e que também vivia uma boa sequência de jogos.
Mas mais do que um bom mês, impressiona como o Toronto Raptors convence em suas atuações. Eles alcançaram o que a liga inteira passa a vida procurando: encontraram uma identidade. Todos sabem o que, quando e quando fazer; o técnico tem uma rotação bem definida e jogadas básicas para usar nos momentos mais decisivos de um jogo. E é o fato deles terem encontrado isso, somado aos traumas das duas eliminações precoces nos anos anteriores, que me fazem acreditar que finalmente chegou a vez do time canadense fazer um barulho na NBA. Com raríssimas exceções, é normal um grupo ter derrotas fortes na pós-temporada antes de aprenderem o que fazer por lá. E depois de tantos fracassos homéricos (em casa) nos últimos anos, parece que todos estão jogando desde já pensando em tirar essa mancha do currículo.
Separei aqui todas as coisas que me fazem apostar no Toronto Raptors
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Four Factors
Uma das primeiras coisas que a galera das “estatísticas avançadas” fez ao levar seus conhecimentos matemáticos para o basquete foi tentar descobrir quais coisas fazem um time vencer um jogo. Em média, se ganha quem chuta mais de três pontos? Quem cava mais faltas? Quem comete menos turnovers? Quem ganha a batalha dos rebotes? Quem acerta lance-livre? Cada comentarista tem o seu bordão, mas foram buscar no histórico de todas as partidas da NBA já disputadas para achar um padrão.
O estatístico Dean Oliver, em seu famoso e inovador “Basketball on paper”, apareceu com os “Four Factors”, os quatro fatores essenciais em um time vencedor. Segundo Oliver estes são arremessos (40%), turnovers (25%), rebotes (25%) e lances-livres (15%). Os números entre parênteses são o peso de cada fator na vitória. Lembrei desses números porque é exatamente neles que Raptors se destaca. Podem não ser o Golden State Warriors, mas são bons no que interessa.
O Raptors é o terceiro time que mais bate lances-livres na NBA, e isso enquanto é o oitavo em aproveitamento, ou seja, os jogadores batem muitos e acertam muitos lances-livres ao longo das partidas, é muito ponto de graça. Na defesa, por outro lado, são o sexto time que MENOS sofre com lances-livres, e ainda fazem as faltas nos jogadores certos: o aproveitamento dos lances-livres contra eles é de 76%. Já nos rebotes, o Toronto Raptors não tem um Andre Drummond para mandar no planeta Terra, mas um ótimo trabalho coletivo de boxout faz com que o time esteja no Top 5 da NBA em limitar rebotes ofensivos dos adversários. Já nos arremessos, o Raptors está entre os 10 times que menos permitem bolas de 3 marcadas pelo adversário por partida. Some tudo isso e temos o seguinte: se você está atacando o Raptors, provavelmente não vai conseguir chutar de 3 pontos, nem cavar lances-livres e nem vai conseguir pegar um rebote de ataque caso erre o arremesso. Está aí uma receita para o sucesso.
Do outro lado, o Raptors tem um dos melhores aproveitamentos de 3 pontos da NBA, especialmente desde que Terrence Ross voltou a ficar quente, e, como dissemos, está batendo lances-livres o tempo todo. Eles compensam o fato de não forçarem tantos turnovers ao não errarem eles mesmos. Dá pra ver como eles, ao contrário de quando falamos de Warriors, Spurs, Thunder e Cavs, nunca estão no topo de alguma categoria, mas estão lá no grupinho de melhores em exatamente tudo o que interessa.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”O mais divertido entre todos os uniformes RIDÍCULOS da NBA”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Raptors3.jpg[/image]
Banco de reservas
Durante a offseason, um dos contratos mais questionados por nós e todo mundo na internet, foi o que Cory Joseph conseguiu com o Toronto Raptors. O terceiro armador do San Antonio Spurs, que fazia só o básico do básico em um time todo correto, conseguiu 30 milhões por 4 anos de vínculo. Parecia demais, especialmente se você parasse para perguntar com quem o Raptors estava concorrendo: que outro time estava sequer tentando Joseph? Ele negaria 20 milhões pelos mesmos 4 anos ao invés de 30? Negociações a parte, Joseph tem sido a alma do ótimo banco de reservas do time. Ele defende muito bem, permite Kyle Lowry atuar sem a bola na mão, mais focado em seus mortais arremessos de 3 pontos, e ainda quebra as defesas adversárias com alguns dos pick-and-rolls mais inteligentes da NBA. Geralmente um bloqueio bem feito para Joseph acaba em um passe bem feito, seja para quem fez o pick, seja para um dos milhares de arremessadores que ficam em volta dele, desde e Lowry e Luís Scola aos também reservas Terrence Ross, Patrick Patterson e James Johnson. Quem joga com Joseph, joga bem.
Versatilidade no garrafão
O Toronto Raptors conseguiu entrar na onda de jogar com muitos jogadores abertos, arremessadores, sem abrir mão do tamanho. O matador-de-brasileiros Luís Scola lidera o time com impressionantes 43% de acerto em bolas de 3 pontos, Patrick Patterson acerta 33% e está melhorando. O argentino ainda usa bem seu arsenal ofensivo para se aproveitar de times que jogam muito baixo.
Geralmente um deles está sempre em quadra para manter o tamanho, os rebotes e os chutes de longa distância. Ainda existe a formação onde eles usam o DeMarre Carroll na posição 4. Nesse caso eles perdem, por alguns minutos, a altura, mas Carroll ainda é ótimo nos rebotes e é raro ver um ala mais alto tirando proveito dele, um defensor feroz e chato de enfrentar. Bom lembrar, aliás, que esse grande momento do Raptors acontece enquanto Carroll se recupera de lesão! Nas últimas semanas por tanto, o melhor time do Leste é um dos poucos que não usa o small ball.
Na posição de pivô também existe versatilidade: Jonas Valanciunas tem bonito e eficiente jogo ofensivo, é bom em jogos mais lentos (como o Raptors sempre tenta fazer), e sabe marcar pontos sobre qualquer defensor. Mas quando o lituano não consegue participar do jogo, especialmente contra defesas que impedem o passe para dentro do garrafão, eles usam Bismack Biyombo, que revolucionou sua carreira ao ir para Toronto. Virou um bom defensor de aro, uma ameaça na ponte aérea e no ataque aprendeu a ser útil fazendo fortes bloqueios para seus companheiros arremessadores. Contra times mais baixos, Biyombo também é mais eficiente ao sair do garrafão para defender pick-and-rolls.
A dupla de All-Stars
Apesar do banco de reservas liderado por Joseph e Ross, apesar de toda a variedade de opções que oferecem Valanciunas, Byiombo e Scola, nada que esse time está fazendo seira possível se DeMar DeRozan e Kyle Lowry não estivessem jogando o melhor basquete de suas vidas. Confesso que há alguns anos eu achei que Lowry iria ser um desses armadores que tem uma ou duas boas temporadas e depois volta a sua média nem tão espetacular, mas o cara é persistente e parece que melhora a cada ano. O armador de 29 anos está com suas melhores marcas da vida em pontos (21.3), aproveitamento de 3 pontos (39%), rebotes (5.0) e roubos (2.3). Parte disso tem a ver com ralar como um maluco nos treinos, não vou tirar isso dele, mas parte disso tem a ver com a atenção que DeRozan atrai da defesa adversária. E ele também está se beneficiando muito dos minutos compartilhados com Joseph, quando pode se mexer sem a bola e fazer o que mais gosta: cestas.
Falar de DeMar DeRozan é mais complicado. Na era dos três pontos, estamos elogiando e colocando no All-Star Game um shooting guard que não tem muito do shooting. Ele não gosta muito das bolas de 3 pontos e nem é grande adepto dos passes, muitas vezes movimentações interessantes de bola morrem na mão dele. Como, fugindo de tudo o que se prega hoje, ele tem sido eficiente para seu time? Bom, ele é o James Harden do Leste.
DeRozan, mais do que nunca em sua carreira, está dominando as jogadas de mano-a-mano e contra-ataques para conseguir bater mais de 8 lances-livres por jogo. Até sua média de assistências, hoje em 4.2, nunca foi tão alta. E não é porque ele é o rei da movimentação de bola, como falamos, mas ele tem atraído tanto a defesa com suas infiltrações que acaba achando passes fáceis para os pivôs ou arremessadores na zona morta. Na NBA de hoje, se você não chuta de longa distância é bom que seu talento, seja ele qual for, ajude outras pessoas a conseguirem essas bolas de longa distância. É o que DeRozan faz, ele quebra defesas.
Como disse no começo, aposto no Toronto Raptors como o time mais preparado para chegar na final do Leste contra o Cleveland Cavaliers. Sua posição na tabela também o faz escapar do Cavs até a final. Mas seria bom que o Raptors não perdesse de vista essas próximas semanas, as últimas em que os times podem tentar usar para realizar trocas. Embora Patrick Patterson e Luís Scola sejam bons, já imaginaram como um Markieff Morris poderia fazer esse time dar um passo além? É muito legal ser bom depois de tantos anos sendo medíocre, mas não podem ficar satisfeitos com isso, ainda estão degraus abaixo dos melhores da NBA.