Como de costume, a cobertura da imprensa tradicional aqui do Brasil sobre a NBA começou o ano focada nos jogadores brasileiros que iriam atuar nos EUA. Dessa vez o número era recorde, 9: Nenê, Leandrinho, Anderson Varejão, Marcelinho Huertas, Tiago Splitter, Bruno Caboclo, Lucas Bebê, Raulzinho e Cristiano Felício. Nunca antes na história desse país…
Mas não estamos culpando ou tirando sarro dos nossos jornalões. Realmente quando não acompanhamos de perto um esporte ou campeonato gringo, nossa primeira indagação é se tem algum brasileiro por lá. Não só torcer por alguém que tem algo em comum conosco é um ótimo ponto de partida, mas também é uma possível indicação de quem poderá representar a seleção nos campeonatos internacionais. E aqui todos somos culpados, quem nunca torceu muito pelo Brasil nas Olimpíadas em uma modalidade para a qual nunca deu a mínima antes? Ter brasileiros lá, jogando bem ou mal, ajuda a difundir o basquete no Brasil.
Aqui no Bola Presa tentamos ser algo mais aprofundado para os bitolados por basquete, por isso não nos focamos em falar tanto dos brasileiros, mas achei que seria uma boa somar as duas coisas. Juntar o interesse natural dos brasileiros por seus compatriotas, e tentar fazer nossa cobertura um pouco mais aprofundada para falar deles. É hora de ver se esse ano de recorde em quantidade também foi bom de qualidade no basquete brazuca na NBA.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Não deu pra achar foto dele com o uniforme do Raptors…”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Br2.jpg[/image]
Bruno Caboclo
Quando foi draftado pelo Toronto Raptors em 2014, os comentaristas da ESPN que transmitiam a seleção de novatos falaram que o “Brazilian Kevin Durant” estava a dois anos de estar a dois anos de estar pronto para a NBA. Bom, se passaram os dois primeiros, então podemos cravar que ele está a dois anos de finalmente estar pronto para jogar entre os melhores do mundo?
Infelizmente parece que vai demorar um pouco mesmo. Depois de só entrar em quadra em 8 jogos como novato, neste seu segundo o ala ano pisou em quadra apenas 5 vezes pelo time canadense. Após duas temporadas nos EUA ele soma só 31 minutos de quadra! O lado bom da história é que como o Raptors está vivendo sua melhor fase na história, alcançando a marca de 50 vitórias pela primeira vez desde sua fundação, a pressão é pequena sobre o brasileiro. O Sixers, como vimos bem na semana passada, não soube lidar muito bem com a demora de seus jogadores em estourar.
Mas o lado bom pode também ser o ruim? Sem dúvida. Com um elenco tão bom, o Raptors acaba não vivendo a necessidade de arriscar, então Caboclo não recebe nem sequer a chance de surpreender. Se jogasse no Memphis Grizzlies e sua comunidade de lesionados, ele estaria em quadra nem que fosse por falta de opção. Prefiro que ele esteja em um time bom e organizado, sem a pressão, mas Devin Booker está aí para mostrar que é possível tirar proveito das oportunidades que um time destruído pode oferecer a um jovem jogador. Será que com minutos em quadra Caboclo iria surpreender ou manchar seu início de carreira?
Para analisar seu basquete só temos a D-League, a liga de desenvolvimento da NBA, para onde o Raptors enviou o jovem brazuca por boa parte da temporada. Lá ele jogou 37 partidas e terminou o ano com médias de 14.7 pontos, 6.5 rebotes, 1.1 roubo e 1.8 toco por partida. Bons números, apenas levemente manchados pelos 40% de aproveitamento nos arremessos. Poderia ser bem melhor, especialmente considerando que na D-League você precisa estar entre os melhores para ser visto como, TALVEZ, um jogador de NBA. Ele manteve os 33% de acerto da linha dos 3 (número ok, embora um pouco abaixo da média geral da liga), mas ao menos aumentou bastante o aproveitamento nos dois pontos, em especial porque ganhou mais confiança em suas infiltrações.
Ninguém ainda sabe ao certo em que posição Bruno Caboclo iria se sair melhor na NBA, mas a combinação de sua velocidade, altura e ótimo timing para tocos pode virar ouro se ele fortalecer seu chute de longa distância e desenvolver uma maior inteligência defensiva, algo difícil de fazer (ou ao menos de analisar de longe) nos caóticos e ultra velozes jogos da D-League. Caboclo deixou de ser o cara cru para virar um jovem de potencial, a próxima temporada será aquela para começar a cavar seus minutos na rotação do Raptors. Que a temporada 2015-16 seja lembrada, um dia, como uma boa escola.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Cabeleira gigante e nome dado a recém-nascidos, uma junção de clássicos brasileiros na NBA”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Br3.jpg[/image]
Lucas Bebê
Assim como seu parceiro de Toronto Raptors, Lucas “Bebê” Nogueira também passeou pela D-League nesta temporada, mas foi por menos tempo, apenas 11 jogos. O resto ele ficou no time principal mesmo, e teve seu rápido momento de glória.
Quando o pivô titular da equipe, Jonas Valanciunas, se machucou, eles tiveram que dar mais espaço para todos os pouco confiáveis jogadores da posição que completavam o elenco. Foi bom para descobrir que Bismack Biyombo, depois da decepção que foi em Charlotte, tinha jogo para ser titular em um time da NBA. Mas também serviu para que o brasileiro tivesse alguns de seus melhores jogos como profissional nos EUA.
Depois de jogar menos de 10 minutos em todo o primeiro mês de temporada, Bebê jogou mais de 15 em três jogos seguidos no começo de Dezembro, sendo que no último deles marcou 14 pontos, seu máximo na NBA, contra o small ball do Golden State Warriors. Foi o bastante para que ele ganhasse alguns elogios e passasse a fazer parte da rotação eventual da equipe, embora o técnico Dwane Casey muitas vezes preferisse jogar com um time baixo quando Biyombo descansava. Calhou que o tempo passou, Valanciunas voltou e aí Bebê foi afundado novamente no banco de reservas. Desde a parada do All-Star Weekend só atuou em 9 jogos e em só um deles passou mais de 5 minutos em quadra. Talvez ele tivesse mais chance em uma NBA que distribuísse mais minutos para pivôs, mas este não é o caso do mundo que vivemos em 2016.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Foto discreta de um jogador discreto em um time discreto”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/br9.jpg[/image]
Raulzinho Neto
A primeira temporada de Raulzinho na NBA acaba com um pouco de gosto amargo, mas não dá pra dizer que as coisas deram errado. Longe disso. O brasileiro caiu numa daquelas situações onde fica difícil saber se foi um golpe de sorte ou uma bomba, e ele fez o pêndulo ficar mais para o lado da sorte.
O armador principal do Utah Jazz, o australiano Dante Exum, machucou o joelho durante um treino com a sua seleção nacional durante a offseason e perdeu toda a temporada. Durante o período de treinos antes da temporada começar, o técnico Quin Snyder decidiu que Trey Burke, o outro armador, iria continuar vindo do banco de reservas como no ano anterior. Isso deixou o brasileiro recém-chegado com a responsa de ser o armador titular do time desde seu primeiro jogo como profissional.
Não é muito comum isso acontecer, mas quando ocorre geralmente é com um jogador que foi escolhido lá no topo do Draft e, muitas vezes, em um time ainda fraco que quer dar rodagem e experiência para esse armador. Só ver o Denver Nuggets dando luz verde total para Emmanuel Mudiay errar o quanto quisesse neste ano, por exemplo. Mas aqui o caso é diferente, a reconstrução do Jazz começou há alguns anos, desde a chegada de Derrick Favors, e após a excelente segunda metade de temporada em 2014-15, a franquia via esse ano como o momento de entrar para valer na briga pelos Playoffs. Não dava pra errar.
Com uma boa cabeça e provavelmente ótima orientação dentro do time, Raulzinho abraçou o seu papel. Ele não estava lá para arriscar, fazer estatísticas e ganhar confiança. Ele não é D’Angelo Russell livre para tudo no último mês de um Lakers que quer perder. Ele estava lá para distribuir o jogo e fazer o necessário para que Favors, Gordon Hayward e Rodney Hood pudessem levar o Jazz a vitórias. Muitos jogos de Raulzinho não foram empolgantes, mas quase sempre corretos: chamar jogadas, envolver todo mundo, saber quando deixar Hayward e Hood tomarem conta da armação também.
É claro que incomodava um pouco ver que Raulzinho não terminava os jogos em quadra, mas há uma explicação. No fim dos jogos, todos os times querem deixar a bola na mão de seus melhores jogadores. É uma segurança para que o cara de mais talento possa ao menos improvisar algo na base da habilidade mesmo quando uma possível jogada planejada não dê certo.
No caso do Jazz, o técnico queria Hayward e Hood tomando as decisões e os arremessos nos finais de jogos, e só valeria a pena ter Raulzinho em quadra nessas horas se ele fosse também uma ameaça ao adversário sem a bola na mão, como um exímio chutador de três pontos, por exemplo, ou um excelente defensor para compensar no outro lado da quadra. Nos arremessos senti que Raulzinho demorou para sequer ter a confiança em chutar ao invés de passar, mas terminou o ano com mais que respeitáveis 40% de aproveitamento, sendo absurdos e Korvernianos 48% da zona morta do lado direito da quadra. Mas na defesa Snyder preferia contar com o mais alto, versátil e experiente Joe Ingles.
O gosto amargo da temporada de Raulzinho veio na data-limite de trocas da temporada, quando o Utah Jazz foi buscar Shelvin Mack no Atlanta Hawks, que já chegou roubando a vaga de titular. A média de minutos em quadra de Raulzinho caiu de 22 por jogo em Janeiro e Fevereiro para 15 após a troca. Mas vale apontar que também caiu bastante a média de minutos de Trey Burke, que tem jogado apenas 12 minutos em Abril após ter minutos iguais aos de Raulzinho no mês anterior. O fato é que o Jazz quer muito voltar aos Playoffs e aproveitaram um negócio barato para poder pegar um jogador rodado, experiente e próximo de Hayward. Era uma troca que tinha todo o sentido de acontecer e não vi ela em nenhum momento como um ataque a Raulzinho, mas sim uma chance de fazer o que eles queriam desde o começo do ano: ter alguém mais agressivo no time titular (era pra ser Exum) e trazem o jovem e novato brasileiro do banco. É chato perder a titularidade, mas quem está mesmo perdendo espaço nesse time é Trey Burke.
O primeiro ano de Raulzinho foi um sucesso. Foi discreto, é verdade, mas não pediram mais do que isso para ele. Sem estar mais na fogueira e com um ano na bagagem, vejo ele brigando por uma vaga no time titular no futuro.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”#ChupaLeBron”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Br4.jpg[/image]
Cristiano Felício
O jovem pivô deixou o Flamengo no meio do ano passado e foi aproveitar uma chance na Summer League, atuando pelo Chicago Bulls. Foi bem, mas não brilhou e achei que voltaria ao Brasil e buscaria vaga em um time que desse mais espaço após os ridículos 14 minutos de quadra, em média, no time campeão de 14/15. Mas não, o Chicago Bulls gostou do pivô brasileiro e o chamou para participar do training camp, o período de treinamento antes da temporada começar.
Aí eu achei que era o fim da linha para Felício. O Bulls já tinha muitos contratos fechados, e boa parte deles era para jogadores de garrafão: Pau Gasol, Joakim Noah, Taj Gibson, Bobby Portis, Nikola Mirotic e Cameron Bairstow são todos jogadores que atuam na posição 4 ou 5. Onde que iria sobrar espaço para Felício? E pior, o Bulls já estava acima do teto salarial e não tem histórico nem de pagar muitas multas nem de ocupar todos os 15 espaços possíveis no elenco. Errei de novo. O técnico Fred Hoiberg se encantou com Felício e ele ganhou vaga no elenco. Alguém estava vendo um potencial lá que ninguém no Flamengo deu muita bola.
Foi uma temporada de muita paciência e de muita bunda no banco, mas não é que as coisas começaram a dar certo? O ano ruim do Bulls, com algumas lesões e mais derrotas que o esperado, fizeram Hoiberg apostar em seu novato no fim da temporada. Após ter míseros OITO minutos de quadra entre novembro e o meio de fevereiro, já jogou 286 desde então. Nos últimos 10 jogos do ano entrou em quadra pra valer, chegou a ser titular e em dois jogos seguidos até marcou 16 pontos, até aqui sua maior marca na carreira de NBA.
Ainda é pouca coisa, é claro, mas ele fez o que se pede de um novato: aproveitou toda pequena chance que teve. Quanto mais espaço dão para Felício, mais ele produz. A imprensa local tem dado mais atenção para ele nos últimos dias, como uma das raras boas notícias envolvendo o Bulls em uma trágica temporada em que estão perdendo os Playoffs. Renovando ou não com Gasol, tudo indica que Felício faz parte do futuro da franquia.
Vocês têm noção das médias por jogo do Felício neste mês de abril a cada 36 minutos? 16,4 pontos, 10,7 rebotes, 1,3 toco e 69,4% nos chutes
— Luís Araújo (@luis_araujo_) April 12, 2016
Pelo menos um jogador do Bulls nesse ano vai ter boas memórias da temporada 2015/16. A trajetória de Felício no último ano foi uma das mais improváveis e bonitas entre os jogadores brasileiros na NBA.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Varejão está no Top 10 de jogadores da NBA que não tem cara de jogador da NBA”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Br6.jpg[/image]
Anderson Varejão
O ano de Anderson Varejão todo mundo deve se lembrar, ele esteve nos times que mais receberam holofotes durante toda a temporada. Começou no Cleveland Cavaliers, o time em que passou toda sua carreira e do qual era um dos rostos mais conhecidos e um dos nomes mais idolatrados pelos fãs. Não é comum um jogador ficar tanto tempo numa franquia, mas Varejão fez esse nome pra ele na cidade. Não foi o bastante, porém, para sobreviver às ambições do time no ano. Com uma folha salarial gigantesca e buscando flexibilidade para mudar um time que não corresponde ao que se espera (o título e nada mais!), Varejão foi envolvido numa troca com o Portland Trail Blazers, o que fez até crianças chorarem:
A troca de jogadores icônicos, mesmo secundários como era Varejão nesse estágio pós-lesões da carreira, é sempre arriscada. Lembramos do impacto da saída de Kendrick Perkins no Boston Celtics e, nesse ano também, da insatisfação do elenco do Bulls após a saída de Kirk Hinrich. Mas também foi compreensível: era um salário muito grande para um jogador que estava atrás de Timofey Mozgov e Tristan Thompson na rotação de pivô.
O Blazers já tinha avisado que iria dispensar Varejão assim que o pegasse da troca, já que não interessava para eles ter um veterano roubando minutos de seu jovem elenco em reconstrução, então ficamos preocupados por aqui: quem iria apostar em Varejão depois de dois anos de muitas lesões e poucos minutos? Calhou que TODO MUNDO. Jogadores inteligentes, raçudos e experientes são bem cotados e Varejão conseguiu até escolher entre vários candidatos ao título. Acabou indo para o maior rival do Cavs na atualidade, o Golden State Warriors, convencido por Leandrinho e Luke Walton, que foi seu companheiro de time em Cleveland e hoje é assistente de Steve Kerr no Warriors. Não era uma escolha tão difícil, vai?
Ele foi bastante importante quando chegou porque Festus Ezeli estava machucado, e se adaptou bem rápido ao esquema de muitos passes, velocidade e defesa bem mais móvel e agressiva que a do Cavs. Em uma entrevista, Andrew Bogut disse que Varejão o confessou que estava ainda mais impressionado com o entrosamento e velocidade de passes do Warriors ao acompanhar eles de perto. Se impressionou, mas conseguiu acompanhar.
Ele perdeu um pouco de espaço com a volta de Ezeli ao elenco, mas, dependendo dos matchups que encontrarem nos Playoffs, pode voltar a ganhar espaço durante a pós-temporada do Warriors, que tem tudo para ser bem longa. Sem querer cutucar ninguém, mas Varejão agora mora em uma cidade mais legal e ganhou mais minutos, mais dinheiro, e mais chance de ganhar um anel de campeão após toda sua mudança de ares.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Nay Nay”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Br5.jpg[/image]
Nenê
As únicas vezes que Nenê tinha passado tão pouco tempo em quadra como em 2015/16 foram nos dois anos em que suas temporadas foram encerradas por lesões graves, em 2005/06 e 2007/08.
Foram duas razões para vermos tão pouco do brazuca pelo Washington Wizards: (1) ele já tem 33 anos e (2) o técnico Randy Wittman decidiu que nessa temporada iria jogar com apenas um jogador de garrafão, e o escolhido foi Marcin Gortat. Nenê foi titular em míseros 10 jogos ao longo do ano.
A mudança era compreensível para o Wizards, não só boa parte da NBA está tentando jogar com times mais baixos e versáteis como eles tinham se dado muito bem assim nos Playoffs com Paul Pierce jogando na posição 4 por muito tempo. Mas sem Pierce as coisas não funcionaram tão bem. Eles conseguiram se tornar o 5º time mais rápido da NBA, mas não transformaram isso em eficiência ofensiva e muito menos defensiva. Embora a velocidade tenha favorecido o estilo de John Wall, o resto do time só piorou, e a identidade dos últimos anos foi para o lixo. As lesões de Alan Anderson, Jared Dudley e principalmente Bradley Beal não ajudaram um time que de repente queria tanto se focar nos jogadores de perímetro.
Nenê, até a temporada passada, era muito usado na cabeça do garrafão e era um dos passadores mais importantes da equipe, responsável por mudar a bola de lado no ataque ou alimentar Gortat mais próximo da cesta. O jogo em velocidade não envolvia mais o brasileiro do mesmo jeito, que não só jogou menos tempo como também era pouco utilizado em suas melhores formas quando finalmente pisava em quadra. Após passar 70% dos seus minutos em quadra na posição 4 na temporada passada, segundo dados do Basketball-Reference, nesse ano ficou 92% de seus minutos como o único pivô do time em quadra. Nessa função ele, ao invés de funcionar como um facilitador do ataque na cabeça do garrafão, foi obrigado correr de um lado para o outro fazendo pick-and-rolls, o que está longe de ser sua praia.
A chegada de Markieff Morris pode ter sido só um ato de desespero no meio da temporada, mas também um sinal de que eles realmente ainda vão insistir mais em jogar só com um pivô. Quer dizer, vamos ver quem chega após Randy Wittman, finalmente, ser mandado embora. Foi uma temporada para o Wizards esquecer e para Nenê deixar de lado, mas o talento para ajudar essa ou outras equipes ainda está lá. O fim da carreira do brasileiro está chegando, mas ele ainda tem lenha pra queimar.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”10 pontos para quem não ficou olhando só para o PONTO AMARELO na cabeça do Dennis Schröder”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Br7.jpg[/image]
Tiago Splitter
A temporada mais frustrante entre os brasileiros aconteceu em Atlanta. Em seu primeiro ano no Hawks, Tiago Splitter jogou apenas 16 minutos por partida nos míseros 36 jogos que disputou antes de dizer adeus à temporada com uma lesão grave no quadril. Ele teve que operar e estará até fora dos Jogos Olímpicos do Rio.
Antes da operação Splitter já estava jogando mal para os seus padrões, parecendo mais lento e menos ativo na defesa, onde ele faz mais diferença em quadra. Tudo ficou explicado depois, porém, quando ele disse que optou pela cirurgia porque as dores estavam insuportáveis o tempo todo, não só quando estava jogando basquete. Quando andar, viver e respirar dói, é demais pedir que se jogue basquete no nível mais alto possível.
Nesta offseason o Atlanta Hawks pode trocar Jeff Teague (vão querer pivôs em troca?) e corre o risco de perder Al Horford, que se torna Free Agent. Será um bom momento para vermos se o time enxerga Splitter como moeda de troca, como alguém substituível ou até como um possível titular em caso da (desastrosa) perda de Horford para o mercado.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Não. Há. Explicação.”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Br10.jpg[/image]
Leandrinho Barbosa
Quando o Barbosão veio jogar no NBB pelo Pinheiros, achei que já era. Leandrinho tinha pulado de time em time desde que tinha saído do Phoenix Suns e não havia convencido em nenhum. Também tinha tido suas lesões e não parecia ser aquele cara com pinta de líder veterano que se mantém na liga não só pelo o que joga, mas pelo o que representa.
Mas aí caiu do céu a chance de jogar no Golden State Warriors, e Leandrinho não só abraçou a oportunidade, mas também soube ler o que eles precisavam e entregar até mais do que o pedido. Desde o ano passado Leandrinho, conhecido por ser o clássico “pontuador do banco” à la Jamal Crawford, mostrou que a experiência em outros times rendeu bons frutos. Como foi obrigado a fazer nos tempos de Indiana Pacers, tem mostrado uma defesa sólida, inteligente, atenta, que bate muito bem com o esquema do Warriors que exige que os baixinhos em quadra estejam o tempo todo interceptando linhas de passe e incomodando pivôs com marcação dupla. Ele também mantém o bom aproveitamento na bola de três pontos e até sua velocidade para o contra-ataque está lá. Ele não é, claro, o mesmo Brazilian Blur de quando tinha seus 24 ou 25 anos de idade, mas aquelas passadas gigantes ainda resolvem muitos contra-ataques.
Mas talvez o impacto mais surpreendente de Leandrinho seja na liderança. Barbosa ganhou moral com a comissão técnica ao se auto impôr o papel de líder da molecada do elenco, em especial os reservas que pouco jogavam. Ao fim dos treinos, ele puxava caras como Brandon Rush, Justin Holiday ou Ian Clark para fazer coisas a mais, como concursos de arremesso ou algum treino específico. Experiente, boa praça e amigo de todos no elenco, ele é importante para manter o clima leve que marca esse grupo.
Não à toa o Golden State Warriors nem pensou em mudar seu banco de reservas para este ano. Leandrinho segue lá como líder, como um dos caras mais divertidos do grupo e (essa parte ajuda) JOGANDO BEM nos minutos limitados que tem em quadra. De quase fora da NBA, Leandrinho voltou e agora está na história do basquete como parte importante de um dos times mais espetaculares da história da NBA.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Tava pouco Warriors nesse post, tinha que colocar mais”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Br8.jpg[/image]
Marcelinho Huertas
Como falamos no último Filtro, a internet chegou a chamar Huertas de MVP após o seu espetacular roubo de bola contra Goran Dragic, do Miami Heat.
Mas não se enganem, MVP é Most Vineable Player, o jogador que mais cria jogadas que merecem aquele Vine no meio da rodada, para entreter a timeline do Twitter (desafiem sua avó a entender essa última sentença). Isso porque Huertas é um dos jogadores que mais cria jogadas pouco convencionais na liga hoje em dia. Seus passes não são os padrões para um armador da NBA, os arremessos muito menos, nem seus floaters. E sua visão de jogo, os passes criativos, ficam ainda mais legais quando vistos pela visão de “ser exótico” de quem está de fora.
Pra gente é só o Marcelinho Huertas com a criatividade que teve desde sempre, para um torcedor médio dos EUA é o novato BALZAQUIANO que veio do distante Brasil e joga num dos piores Lakers de todos os tempos. Dá pra entender o apelo!
A temporada de Huertas começou bem e acaba bem, mas o miolo foi bem complicado. Primeiro ele virou uma sensação cult entre os torcedores fanáticos do Lakers que acompanharam a sempre enfadonha pré-temporada ao carregar todos os pivôs meia boca do time nas costas com seus passes geniais, especialmente no pick-and-roll.
A temporada pra valer começou, porém, e os minutos do brasileiro foram para o ralo. Byron Scott dava alguns minutos para o novato D’Angelo Russell, aí brigava com ele e no lugar colocava os armadores-não-armadores Lou Williams ou Jordan Clarkson. Demorou para que ele fosse convencido de que o time, especialmente o fraco grupo de reservas, precisava de alguém com visão de jogo e bom passe para que algo parecesse uma equipe profissional de basquete. Foi aí, lá pelo fim do ano passado, que ele passou a jogar mais.
Jogando mais, porém, seus defeitos ficaram mais claros também. As defesas passaram a explorar a sua falta de velocidade, seus pick-and-rolls ficaram mais visados e ele ganhou o tratamento Rondo de “arremesse por favor” das defesas. As jogadas que ele sofreu contra Tyler Johnson e Brandon Knight rodaram a internet pelo motivo errado…
Nos dois lances senti algo que ele já vinha fazendo com alguma frequência: tentar se antecipar ao que o adversário iria fazer para compensar a falta de explosão física. Quando dá errado, porém, é um desastre. Ao longo do tempo vi ele fazendo menos isso e sendo mais conservador, às vezes se toma uns arremessos na cara, mas funciona melhor.
Depois de um tempinho de geladeira, Huertas voltou a entrar em todo santo jogo. Desde a parada do All-Star Weekend, que foi quando o técnico Byron Scott resolveu pegar mais leve com os novatos e deixar o estilo de jogo do time menos engessado, o brasileiro ganhou espaço e passou a jogar melhor. Nos últimos 20 jogos da temporada ele sempre passou ao menos 14 minutos em quadra, mas geralmente ficou na casa dos 22 e por duas vezes ficou mais de 30 jogando. No meio disso tudo, ISSO aconteceu:
O desastre do Lakers é tão grande, mas tão grande, que é quase um Sixers de difícil de analisar um jogador individualmente. Mas deu para Huertas fazer o seu nome com quem não o conhecia de perto: MUITA visão de jogo, DOMINADOR de pick-and-rolls e o armador que mais gosta de passar a bola no mundo. Enquanto isso se sobressair sobre a defesa lenta e a falta de arremesso, está ótimo.
Se dá pra tirar uma coisa geral dessa temporada dos brasileiros é que ninguém está no seu auge. A geração mais antiga, de Leandrinho, Varejão, Huertas, Splitter e Nenê, vive seus momentos pós-30 anos de maneiras diferentes, mas usando a experiência que acumularam ao longo dos últimos 10 anos a seu favor. Ainda jogam bem, mas em todos os casos é possível lembrar de temporadas em que foram mais relevantes.
A molecada, Raulzinho, Caboclo, Bebê e Felício, por outro lado, ainda está muito no começo de sua jornada. A essa altura se vier um cara do futuro dizendo que vários desses viraram titulares importantes, eu acredito. Se outro vier dizer que todos saíram da NBA pela porta dos fundos, acredito também. De qualquer forma, depois de um bom tempo sem renovação é legal ver uma nova geração de brasileiros na liga.