Como lidar com as ilusões da 1ª semana da NBA

Depois de meses sem NBA de verdade e de semanas discutindo e especulando o que será desta nova temporada, quando os jogos começam a gente já se desespera por respostas. Esse cara é realmente tudo isso? Meu time é mesmo tão ruim? As respostas começam a ser dadas agora, mas não terminam. Para nós, o desafio das novidades é identificar o que é para valer. Para os técnicos, o desafio é saber do que desistir e no que insistir.

O meu exemplo favorito vem do Utah Jazz da temporada passada. Os números dos dois primeiros meses do campeonato davam saldo de -13 pontos por 100 posses de bola para o time quando eles tinham os grandalhões Rudy Gobert e Derrick Favors juntos em quadra. É uma péssima marca que parece ainda pior porque os números defensivos do time eram bons com eles, o que matava eram os 90.8 pontos por 100 posses de bola que o time marcava, QUINZE pontos a menos que o pior ataque da liga no ano passado. São muitos números para dizer que o time só era minimamente decente pelo o que conseguia fazer quando a dupla de gigantes estava separada.

O técnico Quin Snyder poderia fazer o que o resto da NBA estava fazendo e passar a jogar com apenas um homem de garrafão, mas decidiu esperar. O segredo foi cavar mais um pouco nos números: a dupla era ruim junta, mas ela não jogava sempre com os mesmos três outros jogadores no quinteto. Se contássemos os minutos da dupla Gobert/Favors sem Ricky Rubio em quadra, por exemplo, o rating ofensivo pulava dos 90.8 pontos por 100 posses de bola para 107.7!

O problema não era ter dois jogadores pesados de garrafão, mas jogar com um armador que também não tem tiro de longa distância. O que mudou quando Gobert voltou de lesão e o time deslanchou? Ricky Rubio passou a ter o melhor aproveitamento de arremessos da carreira (tanto de tiros de longe como em infiltrações), Donovan Mitchell pegou o jeito das bolas de 3 e Joe Ingles continuou sendo um dos melhores chutadores da NBA. Ao invés de só reagir automaticamente a um número, Quin Snyder identificou os problemas e trabalhou para que seu time melhorasse nessas áreas. Junte a isso jogadores que ralam a bunda para melhorar e temos um timaço. E fica a lição para maneirar na dupla de garrafão nos dias em que os arremessos não estiverem caindo.

No começo desta temporada 2018-19 temos vários times começando a ver problemas e decidindo se vale a pena insistir ou tentar outra coisa. O Los Angeles Lakers, por exemplo, decidiu que JaVale McGee seria o pivô titular e que o time jogaria com um quinteto baixo quando ele fosse para o banco. Nesses primeiros dois jogos vimos que Kyle Kuzma não está preparado para lidar com a estranha função: apanha nos rebotes defensivos, erra na defesa do pick-and-roll e nem consegue compensar nas trocas de marcação, o que deveria ser o lado positivo de se ter jogadores mais baixos em todas as posições. Pelo contrário, James Harden e Chris Paul fizeram de Kuzma um alvo e conseguiram cinco cestas e três faltas (tomaram dois tocos também) no jogador do Lakers ao longo do jogo:

Depois do jogo, o jovem segundo-anista do Lakers mandou uma mensagem para o técnico Luke Walton dizendo que “isso nunca mais vai acontecer”. Gostei de atitude, mas o mais provável é que não se resolva de uma hora para a outra. E mesmo que Kuzma melhore na marcação de jogadores do perímetro, como solucionar os rebotes que o time tanto precisa para sair em velocidade? E como intimidar o adversário quando ele vê um Lakers sem nenhuma ameaça para um toco no garrafão? Veremos se Luke Walton faz ajustes ou se logo abandona a ideia do seu super small ball.

Caso parecido aconteceu no Philadelphia 76ers: todo mundo já sabia que o time iria sofrer no ataque quando JJ Redick não estivesse em quadra, e é isso que vimos nos primeiros jogos da temporada. Provavelmente o técnico Brett Brown, que conhece seu elenco a fundo e viu a revolução causada pela chegada de Marco Belinelli na temporada passada, também sabia, mas tinha um plano para evitar o desastre. O plano segue de pé? Passa por Markelle Fultz arremessar mais? As próximas semanas vão colocar a prova sua estratégia e sua paciência.

Em Chicago vimos pouca paciência: Jabari Parker é uma negação defensiva e mesmo na pré-temporada já tinha pulado para o banco de reservas. O técnico Fred Hoiberg tentou dar uma moral para ele o deixando em quadra na última posse de bola do jogo contra o Detroit Pistons, mas isso custou uma bandeja sem resistência de Ish Smith. Você acha que Parker está protegendo a infiltração até perceber que ele é uma ilusão de ótica:

Mas talvez nada supere esse lance em que ele simplesmente ESQUECE de Blake Griffin depois de forçá-lo a passar a bola.

O mais desesperador é que poucos minutos antes o mesmo Ish Smith tinha feito uma outra bandeja fácil, dessa vez sendo marcado por Zach LaVine. O Bulls precisa dos dois para marcar pontos a rodo como tem feito desde a pré-temporada, mas tudo é entregue depois na defesa. É corrigível ou começaremos a ver Hoiberg controlar os minutos de ambos para que não fiquem ao mesmo tempo em quadra?

Estamos falando de coisas ruins até agora, mas o mesmo vale para o que dá certo. No ano passado vimos as duas semanas dos sonhos do Orlando Magic, quando eles flertaram com as melhores campanhas da Conferência Leste até caírem na real e voltarem para o fundo do poço tão conhecido dos últimos anos. Como diabos isso aconteceu? Comparando os dois momentos, vemos que a grande diferença estava no aproveitamento do time de longa distância. Enquanto Evan Fournier parecia Klay Thompson e Aaron Gordon era Devin Booker estava tudo bem, depois viraram abóbora.

Esse é um momento onde a comissão técnica e até os jogadores devem ter consciência sobre a razão das suas vitórias, sobre o que é sustentável e até do que deve ser corrigido mesmo no meio de uma boa fase. O novo exemplo é o Denver Nuggets, que pela primeira vez em sua história consegue começar uma temporada com 3 vitórias seguidas segurando os adversários com menos de 100 pontos. Na vitória de domingo sobre o Golden State Warriors, o time empacou ofensivamente nos últimos minutos de jogo e só saiu com a vitória porque impediu o atual campeão de marcar pontos, inclusive com um tocaço de Juancho Hernangomez sobre Damian Jones para assegurar a vitória no segundo final.

Aqui estamos falando de um time que foi só a 22ª melhor defesa do ano passado e que não mudou em praticamente nada o seu elenco e técnico. Quem imaginaria que eles venceriam o Warriors em um dia onde Jamal Murray não acertou um arremesso sequer, Will Barton não jogou e Paul Millsap esteve irreconhecível? Foi tudo defesa.

Segundo o que o técnico Mike Malone falou ao The Athletic, a principal mudança do time está no campo do esforço. Mais que tática, eles tem TENTADO mais. Para ser mais específico, Malone exalta os “esforços múltiplos” na defesa: você marca bem o seu jogador, ele passa a bola e você segue a defesa pegada até garantir o rebote. Segundo Millsap, essa é uma coisa sobre a qual eles falaram no ano passado mas que só agora estão realmente colocando em prática.

Soa como um Bildungsroman, aqueles romances onde acompanhamos a jornada de um jovem personagem rumo a sua maturidade completa. O jovem Nuggets é um desajustado que só pensa em atacar e marcar pontos, mas ao longo da jornada finalmente percebem que só a defesa permite que eles alcancem a plenitude. Só que por mais que a gente ame uma NARRATIVA na mídia esportiva, nem sempre as coisas seguem uma sequência lógica.

Acreditar que a melhora na defesa é uma mera questão de esforço pode prejudicar o próprio time em caso de piora. Talvez eles estejam numa maré de sorte e seus adversários tenham errado arremessos que costumam fazer, quando isso acontecer eles vão reconhecer que pouco mudou ou vão começar a apontar dedos achando que um ou outro deixou o esforço para trás? Torço para que a melhora seja de verdade, mas cabe à comissão técnica um estudo mais cuidadoso para explicar o que está acontecendo.

Por fim, há ainda as estranhezas individuais que nós aqui de fora ficaremos de olho para descobrir o que é verdade ou não. Fica um palpite para o futuro: sim, Caris LeVert é tudo isso que está jogando pelo Brooklyn Nets. Desde o ano passado ele dá mostras de seu jogo bem completo, faltava um pouco mais de confiança para botar a bola no chão e atacar.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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