Dono da Bola – Los Angeles Clippers

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Sterling depois do churras com a galera do prédio

Falei do Los Angeles Clippers no último post e prometi um texto com o perfil do dono da equipe, Donald Sterling. Também aproveitei para postar esse texto sobre o cara feito pelo blog Grandes Ligas. O texto é bom e diz muito do que vou dizer aqui, mas promessa é promessa e precisamos continuar a parada série sobre donos de equipes.

Donald Sterling
(via: HoopsHype)

Temporadas no comando: 31
Playoffs: 4
Títulos de divisão: 0
Títulos de conferência: 0
Títulos da NBA: 0

Riqueza estimada: 500 milhões de dólares
Comprou o time por: 13 milhões de dólares (1981)
Valor atual da equipe: 295 milhões de dólares
Maior contrato oferecido: Elton Brand (US$82.1 milhões, 2003)
Técnicos contratados: 16 (Paul Silas, Jim Lynam, Don Chaney, Gene Shue, Don Casey, Mike Schuler, Larry Brown, Bob Weiss, Bill Fitch, Chris Ford, Jim Todd, Alvin Gentry, Dennis Johnson, Mike Dunleavy, Kim Hughes e Vinny Del Negro)


Você não leu errado, em 31 anos como dono do Los Angeles Clippers o Sr. Donald Sterling viu o seu time ir aos playoffs apenas 4 vezes. Nunca venceu título de divisão, conferência ou da liga. Ele também não é nenhum fanático bilionário que comprou o time por amar basquete e nem faz isso pelo dinheiro, o Clippers, apesar de estar na segunda maior cidade americana, é apenas o 24º time que mais rende dinheiro na NBA segundo a Forbes. O que faz Sterling prosseguir no cargo é um mistério.

Ele é de uma família de imigrantes judeus de Chicago, mas se mudou para Los Angeles com apenas 8 anos de idade. Lá ele estudou, se formou em Direito e começou a atuar como advogado e a investir no mercado imobiliário, que foi onde realmente se destacou e rapidamente construiu uma fortuna, hoje é o maior dono de terrenos em Beverly Hills. Já cheio da grana, em 1979, ele fez um grande investimento de 2.7 milhões de dólares em apartamentos de propriedade de Jerry Buss, que precisava desse dinheiro extra para finalizar a compra do Los Angeles Lakers. Pouco tempo depois Buss disse ao Sterling que ele deveria também comprar seu próprio time na NBA, conselho que acatou comprando o San Diego Clippers. A franquia tinha se mudado há poucos anos de Buffalo para San Diego, mas sem sucesso nas quadras e com a torcida local.

Em pouco tempo, 1984 para ser exato, Sterling já havia convencido a NBA a mudar a franquia para a sua cidade, Los Angeles. Embora a mudança tenha rendido alguns frutos em termos de público e curiosidade geral na cidade, o fracasso nas quadras continuou: Nos seis primeiros anos de Clippers em LA o melhor aproveitamento deles foi de 39%; e na temporada 86-87 eles somaram apenas 12 vitórias, a segunda pior marca da história. Ao mesmo tempo o Lakers fazia a rapa de títulos no Oeste e na NBA. O mais próximo de sucesso nessas 31 temporadas foi a segunda rodada nos playoffs de 2006 quando perderam para o Phoenix Suns em 7 jogos. Só. Fim.

Mas quanto um dono de time pode influenciar negativamente uma equipe? Afinal, em teoria ele só coloca o dinheiro e são General Managers, técnicos e jogadores que fazem o trabalho. Bom, olhe o que eu mesmo disse aqui sobre porque o Clippers, mesmo cheio de espaço salarial, não atraiu nenhum Free Agent de nome:

“Os motivos para não atrair jogadores de nome são vários: o time não ganha nada faz tempo, não tem um técnico que impressione os jogadores, não tem atenção da mídia, tem fama de perdedor e o seu dono, Donald Sterling, é um idiota que volta e meia faz comentários racistas, sexistas ou só idiotas mesmo. Nessa offseason ele comentou as contratações de Randy Foye e Ryan Gomes dizendo “Eu nunca ouvi falar desses caras, mas o que eu posso fazer se o técnico pediu?”. Boa primeira impressão para os novos funcionários.”

Dá pra imaginar a motivação de atuar para um dono desse? Claro que depois de um tempo você atua porque você quer vencer por conta própria, pelos companheiros e pelos fãs, mas é a pior primeira impressão para um novo funcionário na franquia. Mas fica pior que isso: Desde a temporada passada Sterling tem dado uma de Mark Cuban e fica perto do banco de reservas torcendo. Mas se “torcer” para o dono do Mavs significa incentivar os jogadores que ele paga, para Sterling é uma chance de gritar coisas como “Por que você tentou esse arremesso?”, “O que você está fazendo em quadra?” e um singelo “Você está fora de forma!”, esse olhando diretamente para o cara mais bem pago do time, Baron Davis. O jogador tentou evitar polêmica ao comentar o assunto, mas disse que a situação já estava difícil e ele ainda precisava “lutar batalhas desnecessárias”.  Até mesmo o Chris Kaman, talvez o grande ponto positivo da temporada passada, recebeu críticas do dono do time durante os jogos. Sterling também foi a público no fim do ano passado dizer que se pudesse trocaria todos os jogadores e em uma das poucas visitas que fez ao vestiário só o fez para apontar para Al Thornton e chamá-lo de fominha e egoísta.

Está dando pra sacar como um dono pode influenciar o time negativamente? Nessa temporada ele voltou de novo a visitar seus empregados, dessa vez acompanhado de mulheres, para quem mostrava os jogadores se trocando e dizia “Veja que belos corpos negros”. Pior, aconteceu mais de uma vez. Um cara de dentro do Clippers que não quis ser identificado disse ao Yahoo! que “O dono de um time tem que ser o cara que apoia todo mundo na franquia, quando ele não faz isso acaba com a confiança de todos”. E faz sentido, quando seu chefe só te põe pra baixo você sai da zona de conforto, bate o desespero, o medo de ser demitido, de ter sua imagem manchada no mercado e tudo mais. É comum para todo tipo de profissão.

Como se não bastasse fazer isso só com os jogadores, fez também com o General Manager do time, o lendário jogador Elgin Baylor. Depois de trabalhar no time de 1986 até 2008, ele saiu da equipe e imediatamente processou Donald Sterling por racismo. A acusação é meio estranha, o Baylor cita casos de racismo contra ele e outros ao longo desses 22 anos que serviu ao time, mas por que contar tudo só quando é mandado embora? E não só isso, ele diz que nesse período de tempo o Clippers perdeu muitos jogadores negros bons porque o Sterling não os queria. Ele cita Danny Manning, Charles Smith, Michael Cage, Ron Harper, Dominique Wilkins e Corey Maggette. Bom, como o blog Clipsnation lembra, Cage foi trocado por outro negro, Gary Grant, uma troca que ainda foi considerada boa na época. Manning foi trocado por Dominique Wilkins em fim de carreira, outro negro. Maggette foi trocado depois de assinar uma extensão milionária com o próprio Clippers. O problema mesmo está em outro dado, o Clippers só assinou seis extensões de contrato com mais de 3 anos de duração nos 30 anos de Sterling! Só seis! Ou seja, seja branco, negro, amarelo ou azul, ninguém quer ficar no Clippers.

Mas voltando ao Elgin Baylor. O momento em que resolveu falar sobre o racismo do Sterling foi estranho, assim como esse argumento de que eles perderam jogadores, mas não quer dizer que ele partiu do nada. Sterling é mesmo racista se acreditarmos em todos os (muitos) depoimentos espalhados por aí. Baylor diz que o seu antigo chefe uma vez disse sobre Danny Manning que estava “Oferecendo muito dinheiro para um pobre garoto negro” e chegou ao cúmulo de comparar o seu time a uma fazenda “com garotos pobres do sul comandados por um treinador branco”. Ou seja, o Baylor tinha razões para acusar Sterling de racismo, coisas ditas desde 20 anos atrás, mas só decidiu trazer a público depois que foi colocado de lado no comando do time, tendo suas funções aos poucos ocupadas pelo então técnico Mike Dunleavy. Embora embasado, ficou mais parecendo vingança do que qualquer outra coisa.

Fora do mundo do basquete a fama de Sterling também não é das melhores. Como descrito perfeitamente pelo site Deadspin em um momento Amélie Poulain, “Donald Sterling não gosta de: Mexicanos, negros e crianças. Gosta de: Coreanos e sexo oral”.

Uma vez ele disse para uma das mulheres que cuidavam de um dos seus prédios que não queria inquilinos que “se diferenciassem muito de sua imagem”. Com isso ele queria dizer que não queria negros, mexicanos, descendentes de mexicanos, crianças e nem pessoas que recebiam subsídios do governo para moradia. Segundo depoimentos de inquilinos, Sterling sabia que não podia negar moradia para essas pessoas, então resolvia o seu problema transformando a vida deles em um inferno. Ele recusava os cheques dados por eles para no dia seguinte acusá-los de não pagamento, aparecia com constantes visitas surpresas de inspeção para achar qualquer tipo de irregularidade, ameaçava sempre de expulsão e nunca providenciava consertos para qualquer tipo de problema na infraestrutura dos apartamentos. Eventualmente, exaustos, eles acabavam saindo. Segundo o depoimento de uma funcionária de Sterling, ele dizia que os mexicanos só sentam por aí fumando e bebendo o dia todo, enquanto negros cheiravam mal e não tinham higiene.

Existe o caso de uma mulher idosa e negra com problemas de saúde e parte do corpo paralisado que tinha um vazamento constantes no seu apartamento (ela tinha que usar um saco plástico ao invés de privada e tinha o apartamento alagado por muitas vezes). Ela pediu para a empresa de Sterling consertar, o que ele respondeu para a sua funcionária com “Despeje a vagabunda”. Já em compensação gostava de inquilinos coreanos porque “eles aceitam qualquer condição que eu ofereço e não importa o que aconteça sempre pagam”. A admiração pela cultura asiática era tamanha que ele pedia que seus funcionários pedissem desculpas abaixando a cabeça como nos cumprimentos japoneses e dizendo “Desculpe por tê-lo desapontado, Sr. Sterling, farei melhor da próxima vez”.

Quando precisava de funcionários para trabalhar nos jogos do Clippers o próprio Sterling colocava anúncios nos jornais pedindo mulheres bonitas para trabalhar como hostess na entrada do STAPLES Center ou mesmo para festas organizadas pela franquia. Ele pedia que as garotas levassem fotos sensuais e o próprio Sterling fazia a seleção de quem seria contratada ou não, fazendo-as passar por situações constrangedoras. Uma mulher que uma vez tentou o emprego disse que ele pediu fotos semi-nuas e deu a entender que queria mais, dando um “sorriso vazio” quando teve o pedido negado. Outra contou que “Trabalhar para o Sr.Sterling foi o trabalho mais desmoralizante que eu já tive”. O caso mais extremo foi de Christine Jaksy, funcionária que o processou por assédio sexual. Ela disse que ele não só tentava relações com ela como pedia que ela arranjasse massagistas dispostas a fazer sexo oral nele. O processo foi encerrado quando ambas as partes chegaram em um acordo financeiro.

Racistas existem em todos os lugares, é fato. Pessoas idiotas que acham que podem tudo porque tem dinheiro também. Sterling não é exceção ou novidade em nenhum dos casos, mas é especial por ser o dono de time mais fracassado em toda a NBA, disparado, e ao mesmo tempo o que tem o pior histórico em questão de comportamento. Por que será que a NBA, que é capaz de multar e suspender jogadores que dirigem bêbados nas férias ou brigam em uma casa noturna, não faz nada contra um dono de equipe com tantas acusações de racismo e mal comportamento dentro e fora do time? Ele também não mancha a imagem perfeitinha da NBA? Difícil sugerir o que fazer, não sei nada da lei e dos contratos entre as franquias e a NBA, mas algum tipo de pressão teria que existir.

Na página sobre Donald Sterling no site do LA Clippers não há nenhuma dessas informações, mas você descobre que ele ganhou o prêmio BBA de Humanitário do Ano em 2008 e o prêmio de “Herói das Crianças” em 2006.

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Outros textos da coleção “Dono da Bola” sobre donos de equipes:
Philadelphia 76ers – Ed Snider
Boston Celtics – Wyc Grousbeck
Washington Wizards – Abe Pollin

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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