Hora de apostar

Quando os jogos de pôquer começaram a aparecer na TV, muitos e muitos anos atrás, gostei da brincadeira e aprendi as regras. Serviu para descobrir que sou muito ruim, que não tenho paciência para jogos longos, não sei ler os meus adversários e nem disfarçar quando estou frustrado com as minhas cartas. Mas essa minha vida de derrotas na mesa me serviu para uma coisa que eu uso com regularidade, conhecer o conceito de all in.

O all in é quando um dos jogadores coloca todas suas fichas na mesa no mesmo lance, uma aposta decisiva que pode tirá-lo do jogo imediatamente em caso de derrota. Seja porque sua mão é ótima ou porque ele quer que seu adversário pense que esse é o caso, ele arrisca todo o seu jogo e dinheiro de uma vez. Passei muito tempo sem sacar direito qual era a dessa jogada, parecia às vezes excesso de confiança, às vezes saco cheio com o jogo ou, claro, total falta de noção. Acontece porém, que além do simples blefe, existem situações onde o all in é racionalmente a melhor decisão.

O pôquer é um jogo de probabilidades e se elas estão a seu favor (isso implica ler a sua mão e a dos outros) o ato extremo de colocar tudo na mesa pode fazer o seu ganho naquela mão ser muito maior, além de forçar o adversário a se colocar nessa mesma situação extrema para continuar no jogo. Você leva não só a sua situação à beira do abismo, mas carrega outros com você e observa a sua reação. Em alguns casos um jogador pode estar a uma carta de um resultado ótimo, mas o seu all in o intimida e o faz desistir antes de ter a chance de consegui-la.  De todos os “vai ou racha” de esportes e jogos que conheço, é o mais racional e planejado de todos.

Desde o último dia 15, os jogadores que assinaram novos contratos na última offseason já podem ser negociados pelos times que os contrataram, é o famoso momento do arrependimento. Até agora não rolou nada de negociações, mas isso significa que ninguém se arrependeu de dar milhões de dólares para Omer Asik ou Lou Williams? Claro que não. Acontece que o padrão é ver os times segurarem pelo menos até Janeiro para trocar jogadores, especialmente se for alguém importante. Isso dá tempo de várias coisas: ter números o bastante para avaliar seus jogadores e os adversários, esperar todos estarem livres para trocas e, claro, deixar o técnico tentar tudo que era possível antes de mudar as coisas. Também é só em Janeiro que os times podem começar a assinar jogadores para contratos de 10 dias, bem necessários para testar jogadores e repaginar um time após uma grande troca.

Posso estar me adiantando um pouco, portanto, mas estava aqui pensando em que times devem ou podem fazer trocas e quais deveriam. Pequenas trocas inteligentes todos devem fazer, mas aqui estou falando do all in. Que franquias devem buscar aquele negócio grande que vai dar uma reviravolta completa no time? Analisei o caso de três times que eu acho que deveriam ir para o tudo ou nada, e depois falei de outros que deveriam dar o fold e esperar a próxima rodada.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”-Medo leva a raiva, raiva leva ao ódio”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Heat.jpg[/image]

Miami Heat
Aqui é o caso mais claro e óbvio de um time que deveria usar todas as suas fichas para melhorar o time o mais rápido possível. Não sei quanto tempo Pat Riley pretende ficar no comando da franquia, mas não deve ser muito mais além da duração das carreiras de Dwyane Wade e Chris Bosh, esse é um grupo que não deve ver sentido em pensar muito a longo prazo. Conseguir ao menos finais de conferência nos próximos anos de Wade já é uma vitória completa, se no caminho conseguirem uma super estrela jovem para continuar o legado, ótimo. Não deu? Paciência, eles pensam numa reconstrução depois. Ter um time que ao menos briga pelo título é a única chance desse atual momento do time não ser visto como um fracasso completo. Para veteranos que já foram campeões, ser eliminado na primeira rodada dos Playoffs ou ficar em último lugar da conferência é basicamente a mesma coisa.

Para dar essa reviravolta o Miami Heat tem ao menos três peças para chacoalhar as coisas. A primeira, citada no Both Teams Played Hard, é Hassan Whiteside. Um pivô ainda jovem, que dá mais tocos que 4 TIMES da NBA nessa temporada, enterra tudo o que vê pela frente e que possivelmente vai ser difícil de segurar porque vai pedir um gazilhão de dólares ao virar Free Agent ao fim da temporada. Esse é daqueles que dá peso no coração trocar, mas que talvez algum outro time em busca de reviravolta possa pagar caro.

Além do já comentado Whiteside, Luol Deng também poderia ser negociado. Ele é um líder, um exemplo de vida, um cara gente fina, educado, bonito, respeitado por 10 entre 10 pessoas na NBA, defende bem, nunca se posiciona mal em quadra e volta e meia ainda pontua bem como no passado. Em teoria não faz sentido trocar um cara assim, mas consigo enxergar times do Oeste que pagariam caro por um cara assim: o LA Clippers não precisa exatamente de um Deng para fechar seu time? O Sacramento Kings precisa da defesa, inteligência e liderança de Deng para ser levado a sério. Até o OKC Thunder não hesitaria em trocar qualquer cara do seu banco de reservas para ter um cara assim. Com criatividade dá pra abrir mão de Deng para dar o próximo passo.

A questão da troca de Deng é o quanto o Miami Heat acredita em Justise Winslow. Ele daria conta de ser titular? Tem feito bons jogos, surpreende por já defender tão bem, mas é muita responsabilidade e ainda impossível de saber como ele vai responder. E tem mais, o Heat o enxerga como um futuro bom jogador ou uma futura estrela? Porque tem gente na NBA que o vê como um cara que pode explodir a qualquer momento, deixando Pat Riley naquela situação de decidir se aproveita o valor que Winslow tem no mercado hoje para faturar um veterano ou se trabalha o ala para que ele, além de ajudar agora, assuma novas responsabilidades nos próximos anos.

Difícil decidir que negócio fazer, mas acho que algum deles deve acontecer. O Miami Heat é muito bom hoje do jeito que é, mas não convence ninguém como um candidato a título. No começo do ano pensei que poderia ser mera questão de entrosamento, mas hoje sou mais cético. Parece faltar poder de fogo nos momentos que Dwyane Wade não chama o jogo totalmente para ele, e faltam opções para mudar a cara do time durante as partidas. Quando alguém saca o que estão fazendo, o ataque desaparece. Não dá pra viver só de defesa, não em 2015.

E uma última opção alternativa e menos óbvia: e Goran Dragic? Não se encaixou no time, outro dia tomou bronca pública de Wade e Bosh, que não cansam de pedir para ele ser mais agressivo e arremessar mais. Pela idade e enorme novo contrato deve ser difícil negociar o esloveno, mas sempre existe a opção de troca entre os arrependidos. O Houston Rockets é fã de Dragic desde sempre, Ty Lawson não teria medo de arremessar em Miami. Será que rolaria? Eu acho que Lawson sofreria com a lerdeza do Heat do mesmo jeito que Dragic, mas é um palpite.

O Leste está jogando bem no geral esse ano, mas de bicho-papão só tem o Cleveland Cavaliers. Imagino Pat Riley sentindo a final de conferência bem próxima, é só fazer a troca certa.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Aponte o culpado”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Rockets.jpg[/image]

Houston Rockets
Já que falamos do Rockets, vamos lá. Está aí outro time que está perto demais do sucesso para simplesmente deixar as coisas morrerem assim. Ano passado chegaram na final do Oeste, agora ralam para ficar entre os 8 da conferência. Mas aqui nem é necessário argumentar muito, o General Manager do time, Daryl Morey, não precisa de ninguém dizendo para ele arriscar nas trocas, é o que ele faz da vida desde sempre. E se tem uma coisa que Morey sabe fazer é acumular talento que pode ser trocado facilmente depois. Hoje ele tem três excelentes e baratos alas/pivôs em Clint Capela, Donatas Motiejunas e Terrence Jones, uma estrela supostamente insatisfeita (embora ele negue, como sempre) em Dwight Howard e uma ex-estrela com problemas pessoais e uma péssima temporada, Ty Lawson. Uns mais e outros menos, mas tem mercado para todos eles em boa parte da NBA.

O difícil de pensar em trocas para o Rockets é que o time jogou bem no ano passado com um elenco muito parecido, então é uma tentação pensar que é só esperar que eles vão se ajeitar. O porém são as notícias vindas de Houston de que o elenco simplesmente não se encaixa, estão insatisfeitos uns com os outros, sem confiança, algumas birrinhas e nenhuma liderança. Uma solução é simplesmente trocar bons jogadores por outros bons jogadores, só para chacoalhar o grupo e fazer o pessoal jogar com um pouco mais de vontade e disciplina defensiva.

Se eu fosse qualquer time da NBA já estaria babando na chance de ter Terrence Jones no meu time, e pagaria caro por ele. Azar do Rockets que eu só tenho minha camisa usada do Kobe e um pacote de trakinas de morango para oferecer em troca.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Homem que é homem não cumprimenta com contato visual”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Bulls.jpg[/image]

Chicago Bulls
Os boatos já estão a todo vapor: o Bulls estaria pensando em trocar um de seus jogadores de garrafão por um ala/armador. O que ainda não sabemos é se será Taj Gibson, Joakim Noah, Pau Gasol ou Nikola Mirotic. Não vejo nenhum deles como essencial para o time, mas todos são muito bons. Provavelmente o ideal seja simplesmente gastar muita lábia falando com o resto da NBA para descobrir qual deles rende o melhor negócio.

Faz sentido pensar assim porque é muita gente para poucos minutos de quadra. Em média, Gibson e Noah jogam cada um 22 por jogo, Mirotic disputa 23 (embora esteja caindo) e Gasol lidera com 30. Com o novato Bobby Portis dando pequenos sinais de que pode dar conta do recado ao menos por alguns minutos por jogo, soa ridículo manter o quarteto enquanto o técnico Fred Hoiberg sua para encontrar opções na ala que desafoguem o ataque, movimentem a bola e acertem bolas de 3 pontos. Se um time sente falta de Mike Dunleavy Jr é porque há algo de errado com esse elenco.

Jamais apostaria em algo do tipo e acho que o Bulls não faria com sua torcida, mas talvez seja hora de trocar Derrick Rose. Eu queria muito ver ele campeão no Bulls, sou fã dele e seria a história de superação perfeita, mas a verdade é que o time sente falta de um armador com melhor arremesso de longa distância. Suas infiltrações não fazem mais tanto efeito, seja por ele ter menos explosão ou mesmo pelo garrafão estar sempre congestionado. E sem contar que ele e Jimmy Butler jogam por turnos, nunca juntos. Às vezes um comanda o ataque, o outro assiste, depois trocam. Não sei o atual valor de Rose no mercado, mas acho que é hora de descobrir.

Como paralelo acho que dá pra lembrar de Steph Curry, ainda jovem e longe de ser o que é hoje, e Monta Ellis no Golden State Warriors. Os dois eram bons, mas não existia qualquer tipo de relação entre os dois dentro da quadra, acabou valendo muito mais a pena trocar Ellis por Andrew Bogut, mesmo que na época o valor de pivô australiano parecesse bem inferior.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Inserir piada com ‘happy Holiday'”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Pelicans.jpg[/image]

Por outro lado, existem os times que não podem se desesperar. Lembram dos boatos de troca de Klay Thompson por Kevin Love, quando o Warriors simplesmente sossegou e confiou no que tinha? Então, hora de repetir isso. Aqui penso no New Orleans Pelicans, no Miwaukee Bucks e no Portland Trail Blazers. Os dois primeiros tem algumas características muito parecidas: Pelicans e Bucks deram muito certo antes do planejado, criando expectativas exageradas; ambos sofrem com algumas lesões estão muito abaixo do projetado na tabela de classificação.

A questão é que o plano deles é a longo prazo. O Pelicans já cercou Anthony Davis de bons jogadores, não é o elenco perfeito, mas não vejo vantagem em destruir o que começou a dar MUITO certo na segunda metade da temporada passada. Eles estão aos poucos jogando melhor com os jogadores voltando de lesão e mesmo que não dê resultado nessa temporada, paciência, o que eles precisam é criar um conjunto entrosado e uniforme para disputar para valer os próximos CINCO anos, não os próximos meses. O que eu faria, no máximo, seria trocar um ou outro jogador que eles não veem mais como peça para o futuro da franquia, como o citado Omer Asik. Ou se vier uma proposta irrecusável de um time desesperado por Ryan Anderson, o que é sempre possível. Paciência.

O caso do Bucks é ainda mais extremo, o time é absurdamente jovem! O sucesso do ano passado nos fez pensar que eles poderiam ser um novo OKC Thunder, que já tava na final da NBA com um time de fraldas, mas calhou de não ser o caso, acontece. Ano passado trocaram Brandon Knight por Michael Carter-Williams justamente pensando que o segundo seria mais útil e melhor ao longo prazo, mudar o plano agora seria transformar aquele negócio em um erro. Dói ficar fora dos Playoffs depois de um ano de sucesso, mas enquanto Greg Monroe, John Henson, MCW, Giannins Antetokounpo e Jabari Parker seguirem melhorando é sinal que o plano está no caminho correto.

Já o Blazers não deve fazer mesmo loucuras, mas confesso que no começo do ano temi que eles pudessem se animar demais com um começo bem melhor que o esperado. Com Lillard e seu clone CJ McCollum jogando bem, poderiam tentar mandar vários dos seus bons jovens alas e pivôs por uma pseudo estrela de garrafão. Mas acho que o GM Neil Olshey é mais esperto que isso, e o time aceitou o conceito da reconstrução assim que viu LaMarcus Aldridge ir para San Antonio.

O Blazers entra até em outra categoria, a dos times que podem simplesmente abrir mão da segunda metade da temporada. Damian Lillard está com uma preocupante lesão no pé e eu não ficaria nada surpreso se lá pra fevereiro o time decidisse poupar sua estrela pra valer, botar a molecada para jogar e perder jogos. Valorizariam e escolha de Draft e testariam jovens jogadores para decidir quem fica no time. Não é bonito, mas dentro das atuais regras parece ser a melhor opção.


Faltou alguém que vocês querem ver dar all in? Lembrando que para ir com tudo nas trocas, fazer algo realmente revolucionário, é preciso ter peças. Acho que o LA Clippers e o Atlanta Hawks poderiam pensar com um pouco mais de ousadia, por exemplo, mas quem esses times poderiam mandar para mexer no time sem quebrar a base vencedora? Não vejo o Clippers mudando o quarteto Chris Paul, JJ Redick, Blake Grffin e DeAndre Jordan, por exemplo. Muito menos o Hawks trocando Jeff Teague, Paul Millsap, Kyle Korver e Al Horford.  Talvez mandar Dennis Schröder por um ala? Mandem suas ideias!

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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