Lakers sonha, Spurs sofre e Kawhi Leonard pode chacoalhar a NBA

Se você acompanha a NBA há algum tempo, já deve ter percebido que nenhum time é tão presente no mundo dos rumores quanto o Los Angeles Lakers. Não importa se em boa ou péssima fase, a base gigantesca de fãs faz com que alguns veículos não tão éticos de mídia usem o nome da franquia para especular e ganhar cliques. Então basta um jogador estar perto do fim do seu contrato que ele já é ligado ao Lakers, se teve uma discussão com o técnico, especula-se uma troca para Los Angeles. Às vezes não precisa acontecer NADA e já tem gente especulando que LeBron James, Michael Jordan, Usain Bolt, Pelé e Pepe vão jogar sob o comando de Luke Walton ano que vem. É preciso atenção para ser um torcedor do Lakers e sonhar sem quebrar a cara a cada esperança alimentada e, logo, descartada.

Na última sexta-feira, quando todo mundo achou que ia tirar um tempo de folga da NBA para acompanhar a Copa do Mundo em paz, chegaram mais notícias que fizeram a torcida do Lakers de novo sonhar com um futuro de glórias. Com uma diferença dessa vez, porém: agora as fontes são mais confiáveis.

Os repórteres Chris Haynes e o famoso Adrian Wojnarowski, o onisciente Woj, vieram incendiar o Twitter dizendo que Kawhi Leonard não só pediu para ser trocado do San Antonio Spurs, como indicou que gostaria de ser negociado com o LA Lakers.

Uma troca para o Los Angeles Lakers, se concretizada, seria a primeira peça de um dominó que poderia refazer a franquia. Depois de anos de desastres e trocas de comando, a dupla Magic Johnson e Rob Pelinka assumiu a gerência focada em atrair grandes estrelas, fazendo de tudo para chegar nesta próxima offseason com o mínimo de contratos fechados possíveis e o máximo de espaço na folha salarial. Deu certo, e no dia 1º de Julho o time será basicamente o único que poderá oferecer não um, mas DOIS contratos máximos sem precisar de nenhum malabarismo. A ideia é atrair LeBron James e Paul George juntos, já que o time que sobrou não é bom para criar um cenário muito atraente para qualquer um deles sozinho.

Embora o plano seja bonitinho no papel, é arriscado e difícil. Todos os times da liga querem LeBron James e vários fariam loucuras para abrir o espaço salarial que possa bancá-lo, e a maioria deles está numa situação mais favorável que o sofrido Lakers para dar ao REI uma chance de bater o Golden State Warriors. O mesmo vale para Paul George, por mais que ele diga que seria legal voltar a viver em Los Angeles, é mais atrativo ficar ao lado de Russell Westbrook ou ir para a Philadelphia se seu plano é ir longe nos Playoffs. O Lakers teria que atrair os dois jogadores de uma vez e ainda convencê-los de que dá pra ganhar ao lado da pirralhada que sobrou lá. E, olha, eu gosto de Brandon Ingram, Lonzo Ball, Kyle Kuzma e Josh Hart, mas eles ainda precisam de tempo para crescer.

Toda essa sedução de LeBron mudaria, porém, se eles tivessem Kawhi Leonard para mostrar. Para vencer o Warriors, que tal se juntar a um dos melhores defensores de perímetro da história recente da NBA? Que tal juntar três alas fortes, altos e versáteis que poderiam simular, com um elenco melhor, o que o Houston Rockets fez na final do Oeste? De todas as vezes que tentaram me enfiar goela abaixo que o LeBron iria para Los Angeles só porque ele pesquisou uma escola lá para seus filhos, essa parece ser a mais real de todas.

Os torcedores do Lakers podem até SONHAR com EMBASAMENTO dessa vez, mas tudo ainda é isso, sonho. No meio da empolgação é importante lembrar o grande número de coisas que precisam acontecer e perceber que boa parte delas pouco depende do próprio time.

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A primeira parte seria convencer o San Antonio Spurs a fazer essa troca. Vamos acreditar nos repórteres da ESPN e partir do princípio que Kawhi Leonard realmente exigiu ser negociado, isso obriga o Spurs a fazer um negócio? Não. No ano passado eles passaram pela mesma coisa com LaMarcus Aldridge, não obedeceram, Gregg Popovich chamou o ala para conversar e eles resolveram tudo. Eles podem até NÃO resolver nada e mesmo assim forçar o ala a ficar lá, afinal tem mais um ano de contrato.

Outra opção, claro, é trocar Leonard com outro time, já que não são obrigados a obedecer os desejos do jogador. Já se diz por aí que o Phoenix Suns cogita fazer uma oferta pensada ao redor da 1ª Escolha do Draft desta quinta-feira, o Philadelphia 76ers poderia mandar Markelle Fultz, Dario Saric e a 10ª Escolha do Draft. Ainda tem o Boston Celtics com Jaylen Brown e mais um monte de escolhas dos próximos anos, o NY Knicks com Frank Ntilikina, a 7ª Escolha e muita FÉ e o LA Clippers com as escolhas 12 e 13 no Draft deste ano, Tobias Harris e, espero, Boban Marjanovic. Até quem não teria muito a oferecer, como o Cleveland Cavaliers, já estão mexendo os pauzinhos.

A avaliação de qual oferta é melhor é subjetiva, mas para a maior parte das pessoas os pacotes de Sixers e Celtics são melhores do que os que o Lakers poderia mandar. Por que o Lakers está sonhando então? Como Kawhi Leonard tem apenas mais um ano de contrato, ele pode manipular seu próprio valor de troca se falar para os outros times que não irá renovar com eles, apenas com o Lakers. Muitos times fugiram de Paul George no ano passado por esse mesmo motivo, e o Indiana Pacers acabou fazendo um negócio que na época pareceu ruim para quem perdia um All-Star. Deu tudo certo quando Victor Oladipo se reinventou, porém. O OKC Thunder aceitou a aposta, e tudo indica que podem ter trocado um excelente jogador por um aluguel de um ano apenas. Será que os times citados acima mandariam esses pacotes suculentos se não recebessem uma promessa de vínculo mais longo? Versões piores das trocadas citadas acima não são páreo para o Lakers, em teoria.

Outro fator importante aqui é a saúde de Kawhi Leonard. O Spurs julgava que ele estava saudável para jogar, o jogador e seus médicos pessoais, não. O ala sofre com diferentes lesões no quadríceps desde 2012 e perdeu jogos por esse tipo de lesão em 2015, 2016, 2017 e agora essa, mais grave, em 2018. Além da falta de comprometimento do jogador em um contrato longo, o histórico de lesões pode afastar ofertas mais gordas. Em outras palavras: o Celtics pode oferecer deus e o mundo se quiser, mas talvez decidam não arriscar e aceitem ficar com o já EXCELENTE elenco que está por lá.

Pode parecer vantajoso para o Lakers, mas, de novo, tudo é muito fora do seu controle: passa por Kawhi passar ou não essa mensagem para outros times e pelo Spurs aceitando ou não outras ofertas. E mesmo que tudo dê certo e eles consigam o ala, aí então a bola não vai para as mãos do Lakers, mas dos Free Agents LeBron James e Paul George. Méritos para Magic Johnson por colocar o time em situação de ser a folha em branco ideal para que estrelas se juntem, mas ele não pode fazer tudo.

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A situação do San Antonio Spurs é uma das mais desconfortáveis desde que a dinastia começou lá no fim dos anos 1990. O grande Tim Duncan já se aposentou, Manu Ginóbili não sabe se volta para a próxima temporada e Tony Parker, o mais jovem do trio de líderes, foi um dos que mais alfinetou a postura de Kawhi Leonard nos últimos meses. Sobra o técnico Gregg Popovich, que falhou completamente em se comunicar com o jogador na última temporada e que muitos acreditam que só treinará por mais duas temporadas. Esse ar de decadência e fim de ciclo, somado à tensão recente, não parece o melhor jeito de convencer um jogador em seu auge a ficar onde está. E se for mesmo a hora de renovar pra valer e aceitar que não dá pra ir para os Playoffs para sempre, será difícil trocar e conseguir valor alto pelos contratos caros de Pau Gasol e LaMarcus Aldridge. Se a situação for mesmo insustentável, uma troca bem feita de seu melhor jogador pode ser o jeito de fazer essa repaginada ser ao menos mais rápida.

Para sair dessa terão que fazer funcionar, portanto, ao menos uma de duas características que forjaram a grande equipe das últimas décadas: relacionamento interno e avaliação de jogadores. A primeira parte é clara, uma solução no relacionamento com Kawhi para resolver qualquer “quebra de confiança” que o jogador alegou pode fazer ele ficar onde está e aí o time está bem na fita para este e os próximos anos. A parte da avaliação é para caso decidam pela troca: com metade da NBA fazendo ofertas, cabe ao Spurs tomar a difícil decisão de escolher o melhor pacote disponível.

Estamos falando do time que pescou Tony Parker no fim da primeira rodada de um Draft, que acreditou em Manu Ginóbili no fim da SEGUNDA rodada e que trouxe jogadores dos quatro cantos do mundo para formar diversos times campeões. Até mesmo dentro da NBA eles souberam ver potencial em caras como Danny Green e o próprio Kawhi Leonard para transformá-los, lá dentro, no melhor que eles poderiam ser. Até na nova geração já colocaram Dejounte Murray no time de melhores defensores desta temporada. Agora é hora de olhar para o resto da liga e fazer a difícil futurologia para saber quem irá ser melhor: será que Brandon Ingram continua se desenvolvendo? Jaylen Brown pode carregar um time? Markelle Fultz vai ser o cara que prometia no Draft passado?

Pessoalmente, acho que Brandon Ingram é um jogador completo e inteligente, do tipo que poderia melhorar HORRORES sob a tutela de Popovich. E Josh Hart, apesar de não chamar tanta a atenção como os outros nomes, é muito bom e poderia ser o substituto perfeito para a possível saída de Danny Green: bom arremesso, boa defesa e excelente reboteiro. É mais baixo, mas dá pra lidar com isso se você já tem Dejounte Murray por lá. Sabendo negociar o Lakers até abre mão de Kyle Kuzma, melhor pontuador de todos, mas que ainda precisa aprender muito sobre passe e defesa. Gosto da pirralhada do Lakers, mas não vou ser clubista a ponto de dizer que eles vão salvar a nova geração do Spurs em caso de troca. Impossível saber agora. Meu ponto é que se Kawhi Leonard forçar mesmo a troca para lá e o resto da liga fugir, dá para o Spurs conseguir coisa boa no negócio.

Gostaria de escrever isso com mais conhecimento de causa, mas não só essa época do ano na NBA é regida pelos rumores, como estamos falando do San Antonio Spurs, um dos melhores times da NBA em guardar seus segredos. E estamos lidando com Kawhi Leonard, que se recusa a dar entrevistas e se negou a dar sua versão ao longo de toda a última temporada, mesmo com a tentação de sair para se defender enquanto todos questionavam sua ausência das quadras. Entre o silêncio do time, do All-Star e do jogo diplomático dos outros times, que não querem suas ofertas vazadas por aí, vai ser difícil prever quando ou se alguma coisa vai acontecer em breve. Mas uma primeira oportunidade é já nesta semana, se o Spurs estiver interessado no Draft desta quinta-feira e descrente com Kawhi, algo pode acontecer nos próximos dias. Eu aposto em novela longa e cheia de notícias bombásticas sendo logo desmentidas, mas tudo pode acontecer.

Está mentindo quem disser que previu que seria o quieto e obediente Kawhi Leonard aquele que iria criar um racha no modelo perfeito do Spurs. E agora, contra a parede, veremos como a tal “cultura” da franquia irá sobreviver nos próximos anos.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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