Lucas Bebê conquista seu espaço

Em 2011, em um Mundial Sub-19 organizado na Letônia, o Brasil viu em primeira mão a geração que iria substituir a geração de Nenê e Leandrinho na NBA. Embora o nono lugar não tenha sido nem um pouco animador, o torneio serviu para muitos gringos botarem os olhos pela primeira vez em Raulzinho, Cristiano Felício e Lucas Bebê.

O último foi um dos destaques do torneio. Bebê foi o quinto em médias de rebotes no torneio com 8,8 por jogo e segundo em tocos, com incríveis 2,9 por partida. Liderando as duas estatísticas estava Jonas Valanciunas, campeão e MVP do torneio, hoje parceiro de Bebê no time titular do Toronto Raptors.

A diferença está no caminho dos dois desde este Mundial Sub-19 até o time canadense. Valanciunas havia sido draftado pelo Raptors menos de um mês antes do torneio, e na temporada 2012-13 já foi para a NBA, onde é titular desde a sua estreia na liga. Um poço de tranquilidade se compararmos com a trajetória do brazuca: foram alguns anos na Liga ACB da Espanha, onde seguiu jogando mesmo depois de ser draftado pelo Dallas Mavericks e imediatamente trocado para o Atlanta Hawks. No fim das contas ele nem jogou em Atlanta, foi negociado sem muito barulho para Toronto em 2014 e lá finalmente fez sua estreia… na D-League. Só em meados da temporada 2014-15 que Bebê jogou míseros VINTE E TRÊS minutos em seis partidas oficiais da NBA.

Foram muitos dias no limite do elenco, a uma troca ou contratação de ser dispensado por falta de espaço. Quando a coisa parecia que ia melhorar, com a iminente saída de Bismack Biyombo, reserva de Valanciunas como pivô do Raptors, Bebê viu o time selecionar Jakob Poetl e Pascal Siakam, dois jogadores de garrafão, no Draft deste ano. Será que um dia iriam confiar mais minutos reais ao brasileiro? Depois de nem pisar em quadra nos primeiros 5 jogos desta temporada, Bebê foi chamado em uma partida contra o Sacramento Kings quando Valanciunas se machucou e Poetl estava com problemas de falta contra o trator DeMarcus Cousins. Ele não parou o monstro, mas conseguiu bons 7 pontos e 5 rebotes em pouco mais de 20 minutos –em um jogo, teve quase todo o tempo de quadra que teve em todo seu ano de novato! No ano passado, em 2015-16, ele teve apenas dois jogos com 20 minutos ou mais de quadra, sendo um deles o último jogo da temporada, quando o time descansava vários atletas.

Com o lituano ainda fora, no jogo seguinte Bebê conseguiu ser o reserva imediato atrás de Poetl e novamente foi bem: 10 pontos, 7 rebotes e um impressionante saldo de pontos de +31 quando esteve em quadra. Tudo isso conta o pesado garrafão do OKC Thunder. A semana dos sonhos do brasileiro foi consagrada na vitória contra o NY Knicks, quando ele não só teve bom tempo de quadra, como ficou no jogo nos minutos decisivos e garantiu a vitória com tocos certeiros em Carmelo Anthony e Derrick Rose:

Desde então Bebê jogou Poetl para escanteio e se tornou o principal jogador de garrafão vindo do banco de reservas. Simulando a função de Biyombo na temporada passada, se tornou o cara responsável por entrar com os reservas, fazer corta-luzes, enterrar bolas que sobrem perto da cesta e garantir rebotes e tocos. Um papel bem específico, um DeAndre Jordan Light, que Bebê parece ter finalmente entendido e abraçado. Às vezes parece bobagem que a gente inventa para explicar basquete, mas entender sua identidade e fazer parte de um time que sabe o que esperar de você pode fazer toda a diferença na carreira de um jogador.

Embora o brasileiro tenha virado titular nas últimas semanas, desde a lesão de Patrick Patterson e o rebaixamento de Pascal Siakam, sua função não mudou muito mesmo atuando ao lado de Valanciunas. Às vezes, enquanto o lituano se posiciona mais perto da cesta para receber a bola de costas para a cesta, Bebê passeia pela quadra fazendo os bloqueios que Kyle Lowry e DeMar DeRozan precisam para comandar o ataque do time, voltando ao garrafão para o rebote ofensivo:

Outra característica do ataque do Raptors é o double-screen, que é quando dois jogadores fazem corta-luzes seguidos para o mesmo jogador. Aqui vemos Bebê e Valanciunas abrindo um espaço monstruoso para Kyle Lowry e, depois, para DeRozan:

Ainda acho que Bebê precisa entender melhor as jogadas para poder fazer bloqueios mais sólidos, às vezes ele só está no lugar certo, mas não consegue realmente impedir o adversário de seguir na marcação do jogador do Raptors. De qualquer forma, é bom o bastante para que ele tenha sido presença importante no time. Esse comentário, aliás, vale para quase tudo que o brasileiro faz: depois de tanto tempo sem jogar minutos reais, ele ainda está criando entrosamento e intimidade com o seu time e o jogo, mas erra pouco e contribui, de pouco em pouco, em quesitos chave para o sucesso do time. Separei três categorias onde Bebê tem se destacado:

Pick-and-Roll

O pick-and-roll entre Bebê e qualquer armador do time, especialmente Lowry, é feito com o objetivo de forçar uma troca de marcação e deixar o armador em boa situação para pontuar. Mas às vezes a bola realmente chega no brasileiro e ele tem sido EXCEPCIONAL nestas situações. Segundo dados da Synergy Sports, Bebê finalizou 31 lances nessa situação e conseguiu a cesta 23 vezes, um surreal aproveitamento de 74% dos arremessos! Sinal de que ele tem jogado bem e também de que só jogam a bola pra ele em situações de segurança:

Tocos

Como bem mostra este texto do NBA Math, Lucas Bebê não tem os melhores números na proteção do aro: ele permite 49,2% de acerto dos adversários quando está perto da cesta, mas em compensação ele está lá O TEMPO TODO. O pivô contesta 13.5 arremessos por jogo, mais do que Rudy Gobert, por exemplo. Bebê também tem sido ótimo na defesa do pick-and-roll, limitando os pivôs que defende a míseros 37% de acerto (40/108 arremessos) quando tentam pontuar sobre ele nesse tipo de lance.

Por fim, Bebê se destaca porque boa parte de seus tocos são úteis para o Raptors. Com 1.8 por partida, ele é o 9º da NBA no quesito e se destaca por não querer dar aqueles tocos homéricos que lançam a bola na arquibancada, ao invés disso ele se preocupa em manter a bola em jogo e, de preferência, na mão de um companheiro:

Assistências

Como assim? Lucão Nogueira e seu incrível número de 0.9 assistência por jogo merecem menção aqui?! Pois é, ele não é Chris Paul ou James Harden, não chega nem a ser Mason Plumlee, mas seus passes merecem atenção. Um dos motivos para ele ter aproveitamento tão bom no pick-and-roll é porque ele sabe quando deve ou não deve arremessar nessa situação. Quando é má ideia, precisa passar a bola e, para minha surpresa, tem feito isso MUITO bem! Ele é pouco acionado e nem sempre o passe vira cesta, por isso o número baixo, mas não é fácil e nem comum um pivô como ele ter um passe tão bom nessas situações. Geralmente ele precisa tocar a bola na corrida, fugindo de um defensor, buscando um arremessador na zona morta. Não é fácil!

Bebê também tem boa visão para achar arremessadores livres depois que pega um rebote de ataque, excelente atributo para quando ele joga ao lado de reservas como Patrick Patterson e Terrence Ross.

Sua habilidade nesse lance dá um pouco mais de tranquilidade para o Raptors envolvê-lo no ataque, confiando que ele sabe quando atacar e quando abrir mão da bola. Como disse antes, é mais um caso onde ele não é genial, mas faz as pequenas coisas certas:

Demorou, às vezes parecia que não ia dar, mas Lucas Bebê está aí finalmente cavando seu espaço na NBA. Ele teve a sorte do seu time ter paciência com ele e de lesões abrirem um pequeno espaço para ele mostrar a sua evolução. Aí o mérito é dele em desenvolver seu jogo, entender seu papel e aproveitar a pequena chance que surgiu naquele jogo de novembro contra o Kings.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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