Há duas semanas a NBA liberou o League Pass DE GRAÇA para todos nós termos alguma coisinha a mais para fazer nessas incontáveis horas que temos que passar em casa para o bem geral da humanidade. Para quem não conhece, é a hora de se apaixonar: além da chance de ver TODOS os jogos ao vivo, o League Pass nos deixa ver todas as partidas passadas desta temporada na íntegra e ainda cortando intervalos comerciais.
Embora a gente não saiba ainda ao certo se a temporada 2019-20 da NBA vai ter fim ou como ele será, já tivemos muitas grandes partidas desde outubro do ano passado até a semana retrasada e vamos lembrar aqui de algumas que merecem atenção. Na semana passada separei um duelo entre LeBron James e Luka Doncic, uma vitória simbólica do Milwaukee Bucks, duas atuações heroicas de novatos e um final de jogo absurdo. Hoje a lista tem Carmelo Anthony, o estrelato de Jayson Tatum, a maior virada da temporada e até uns times ruins se enfrentando:
SEGUNDA-FEIRA: AQUELE QUE NUNCA FOI ESQUECIDO
Portland Trail Blazers x Toronto Raptors (7 de Janeiro de 2020)
Antes da temporada começar fizemos um podcast inteiro para tentar entender a razão pela qual o POVO não conseguia esquecer Carmelo Anthony. Depois de uma passagem esquecível no OKC Thunder e de meia dúzia de jogos com carinha de aposentadoria pelo Houston Rockets no ano passado, parecia que o ala não tinha mais espaço na NBA. Quando ele começou a temporada 2019-20 e não tinha time, parecia a hora de aceitar que não veria mais Melo num jogo profissional.
Mas eis que os deuses do basquete não estavam prontos para isso: uma série de lesões devastou o elenco do Portland Trail Blazers, que, no total desespero, aceitou os apelos de Damian Lillard e CJ McCollum por alguma ajuda experiente ao invés de novatos e experimentos da G-League. O time contratou Carmelo e ele respondeu jogando com muito mais vontade e consciência do seu papel que nas outras experiências passadas citadas, mostrando para todos nós que por mais que não seja o mesmo gênio ofensivo do passado, ainda podia dar dor de cabeça pra muitas defesas. Seu aproveitamento nas bolas de 3 pontos, por exemplo, é de de 37%, seu melhor desde 2013-14.
Foram vários bons jogos de Carmelo nesta temporada, mas meu favorito para rever é contra o Toronto Raptors em Janeiro. Neste dia a dupla Lillard e McCollum estava especialmente descalibrada nos arremessos e o time precisou de Carmelo para tentar dar algum fôlego ofensivo para enfrentar a segunda melhor defesa da temporada: Melo respondeu com 28 pontos, sendo 10 deles no último quarto, quando o Blazers tirou uma desvantagem de nove pontos e venceu fora de casa. A reviravolta nos minutos finais por si só já seria digno de ver replay, mas essa partida ganha destaque sobre outras viradas pelo arremesso final: um chute da cabeça do garrafão igual ao que o próprio ala fez há DEZ anos. Nostalgia pura:
Variações do mesmo tema: Para quem quer ver mais bons jogos de Carmelo Anthony pelo Blazers há o jogo de 32 pontos contra o Detroit Pistons em 23 de Fevereiro ou os 18 pontos e 12 rebotes (com 7/10 no aproveitamento dos arremessos) no seu REVENGE GAME contra o Houston Rockets em 15 de Janeiro. Por fim há um jogo agridoce para os fãs de Melo, seu retorno ao Madison Square Garden em 1º de Janeiro: ele acertou 11 dos 17 arremessos que tentou e marcou 26 pontos, mas perder para o NY Knicks é deprimente mesmo quando se joga bem individualmente.
TERÇA-FEIRA: A MAIOR VIRADA DA TEMPORADA
Dallas Mavericks x Toronto Raptors (22 de Dezembro de 2019)
Depois de assistir o Toronto Raptors tomar uma virada em casa, que tal ver o outro lado? E não é qualquer outro lado, o time canadense estava perdendo por TRINTA PONTOS de diferença no fim do terceiro período e de alguma forma conseguiu virar esse jogo para cima do Dallas Mavericks. Ajudou que Luka Doncic, machucado, não jogou, mas o feito não deixa de ser impressionante. A reviravolta após desvantagem de 30 pontos foi a maior de toda a temporada e a maior da história do Raptors.
O jogo é interessante de ser revisto por inúmeros motivos. É uma aula ver como o Mavs construiu um sistema ofensivo tão organizado que ele funciona mesmo quando Luka estava machucado, com Jalen Brunson aproveitando os corta-luzes de Dwight Powell e Kristaps Porzingis lá no perímetro e os arremessos de Tim Hardaway Jr. ou Dorian Finney-Smith para deixar a quadra com muito espaço e o garrafão livre para infiltrações que viram bandejas, enterradas ou arremessos de meia distância:
Mas embora seja uma aula ver o amadurecimento tático desse Mavs, no quarto período entendemos direitinho a falta que faz ter alguém do quilate de Luka comandando o espetáculo. O técnico Nick Nurse aproveitou a desvantagem colossal e começou o último quarto abrindo sua caixa de ferramentas e experimentando tudo o que dava: deixou em quadra os reservas Terrence Davis, Chris Boucher, Malcolm Miller e Rondae Hollis-Jefferson para fazer companhia a Kyle Lowry e botou a molecada para fazer marcação pressão quadra inteira pra cima do Mavericks, que foi pego de surpresa. A marcação forçou turnovers, rendeu cestas fáceis e, mais do que isso, tirou completamente da zona de conforto o time rival, que sofria tanto para chegar no campo de ataque que quando chegava lá não lembrava mais do que fazer.
E não foi qualquer marcação pressão, mas uma 2-2-1, onde dois jogadores pressionam o armador que recebe o primeiro passe, dois cobrem o meio da quadra para interceptar possíveis passes longos e um solitário fica lá atrás mais perto da cesta. É, pela milésima vez, Nick Nurse usando estratégias típicas do basquete universitário e que todo mundo achava que jamais dariam certo na NBA. Vejam a magia acontecendo:
E uma dica: se possível, vejam o jogo com a narração da TV local de Toronto. Às vezes a empolgação e o CLUBISMO do narrador podem ser irritante, mas nesse caso deixam a virada ainda mais emocionante.
QUARTA-FEIRA: O desafio definitivo de um novo All-Star
LA Clippers x Boston Celtics (13 de Fevereiro de 2020)
Esse jogo entre LA Clippers e Boston Celtics foi para uma DUPLA PRORROGAÇÃO? Até foi, mas nem precisava. O tempo normal já valia o ingresso e a reprise, mas já que deram dez minutos a mais de basquete grátis, por que não? Pra começar, essa é uma daquelas partidas que acertam pelo timing. Em meados de Fevereiro, na semana do All-Star Weekend, o Clippers já tinha seu elenco completo e saudável (embora Paul George tenha se machucado DURANTE esse jogo) e parecia jogar com mais interesse do que no começo do ano. Do outro, o desfalque de Jaylen Brown era só mais um motivo para mais protagonismo de Jayson Tatum, que desde Janeiro estava numa sequência alucinante de partidas memoráveis. Dois times excelentes (uma possível final!) e uma jovem estrela em sua melhor fase na VIDA sendo defendida por Kawhi Leonard em um jogo em rede nacional, não tinha como dar errado.
Durante o primeiro tempo o herói do Celtics foi Marcus Smart, responsável por dez pontos seguidos e boa defesa em Kawhi quando o time ainda estava frio de pontaria, mas no segundo tempo em especial vimos Jayson Tatum se confirmar como a superestrela que todos sonhavam. Ele primeiro torturou Landry Shamet com arremessos de todo tipo, forçando o técnico Doc Rivers a chamar Kawhi para a função. A resposta de Tatum foram mais cestas na cara de um dos melhores defensores de perímetro da história: passou por ele para infiltrações, acertou arremessos na cara e soube usar bloqueios para tirá-lo da sua frente. Ele marcou 17 dos seus 39 pontos no quarto período e nas prorrogações!
Como se sucesso ofensivo não fosse o bastante, Tatum ainda chamou a responsabilidade para marcar Kawhi na prorrogação e forçou o rival a apenas um acerto em SEIS ARREMESSOS. Mesmo quando ele não acerta, é difícil ver Kawhi não conseguir subir para um arremesso com algum equilíbrio, mas Tatum chegou a forçar malabarismos dele em algumas situações:
E isso porque estou focado na ASCENSÃO de Tatum à elite da NBA, mas poderia também falar que apesar das dificuldades no final Kawhi marcou 28 pontos, que Lou Williams e Montrezl Harrell, de novo, somaram 59 pontos entre eles e que do outro lado Gordon Hayward superou uma noite de pontaria ruim para marcar 21 pontos (com uma bola de 3 pontos salvadora) e mais 13 rebotes. Foi um jogaço!
Variações do mesmo tema: Lá em 21 Novembro (cerca de 12 anos atrás), tivemos outro duelo entre Celtics e Clippers que também vale a pena dar uma espiada. Naquela ocasião foi apenas uma prorrogação ao invés de duas, mas teve Paul George comandando uma vitória do time da casa e mais 30 pontos de Tatum.
QUINTA-FEIRA: Uma chance aos mais fracos
Chicago Bulls x Charlotte Hornets (23 de Novembro de 2020)
Sempre defendi que jogo com prorrogação não é necessariamente bom e que jogo com bola decisiva no último segundo não é obrigatoriamente emocionante. Dito isso, sinto uma obrigação moral de recomendar um jogo cujo final foi completamente PIRADO! Na hora de pensar em jogos envolvendo também times fracos, o primeiro que me veio na cabeça foi esse duelo entre Chicago Bulls e Charlotte Hornets, decidido de maneira heroica por Zach LaVine com arremessos um bocado improváveis.
The Bulls shocked the Hornets. This is a CRAZY ending. pic.twitter.com/5JKpI8AAv5
— Brad Galli (@BradGalli) November 24, 2019
Para além desse fim de jogo de cinema, o jogo é uma chance de ver dois times que normalmente o fã casual deve fugir ao longo do ano. O Charlotte Hornets é perfeitamente esquecível, mas essa partida é uma oportunidade de conhecer Devonte’ Graham, forte candidato a jogador que mais evoluiu na temporada: ele teve 4,7 pontos por jogo como novato na última temporada e pulou para DEZOITO pontos por partida agora que herdou a posição de Kemba Walker, forçando o técnico James Borrego a empurrar Terry Rozier, contratação mais cara do time, a jogar na posição dois só para acomodar os dois em quadra ao mesmo tempo. Nessa partida em especial Rozier até marca mais pontos, mas é uma chance de ver como Graham se tornou essa força ofensiva e de conhecer melhor seu estilo de jogo. Sabiam que ele só tem menos arremessos de 3 pontos criados por ele mesmo, do drible, sem assistência, que James Harden, Damian Lillard, Trae Young e Luka Doncic?
Assistir essa partida é também uma chance de ver como Zach LaVine é um dos grandes pontuadores desta temporada e como isso às vezes não faz a menor diferença a favor do Bulls. Neste jogo ele precisou marcar QUARENTA E NOVE PONTOS para vencer de maneira apertada um time bem mais ou menos. Dentre todos os grandes cestinhas da liga na atualidade, talvez LaVine seja o que mais gere discussões sobre “números vazios”, pontos que nascem de um estilo de jogo que, para os críticos, não ajudam seu time a ser mais vitorioso. Ele força muitos arremessos ruins? Não sabe envolver os companheiros no ataque? Não ajuda na defesa? Certamente há muito a evoluir em seu jogo, mas há o outro lado: ele nunca fez parte de uma equipe minimamente organizada e bem treinada. É uma discussão ainda sem conclusão. Se você está nessa mais pelo show do que pela avaliação correta de talento, só aproveite porque meu deus como é bonito ver ele arremessar e voar no garrafão para algumas das bandejas e enterradas mais lindas da atualidade.
Variações do mesmo tema: Talvez a melhor atuação de Zach LaVine na temporada tenha sido contra o Cleveland Cavaliers, uma combinação de 44 pontos, 10 rebotes e 8 assistências em 25 de Janeiro. Mas mais simbólicas para a crítica contra o jogador e contra seu Bulls, que citamos na semana passada como um time que adora perder jogos apertados no fim, sejam os dois jogos contra o OKC Thunder: LaVine fez 41 pontos em um deles, 39 em outro e o Bulls perdeu ambos. Um por DOIS PONTOS de diferença, outro por TRÊS.
SEXTA-FEIRA: SEXTOU SEM DEFESA
Houston Rockets x Washington Wizards (30 de Outubro de 2019)
Como fazer a sexta-feira voltar a parecer sexta-feira em meio a uma quarentena coletiva que faz os dias da semana parecerem o meme do Homem-Aranha? Para esse desafio recomendo esse duelo maluco entre Houston Rockets e Washington Wizards, um grande happy hour em forma de basquete. Defesa, seriedade e estratégia ficam de lado enquanto a alegria, a correria e o prazer de marcar cestas sem ninguém tentar impedir fazem a festa. Querem ver um time marcar CENTO E CINQUENTA E OITO PONTOS e perder?! Agora é a hora: com vocês, o terceiro jogo com mais pontos na HISTÓRIA da NBA.
Segundo dados do Basketball-Reference, em toda a história da NBA apenas 34 times marcaram 158 pontos ou mais em uma partida e só CINCO deles conseguiram perder o jogo em que fizeram isso. Parabéns Wizards! A última vez tinha sido na temporada passada, mas o Atlanta Hawks só chegou nos 161 pontos contra o Chicago Bulls porque aquela partida teve QUATRO prorrogações. Esse aqui não teve tempo extra, não, só um show de cestas muito pouco contestadas.
Assistir essa partida é como ver um treino com torcida: para além do talento individual de James Harden e Russell Westbrook, é interessante ver como, sem a defesa atrapalhar, o Rockets cria seus inúmeros arremessos de 3 pontos e enterradas. O time deu 103 arremessos no jogo e apenas TRÊS não foram de 3 pontos ou dentro do garrafão:
Do outro lado é uma oportunidade de ver o Wizards que, por incrível que pareça, passou boa parte dos primeiros meses da temporada como um dos três melhores ataques da NBA. Vemos não só a genialidade de Bradley Beal, mas um sistema ofensivo que tem virado cada vez mais padrão na liga, com cinco jogadores abertos no perímetro para facilitar infiltrações e, depois, passes para a linha dos 3 pontos. Aproveitem para matar a saudade de Isaiah Thomas e para ver como Davis Bertans se consolidou como um dos mais precisos (e confiantes, ele nunca hesita) arremessadores da liga.