Como vocês bem sabem, a pré-temporada é o momento onde todos os comentários são seguidos do tradicional “mas é só pré-temporada, né? Não vale nada”. Pois agora a vida voltou, estar vivo na Terra é novamente uma coisa boa, existe um pingo de esperança e alegria ao se voltar pra casa cansado do trabalho: a NBA está entre nós! Mas existe ainda um resquício do pensamento da pré-temporada, nas próximas semanas qualquer conclusão que a gente ameace chegar vai ser engolida pela nuvem do “calma, é só o começo da temporada”.
Vou tentar me controlar com as conclusões, portanto, mas acho que esses primeiros jogos do ano são ótimos indicadores das intenções de cada equipe para a temporada. O que você mostra nos primeiros dias é o que você PLANEJOU nas férias e no training camp, mesmo que a execução seja uma porcaria, mesmo que o técnico mude de ideia daqui um mês.
No primeiro jogo da temporada, vimos a nova cara do Chicago Bulls, agora treinado por Fred Hoiberg, que prometeu um ataque mais leve e eficiente do que o treinado por Tom Thibodeau nos últimos anos. Gostei de uma discussão que foi levantada ontem, sobre quem seria a cara do Bulls, se seria ainda Derrick Rose ou Jimmy Butler. E não lembro quem disse, se Reggie Miller comentando na TV ou alguém no Twitter, lembrou que a cara do time não era nenhum dos dois, e nem Joakim Noah, esse era o time de Tom Thibodeau. O jeito que eles jogavam, a atitude de todos os jogadores, a maneira com que abordavam todos os jogos, tudo era a cara do treinador. Sem ele, o time começa sem rosto, em busca de uma nova identidade.
Ainda sem esse líder óbvio, o Bulls mostrou um começo promissor. Com Nikola Mirotic no lugar de Joakim Noah no time titular, o ataque ficou mais leve, com mais jogadores na linha dos três pontos e menos bolas passando no garrafão. Também vimos mais pressa na saída da bola, especialmente após rebotes. Um número mostra bem a nova proposta: o time do ano passado teve, em média, 92 posses de bola por jogo; ontem o Bulls teve 102 posses contra o Cavs.
Por fim, outra mudança decisiva foi uma rotação maior do elenco, com mais tempo de quadra para os reservas (e 5 deles entrando em quadra). Quando que Thibodeau não ia morrer de ver tanto E’twan Moore e Doug McDermott em quadra? Quem mais ganhou nesse primeiro dia foi Mirotic, cestinha do time com 19 pontos. ele adora arremessar (mais gosta do que sabe, ele não é tão matador quanto parece ser às vezes) e é mestre em cavar faltas nas infiltrações. Por outro lado, Pau Gasol ficou perdido ao ver que nada havia sido desenhado para encontrá-lo no garrafão, enjoei de ver ele pedindo a bola e ninguém nem olhar pra ele. Em uma de suas piores atuações ofensivas pelo Bulls, conseguiu se destacar justamente onde sempre falhou, na defesa. Liderou o jogo com 6 tocos, incluindo o que decidiu a partida, nos segundos finais, sobre LeBron James!
Com Tony Snell e Jimmy Butler fazendo pressão no perímetro e Pau Gasol dando tocos atrás, o Bulls conseguiu contornar diversas falhas defensivas de Mirotic e Rose, que não estavam em seus melhores dias na defesa. Como diz meu querido, idolatrado e deus Tite, não dá pra ter prioridade entre ataque e defesa, o que conta no fim das contas é o saldo. O ataque fluiu realmente melhor com mais passes, espaçamento e velocidade, e deram um jeito de não perder tanto na defesa. Quer dizer, por um jogo, né? Não vai faltar gente querendo explorar o desastre que é Nikola Mirotic marcando um pick-and-roll ou no mano a mano contra um jogador de garrafão um pouco mais qualificado.
A versão defensiva do Bulls é a que vem do banco de reservas. Com Joakim Noah e Taj Gibson juntos, deu pra ver como a coisa ficou mais Thibodeaudiana, com o ataque passando mais pelas mãos de improviso de Aaron Brooks. Em algumas posses de bola até voltamos a ver a versão point-center de Noah (foram 4 assistências, só Rose deu mais), armando o jogo da cabeça do garrafão. Pode funcionar se rolar entrosamento.
Apesar dos altos e baixos, e de ficarem bem estagnados no fim do jogo, quando quiseram gastar todo o tempo no relógio, foi um começo bem animador para um time que busca uma mudança tão brusca em seu estilo de jogo. Sobreviver sem o ataque de Pau Gasol foi legal, mas ver o espanhol ficar tão pouco envolvido mais algumas vezes pode ser tornar algo preocupante; nas noites ruins de Mirotic de longa distância a coisa pode ficar embolada também. Vão existir problemas, mas começar o ano ganhando do melhor time da sua conferência não é nada mal. E o presidente torce para o seu time e foi lá dar uma força, isso não é chato também.