Após o empolgante primeiro tempo do Jogo 5 entre Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors, pensei que só um daqueles times poderia pensar que tudo o que estava acontecendo em quadra era sustentável, o outro teria que achar outras soluções senão acabaria entregando o ouro no final. Achei que o time sem bala na agulha era o Cavs, e não poderia estar mais errado! LeBron James e Kyrie Irving se tornaram, num dos momentos mais críticos da temporada, a primeira dupla de companheiros de time a marcar mais de 40 pontos em uma final da NBA. Foi uma atuação para ser aplaudida de pé, sem dúvida, mas depois do jogo aparece aquela pergunta inevitável: dá pra acontecer de novo? Precisa acontecer de novo?
A minha opinião é que é muitíssimo provável que dois caras do nível de LeBron e Irving joguem bem de novo, mas NAQUELE nível? Aí é pedir demais para qualquer jogador na Terra. E se não jogarem tão bem assim, o Cavs tem chance? Se não quebrarem dúzias de recordes, mais alguém aparece para fazer os pontos necessários contra a defesa do Warriors? Pode ser, o elenco é bom, mas não mostraram muito disso até agora. Embora a imprensa americana fique DESESPERADA em tempos de final, com conclusões dramáticas a cada partida, pendendo loucamente de um lado para o outro, acredito que o Warriors ainda esteja um passo na frente para o título. Não só pela vantagem no placar da série, mas porque as coisas estão acontecendo do jeito que eles planejaram.
Vejam por exemplo essa cesta de 3 pontos de LeBron James, que teve aproveitamento impressionante nesse Jogo 5, indo totalmente de encontro com seu desempenho bem fraco nos arremessos de longe nos Playoffs. O plano de jogo do Warriors era pagar para ver, e dessa vez deu errado:
E aconteceu mais de uma vez no mesmo período, depois de já ter acontecido outras vezes, no primeiro tempo, sempre com resultados positivos para LeBron:
Foram pontos decisivos, em um momento complicado da partida para o Warriors, quando o time não conseguia parar ninguém e os arremessos não caiam lá na frente. Mas, se você pensar bem, era tudo o que eles queriam! Tinha sido, aliás, uma das jogadas que eles forçaram LeBron a fazer no Jogo 4 e que tinham sido essenciais para o ataque do Cavs MORRER no último período daquele jogo:
Tudo o que o Warriors mais quer na vida é que LeBron James não entre no garrafão! Suas bandejas e enterradas são muito difíceis de marcar, especialmente sem um pivô no time, o que geralmente é o caso do Warriors, já seus arremessos de longe não assustam tanto. Eles forçaram isso num jogo e deu muito certo, forçaram de novo depois e foram surrados por isso. Nessas horas o técnico tem que decidir: isso vai acontecer de novo e eu preciso de ajustes, assumindo o risco de sofrer com infiltrações se pressionar ele demais, ou pago pra ver de novo?
O Golden State Warriors nunca pareceu um time desesperado, deu pra ver isso com eles insistindo em usar seus quintetos mais baixos mesmo depois de vê-los apanharem do OKC Thunder em jogos consecutivos, então não acho que vão mudar, mas e se LeBron mantiver o alto aproveitamento por mais um jogo? Chega a ser instintivo querer pressionar o chute e abrir aquela pequena porta para a infiltração. Veremos quem pisca primeiro.
O outro jogador que fez o jogo da vida na hora certa foi Kyrie Irving. Mas antes disso, no jogo anterior, achei o armador do Cavs um dos principais responsáveis pela derrota no Jogo 4. Não foi pela sua defesa, mesmo que muitas vezes seja desleixada, mas pelo ataque. Mesmo fazendo muitos pontos, o seu excesso de dribles e arremessos forçados são improdutivos, previsíveis e não envolvem mais jogadores, fazendo a cobertura de garrafão chegar com mais eficiência e menos medo. Não parece que o Warriors esteja desesperado em ver seu adversário brincando de Hero Ball.
Quando Irving vê Steph Curry na sua frente o mundo acaba e ele só pensa em atacar, ignorando o que acontece em volta. No Jogo 4 não deu muito resultado, especialmente naquela seca do quarto período e Jeff Van Gundy implorava por mais movimentação de bola nos comentários do jogo…
Às vezes, na ânsia por cortar uma vantagem, é normal querer dar um arremesso que você se sente capaz de fazer. Mas é muito frágil e difícil de definir o limite entre quando se deve forçar essas bolas e quando se deve gastar um pouco mais de relógio só para movimentar a defesa adversária e ver se uma opção melhor aparece. Essa sensibilidade às vezes parece faltar para Irving:
Ele não mudou em nada o seu jeito de jogar no Jogo 5. Recebia a bola e ia para o ataque, fosse contra a defesa mais frágil de Curry ou mesmo contra o especialista Klay Thompson. Ainda lances forçados e difíceis, mas dessa vez ele não errava por nada nesse mundo!
Nos dois lances acima a marcação foi boa, o arremesso foi contestado e as jogadas foram bem simples e individualistas, mas foi. Como adversário, ou você responde na mesma moeda ou só levanta e aplaude. No primeiro tempo Klay Thompson manteve o jogo no mesmo nível com arremessos impressionantes, depois esfriaram e erraram até alguns arremessos bem tranquilos. Aliás, como perder totalmente a confiança se você ainda cria arremessos como esses?
Mas o Golden State Warriors não precisa confiar apenas que as estrelas do Cavs não vão ter mais um jogo histórico, ou que os seus jogadores vão acertar os seus. A volta de Draymond Green, como o Danilo já mostrou no resumo do jogo passado, faz muita diferença. Veja abaixo, por exemplo, como é muito mais fácil para Kyrie Irving lidar com a lentidão de Andrew Bogut…
… do que com a agilidade e inteligência defensiva de Draymond Green:
O resumo de tudo isso é que o Cleveland Cavaliers conseguiu sobreviver na série de um jeito, mas vai precisar de outros para realmente assustar o Golden State Warriors e fazer Steve Kerr mudar seus planos, estratégias e rotação. Kevin Love vai aparecer para marcar uns pontinhos? JR Smith vai deslanchar? Richard Jefferson vai repetir sua boa atuação? Eles ao menos jogarão em casa, é um bom começo para tudo isso acontecer.